Bons ventos, primeiros momentos e os próximos movimentos
segunda-feira, 29 de dezembro de 2025
Atualizado em 26 de dezembro de 2025 08:05
Com o término do Brasileirão 2025 e a definição da Copa do Brasil em seu último ato, a temporada do futebol brasileiro chegou ao fim com boas perspectivas para o próximo ano, não só pela Copa do Mundo de Seleções como principalmente pelo início da experiência das mudanças que passarão a vigorar em nossas competições.
Mesmo alvo de tantas críticas e desconfiança, a entidade máxima do futebol brasileiro promoveu repentinamente a eleição de sua nova diretoria no mês de maio prometendo rupturas e inovações, inicialmente garantindo a revisão do calendário e a implantação de um modelo de fair play financeiro.
Assim, contrariando o ceticismo geral e inicial, o fato é que a novel direção em seis meses de trabalho elaborou e apresentou o novo cronograma de datas para disputa dos campeonatos regionais e nacionais, além das premissas e regras do aguardado sistema de sustentabilidade financeira, ambas novidades com vigência a partir de 2026.
É verdade que a discussão sobre o calendário brasileiro das competições é uma pauta bastante antiga, enquanto o debate sobre a convenção de regras que assegurem a saúde financeira dos clubes e o cumprimento de suas obrigações é mais recente, contudo, nos dois casos nada de efetivo fora alcançado até a chegada dessa administração, o que por si só é algo elogiável, dado que somente com um semestre de gestão entregou, ainda que sujeitas à "prova de voo", as suas duas promessas de campanha.
Pela nova tabela do futebol brasileiro os campeonatos regionais passarão a dispor de menos datas, reivindicação há muito defendida pelos clubes dos maiores centros em razão do acúmulo de jogos na temporada, considerando-se as demais competições que incluem o Brasileirão, agora tendo início em janeiro e se estendendo durante todo ano.
Talvez a estreia no ano de 2026 revele alguma dificuldade em vista da novidade e do aperto do calendário por conta da disputa da Copa do Mundo, mesmo assim, diga-se que a alteração do estado das coisas estático há mais de duas décadas é algo louvável, vindo atender anseios diversos das partes envolvidas, aparentemente com bom apelo ao torcedor, parte sensível mas sempre mais adaptável às novas práticas e realidades.
Por outro lado, o tema de mais fácil adesão para a maioria da indústria finalmente teve um resultado prático com o anúncio e divulgação do citado sistema de sustentabilidade financeira, que terá aplicação imediata, objetiva e gradual, traduzindo-se num primeiro movimento de proteção do ecossistema, também para revisão e/ou aperfeiçoamento de condutas e práticas das agremiações, independentemente da sua forma constitutiva.
Pode parecer que a discussão do modelo se deu rapidamente, porém na prática ela ocorreu de forma técnica e abrangente com ampla participação das partes que são indispensáveis ao debate, sob coordenação de especialistas e estudiosos de longa data deste instituto, alcançando ao final uma formatação pensada e aderente à realidade brasileira, a ser revista com o passar do tempo e a verificação da necessidade de ajustes.
Cabe agora aos clubes (associações ou sociedades anônimas), observar, fazer cumprir e no que lhe couberem contribuir e fortalecer essas inovações, lembrando que um modelo real de sustentabilidade passa além do mero aspecto econômico financeiro, e para isso seria recomendável que procurassem superar definitivamente essa discussão de "mais valia" que já lhes tomou meia década e deixou imagem tão negativa a ponto de atrair a atenção do CADE, órgão que com algum ineditismo houve recentemente por se imiscuir nas atividades e negócios das duas ligas.
É preciso de uma vez por todas que os competidores se cotizem e se unam, há muito o que curar em conjunto no que diz respeito à defesa da cadeia futebolística, à relação com o público consumidor e ao aperfeiçoamento da qualidade do produto, objetivando a perenidade do mercado e a continuidade dos seus atores.
Pesquisas recentes apontaram dados relevantes quanto ao torcedor como sua redução quantitativa ou seu alto interesse de investir para lucrar com seu time de coração: o que está sendo feito para os torcedores além de programas customizados, rentáveis porém pasteurizados? Como melhorar o grau de engajamento? E quanto à novas gerações, o que fazer para atraí-las e mitigar a diminuição do número de adeptos?
De outra banda, a revisão e melhoria do produto são imperiosas, envolvendo a questão estrutural e estética das instalações e dos gramados, bem como a reformulação total da arbitragem de campo e do seu auxiliar "VAR à brasileira", ponto nevrálgico que a CBF disse ser o próximo a ser enfrentado num futuro próximo, desde já com a indicação da profissionalização dos seus quadros e de altos investimentos em tecnologias atualizadas e sintonizadas com as vistas nas grandes ligas.
Quanto ao aspecto do produto vimos também que o ano de 2025 inaugurou as primeiras manifestações de incômodo por parte de vários formadores de opinião, ainda tímidas é verdade mas que começam a ecoar, sobre o quão negativo é o impacto comportamental e vicioso dos atores diretamente envolvidos no jogo (atletas, treinadores e comissões) em reclamações ou embustes, condutas que muito prejudicam o espetáculo, tomando-lhe tempo, atratividade e a paciência do torcedor.
Note-se, portanto, quantos motivos continuam a demandar a coesão das agremiações em torno da defesa dos seus interesses, aderindo e prestigiando os projetos propostos, assim colaborando para o desenvolvimento sadio do todo com o voto de confiança aos dirigentes da vez no comando do futebol brasileiro, sempre na esperança que esses bons ventos que estão soprando possam render auspiciosos avanços à indústria beneficiando efetivamente todo o "novo" mercado futebolístico brasileiro.

