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Ingressar com ou Ingressar em?

quarta-feira, 29 de março de 2017

Atualizado em 28 de março de 2017 17:38

A leitora Andréa Teixeira Machry envia a seguinte dúvida ao Gramatigalhas:

"Professor José Maria da Costa, o verbo ingressar pode ser transitivo indireto ou intransitivo. Quando for transitivo indireto admite a preposição 'em'. Vejo operadores do Direito fazendo a seguinte construção: 'Fulano e fulana ingressaram 'com' a ação de obrigação de fazer'. Está correto? Não seria mais correto dizer '...ingressaram em juízo com a ação de obrigação de fazer'? Obrigada."

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1) Uma leitora indaga, em suma, qual é o correto emprego do verbo ingressar: tendo seu complemento regido pela preposição com, pela preposição em, ou tendo os dois complementos regidos cada qual por uma delas?

2) Ora, em linhas gerais para o que aqui interessa, costuma-se dizer que um verbo, em português, pode ser intransitivo (quando não tem complemento), transitivo direto (quando o complemento não vem precedido por preposição), transitivo indireto (quando o complemento tem preposição) ou bitransitivo (quando admite os dois objetos).

3) Num primeiro aspecto, porém, importa observar que a transitividade não é rígida nem imutável, mas deve ser observada no contexto, pois um mesmo verbo pode apresentar diferentes modos de construção, dependendo do tipo de complementação que se queira atribuir-lhe na frase. Exs.: a) "O réu falava muito" (intransitivo); b) "O réu falava palavras desconexas" (transitivo direto); c) "O réu falava a seus companheiros de cela" (transitivo indireto); d) "O réu falava palavras desconexas a seus companheiros de cela" (transitivo direto e indireto).

4) Num segundo aspecto, deve-se enfatizar que, embora resolva grande número de questões, essa lição sobre transitividade não contempla casos importantes, embora menos comuns, como aquilo que os gramáticos denominam verbos tritransitivos, de que traduzir é exemplo típico: "João Ferreira de Almeida traduziu a bíblia do grego para o português" (no caso, a bíblia é o objeto direto, do grego é um objeto indireto, e para o português é outro objeto indireto).

5) Num terceiro aspecto, é de se dizer que essa regra geral também não soluciona os casos de uns poucos verbos que os gramáticos chamam de bitransitivos indiretos (que têm dois objetos indiretos), como é o caso de discordar de alguém em alguma coisa, ou queixar-se de alguém a outrem.

6) E, no caso desses dois últimos verbos, também se reitera o conceito de que a transitividade deve ser analisada no caso concreto: a) "O aluno discordou do professor" (transitivo indireto para um primeiro tipo complemento); b) "O aluno discordou na questão da constitucionalidade" (transitivo indireto para um segundo tipo complemento); c) "O aluno discordou do professor na questão da constitucionalidade" (bitransitivo indireto).

7) O mesmo molde do último exemplo serve para vestir a frase trazida pela leitora quanto ao verbo ingressar, aqui trazido em diversas variações, todas corretas: a) "Os autores ingressaram em juízo" (transitivo indireto para um primeiro tipo de complemento); b) "Os autores ingressaram com a ação de obrigação de fazer" (transitivo indireto para um segundo tipo de complemento); c) "Os autores ingressaram em juízo com a ação de obrigação de fazer" (bitransitivo indireto).