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A hipocrisia da democracia dos EUA

O artigo apresenta uma análise crítica sobre a hipocrisia da democracia dos EUA, questionando o contraste entre discurso e prática.

25/8/2025

A democracia americana é frequentemente apresentada como um regime universal de: liberdade, justiça e participação popular.

No entanto, uma análise mais apurada revela contradições gritantes entre o discurso oficial e as práticas reais - tanto no plano interno quanto nas relações internacionais.

Na verdade, para os americanos é: igualdade, liberdade e fraternidade. Para o resto do mundo é exploração!

Essa contradição tem levado intelectuais, juristas e líderes políticos a questionar a autenticidade do regime democrático dos Estados Unidos.

Falso discurso democrático como instrumento de dominação

Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, os EUA se posicionaram como guardiões da democracia global.

Será? Não obstante, intervenções militares, sanções econômicas e campanhas diplomáticas foram justificadas como ações em defesa da liberdade.

É fato histórico!

Contudo, por exemplo, países como Iraque, Afeganistão, Chile e Vietnã mostram que, muitas vezes, o verdadeiro objetivo era garantir interesses estratégicos e econômicos - não promover a autodeterminação dos povos.

O brilhante sociólogo Jessé Souza chama esse fenômeno de “império simbólico”, onde a dominação ocorre não apenas pela força, mas pela imposição de valores culturais e políticos.

Uma coisa: Hollywood, universidades americanas e a mídia internacional funcionam como vetores de influência.

Elas moldam percepções e legitimam ações imperialistas sob o manto da democracia.

Ou seja, o poder não é mantido só com o “porrete”. Mas com a ideologia.

Segundo Marilena Chauí, a ideologia é: 

"é um conjunto de ideias, valores e crenças que justificam e naturalizam uma determinada ordem social, fazendo-a parecer legítima, imutável e universal".

Por sinal, a ideologia é uma cortina de fumaça que esconde os conflitos sociais e as desigualdades, apresentando os interesses de uma classe dominante como se fossem os interesses de todos.

Intervenções militares dos EUA: Pretexto da democracia

Desde sua independência, em 4/7/1776, os EUA realizaram centenas de intervenções militares em diferentes partes do mundo.

Essas ações incluem: guerras declaradas, operações secretas, apoio a golpes de Estado e presença militar prolongada em territórios estrangeiros.

A maioria dessas intervenções, por óbvio, teve como motivação principal interesses políticos, econômicos ou estratégicos, e não necessariamente a defesa da democracia.

Democracia para quem?

Internamente, os Estados Unidos enfrentam desafios que colocam em xeque sua credibilidade democrática.

A tentativa de golpe liderada por Donald Trump, em 2021, com a invasão do Capitólio, expôs a fragilidade das instituições diante do populismo autoritário.

O festejado professor Steven Levitsky, da Universidade de Harvard, autor de “Como as Democracias Morrem”, no Seminário Democracia em Perspectiva na América Latina e no Brasil, em 12/8/25, promovido pelo Senado, afirma que:

"o Brasil, paradoxalmente, respondeu melhor a ameaças golpistas do que os EUA, cuja sociedade não possui memória coletiva de autoritarismo"

Além disso, vale lembrar que: o sistema eleitoral americano - baseado em colégios eleitorais e financiamento privado de campanhas - favorece elites econômicas e distorce a representatividade popular.

Minorias raciais e sociais encontram obstáculos estruturais para a participação política, o que sugere que o acesso à democracia nos Estados Unidos não é igualitário.

Além disso, imigrantes e estudantes que manifestam posicionamentos sobre violação de direitos humanos, em Gaza, também enfrentam desafios nesse contexto com a triste deportação.

E a tal da liberdade de expressão?

Democracia seletiva

A política externa dos EUA revela uma seletividade preocupante na defesa da democracia.

Países aliados, mesmo com regimes autoritários, são poupados de críticas. Por exemplo: El Salvador, Arábia Saudita.

Enquanto isso, adversários geopolíticos são excluídos de cúpulas democráticas e alvo de sanções.

Ah, e o campo de detenção de Guantánamo? Não há violações de direitos humanos?

Em Gaza, também, não há violação de direitos humanos?

Conta outra, magnata Trump!

Intervenção dos EUA no Judiciário: Uma ameaça à soberania

Essa postura contraditória ficou evidente quando o governo americano tentou interferir em decisões do STF brasileiro, ao mesmo tempo em que ignorava violações em países aliados, não é?

Segundo Francisco Rezek, ministro aposentado do STF, Trump expôs práticas autoritárias antes ocultas, mostrando que os EUA usam a democracia como instrumento de poder, e não como valor universal.

Pretexto da lei Global Magnitsky:

A recente absurda sanção imposta pelos EUA ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, reacende um debate urgente sobre os limites da influência estrangeira nas instituições democráticas brasileiras.

Sob o pretexto de proteger direitos humanos e a liberdade de expressão, o governo norte-americano aplicou a lei Global Magnitsky para punir uma autoridade judicial brasileira - uma medida que, na prática, representa, sim, uma interferência direta na soberania nacional.

Alguma dúvida?

A tal lei Global Magnitsky, usada como justificativa, é uma ferramenta de intervenção disfarçada de moralismo.

Os EUA se arrogam o direito de julgar autoridades estrangeiras sem processo, sem contraditório, sem contexto.

Tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros

Não se trata apenas de um gesto simbólico. A sanção foi acompanhada por um tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros, afetando diretamente nossa economia e revelando o uso da diplomacia coercitiva como instrumento de pressão política.

Ela ocorre justamente quando o Judiciário brasileiro avança em investigações contra os réus da suposta tentativa de golpe e ataques às instituições democráticas.

A justificativa americana - de que Moraes estaria violando liberdades civis - ignora o contexto brasileiro, onde a desinformação e os ataques às urnas eletrônicas e aos Poderes colocaram em risco a estabilidade do país.

Punir um ministro por agir contra essas ameaças é, no mínimo, uma inversão de valores.

Mais grave ainda é o precedente que se cria: qualquer autoridade judicial que contrarie interesses estrangeiros pode ser alvo de sanções unilaterais, sem direito à defesa ou julgamento internacional.

Pode isso?

Do ponto de vista diplomático, o Brasil precisa reagir com firmeza. A submissão a pressões externas enfraquece nossa posição no cenário global e compromete a independência de nossas instituições.

É hora de reforçar alianças estratégicas com países que respeitam o multilateralismo e de levar essa disputa às instâncias internacionais, como à OMC.

A democracia brasileira não pode ser tutelada por potências estrangeiras.

A defesa da soberania passa, necessariamente, pela proteção de nosso Judiciário contra interferências externas.

E isso exige coragem política, unidade institucional e, acima de tudo, compromisso com os valores republicanos.

Vamos falar sem rodeios: os Estados Unidos decidiram punir um ministro do STF como se fossem os xerifes do mundo.

Alexandre de Moraes, alvo de supostas sanções por “violar direitos humanos”, virou o novo inimigo público dos EUA.

E por quê? Porque ousou enfrentar as big techs e uma rede de desinformação que ameaçava a democracia brasileira.

A pergunta de um milhão de dólares: desde quando o Judiciário brasileiro precisa ajoelhar-se aos EUA? 

É o velho imperialismo com roupa nova!

E o Brasil, se não reagir, corre o risco de virar uma colônia da Casa Branca.

Pior: Parte da classe política brasileira, é claro, não é toda, aplaude como se fosse vitória pessoal.

Celebram a punição de um ministro do STF por um governo estrangeiro.

Incrível: Celebram, também, o tarifaço! Só falta pedir que Trump invada o Brasil.

Isso não é oposição - é submissão!

Conclusão

A soberania não se negocia. O Judiciário não pode ser refém de interesses externos.

E quem defende a democracia tem o dever de denunciar essa interferência!

Quem manda no Brasil é o povo brasileiro!

Renato Otávio da Gama Ferraz
Renato Ferraz é advogado, formado pela Universidade Federal Fluminense (UFF), professor da Escola de Administração Judiciária do TJ-RJ, autor do livro Assédio Moral no Serviço Público e outras obras

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