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Fui técnico de esgrima: verdade e mentira

terça-feira, 4 de abril de 2023

Atualizado às 09:15

Tenho escrito por gentileza de Migalhas singelas colunas sobre variados assuntos. Agora estou traçando recordações também diversas e um tanto desordenadas sobre fatos e pessoas marcantes em minha vida.  Procuro situar as minhas lembranças no tempo e no espaço e, com isso, reviver situações não só de importância pessoal como aquelas marcantes para as respectivas épocas. 

Eu quero salientar um aspecto referente à memória. Por vezes surgem recordações que não nos permitem ter certeza se nós fomos participantes dos eventos lembrados. Vale dizer que nem sempre nós vivemos o que recordamos. A nossa memória não distingue com exatidão se certas imagens e eventos foram por nós vivenciados ou se nos foram transmitidos por terceiros.

Por vezes, a descrição que nos é feita passa a povoar a nossa mente com tal intensidade que ficamos sem saber se retrata uma realidade ou se faz parte do nosso imaginário. Os fatos ficam tão arraigados em nosso íntimo que quando os transmitimos passamos a impressão de que efetivamente foram experiências pessoais. Por vezes foram. Outras não.

Há acontecimentos reais que, no entanto, retratam falsas verdades. Dir-se-á que se é falsa não é verdade. A lógica indica estar correta a afirmação. No entanto, há duas verdades: a verdade verdadeira e aquela que retrata uma afirmação verdadeira, mas com conteúdo enganoso.

Passo a citar um evento do qual fui protagonista e que expressa o que acima foi dito.

Já afirmei em outro escrito a minha inaptidão futebolística. Não só para o esporte da bola como para quaisquer outras modalidades. Aliás, aqui abro um parêntese. Devo afirmar que a minha incapacidade não era apenas esportiva, pois no campo da música igualmente eu jamais tive alguma inclinação. Herdei essa deficiência artística de meu pai. Ao contrário de meu irmão que absorveu o dom musical de minha mãe, que possuía ouvido privilegiado. Era uma exímia violonista. O seu sonho era que seu filho mais velho tocasse algum instrumento. A sua derradeira tentativa foi dar-me um pandeiro. Em vão. Minha incompatibilidade com o brasileiríssimo instrumento foi absoluta.

Bem, volto ao binômio verdade, falsidade. Houve um esporte ao qual eu me dediquei. Dedicação apenas documental. Explico. Até hoje guardo com orgulho a carteira de técnico de esgrima da Federação Paulista de Esportes Universitários (FUPE). Ela me foi entregue por Ulisses Nutti Moreira, presidente da entidade e presidente da Associação Atlética 22 de Agosto, da Faculdade Paulista de Direito, da PUC. Fui padrinho de casamento de Ulisses, mas nessa época eu não o havia apadrinhado. Portanto, a carteira não se deve a essa condição. A escolha de Ulisses foi técnica. 

Durante os jogos Universitários Leste Sul, que aconteceram na cidade de Piracicaba, São Paulo necessitava de um representante nas reuniões e assembleias que lá se realizariam. Havia a possibilidade de confrontos políticos entre as várias Federações Universitárias. Eu fui o escolhido para os embates que ocorreriam e ocorreram. No entanto, para ser inscrito nos jogos eu precisaria integrar a equipe de algum dos esportes da competição. Para mim restou a esgrima. Não iria como esgrimista, por razões óbvias. Colocaram-me na honrosa condição de técnico.

Portanto esse é um exemplo de fato formalmente verdadeiro, mas mentiroso em sua essência.