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Gostaria que ou Gostaria de que?

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Atualizado às 15:04

1) Um leitor indaga, em síntese, qual a forma correta (e aqui se completam os exemplos por ele trazidos, para maior facilidade didática): (i) "Gostaria de que você viesse visitar-me"; (ii) "Gostaria que você viesse visitar-me".

2) No que concerne à regência, não se discute que é correto dizer estar certo de que, estar persuadido de que, não há dúvida de que...

3) Assis Cintra, todavia, prega que, em tais casos, "a preposição de pode ser omitida com vantagem para a elegância da frase".

4) E traz ele exemplos dos mais significativos, extraídos dos mestres de nossa língua: a) "Não podemos duvidar que nos dará outro..." (Padre Antônio Vieira); b) "Lembrava-se que o pai a prevenira" (Camilo Castelo Branco).

5) Com argumentos dessas e de outras autoridades da língua, assim conclui o referido autor: "Não se deve considerar erro a frase 'Estou certo que o amigo virá' por 'Estou certo de que o amigo virá'. Tanto uma como outra é correta, porém há casos em que a supressão da preposição imprime elegância à frase" (CINTRA, 1922, p. 110-1).

6) Considerando exemplos como "Estou certo de que és culpado" e "Estamos persuadidos de que o fato existiu", anota, de igual modo, Cândido Jucá Filho (1981, p. 67) que tais estruturas "permitem a supressão do nexo prepositivo".

7) Também justifica o mencionado autor a possibilidade de omissão da preposição antes da conjunção integrante: assim, para ele, "Gosto que tu te divirtas" será tão correta quanto "Gosto de que tu te divirtas".

8) De igual modo, dá ele por justificada a omissão da preposição antes do infinitivo (JUCÁ FILHO, 1981, p. 67): a) "Apenas tive notícias de que V. M. gostaria ver escritas as vidas dos sereníssimos reis portugueses" (Melo); b) "... embora gostasse conduzir um cavalo bravo" (Antero de Quental).

9) Além desses, lembra ainda Laudelino Freire (1937b, p. 107) outros casos em que se dá a supressão da preposição antes do que, ainda que imposto seu emprego pela regência gramatical, trazendo em corroboração exemplos de autores insuspeitos: a) "Terrível palavra é um não. Não tem direito nem avesso; por qualquer lado que (em que) tomeis, sempre soa e diz o mesmo" (Vieira); b) "E o Arcebispo saía a continuar o seu ofício com a mesma vigilância e cuidado que (com que) soia" (Frei Luís de Sousa).

10) Com essas observações como premissas e voltando à dúvida trazida pelo leitor, pode-se, então, afirmar que estão corretas ambas as formas por ele trazidas: (i) "Gostaria de que você viesse visitar-me"; (ii) "Gostaria que você viesse visitar-me".