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A comunicação difusa em uma sociedade confusa

quinta-feira, 25 de março de 2021

Atualizado às 07:27

Em tempos de ofensas verbais, é preciso muito cuidado com o uso das palavras e das comunicações. Como disse há cerca de 2.500 anos o Filósofo Chinês Confúcio, "uma imagem vale mais que mil palavras". E há palavras que lançam no espaço imagens distorcidas...

Eu já contei uma vez: há alguns anos, tornou-se pública a informação de que um religioso, líder de uma igreja, acreditando no poder da língua inglesa - isto é, vivendo neste ambiente em que o inglês, ao menos aparentemente domina --- fez uma pregação extraordinária para seus seguidores: ele proibiu que os fiéis de sua Igreja consumissem a maionese da marca Hellmann's.

Disse o líder que, traduzindo o nome da maionese da língua inglesa  para a portuguesa, o resultado seria "homem do inferno", já que hell significa inferno e man, homem. Para reforçar seu ponto de vista, ele teria dito aos seguidores: "Você passaria o satanás no seu pão? Colocaria ele na sua salsicha ou comeria ele na sua salada com a sua família?".

O problema era que, como se sabe, a colocação da apóstrofe após o nome e antes do ésse, significa que algo pertence ao nome vindo antes. E Helmmann é o nome do criador da maionese, Richard Helmann, um alemão que a inventou e começou a vendê-la em 19051. Além disso, como a palavra tem origem alemã, na pior das hipóteses poderia ser traduzida por homem da luz ou gente da luz (hell = claro, iluminado, luminoso e man = gente, alguém), muito ao contrário do que ele pregou.

Depois foi demonstrado que a notícia era falsa: apenas uma brincadeira.

Voltemos ao mercado: em termos de sociedade capitalista, sabe-se que há muito tempo os profissionais de marketing descobriram que,  para vender produtos e serviços,  a comunicação com seu público-alvo poderia ser feita de modo indireto, com subterfúgios, com imagens ao invés de palavras, com frases que não necessariamente falassem do produto nem do serviço a ser vendido etc..

Do ponto de vista da mudança na forma de comunicação, poderíamos dizer, grosso modo, que antigamente a oferta apontava para a coisa em si e, com o passar do tempo, foi buscando metáforas ou símbolos que pudessem agradar e atrair o consumidor para as compras. Por exemplo, antigamente um anúncio de tevê diria o seguinte a respeito de uma geladeira: "Nossa geladeira é linda, espaçosa, dura muito e mantém os produtos fresquinhos". Mais para a frente, o anúncio diria: "Se você tiver nossa geladeira em sua cozinha, irá brilhar e ser especial. Todo mundo admira quem tem uma geladeira como essa".

A comunicação passou, digamos assim,  de uma fase de apresentação concreta do bem a ser vendido para uma fase psicológica, social e até política da inserção do consumidor na sociedade. Cada vez mais, o marqueteiro passou a investigar os anseios, desejos e interesses do consumidor. Não esqueceu, claro, das necessidades de seu público-alvo, mas passou a chamar atenção de seu coração, de sua imaginação e também de sua própria imagem construída no meio social.

Em tempos de rede social, isso, de algum modo afetou e afeta a comunicação feita pelas pessoas entre si e em relação aos fornecedores, às instituições, ao grupo social a que pertencem etc., e até em relação às pessoas com quem se digladiam ou de quem discordam. Algumas palavras e frases têm indicações expressas e outras, são metafóricas, mas carregadas de sentido (por exemplo, "cdf", "rolezeiro",  "patricinha", "playboy", "mauricinho", "coxinha", "mortadela" etc.).

Mas, em todos os casos, de forma direta ou indireta, há grande chance de confusão e incompreensão não só de quem recebe a comunicação como também por quem a faz e dependendo do ambiente pode significar "bullying", ofensa à honra etc.

De todo modo, muitos termos, tomados ao pé da letra de forma descuidada, isto é, sem um estudo mais aprofundado, podem gerar equívocos importantes ou simplesmente engraçados.

E em tempos de comunicação de massa via web/redes sociais, existe a possibilidade  de emissão de mensagens (e palavras) enganadoras ou postadas de forma deliberadamente falsas.

A verdade é que usada de forma direta ou metafórica, as palavras, as frases e as imagens podem dizer muito sobre quem as pronuncia e também podem ser usadas para vender produtos e serviços ou, ainda, para enganar, manipular, agredir, injuriar, causar danos etc..

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1 Retirei essa informação do site da Helmann's.