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A tragédia reveladora

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Atualizado às 07:58

A mãe com uma pá nas mãos vai removendo a lama, a terra, as pedras e madeiras para encontrar um tesouro: seu filho. Pacientemente, com aflição e angústia controladas e com esperança vai palmilhando o chão macabro, ao encontro daquele que não mais existe.

Em outro dia, tal como um pescador, talvez escafandro, ou mesmo um garimpeiro, o pai vai explorando as margens do rio à cata de uma preciosidade: seu filho. Ele viajava em um ônibus que foi tragado pelas implacáveis águas. Lá se foi. Moço, moço também o pai. O que importa a idade? A fúria das águas não respeita idade.

Mães, pais, avós, avôs, irmãos, amigos. Até bebês recém-saídos do útero materno foram levados para outro patamar. Há quem poderá dizer que esses seres foram poupados das misérias e sofrimentos humanos. Mas, ninguém lhes perguntou se queriam ser poupados.

O poder da natureza mais uma vez suplantando a vontade e os esforços humanos. E o homem na sua predatória ignorância a desafia obstinadamente.

Pobre homem, sem poder, sem inteligência e, principalmente, sem humildade para reconhecer as suas limitações, a sua impotência em face do universo.

Desgraças como a de Petrópolis tem, no entanto, o condão de revelar um lado edificante, nobre, que nos dá esperança: a solidariedade. Entidades, ONGs, os valentes motoqueiros e pessoas anônimas da cidade e de fora dela, entregam-se à sublime tarefa de ajudar o outro.

Nessas tragédias tem aflorado o amor ao próximo. Amor que se estendido a dimensões mais abrangentes nós teríamos menos guerras; violência; mortes; violação de direitos humanos; queima de florestas; predação de rios e outras condutas destrutivas. O amor substituiria a cobiça que é o guia de uma sociedade argentária e insensível.

Gostaria muitos de ver segmentos das elites pegando os seus carros e as suas motos para ir a Petrópolis, não para veranear ou invernar, mas para praticar atos de amor.

E mais, que essa tragédia desperte a consciência embotada das autoridades, de todos os níveis, para adotarem medidas de proteção às populações de risco de todo o país. Não devem prometer nada. Devem agir preventivamente, revelando que possuem alguma decência, dignidade, honradez e amor ao semelhante.