As peraltices acadêmicas
quinta-feira, 3 de julho de 2025
Atualizado em 2 de julho de 2025 13:44
A vida acadêmica sempre foi marcada por momentos de hilaridade e de comicidade. Quando da fundação dos cursos jurídicos os estudantes já quebravam a sisudez do conservador e austero burgo. As rígidas normas de conduta impostas pela então em ascensão burguesia paulistana não ultrapassavam os portais da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.
Comentava-se à época que os estudantes eram adultos infantilizados, em razão de suas constantes "peraltices e travessuras". Em verdade, as brincadeiras acadêmicas não ficaram restritas aos primórdios dos cursos jurídicos e nem exclusivas dos acadêmicos do Largo. Venceram os limites do tempo e foram adotadas pelos estudantes de direito de um modo geral.
A alegria, os folguedos, as irreverências se fazem presentes desde o início dos cursos de Direito. O trote, a peruada, as aulas inaugurais, não raras vezes dadas por alunos, que se fazem passar por professores. Essas "preleções" eram marcadas por um infindável rosário de absurdas e desconexas expressões que muito impressionavam os alunos incautos.
Quando entrei na PUC a minha turma foi brindada com uma "palestra" absolutamente hilária, repleta de frases ininteligíveis, alternadas por expressões latinas, proferidas com grande eloquência e rico gestual por um, depois soubemos, veterano do quinto ano, chamado Rodolfo Wiss Júnior, hoje um querido amigo. No meio do show bestialógico, mas que encantava os alunos, um colega de turma sentado ao meu lado exclamou "essa PUC é foda hein!"
Pois bem, na mesma PUC a tradição galhofeira dos acadêmicos foi mantida. Vários episódios pitorescos denotavam o espírito buliçoso dos estudantes.
Certa ocasião vestiu-se um aluno de anjo, com asas e tudo, que foi colocado no segundo andar preso à uma corda pela cintura. Foi colocado na janela para ir descendo devagar até que os seus pés surgiram na janela do andar de baixa, onde ministrava aula o professor Franco Montoro. Ao ver um pé caindo, a aluna, encostada na janela, abriu um sonoro berreiro que a todos assustou. Instalada a balburdia a aula foi suspensa para que o anjo fosse acolhido pela janela. Soube-se depois que a corda que o sustentava estava quase se rompendo, fato que levaria o angelical colega para paragens celestiais.