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Morte e vida brasileira

Festejar em momento de luto é brindar a morte, subestimar a vida e desprezar o sofrimento alheio.

14/5/2020

Quem não se sensibiliza com a morte, não se importa com a vida.

São onze mil mortes de brasileiros em dois meses.

Parece que não provocam nenhuma comoção nos espíritos vacinados contra os valores do humanismo, dos quais a vida é o primeiro.

Encará-las como uma normalidade parece ser a palavra oficial, a palavra de ordem. Claro, desde que ela fique longe dos seus autores.

Não vamos transformar o nosso cotidiano em um obituário. Disse uma. E, disse mais : “estou leve”. É, deve estar mesmo, pois ela é desprovida de amor pelo próximo, de humanidade, de solidariedade, de compaixão. Leveza total. Parece que nem a consciência pesa.

“E daí”, vamos todos morrer um dia, diz outro. Mais tarde ou agora, pouco importa. Esse mesmo lembra que as nossas crianças estão imunizadas, pois vivem perto do esgoto. Pois é pouco, importa a vida, saudável ou não.

Aliás, ele é coerente. Onze mil mortos, não o inibiram de anunciar um churrasco, no fim de semana. Não seria na laje, mas sim em um edifício nosso, do povo, o Palácio do Governo ou o Alvorada.

Nenhum deles lhe pertence. É um mero ocupante provisório.

Desistiu do churrasco. Com certeza o obrigaram a recuar

Mas, definitivamente o seu espírito não estava para o luto, para a solidariedade, para a compaixão.

Como ele é um atleta, resolveu passear de jet sky.

E o fez, e foi filmado. O que representa essa conduta? Escárnio, pouco caso, despudor, acinte? Pura maldade?

Devem nos dar uma resposta os estudiosos da mente e do comportamento humanos.

Festejar em momento de luto é brindar a morte, subestimar a vida e desprezar o sofrimento alheio.

Veio de uma publicação inglesa, a revista “Lancet” a assertiva que vem se consolidando a cada dia que passa, ou melhor, a cada atitude e a cada pronunciamento proveniente da presidência da república, qual seja, que o seu ocupante representa uma ameaça ao combate do coronavírus.

Sua ida ao Supremo, o já citado passeio pelo lago, a edição de decretos ignorando o sistema federativo, a sua participação como presidente da república em atos contra a própria república, as suas constantes agressões aos jornalistas, as manifestações de desapreço pelos outros poderes, são algumas recentes atitudes, que somadas às inúmeras anteriores nos obriga a, infelizmente, concordar com a revista estrangeira.

O presidente da Bielorrussia mandou o povo tomar vodca e ir à sauna, mesmo com a epidemia batendo às suas portas. O nosso manda que homens e mulheres cuidem da aparência indo ao barbeiro, ao cabelereiro e à manicure.

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*Antônio Claudio Mariz de Oliveira é advogado criminal da Advocacia Mariz de Oliveira.

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