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Descobrindo o Brasil

quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Atualizado às 08:00

Escrevi em certa ocasião que "Quem gosta do Brasil é estrangeiro". O título talvez conduza à generalização no sentido contrário: o brasileiro não gosta do Brasil. Há compatriotas que obviamente amam o país em que nasceram. Diria que, em regra, esses pertencem às camadas menos privilegiadas da sociedade. São homens e mulheres simples que herdaram dos seus pais e dos ensinamentos escolares o respeito pelos símbolos da pátria; o culto pelos que se destacaram nos campos da literatura, da música, das artes plásticas e em outros setores; a admiração por alguns eventos históricos como a independência, a inconfidência mineira, a libertação dos escravos e muitos outros motivos de estima que o país nos fornece.  

Lamentavelmente, o mesmo sentimento de apreço pelo que é nosso nós não encontramos em alguns setores mais sofisticados pertencentes às elites, especialmente aquelas melhor posicionadas financeiramente. Há uma indisfarçável tendência dos seus integrantes em supervalorizar tudo que é oriundo de fora em detrimento do que é nosso. São pessoas que ao obterem êxito econômico e posição social destacada passam a negar as suas raízes e principalmente olvidar as razões desses êxitos, todas elas vinculadas ao país em que nasceram. Trocando em miúdos, quero dizer que ganham dinheiro no Brasil e o desprezam. Mais do que isso, sonham em deixar o país, ou ao menos desejam mandar seus filhos para outras plagas.     

Esse desapego talvez se deva ao fato de termos sido uma colônia durante três séculos. Mesmo após nossa independência não adquirimos com clareza e com firmeza uma identidade nacional. Nos deixamos influenciar por culturas alienígenas a ponto de usarmos outros idiomas como linha auxiliar de nossa língua.   E isso, em uma escala alarmante. Tivemos primeiro o francês e, posteriormente, o inglês impregnando a nossa fala cotidiana e substituindo o português na publicidade, na marca de produtos e na denominação de estabelecimentos comerciais.

Esses e outros aspectos representam um nítido complexo de inferioridade.  Nelson Rodrigues afirmou que nós padecemos do complexo do cão vira lata e somos verdadeiros Narcisos ao inverso. Olhamos para o espelho e não gostamos do que vemos.

Eu ousaria contestar o grande teatrólogo para dizer que o cão vira lata, como aliás afirmou Eduardo Giannetti possui uma grande capacidade para improvisar, criar soluções e superar obstáculos tal como nós brasileiros. Esses atributos do vira lata permitem que ele sobreviva a todas as agruras da vida.  Esta comparação feita por um ângulo positivo mostra que se somos como o cão que vira as latas tanto como ele temos condições de resolvermos problemas e de construirmos o nosso próprio futuro, com as aptidões que nos são inatas. Portanto, "herdeiros" ou não dessas características caninas, não há razões para essa depreciativa noção que alguns possuem. O atávico desamor nacional que marca certos segmentos sociais constitui sem dúvida um fator importante de atraso civilizatório em vários setores da vida nacional.

Eu fiz toda essa digressão como sinalização para essa questão da baixa estima que nos acompanha, parece que desde sempre. Na verdade, quero exatamente contar algo que nos dá orgulho e envaidece. Escrevo sobre isso, pois chegou a hora de enaltecermos o positivo e não ficarmos presos ao depreciativo, ao reprovável.

É pouco aquilo que vou discorrer brevemente. Mas, de pouco em pouco vamos descobrir que temos uma infinidade de aspectos dos quais nos orgulhamos.

Vou me referir a um museu que visitei na cidade do Rio de Janeiro. Trata-se do Museu Histórico Nacional. Está instalado num adorável conjunto arquitetônico que imagino ter sido uma fortaleça. Posteriormente, um palácio que deve ter tido inúmeras serventias. Localizado na região central do Rio, perto do Aeroporto Santos Dumond e quase encostado à antiga Casa de Misericórdia, ele não fica devendo a qualquer museu do mundo se for feito um cotejo. As obras: pinturas esculturas, peças decorativas, louças, moedas, armas, móveis, quadros de personagens, estão expostos e organizados cronologicamente e seguidas por explicações colocadas ao lado de cada uma de molde a nos dar informações completas sobre cada uma e, sendo o caso, sobre os seus autores. Inclusive sobre a nossa pré-história há obras e valiosas explicações. Toda a nossa história está descrita e exposta de forma pedagógica, ilustrativa e abrangente dando-nos, tanto quanto um museu pode dar, noções valiosas das nossas origens, da nossa cultura e de como construímos o país que temos.

Eu citei apenas um dos nossos museus. Inúmeros outros devem ser realçados: Museu do Amanhã; Museu do Ipiranga; Museu de Belas Artes; Museu da República (Catete); Museu de Petrópolis; Museu da Quinta da Boa Vista; Museu do Futebol; Museu da Língua Portuguesa; os vários Museus de Imagem e de Som e outros tantos de Arte Moderno e Arte Contemporânea espalhados pelo Brasil.

O destaque agora foi para os museus. No entanto basta que nos despojemos do preconceito inferior e adquiramos autoestima para enxergar nossas qualidades e nossos valores. Precisamos entender definitivamente que não somos piores nem melhores do que outros povos, somos sim diferentes. Salve essa diferença.