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Mudou o Natal ou mudamos nós?

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Atualizado às 09:02

Desejos de paz, fraternidade, união entre os homens são ouvidos nos quatro cantos nessa época natalina.

Uma preocupação comum, além dos votos, são os presentes que exteriorizam, segundo dizem, a estima, o bem querer, a amizade.  É óbvio, o comércio é quem agradece esse hábito. Todos querem comprar, aqueles que tem e aqueles que não tem recursos. Estes tentam dar um jeito.

Também como marca dos dias natalícios, há as comemorações. Almoços e jantares em família, não só no dia em que Cristo veio à terra, mas em dias antecedentes. Festas nos escritórios. Encontros em bares e restaurantes. Drinks nas casas. E, tudo o mais que denote confraternização.

Eu me pergunto se esse ano no Brasil o espírito natalino estará presente como nos anteriores. As intoleráveis barreiras da intolerância continuarão a separar amigos e parentes influenciados pelos rumos da política? A ruptura da sociabilidade plena estará presente nessas horas em que se deveria estar apertando as mãos, dando abraços e até vertendo lágrimas?  

Imagino que exatamente para preservar ainda o que resta de união, muitas e muitas famílias não farão festas com todos os seus integrantes. Ressentimentos gerados pelo fanatismo político poderão macular a fraternidade natalina. Assim, melhor será que alguns não estejam presentes nas comemorações, para evitar rupturas definitivas.

Uma situação talvez jamais vista no país. Eu com certeza nunca a assisti, nos meus setenta e sete anos. Cabe aqui a pergunta de Machado de Assis "Mudou o Natal ou terei mudado eu?". O Bruxo do Cosme Velho confessou a sua falta de inspiração para fazer um poema natalino e limitou-se a fazer essa indagação. E, com efeito, se naquela época já lhe faltou inspiração, hoje ele não a teria sequer para criar aquele singelo verso-indagação.   

Parece- me que o Natal não mudou. Com certeza mudamos nós. Claro que nem todos. Apenas aqueles que se deixaram influenciar por maus exemplos. São os que com certeza já estavam predispostos a acolhê-los. Como os exemplos maus passaram a ser constantes e divulgados por meio de falas, escritos e comportamentos aquela parcela já suscetível a se deixar influenciar saiu do armário e passou a aderir a aquilo que lhe era sugerido.

Eu, por exemplo, tenho um amigo que sempre possuiu idiossincrasias marcantes que o revelavam um conservador empedernido. Avesso aos avanços da sociedade em relação aos direitos das minorias, incluindo das mulheres, bastou surgir no cenário político um arauto do discurso retrógado e ultrarreacionário para ele se identificar e aderir às pregações.

Eu continuo a gostar dele e a ser seu amigo. Não sei se a recíproca é verdadeira. Caso não seja, só me resta lamentar mais esse mau exemplo daquele a quem os seguidores acham dever obediência, em detrimento de sua liberdade individual. Para eles mudou o Natal, eles eu acho não, continuam os mesmos. Que pena!  

Sempre apreciei o Natal. O clima que ele gera. Os votos que transmito e recebo de amigos e conhecidos. Os comes e bebes. Os presentes que ganho e os que eu dou. As músicas natalinas, embora sempre as mesmas, me emocionam.  A alegria estampada nos rostos das minhas netas que é a mesma daqueles dos meus filhos quando crianças.

Cultivamos em casa um hábito, na verdade um gesto de solidariedade, cumprido em todos os Natais. Minha mulher acompanhada das netas sai a esmo distribuindo roupas, brinquedos e alimentos para os que ela encontra nas ruas.

O ponto alto do dia 24 é a meia noite, quando após rezarmos uma oração, nos abraçamos. Todos os anos eu aguardo esse momento como o mais significativo do Natal.

A reza simboliza a fé e a esperança, enquanto o abraço significa a comunhão com o outro. Seria bom que houvesse rezas de quaisquer religiões, abraços, afagos e que todos estivessem com a alma leve, sem ressentimentos, mágoas ou intolerâncias.