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Novembro sempre azul

domingo, 9 de novembro de 2025

Atualizado em 7 de novembro de 2025 13:34

O Novembro Azul já nasce, não com a tonalidade delicada do Outubro Rosa, mas sim enlaçando o azul, cor que retrata o céu e o mar traduzindo harmonia e segurança e, acima de tudo, sensação de amplitude, bem-estar e liberdade, com a intenção de conscientizar o homem a fazer a devida prevenção do câncer de próstata e orientá-los a respeito dos exames preventivos, como o toque retal e o PSA, ambos com chances de aumentar consideravelmente a cura. Trata-se de uma campanha, endossada como política pública, que já vem se solidificando e atingindo consideravelmente seu intento.

Novembro Azul, enlaçado pela fita azul, veio a reboque do Outubro Rosa, com a finalidade de alertar os homens da importância do diagnóstico preventivo do câncer de próstata. O nome é relacionado com o dia 17/11, considerado o Dia Mundial de Combate ao Câncer de Próstata. Na Austrália, em 2003, surgiu o movimento Movember, que é a junção da palavra moustache, que significa bigode, com "november", referente ao mês de novembro, dedicado à saúde do homem. Daí que os símbolos da campanha passaram a ser, no Brasil, o bigode e a fita de cor azul.

Os homens são mais arredios do que as mulheres para a realização de qualquer exame médico preventivo. Talvez seja pela sua própria natureza ou até mesmo pela desinformação a respeito das doenças mais prováveis para o mundo masculino. Assim, o Ministério da Saúde edita programa relacionado com o câncer de próstata buscando a população masculina na faixa etária dos 20 aos 59 anos de idade, com a finalidade de chamar a atenção e despertar o interesse pela própria saúde, além de propiciar os serviços, preventivos ou não, dos agravos com maiores taxas de ocorrência.

A Secretaria do Estado da Saúde de São Paulo, por sua vez, implantou um interessante programa que carrega um nome chamativo: "Filho que AMA leva o pai ao AME", que visa alertar o filho a convencer o pai para uma consulta médica, oportunidade em que se avistará com profissionais da enfermagem para as avaliações necessárias, além de exames laboratoriais de sangue e eletrocardiograma e também com consultas com cardiologistas e urologistas. Se, por ventura, houver necessidade de investigar outro problema de saúde, serão realizados mais exames no AME, em busca do diagnóstico necessário.

Com o arsenal tecnológico de hoje à disposição da medicina científica, exames de última geração vêm explorando e conseguindo ótimos resultados para se obter a leitura do genoma humano, descoberta que possibilita a correção de eventual enfermidade genética que acompanha seguidas gerações. A TGH - Terapia Gênica Humana é de vital importância para solucionar o problema de milhões de pessoas vitimadas pelas doenças de cunho genético. Moser, com razão, concluiu: "Esta virou uma espécie de melodia que soa aos ouvidos de todos como esperança de vitória definitiva sobre um mal que atormenta a humanidade de todos os tempos."1

Pois bem. Como é sabido, a atriz Angelina Jolie, em razão do mapeamento genético que resultou positivo para a potencialidade do câncer que vitimou sua mãe - cerca de 87% de desenvolver a mesma doença, sem apresentar, no presente, qualquer início da moléstia - submeteu-se a uma mastectomia dupla (retirado dos seios).

Pode-se imaginar, no mesmo caminho, a situação de um homem que carrega histórico familiar favorável ao desenvolvimento de câncer de próstata e se submeta a um mapeamento genético, conclusivo pela potencialidade da doença, unicamente pelas informações genéticas, sem apresentar, no presente, qualquer início da moléstia.

A pergunta que se faz é se justifica a intervenção médica preventiva com a confiança no provável desenvolvimento das células cancerosas. Quer dizer, a cirurgia será realizada em um paciente saudável no momento atual e sem os sintomas, mas com possibilidade de desenvolver a doença.

Trata-se de um questionamento eminentemente bioético. O exame realizado é resultado de um refinamento científico de vários anos de pesquisa e acompanhado por outras práticas médicas conclusivas e irrefutáveis. A tecnologia revela novos contornos que trazem benefícios para o homem, no sentido de proporcionar-lhe uma vida com melhor qualidade, evitando doenças incuráveis e sofrimentos dolorosos, sem qualquer ofensa ao princípio da dignidade humana.

Indiscutível a nova realidade que se avizinha e com ela espessas nuvens precisam ser dissipadas. O procedimento invasivo, se optado pelo paciente, será realizado ainda sem a manifestação da doença e, no caso de prostatectomia radical, além da possível aplicação da radioterapia, carregará o receio da impotência sexual e da incontinência urinária. É, realmente, uma decisão que irá marcar uma nova etapa na prevenção médica da humanidade, tendo como sustentáculos os princípios da autonomia da vontade do paciente e da beneficência, ambos da bioética.

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1 Moser,Antônio. Biotecnologia e bioética: para onde vamos? Petrópolis, RJ: Vozes, 2004, p. 225.