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Advocacia e mídia: um precursor

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Atualizado às 07:11

O meu contato com Leonardo Frankenthal não foi constante e nem intenso. Diria até que fomos conhecidos, mas não amigos, por meras razões do acaso, que não nos proporcionou um contato amiudado.

Quando comecei a trabalhar no escritório de meu pai em 1961 ou 1962, Frankenthal estava despontando como estrela fulgurante da advocacia criminal.

Como o escritório de meu pai era exclusivamente dedicado à área cível, naquela ocasião eu nem sequer conhecia Leonardo de vista. Eu era um office boy do fórum cível, já à época instalado na Praça João Mendes, contando com não mais do que seis andares utilizados.

Com o correr dos anos comecei a ouvir falar dele e de outros grandes advogados criminais: Dante Delmanto; Marco Antonio; Waldir Troncoso Peres; Raimundo Paschoal Barbosa; José Aranha; Henrique Vainer; Viana de Moraes e tantos outros.

Passei a frequentar o fórum criminal ainda quando solicitador acadêmico, entre 1968 e 1969. Foi José Carlos Dias quem possibilitou o meu primeiro contato com uma vara criminal, indicando-me para trabalhar com ele em um caso de homicídio.

Desse caso para outros, foi um passo. Os presidentes dos 1º e 2º Tribunais do júri nomeavam-me para inúmeros processos de réus carentes.

Desta forma comecei a frequentar diariamente o nosso venerando e magnífico Palácio da Justiça, onde estava instalado o fórum criminal.

A partir dessa ocasião Frankenthal tornou-se familiar para mim, embora o nosso relacionamento fosse superficial. Digo ter me familiarizado com ele em face de comentários, notícias de jornais e dos seus feitos como advogado do júri.

Advogado competente, aguerrido, foi alvo de críticas, não raras, por sua impetuosidade e arrojo na defesa dos clientes, especialmente daqueles levados a júri, onde essas características mais se acentuavam.

Leonardo Frankenthal talvez tenha sido o advogado criminal que com mais desenvoltura, desembaraço e competência soube relacionar-se com a imprensa, naquela época.

Nos anos sessenta, havia uma ainda limitada interferência da imprensa na pauta da Justiça Penal. Era mantida uma respeitosa distância entre o jornal e o fórum. O magistrado era acatado e o advogado reverenciado.

Distância, acatamento e reverência desaparecidos nos dias de hoje. Difícil, na atualidade, ler-se uma matéria que enalteça aspectos positivos da Justiça e da atuação dos advogados.

À época, em primeiro lugar, os papéis dos personagens da cena judiciária eram expostos com fidelidade pela imprensa, o que facilitava a compreensão da missão de cada qual pela sociedade. Havia uma preocupação pedagógica, de bem informar, por parte da imprensa. O direito dever de punir do Estado vinha acompanhado nas matérias jornalísticas do direito à liberdade e à dignidade dos acusados.

A sociedade não estava impregnada da cultura punitiva e repressiva hoje vigente. Havia um sentido do justo mais arraigado na consciência e na alma da coletividade.

Foi nesse ambiente que Frankenthal soube introduzir na mídia, rádio e principalmente jornal, a advocacia criminal, com as suas glórias e as suas agruras. Deu ao sagrado mister de defender uma dimensão que extrapolou os quadrantes do poder judiciário para penetrar nos domínios da sociedade.

Pode-se afirmar sem medo de erro ter sido Leonardo Frankenthal um notável "marqueteiro", não daqueles que criam situações ficcionais, mas o marqueteiro que com a própria realidade, sem maquiagens e simulações, enaltece e dignifica uma atividade humana, no caso uma das mais nobres e sagradas atividades do homem que é o exercício do direito de defesa.