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Vós de cerimônia

quarta-feira, 25 de março de 2009

Atualizado em 7 de outubro de 2022 10:10

O leitor Norizonte Caxambu da Rosa envia a seguinte mensagem ao Gramatigalhas:

"Olá, Professor, gostaria de tirar uma dúvida. Este site, quando trata dos pronomes de tratamento, aponta um equívoco de Rui Barbosa:'... augustos lábios de vossa Majestade; e, escutando-o com a reverência devida à VOSSA posição...' (grifo meu). Consultando a GLP de Celso Ferreira da Cunha, fiquei na dúvida se não estaria Rui Barbosa utilizando 'vós de cerimônia'. Eis um trecho desta Gramática: 'Vós pode empregar-se com referência a uma só pessoa por polidez, para marcar a distância, o apreço social. Ex: Bem, bem! escusai-me 'vós'. Tendes razão Duque'. (J.Régio). Outro exemplo: 'Pai nosso, que 'estais' no céu...'. Obrigado e até outra oportunidade."

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1) Um leitor, ao dar com um erro que lhe apontaram em Rui Barbosa, no emprego de pronome de tratamento, disse haver ficado em dúvida se tal autor não estaria usando o vós de cerimônia.

2) Como primeira premissa, deixam-se de lado questões teóricas e se fixa que um pronome de tratamento como Vossa Majestade, Vossa Senhoria ou Vossa Alteza equivale, na prática, para efeito de concordância verbal, a você (que nada mais é do que uma forma simplificada de outro pronome de tratamento, Vossa Mercê).

3) Por isso, o correto é "Vossa Excelência dirigiu com firmeza os trabalhos da sessão de hoje", porque se diz também "Você dirigiu com firmeza..."

4) Essa substituição prática também vale para a concordância nominal: o correto é "Vossa Excelência dirigiu com firmeza seus funcionários", porque se diz também "Você dirigiu com firmeza seus funcionários".

5) Feitas essas ponderações, conclui-se que contraria os princípios de concordância do pronome de tratamento o seguinte trecho de Rui Barbosa: "... augustos lábios de Vossa Majestade; e, escutando-o com a reverência devida à vossa posição..." Corrija-se: "... augustos lábios de Vossa Majestade; e, escutando-o com a reverência devida à sua posição..."

6) Uma detida análise dos exemplos e das situações, porém, demonstra que as regras de concordância do pronome de tratamento (verbal ou nominal) não se confundem com o que alguns gramáticos chamam de vós de cerimônia, que é o emprego do pronome vós (que é segunda pessoa do plural) com referência a uma só pessoa, e isso por polidez, para marcar a distância ou o apreço social. Exs.:

I) "Bem, bem! Escusai-me vós. Tendes razão, Duque.";

II) "Pai nosso, que estais no céu..."