Porandubas Políticas

Porandubas nº 782

Lula continua ganhando nas pesquisas, ostentando entre 5 a 9 pontos de maioria. Para sermos bem realistas, mais convém passar a impressão de que Luiz Inácio desce um pouco e Jair Messias sobe também um pouco. Há entre 5% e 7% de indecisos.

19/10/2022

Abro com o coronel Juca Peba, da nossa querida Paraíba. Uma historinha para esses tempos de desconfiança.

O coronel Juca Peba

Desconfiado e matreiro, o coronel Juca Peba não era de muita conversa. Tinha dinheiro, e muito, guardado sob o travesseiro. Até o dia que inauguraram a Agência do Banco do Brasil, em Cajazeiras. A gerente foi procurar o coronel Juca Peba com o argumento:

– Coronel, bote o dinheiro no banco. Vai ser guardado, bem guardado, e vai render juros.

Depois de muita conversa, e muitos cafés no varandão da casa, o coronel, ainda desconfiado, foi ao banco. Com 100 contos numa bolsa de couro. Tirou devagar o pacote. Contou. Uma, duas, três vezes. Depositou. Matreiro, ficou na espreita, na calçada, olhando, espiando o movimento do banco. Para ver se aquele troço não era tramoia. A desconfiança aumentou. Entrou no banco. Foi ao Caixa. Ordenou:

– Quero os 100 contos que eu botei aqui. Já.

Aflito, o bancário correu para buscar o dinheiro. O coronel pegou o maço. Conferiu. Uma, duas, três vezes. E devolveu, sob a expressão juramentada:

– Eu só queria mesmo conferir. Pode guardar.

Nas pesquisas

Lula continua ganhando nas pesquisas, ostentando entre 5 a 9 pontos de maioria. Para sermos bem realistas, mais convém passar a impressão de que Luiz Inácio desce um pouco e Jair Messias sobe também um pouco. Há entre 5% e 7% de indecisos.

Na mídia massiva

Na mídia impressa e eletrônica, vejo os dois candidatos e seus adeptos nos Estados ganhando visibilidade. Lula ocupa mais espaço.

Nas redes

Bolsonaro vence nas redes sociais, sendo o mais citado. Os bunkers tecnológicos funcionam a todo vapor.

No universo do grande empresariado

Bolsonaro lidera a bolsa de apoios na área do grande empresariado. Não significa bolsa de apostas.

Na Intelligentzsia

Nos núcleos acadêmicos e artísticos, o apoio maciço é para Lula. É a área com maior número de listas de apoios.

Nas igrejas

Nas igrejas evangélicas, Bolsonaro reina absoluto. Na igreja católica, Lula ganha com um leque maior de apoios.

Nas margens

Lula ganha nas margens de algumas regiões, enquanto Bolsonaro avança nas margens do Sudeste. Por aqui, bolsões carentes passam a tomar conhecimento do Auxílio Brasil.

No pequeno e médio empresariado

Bolsonaro assume liderança, mas Lula não fica muito atrás. O pequeno e médio empresário é pragmático. Principalmente no setor de serviços. Toma lá, dá cá.

Os parafusos da máquina

Quem ganhar terá uma tarefa insubstituível: colocar os parafusos na máquina. A começar com o preenchimento de 20 mil postos na administração Federal. Um exercício de trombadas, pressões e contrapressões. Choro e vela. E champagne.

No debate

Um pouco de repeteco, pois os leitores já leram as observações dos analistas.

- No debate de Lula x Bolsonaro, domingo, na Bandeirantes, o presidente teve desempenho mais tranquilo que o ex-presidente. Lula parecia nervoso, dobrando as mãos, saindo do púlpito para a frente do palco, voltando, tomando água, olhar crispado.

- Bolsonaro, mesmo artificial, foi mais tranquilo. Olhava para Lula com ar gozador, repetia uma frase que não convencia – "Lula, você não fez nada" – ria, ficava ereto diante do adversário, respondia o que queria e não o que foi perguntado.

- O primeiro bloco foi vencido por Lula, o segundo resultou em empate e o terceiro teve Bolsonaro como vencedor. O presidente deixou Lula falando pelos cotovelos, com uma postura provocativa de quem queria administrar o tempo para ter direito a uma fala mais extensa. E foi o que aconteceu.

- No final, Bolsonaro fez ampla peroração, mostrando o desastre das ditaduras na Venezuela e na Nicarágua, arrematando com a ideia de que Lula iria "fechar igrejas". Uma forte insinuação. Lula ficou apenas olhando, eis que seu tempo havia esgotado.

- O debate não puxou votos, mas foi um bate-estaca para fincar profundamente a fé de seus militantes.

- Carlos Bolsonaro, o vereador, foi melhor orientador para o pai que os assessores de Lula.

- A cachaça e a picanha, primeiras letras do boné do complexo do Alemão – CPX-, foram lembradas por Bolsonaro, em insinuação de Bolsonaro sobre "ligação" de Lula com a bandidagem.

- Dizer, porém, que, ao lado de Lula no complexo do Alemão, só tinha bandido foi um erro crasso. A comunidade deve reagir dando a Lula uma carrada imensa de votos. Bolsonaro deu um tiro no pé.

- O toque de mão no ombro de Lula foi clara provocação de Bolsonaro para desestabilizar o ex-presidente. Lula, sem jeito, tentou afastar a mão de Bolsonaro. Mais alto, até parece que queria estabelecer comparação de altura.

- O formato do debate foi mais dinâmico, propiciando um confronto típico de lutadores. Deu agilidade. Ponto para o diretor de jornalismo, Fernando Mitre.

Reverter?

Muito difícil reverter posições. Mais de 90% dos eleitores garantem que já estão decididos. O esforço de Bolsonaro para reverter posições pode funcionar em algumas praças. Em 2018, a reversão no 2º turno só ocorreu em 3% das cidades.

A se confirmarem

Se os Institutos confirmarem suas pesquisas, Lula será o vencedor do pleito. Se não confirmarem, não haverá dúvidas; será aprovada alguma coisa para investigar os Institutos. Arthur Lira, presidente da Câmara, está disposto a ir em frente em sua empreitada para confrontar as pesquisas.

Mas Bolsonaro cresce

A última pesquisa IPEC, instituto dirigido por Marcia Cavallari, ex-Ibope, foi boa para Bolsonaro. Cresce em algumas situações: avaliação do governo, diminuição da rejeição, 2 pontos no Nordeste. O caso é: isso poderia fazer reverter o quadro? Este analista conclui: nada é impossível em político. P.S. Não viram o eleito senador pelo Paraná, Sergio Moro? Depois de sair do governo atirando em Bolsonaro, hoje se aproxima afagando.

Tarcísio

Em São Paulo, o episódio dos tiros na favela de Paraisópolis não foi um atentado. O próprio candidato Tarcísio, candidato apoiado por Bolsonaro, reconheceu não ter sido vítima. Mas os tiros criaram um fato de impacto no final da campanha. Fica no ar um zum-zum, com a hipótese de atentado gerando simpatia para o candidato do Republicanos. Fernando Haddad, do PT, sabe que o antipetismo em São Paulo continua forte.

Alckmin

O candidato a vice, Geraldo Alckmin, do PSB, se esforça para puxar lideranças do interior de SP e trazê-las para Lula. A tarefa tem sido facilitada pelo clima de favoritismo que anima os assessores do ex-presidente.

"Pintou um clima"

A tirada de péssimo gosto de Bolsonaro sobre as meninas venezuelanas, "todas arrumadinhas", foi bem administrada pela campanha do candidato. Alexandre de Moraes mandou tirar do ar o vídeo com a frase "pintou um clima". O pai de uma menina teria se recusado a receber emissários de Bolsonaro. A primeira-dama Michelle e a senadora eleita pelo DF, Damares Alves, desistiram de fazer uma visita às venezuelanas na comunidade distante 30 km de Brasília. O episódio arranhou a imagem do candidato Bolsonaro, não a ponto de provocar reversão de votos.

Aniversário

Lula faz anos dia 27 próximo segundo anunciou no debate da Band. Será um evento de peso. O que a campanha vai fazer? Dançar com salto alto poderá gerar impacto negativo.

A direita se consolida

O fato é: ganhe ou perca, Bolsonaro se firma como comandante dos exércitos da direita. Uso, aqui, a analogia com uma banda das Forças Armadas por distinguir uma inclinação dos contingentes de direita para o enfrentamento. A direita no Brasil será um forte ente. Sob o comando de Bolsonaro.

O Centrão

Concluo com o arremate: o Centrão continuará a dar as cartas nos dias de amanhã. Seja Lula ou Bolsonaro o vitorioso.

Fecho a coluna com uma historinha que cai bem nesse momento de "vaquinhas" e "rachadinhas".

Vaquinha

Vereador em Itiruçu, na Bahia, estava duro. A seca tinha comido tudo. Sem dinheiro para a feira, foi pedir ao prefeito Pedrinho. Pedrinho brincou:

– Por que você não pede a Jesus Cristo? Ele não é o pai dos pobres?

Voltou para casa, escreveu a Jesus Cristo pedindo 50 contos.

Endereçou:

"Para Nosso Senhor Jesus Cristo".

E pôs no Correio. No correio, abriram a carta, levaram para o bar. Lá fizeram uma vaquinha, apuraram 42 contos, registraram e mandaram para o vereador. Quando ele abriu viu os 42 contos, sentou-se e escreveu nova carta:

"Nosso Senhor, agradeço muito sua atenção. Recebi o dinheiro que lhe pedi. Mas rogo o seguinte: se o senhor for mandar dinheiro novamente, faça o obséquio de mandar em cheque, porque, dos 50 contos, o pessoal do correio meteu a mão em 8."

(Registro do amigo Sebastião Nery em seu Folclore Político).

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Colunista

Gaudêncio Torquato jornalista, consultor de marketing institucional e político, consultor de comunicação organizacional, doutor, livre-docente e professor titular da Universidade de São Paulo e diretor-presidente da GT Marketing e Comunicação.