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Feliz natal, amigo leitor

domingo, 21 de dezembro de 2025

Atualizado em 19 de dezembro de 2025 11:19

O amigo você escolhe e acolhe. Passa a ser sua indisfarçável companhia, para quem abre as portas de sua moradia, convida-o para compartilhar do fogo crepitante que brota da lareira e preenche o vazio do coração proporcionando uma verdadeira vivência de paz. É aquele com quem se convive todos os dias do ano e não o descarta, como a folhinha da parede. Também não é efêmero como os fogos de artifício que, apesar da beleza do espetáculo, seduzem por um átimo, mas logo se espocam e se desmancham no ar. Vai muito além. É merecedor do brilho do olhar limpo e das manifestações mais sinceras proporcionando emoções telúricas de pessoas que se estimam.

Nesta época do ano que já expira, é o momento apropriado para renovar os votos de paz e prosperidade, não só para as pessoas com as quais você convive, mas sim com abrangência à humanidade. Afinal, dependemos dela para qualquer projeto de felicidade. Assim, meu amigo sem nome, sem cor, sem sexo, sem credo, mas com a identidade firmada nos bons propósitos, lanço minha breve reflexão, seguida da mensagem que você é merecedor.

Você já revelou, pelo fato de estar lendo esta fraterna mensagem, que a sua conduta vem sendo pautada por uma demonstração inequívoca de bom caráter, localizando-se no patamar do homo medius, equidistante das perigosas extremidades. A verossimilhança com as virtudes catalogadas na cartilha do bem viver, faz você olhar o mundo com lentes perfeitas para poder ler com os olhos e cantar com a alma.

No Natal, desejo a você que continue seu caminhar, sem queimar etapas, passo a passo, com a bandeira da renovação hasteada e inflada pelos ventos da espiritualidade. Faça um pit stop na correria desenfreada deste mundo, penetre em seu interior, atravesse os desvãos e decrete o silêncio necessário para renovar-se e também organizar as incertezas para abrir brechas em busca de novos caminhos. Se quiser passar despercebido, seja como todo mundo. Mas, lembre-se que a arte de viver consiste em tirar o maior bem do maior mal.

Outro dado alvissareiro é olhar para o seu interior e entrar em comunhão com você e com a humanidade, da qual é o todo e parte dela em sua individualidade. É fazer efervescer a luta "do si contra si mesmo", entoada por Guimarães Rosa. O pensamento, nesta dimensão, é universal e, como tal, traz o postulado comum do bem-estar das pessoas, independentemente do credo que cada uma professa. A unidade do homem total reside no amor, de acordo com Hegel. Basta abrir as comportas da espiritualidade, estender suas súplicas que colherá no fundo de sua alma tudo que viu de belo na vida. É a oportunidade para ressuscitar a potencialidade do espírito.

Para o ano que se inicia, deixe a porta aberta para a entrada das boas novas e receba os votos de alegria, saúde e prosperidade, que serão solenemente entregues pelos elfos e duendes, aqueles que tomam conta do pote de ouro existente no final do arco-íris. Faça uma colheita de todos os seus pensamentos e recicle aqueles que se destacaram quando retirados com a pinça do joalheiro. A arte de viver consiste em tirar o maior bem do maior mal. É a escola de aperfeiçoamento do ser humano.

A repetição de velhas fórmulas e embirrar contra as adversidades, faz com que você se perca definitivamente no labirinto de sua memória e enterre cada vez mais a Rosa de Drummond. Não precisa rascunhar novo DNA e nem mesmo esmiuçar seu genoma. São imutáveis. Somente a vontade que existe dentro de você o torna superlativo. Explore seu potencial ainda envolto nos mistérios da vida e aposte todas suas cartas na paixão e emoção. Sem elas você fica sem acesso à contemplação do belo. Por fim, abrace todas as fases de sua vida e viva-as intensamente. Se não guardar as cartas da juventude, não conhecerá um dia a filosofia das folhas velhas, profetizava Machado de Assis.