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Plágio musical: Uma questão de Direito ou de interpretação?

O plágio musical é um tema complexo, envolvendo direitos autorais e liberdade criativa. Semelhanças podem ser coincidência, e cada caso exige análise técnica.

13/2/2025

O debate sobre plágio musical voltou a ganhar destaque com as recentes acusações por compositores brasileiros contra artistas internacionais, como Shakira e Adele. Mas como saber se uma música foi realmente plagiada? Essa é uma questão complexa, que envolve diversos fatores e nem sempre há uma resposta definitiva.

Diferente de uma obra literária ou de uma obra de arte plástica, uma música é composta por vários elementos interligados: melodia, harmonia, ritmo, timbre e até mesmo a forma como a canção é interpretada. Por isso, identificar um plágio musical pode ser muito mais complexo. Muitas vezes, semelhanças entre canções podem ocorrer naturalmente, por mera coincidência criativa, sem que haja uma cópia intencional.

No Brasil, a lei de Direitos Autorais protege a originalidade de uma obra, mas não define com exatidão o que caracteriza plágio musical. Essa falta de um critério fixo torna cada caso único e dependente de uma avaliação técnico-pericial minuciosa. Especialistas analisam as notas, os arranjos e até a progressão harmônica para determinar se houve reprodução indevida.

A legislação brasileira estabelece que a proteção autoral recai sobre a expressão original da obra e não sobre ideias ou estilos musicais. Isso significa que, para que haja plágio, é necessário comprovar que houve cópia substancial de trechos identificáveis da música original. Além disso, nos casos de litígio, peritos podem ser convocados para realizar análises comparativas detalhadas, a fim de verificar se a obra acusada de plágio reproduz elementos únicos e reconhecíveis da composição original.

O caso de Shakira, por exemplo, traz um ingrediente a mais para o debate: os compositores brasileiros que a acusam afirmam que não apenas a música apresenta semelhanças, mas também o videoclipe, incluindo gestos da artista. Isso levanta uma questão ainda maior: até que ponto uma referência visual também pode ser considerada plágio?

Casos de plágio musical já renderam batalhas judiciais históricas. O Led Zeppelin, por exemplo, foi acusado de copiar a introdução de "Stairway to Heaven" de uma música da banda Spirit. Robin Thicke e Pharrell Williams foram processados pelos herdeiros de Marvin Gaye por conta das semelhanças entre "Blurred Lines" e "Got to Give It Up".

Se o caso de Shakira for levado adiante, todos esses aspectos deverão ser analisados. Afinal, muitas canções compartilham estruturas semelhantes, e a influência entre artistas é algo natural no mundo da música. O grande desafio é estabelecer a linha que separa inspiração de plágio.

O plágio musical continuará sendo um tema controverso, pois envolve tanto a proteção dos direitos autorais quanto a liberdade criativa. Independentemente do desfecho, o debate gerado por casos como esse ajuda a refletirmos sobre os limites da originalidade na música e como a justiça pode balancear esses interesses.

Fernanda Vieira
Advogada do escritório Daniel Advogados. Especialista em direito de propriedade intelectual e entretenimento e oferece assessoria estratégica em relação a marcas, concorrência desleal, direitos autorais e medidas de fiscalização contra infratores.

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