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O marketing é mais um tijolo na parede

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Atualizado em 17 de outubro de 2018 13:51

Já tive oportunidade de lembrar que candidatos em eleições seguem o modelo típico da sociedade capitalista: são pensados e produzidos do mesmo modo que os produtos que os consumidores encontram nas prateleiras de supermercados e lojas de shopping centers. E o candidato é apresentado ao eleitor dentro da lógica da oferta e da publicidade à disposição dos partidos.

Aliás, as campanhas contratam os melhores publicitários para montar a propaganda e atualmente contratam os que mais entendem de redes sociais. E até a embalagem é bem estudada: cortes de cabelo, roupas, maquiagem, a postura etc., tudo é muito bem arquitetado.

E o que sai de dentro da embalagem? As falas. São planejadas, discutidas, ensaiadas, muito antes de serem pronunciadas, de tal modo que possam atingir os ouvidos, corações e mentes do público alvo (o eleitor).

Assim, pronto o produto (candidato), ele é entregue ao mercado de consumo (público alvo, imprensa, organismos institucionais etc.) como algo a ser comprado num dia certo, o das eleições.

Muito bem. Na semana passada, deu muito o que falar a "colocação política" de um dos fundadores da banda Pink Floyd, Roger Waters. Teve de tudo: críticas, elogios, vaias, aplausos, comentários na imprensa escrita, nas tevês, nas rádios, nas redes sociais, etc.

Só pelo que eu escrevi no parágrafo anterior, algo chama a atenção: a publicidade massiva e gratuita.

Isso mesmo! O que Roger Waters fez não passa da melhor estratégia de marketing conhecida. Conseguir espaço gratuito em todos os veículos de comunicação não é para qualquer um. Tinha que ser feito por um autêntico representante do capitalismo mundial.

E, claro, os consumidores - admiradores ou não do músico - acreditam que é para valer. Mostro na sequência como funciona esse tipo de sistema.

Roger Waters é um autêntico inglês, nascido em Surrey, Inglaterra. Ele se apresenta como simpático ao socialismo e ao comunismo, mas fatura como um autêntico capitalista. O ingresso mais barato para seus shows no Brasil custa R$180,00, passando por R$220,00, R$287,00, R$395,00, R$701,00 e chegando a R$1.620,00 (no camarote). É apenas mais um socialista caviar, como se diz.

Aliás, se o músico realmente quisesse fazer alguma diferença visando ajudar a mudar o mundo, ele seria um dos que poderiam, de fato, contribuir.

Como inglês, poderia candidatar-se ao Parlamento Britânico e até tentar ser o Primeiro Ministro. Certamente, poderia influir nos destinos do capitalismo e das injustiças do mundo.

Será que ele não sabe que foi sua pátria-mãe, a Inglaterra, que inventou o capitalismo moderno? O capitalismo, sistema econômico baseado na propriedade privada, que produz os bens de consumo e os comercializa visando o lucro, foi definido pelo filósofo escocês Adam Smith em 1776 (no estudo A Riqueza das Nações) em meio à Revolução Industrial na Inglaterra. O sistema funciona nesse modelo até hoje com a ajuda, apoio, incentivo etc. do imperialismo capitalista britânico.

O músico não gosta do Donald Trump?

Ora, se ele quisesse fazer algo contra o presidente norte-americano, poderia, sendo político britânico, lutar para que sua Imperialista Coroa não apoiasse o presidente que ele chama da fascista. Dou apenas um exemplo: em abril deste ano os EUA atacaram a Síria com o apoio explícito do Reino Unido e da França.

Caro leitor, não pense que estou aqui a criticar o músico. Na verdade, estou apenas mostrando a eficiência de sua tática típica de mercado. Resolvi escrever este artigo apenas para demonstrar do que se trata. É um exame da estratégia de capitalista inglês como ele é. Ele sabe muito bem manipular a opinião pública e seus fãs (clientes/consumidores). Se tem alguma coisa autêntica na tática, ela é certamente a que envolve as técnicas de mercado que visam a faturar cada vez mais, aumentando as receitas e o lucro.

Como na letra da famosa música do disco The Wall, permito-me fazer uma inversão para mostrar como funciona o marketing do capitalismo atual: a "fala política" do músico não passa de mais um tijolo no muro ("Another brick in the wall").