A Laudato Si e a COP30
domingo, 16 de novembro de 2025
Atualizado em 14 de novembro de 2025 13:24
Com o início da COP30, que conta com a participação de quase 60 chefes de Estado ou de governo, é oportunidade para que todos os representantes se debrucem sobre o tema principal que pretende construir um novo modelo de civilização, já que o existente é considerado desgastado e com inúmeras sequelas advindas das ações humanas que provocam mudanças antropogênicas, com o desmatamento e degradação do meio ambiente, afetando o bem-estar das pessoas.
Não se tratar de atender propostas de alguns países para buscar medidas preventivas e sim que a casa comum da humanidade necessita, com urgência, de reparos. O ser humano, nesta toada de aniquilação, não é só o responsável pela catástrofe ecológica, como, também, passa a ser vítima de tamanha degradação.
Há, portanto, necessidade premente de construir condutas que possam corrigir os modelos de crescimento para que seja restabelecida a convivência perfeita entre o humano e a natureza. A esse respeito tem total aderência, assim como pode servir de base e sustentação para a reunião mundial, a Carta Encíclica Laudato Si, de iniciativa do Papa Francisco, que incorporou a humildade franciscana em seus atos e preocupou-se, não só com o avanço da biotecnologia, como, também, com o ser humano, visto tanto na sua individualidade, como na sua contextualização coletiva.
Prega a mensagem de união de toda família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral. O Bispo de Roma assim se manifestou na oportunidade: "Lanço um convite urgente para renovar o diálogo sobre a maneira como estamos construindo o futuro do planeta. Precisamos de um debate que nos una a todos, porque o desafio ambiental que vivemos e as suas raízes humanas dizem respeito e têm impacto sobre todos nós".1
Pode-se até dizer que a salvadora expressão "desenvolvimento sustentável", entendida hoje na sua interpretação mais extensiva, cunhada com a intenção de balizar as intervenções do homem no meio ambiente, provocou uma nova responsabilização social e desencadeou o interesse para que várias comunidades mundiais assinassem compromissos e convenções para estancar ou até mesmo tutelar a vida e a saúde das pessoas, além de evitar danos irreversíveis ao próprio ambiente, provocados pela prática indevida das atividades econômicas.
Todos os povos, notadamente os chefes de Estado já se certificaram por meio de inúmeras as projeções, que é impossível um crescimento ilimitado num mundo dotado de recursos finitos e esgotáveis. A natureza não possui a capacidade ilimitada de prover a economia e daí a necessidade do acesso ecologicamente equilibrado e da exploração racional das riquezas naturais.
O brado de alerta anunciado no documento papal faz com que novos olhares sejam direcionados para um tema de tamanha importância - a humanidade, decisivamente, não pode continuar sugando o capital natural do planeta além da sua capacidade de renovação e de regeneração dos estoques de bens - e que até hoje garantem a sobrevivência de todos os seres na Terra. Problemas comuns a todos os povos demandam soluções concretas globais. As nações, nas suas individualizadas posturas, pretendem se adequar e ajustar ambientalmente as suas políticas públicas às práticas cotidianas de proteção e conservação do patrimônio ecológico mundial. Os governantes sabem que não é mais possível qualquer postergação. A natureza já está respondendo e cobrando, indistintamente, preço elevado para tamanho descaso.
Aquilo que deveria ser uma casa comum, representando o condomínio mundial ou patrimônio comum, a res communis omnium (coisa comum a todos), passa a ser um objeto de fruição imediata, tratando a natureza como se máquina fosse, podendo montá-la e desmontá-la, de acordo com as necessidades e conveniências do modelo econômico.
A reflexão do documento papal faz ver que muitas propostas consideradas viáveis e oportunas para o momento em que foram editadas, com o passar do tempo restaram frustradas, quer seja pela imposição dos mais poderosos, quer seja pelo desinteresse dos demais.
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1 Papa Francisco. Laudato Si'. Paulus Editora, Edições Loyola Jesuítas, 2015, p. 16.

