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Conscientização - Exige qual preposição depois de si?

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

Atualizado às 08:42

O leitor Juliano Campestrini envia à coluna Gramatigalhas a seguinte mensagem:

"Prezado dr. José Maria da Costa, estou com dúvida no que pertine à redação de temáticas publicitárias e textos normativos que instituem semanas ou meses de conscientização acerca de assuntos específicos, como o mês de conscientização à saúde mental, ou uma semana de conscientização quanto à epilepsia. Sabe-se que quem se conscientiza se torna 'consciente de'. Nesse sentido, e considerando a regência verbal adequada, seria mais correto mencionar conscientização à epilesia (ou saúde mental, ou outro tema) ou conscientização da epilepsia".

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1) Um leitor envia a seguinte mensagem: "Estou com dúvida no que pertine à redação de temáticas publicitárias e textos normativos que instituem semanas ou meses de conscientização acerca de assuntos específicos, como o mês de conscientização à saúde mental, ou uma semana de conscientização quanto à epilepsia. Sabe-se que quem se conscientiza se torna 'consciente de'. Nesse sentido, e considerando a regência verbal adequada, seria mais correto mencionar conscientização à epilepsia (ou saúde mental, ou outro tema) ou conscientização da epilepsia".

2) Antes de qualquer outro comentário, deve-se ver que, quando se fala em conscientização, há dois aspectos que precisam ser considerados: por um lado, existe uma pessoa, ou grupo, ou categoria, que precisa assimilar essa consciência de que fala o contexto; por outro lado, há o assunto ou o conteúdo que constitui a própria matéria de que se deve tomar consciência.

3) Pois bem. Quanto à pessoa, ou grupo, ou categoria que precisam assimilar essa consciência de que fala o contexto, a preposição é sempre de: conscientização do aluno, da classe ou da categoria. Vejam-se exemplos do Dicionário Aurélio: "conscientização das mulheres" e "conscientização política das minorias étnicas".1

4) Já quanto ao assunto ou conteúdo que constitui a matéria de que se deve tomar consciência, Celso Pedro Luft admite o emprego de uma de duas preposições, a saber, para ou sobre: (i) "Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: [...] VI - promover [...] a conscientização pública para a preservação do meio ambiente" (CF-1988, art. 225, § 1º, VI); (ii) "O grande segredo para abandonar o cigarro ainda é ... a motivação pessoal e a conscientização sobre os males do fumo".2

5) Pelo que se observa do emprego para o último caso, entretanto, nada parece obstar o emprego de preposições ou mesmo locuções prepositivas que sejam sinônimas de sobre, como é o caso de acerca de ou de quanto a. Exs.: (i) "O grande segredo para abandonar o cigarro ainda é ... a motivação pessoal e a conscientização acerca dos males do fumo"; (ii) "O grande segredo para abandonar o cigarro ainda é ... a motivação pessoal e a conscientização quanto aos males do fumo". Além disso, o Dicionário Houaiss ainda apresenta a possibilidade de uso da preposição de: "A conscientização das causas psicológicas de uma somatização".3

6) É certo que às vezes se emprega o vocábulo conscientização ora apenas seguido da pessoa, ou grupo, ou categoria, ora complementado apenas pelo assunto ou conteúdo que constitui a matéria de que se deve tomar consciência; mas nada impede que se empreguem concomitantemente os dois complementos: (i) "É preciso haver a conscientização das mulheres"; (ii) "É preciso haver a conscientização sobre os males do fumo"; (iii) "É preciso haver a conscientização das mulheres sobre os males do fumo".

7) Há, contudo, um reparo final a ser feito quanto ao raciocínio do leitor que trouxe a dúvida. Em seu texto, ele emprega o verbo conscientizar para, de seu comportamento e de sua regência, extrair consequências para o regime e a sintaxe do substantivo conscientização. Essa maneira de pensar, todavia, não é adequada e deve ser evitada a todo custo, já que um verbo e um substantivo, mesmo que cognatos (nascidos, portanto, de um mesmo radical), podem não seguir igual regência (vale dizer, podem não admitir construção com a mesma preposição). Nesse sentido, veja-se, apenas para ilustração, que o verbo simpatizar admite apenas ser construído com a preposição com ("O país inteiro simpatiza com esse princípio")4, enquanto o substantivo simpatia admite toda uma série de preposições (a, com, de, entre, para com, por).5

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1 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 5. ed. Curitiba: Positivo, 2010, p. 561.

2 LUFT, Celso Pedro. Dicionário Prático de Regência Nominal. 4. ed. São Paulo: Ática, 1999, p. 121.

3 HOUAISS, Antônio (Organizador). Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2001, p. 806.

4 FERNANDES, Francisco. Dicionário de Verbos e Regimes. 4. ed., 16. Reimpressão. Porto Alegre: Editora Globo, 1971, p. 547.

5 FERNANDES, Francisco. Dicionário de Regimes de Substantivos e Adjetivos. 2. ed., 6. Impressão. Porto Alegre: Editora Globo, 1969, p. 351.