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Migalhas para Estudantes

Ilustrando os desafios, os obstáculos e as oportunidades dos Estudantes de Direito.

Gabriel Rodrigues Teixeira
Não há forma melhor de começar este texto do que falando da pergunta da manchete:                A inteligência Artificial vai mudar o Direito para sempre?  "A inteligência artificial pode ter um impacto significativo na área do direito, como automatizar tarefas rotineiras e dispendiosas como a análise de documentos e a pesquisa jurídica. Isso pode permitir que advogados e juízes se concentrem em questões mais complexas e de maior importância. Além disso, a IA pode ajudar a identificar padrões e tendências em casos passados, o que pode ser útil na tomada de decisões judiciais."  De quem é esta resposta? Do ChatGPT, o robô/chat/ferramenta lançado em novembro de 2022 que tem se tornado manchete pelos mais diversos feitos: foi aprovado em provas para médico e advogado nos EUA, acertou questões do ENEM e escreveu um livro em menos de 3 dias. O robozinho é assustador. Enfim, a coluna de hoje fala sobre Direito & Robôs! Não há a menor dúvida que os avanços tecnológicos e suas cotidianas consequências tendem a influenciar diretamente as mais diversas áreas do mundo jurídico. Seja protocolando petições pelo celular, checando o Plenário Virtual do STF ou participando de reuniões à distância, o profissional do Direito já convive diariamente com muitas das facilidades e inovações possibilitadas justamente por novas tecnologias. Todavia, há especificamente uma área de pesquisa tecnológica que é citada mais frequentemente quando pensamos sobre as grandes mudanças que o futuro reserva ao Direito: a Inteligência Artificial (IA). Muitas perspectivas acerca da Inteligência Artificial por vezes tendem à precaução e ao receio, talvez por causa dos incontáveis filmes hollywoodianos que a retrataram como uma grave ameaça à humanidade - a criatividade de Stanley Kubrick não seguia bases lá muito acadêmicas, convenhamos. Seja pensando nas idenizações em razão de atropelamentos por carros autônomos ou nas repercussões legais-trabalhistas de uma temida "Era das Máquinas" , muitos são aqueles que escolhem focar nas dificuldades jurídicas advindas de um futuro inteligente. Mas e as facilidades? Quais transformações positivas a Inteligência Artificial pode trazer para o Direito e para o devido processo legal? É importante tentar evitar que essa cinzenta e trovejante nuvem de medos nos impeça de enxergar o incrível potencial da IA! Para saber mais sobre essas tantas conexões, o Migalhas Para Estudantes conversou com o professor doutor Fabiano Hartmann, coordenador do Laboratório de Direito, Racionalidade e Inteligência da UnB (Laboratório DR. IA) e do Projeto Victor - ferramenta elaborada em parceria com o STF para uma catalogação muito mais veloz dos processos de repercussão geral. Agradecemos demais ao professor Hartmann e à equipe do DR. IA pela colaboração! Não deixe de conferir mais sobre seus projetos: Instagram, YouTube, página oficial. Confira a entrevista na íntegra ao fim da matéria ou acompanhe recortes da conversa na página de Instagram do Migalhas Para Estudantes (@MigalhasEstudantes).  O Direito e Inteligência Artificial do dia a dia "A Inteligência Artificial está no nosso cotidiano 24 horas por dia, 7 dias por semana", afirma o professor; "não há dúvidas que esse convívio constante vai trazer reflexos jurídicos, seja para bem ou para mal", completa. Nessa perspectiva, já é muito bem difundido que os meios digitais são o grande lócus fértil da Inteligência Artificial em nosso cotidiano: há algoritmos inteligentes para catalogar os dados produzidos durante nosso uso, há algoritmos inteligentes para processar estes dados, há algoritmos inteligentes para decidir quais conteúdos nos serão apresentados. Uma parafernália de software toda desenhada para i) prolongar a permanência do usuário e ii) aumentar a possibilidade de este assistir as propagandas dos anunciantes. A preocupação surge, pois, da possível utilização destas tecnologias para fins que venham a violar os postulados da LGPD e as garantias constitucionais referentes à privacidade (de informações, de dados, de comunicações telefônicas). Segundo o professor Hartmann, "grande parte do nosso contato com os mecanismos de IA passa despercebida, às vezes estamos navegando online e não nos atentamos que ao rastro digital deixado será coletado e processado". Sendo assim, não é difícil interpretar que toda esta realidade está em constante via de tensão com o Direito: se há coleta e processamento abusivos, há violação legal; se há violação legal, haverá, sem dúvidas, um coitado de um estagiário em algum lugar do Brasil tendo que perder horas de sono estudando a LGPD.  A Inteligência Artificial ajudando o Direito "A grande vantagem da IA ao profissional do Direito é a capacidade de reconhecer padrões e, a partir deles, apresentar soluções para um problema repetitivo", explica o especialista Fabiano Hartmann. De tal modo, estas tecnologias podem colaborar diretamente a um dos mais relevantes problemas do judiciário brasileiro: a massiva quantidade de demandas repetitivas. Seja na primeira instância, seja no Supremo Tribunal Federal, a já famosa "cultura da litigância" notável ao universo jurídico brasileiro ocasiona que sejam muitas - muitas - as ações similares protocoladas todos os dias. Assim, a Inteligência Artificial pode contribuir à celeridade de justiça - talvez o maior entre os impecílios judiciários brasileiros - facilitando e automatizando a catalogação de casos similares. Uma forma de pensar estes mecanismos, por exemplo, envolveria a criação de mecanismos para que ações de mesmas características fossem atribuídas (por IA) a categorias pré-determinadas pelas autoridades do juízo ou tribunal a qual são dirigidas. O Projeto Victor, elaborado em parceria entre a Universidade de Brasília e o STF e coordenado pelo nosso entrevistado, almeja justamente isso - mas no âmbito do Supremo Tribunal Federal: filtra as milhares de ações recebidas pela côrte e as assinala a algum dos Temas de Repercussão Geral. "A ideia do Victor é ajudar os servidores do Tribunal e dos gabinetes a separar os muitos casos que estão no arquivo para facilitar que sejam tomadas conclusões mais rápidas", conta o professor.  A Inteligência Artificial vai acabar com o advogado? Tudo indica que não. "Não, não tem ameça (risos). O que nós estaremos passando é por uma transformação profunda na forma que as carreiras jurídicas vão desempenhar as suas funções", Fabiano afirma categoricamente. Tal qual o professor explica na entrevista, o que tende a acontecer é um processo de adaptação às novas tecnologias e às aplicações destas no cotidiano jurídico: mesmo se o robô escrever a petição, alguém terá de revisá-la; mesmo se o robô resumir toda a doutrina de Direito Administrativo, alguém terá de tomar partido nas questões controversas sobre os Bens Públicos; mesmo se o robô escrever o Habeas Corpus, alguém terá de ir buscar o cliente na porta da penitenciária. Este "alguém", pelo menos até agora, vai ser sempre um advogado. "Não dá para falar em desenvolvimento ou uso de Inteligência Artificial, em qualquer área, sem pensar também na necessidade de supervisão por especialistas profissionais daquela área. No nosso caso, como trabalhamos com IA jurídica, este especialista vai ser sempre algum profissional do Direito", conclui o professor. Entrevista na íntegra: {EMBED_YOUTUBE_1696}  
segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

República em caos, res publica em cacos

Poucas palavras da língua portuguesa têm raízes etimológicas tão conhecidas quanto "República": o termo resulta da união entre os vocábulos latinos res e publica: "res" equivale a uma coisa concreta e existente, "publica" faz referência à posse compartilhada. Uma República, pois, é coisa concreta, existente e coletivamente possuída por todo um conjunto que a legitima - existe, aqui, um forte teor de comunidade. Além disso, um teórico mais desanimado poderia explicá-la, corretamente, como um modelo de Estado em que o poder de decisão divide-se entre os cidadãos ou entre representantes eleitos por estes. Até aqui, porém, não há muita noção da complexidade republicana. Por tal, devemos adicionar mais dois detalhes ao constructo que estamos formando. Primeiramente, é imprescindível que haja um arcabouço jurídico consensualmente estabelecido e capaz de preservar a existência do Estado. Segundamente, os governantes escolhidos se encabem de responsabilidades republicanas perante seus votantes e sob o peso das instituições. Junte à mistura, por fim, algumas pitadas de temperos modernos - tripartição dos poderes, federalismo, garantias fundamentais. Voilà! Seguindo toda a evolução permitida inicialmente pela seminal noção da res publica, agora está montada, nos melhores moldes modernos, uma República legitimada, representativa, legalista, federativa e estável. Em contrapartida, se os alicerces de uma República são balançados e testados a todo tempo, a incerteza não demora a atingir mesmo os princípios mais profundos que amparam esta conjuntura. Nessa perspectiva, a noção da publicidade (no sentido de "característica daquilo que é público") está sempre suscetível a esse tremor: em cenários de instabilidade plantada, é sempre possível que haja uma paulatina distanciação entre indivíduos insatisfeitos e a lei; entre estes e a República; entre estes e as coisas públicas - res publica no sentido literal. Assim, o sujeito passa a ver as leis como opcionais, deslegitima a República por irrazoavelmente não se sentir contemplado e, por fim, esquece completamente que aquilo que é público é nosso e foi pago com nossos impostos. Há um enfraquecimento drástico à primeira pessoa do plural: o "nós, o povo" dá lugar ao reduzido "nós, os meus amigos". Esta recente fragilização da relação indivíduo-democracia, as ameaças de ruptura constitucional declamadas nos últimos tempos e o consequente desrespeito aos princípios republicanos explicam as tenebrosas cenas testemunhadas durante o dia de ontem. Uma horda de hooligans partidários invadiu a sede de cada um dos Três Poderes e depredou tudo de belo que passava pela frente: um Di Cavalcanti pertencente ao Congresso foi furado como um queijo suíço, o crucifixo dourado exibido atrás do Plenário do STF foi arrancado da parede, as belíssimas vidraças do Planalto foram reduzidas a cacos de vidro. Foi o desfecho planejado, violento e destrutivo de narrativas descaradamente golpistas que se iniciaram muito, muito, muito antes da hecatombe de 8 de janeiro de 2023. Em suma, as agoniantes batalhas de Brasília e os eventos que se transcorreram até seu estopim exemplificaram perfeitamente como a inação perante narrativas de teor disruptivo rapidamente traz consequências fáticas. Uma República em caos rapidamente transformou res publica, literalmente, em cacos.  __________ Esta é a primeira coluna do ano de 2023! Gostaríamos de reafirmar nosso compromisso de trazer os melhores conteúdos e textos para nossos queridos leitores durante este ano que se inicia. Muito obrigado pelo apoio em 2022, os resultados têm sido fantásticos! Não deixe de seguir nosso Instagram oficial: @MigalhasEstudantes  P.S: O Migalhas Para Estudantes passou quase um mês preparando uma coluna especial sobre Direito e Inteligência Artificial que seria postada hoje, dia 9 de janeiro de 2023. O problema é que não contávamos com as cenas bizarras de ontem (nem a tranquilíssima polícia do Distrito Federal, pelo que tudo indica). Para a tristeza de todos nós, que gostaríamos de falar sobre temas legais e interessantes, não há clima agora para falarmos sobre robôs & Constituição. Fica para a próxima.
"Leia os clássicos, leia poesia, leia romance, leia jornal. Se sobrar tempo, leia, então, o Direito" Evandro Lins e Silva O Direito nunca esteve, não está e jamais estará plenamente desconectado das mais significativas expressões artísticas, culturais e literárias que pipocam à sua volta. Seja em um drama policial hollywoodiano ou em uma caricatura exagerada de um ministro do Supremo, o Direito e a Arte estão sempre a um curto espaço um do outro. Sempre. Sabemos, então, que nem mesmo os mais soberbas e arrogantes movimentos isolacionistas jurídicos seriam capazes de impedir o Direito de tentar se intrometer na Arte - ou a Arte de tentar se intrometer no Direito. E é assim que deve ser: as interseções jurídico-culturais crescem em importância justamente por espetarem furos nas rígidas fronteiras do universo paralelo constituído pelos ternos, pelos olhos arregalados, pelos processos eletrônicos e por termos como "egrégio tribunal". Nesse sentido, se é inegavelmente positivo que um juiz sempre interprete seus casos colocando em perspectiva as consequências e condições fáticas do conflito - "o tribunal julga de janela aberta", como diria ministro Luís Roberto Barroso -, talvez a Arte seja justamente a melhor forma de manter esta janela sempre muito bem arejada. Pulando logo às apresentações! A(s) realidade(s) do nosso entrevistado de hoje exemplifica(m) perfeitamente o quão recompensadora e interessante é a resultante de misturar a leveza dos hobbies culturais à habitual rigidez do mundo jurídico. Formado pela Universidade de São Paulo (USP), pós-graduado pela New York University e atuante na área de contencioso civil, o advogado Pedro Pacífico talvez seja mais conhecido na internet por seu "pseudônimo" literário: o Bookster! Já passaram-se alguns anos desde o surgimento da página do Instagram (@book.ster), mas o fundante objetivo de difundir o apreço e o carinho pelos livros segue mais vivo do que nunca. Com publicações diárias, críticas literárias caprichadas e uma audiência gigantesca que muito transcende os meros interessados no Direito, o perfil já alcança quase 400 mil seguidores e consegue passar para cada um deles o entendimento de que há, sim, espaço para a leitura mesmo nos mais ocupados cotidianos.  Sendo assim, a coluna Migalhas Para Estudantes teve a felicíssima oportunidade de conversar com o Pedro Pacífico para, entre outras coisas:  1) Saber mais sobre a vida jurídica e profissional do Bruce Wayne por trás da máscara pseudonímica do Bookster; 2) Aprender sobre a importância da leitura lúdica ao desenvolvimento estudantil e profissional;  3) Entender como conciliar o hobby da leitura e o atribulado cotidiano comum a todas as áreas do Direito;  4) Por último, debater alguns pontos muito importantes diretamente para os estudantes - exemplos: carreira, vocações, escritórios de advocacia, academia e estágios.   {EMBED_YOUTUBE_1532} Agradecimentos Agradecemos encarecidamente ao Pedro por ter topado o convite para esta conversa tão especial e que resultou em uma entrevista tão interessante! Fica o agradecimento, também, por servir de inspiração diária não somente aos mais vorazes leitores, mas também àqueles que dedicam-se (com variados graus de seriedade) à criação de conteúdo nas redes sociais - tal qual o colunista e grande fã que escreve isto agora. Não deixem de acompanhar o Bookster nas redes sociais para acompanhar o melhor conteúdo literário que a internet tem a oferecer: Instagram, Twitter, YouTube e LinkedIn.  Concluindo... Serão postados vários vídeos e cortes da entrevista no Instagram do Migalhas Para Estudantes (@MigalhasEstudantes), então não esqueça de nos acompanhar por lá também! A página da coluna conta com posts - quase - diários sobre os mais variados temas do Direito e, por isso, pode te ajudar demais a se manter atualizado e antenado às mais moderninhas tendências do mundo jurídico. Nos vemos na coluna da semana que vem!
Estudar no exterior é, sem dúvidas, uma forma muito especial e muito notável de abrilhantar o currículo com um diferencial gigante. Além de permitir o contato com professores de importância mundial, a experiência de frequentar uma universidade no exterior possibilita conhecer as diversas experiências e perspectivas apresentadas por colegas do mundo inteiro. Não deixe de conferir nosso Guia Básico falando sobre as principais possibilidades de tornar-se aluno de uma faculdade estrangeira! "Tipos de estudos jurídicos no exterior: um guia básico". Sendo assim, a quantidade de brasileiros que pensam em participar de programas no exterior é cada vez maior e, em meio a isso, os cursos de pós-graduação Master of Laws (LL.M) têm se tornado um plano de vida para muitas pessoas. Tal qual abordamos nos posts anteriores falando sobre LL.Ms (como a entrevista com o advogado Luís Henrique Fernandes, da página @PorDentroDoLLM), este tipo de pós-graduação acrescenta uma experiência fantástica ao currículo profissional. Ademais, a possibilidade de aproveitar das fantásticas infraestrutura e atmosfera de uma faculdade de ponta se traduz, sem dúvidas, em enorme motivação para estudar, aprender e praticar os mais variados conceitos. Nessa perspectiva, apesar de presentes em universidades dos mais variados locais, é nos Estados Unidos que está localizada grande parte dos mais tradicionais e renomados programas de LL.M. Além disso, programas como este permitem que o estudante dê um start até mesmo em uma carreira internacional: muitos optam por fazer a prova do Bar Exam após concluírem o LL.M - uma "versão americana" do Exame de Ordem. Para saber mais sobre os LL.Ms e tirar algumas dúvidas comuns sobre eles, a reportagem do Migalhas Para Estudantes fez algumas perguntas para Jane K. Aparecido, diretora no escritório brasileiro da Ohio State University e especialista em programas de estudo no exterior. Confira as respostas a seguir!  Quais são os primeiros passos para pensar em ir para um LL.M?  "Eu recomendaria que o primeiro passo fosse pesquisar sobre as regiões dos Estados Unidos (onde gostaria de morar, considerar custo de vida, oportunidades de estágios remunerados, maior probabilidade de se destacar pelo seu background). Em seguida, pesquisar sobre as universidades na região escolhida (considerar que universidades públicas são mais acessíveis do que as privadas, verificar a existência de bolsas de estudos, considerar seu curso de interesse e a flexibilidade da grade horária). Uma vez escolhidas as regiões e as universidades que se deseja, o próximo passo é ver os requisitos necessários e começar a estudar e fazer exames/provas, procurar por "recomendantes" que possam escrever cartas, rascunhar a redação/personal statement. Conversar com pessoas que já tenham passado pela experiência é sempre uma boa ideia também. Eu escolhi o Midwest ("centro-oeste") americano por não ser uma região muito turística e, portanto, ter custo de vida mais baixo. A Ohio State University é pública e eu consegui uma bolsa de estudo, o que facilitou muito. Além da bolsa, trabalhei no campus e o salário me ajudava a ter uma condição de vida boa e a não usar tanto o dinheiro que havia levado do Brasil. A Ohio State tinha os melhores professores da minha área, o que influenciou muito na escolha também". Quão importante é tirar boas notas durante a faculdade?  "Ter boas notas na faculdade brasileira é apenas um dos itens considerados pelas universidades americanas ao analisar uma candidatura. O sistema de admissão é holístico e busca analisar o candidato como um todo por meio de todos os materiais que fazer parte da candidatura (notas da faculdade, notas do exame de proficiência em inglês, redação/personal statement, cartas de recomendação, currículo). De forma que é um item importante, mas não é o único item decisivo. Se as notas não forem tão boas, recomendaria tentar melhorar os outros itens/materiais o máximo possível". Que tipos de atividades extracurriculares pesam mais no currículo?  "O LL.M é um programa profissional, portanto atividades relacionadas à prática profissional são sempre interessantes. Por exemplo: estágios, trabalhos voluntários, participação em clínicas jurídicas, de mediação, e até competições como júri simulados são pontos a se mencionar".  Qual a idade ideal para tentar application? Logo após a faculdade ou alguns anos depois? "Isso não é muito relevante para os programas de LL.M da Ohio State University ou de outras faculdades. Eles procuram montar turmas que tenham alunos com as mais variadas experiências e vivências para enriquecer as discussões em sala de aula. A pessoa pode se candidatar para o LL.M logo depois de se formar na faculdade do Brasil, mas se tiver se envolvido com as experiências profissionais mencionadas acima durante a faculdade ou tenha demonstrado iniciativas de liderança, ela será considerada uma boa candidata". Quais são as melhores dicas para se atentar quando estiver montando um currículo competitivo para o application?  "Além de ter se envolvido nas atividades de prática profissional mencionadas anteriormente e indicar iniciativas de liderança (ou seja, mostrar que você iniciou ou liderou alguma coisa, atividade ou projeto - tomou as rédeas de alguma situação, resolveu ou superou algum obstáculo mesmo que de cunho pessoal), eu recomendaria quantificar as experiências profissionais, para dar uma ideia melhor das suas responsabilidades e experiências para quem estiver lendo o currículo. Por exemplo, invés de apenas listar suas atividades no trabalho ("auxiliar promotores de justiça redigindo peças jurídicas de Direito Penal") tente usar números ("auxiliar 3 promotores de justiça redigindo uma média de 60 peças jurídicas de Direito Penal numa cidade de 200 mil moradores")". Como se habilitar como advogado nos Estados Unidos?  "Assim como no Brasil é preciso passar no exame da OAB para advogar, nos EUA é preciso passar num exame chamado Bar Exam. Você pode fazer o LL.M em um estado e fazer a prova em outro estado. Alguns estados exigem apenas 6 anos de educação jurídica, o que é excelente para brasileiros que tem os 5 anos de faculdade de direito no Brasil e mais 1 ano de LL.M. Outros exigem mais. Cada estado americano vai exigir que interessados em fazer o Bar Exam tenham feito determinadas aulas - como "Ética", por exemplo. Por isso é importante que a grade horária do LL.M seja flexível. Quando fui aluna de LL.M na Ohio State University consegui fazer aulas pra conseguir um certificado de concentração em direito internacional e comparado e para satisfazer os requisitos do Bar Exam de Nova Iorque. É interessante também fazer um cursinho preparatório que costumar direcionar para as matérias e questões que mais caem no exame. Na minha experiência, o Bar Exam é muito mais leve do que a OAB em conteúdo, mas a pressão de tempo durante a prova é bem maior".  EducationUSA e as feiras de LL.M no Brasil Contando com centros de representação em mais de 150 países, a EducationUSA é a maior network de conselhos e auxílio para estudantes interessados em aprender nas prestigiosas faculdades americanas! Para isso, a organização associada ao Departamento de Estado Americano oferece excelentes oportunidades para quem busca saber mais sobre ou se candidatar para programas no exterior, como os LL.Ms (Master of Laws). Pensando nisso, já estão abertas as inscrições para as várias LL.M FAIRS que serão ofertadas no Brasil e em outros países sul-americanos. Trata-se, sem dúvidas, de uma oportunidade imperdível de ter contato direto com muito conteúdo e informação referente aos programas de LL.M: conheça recrutadores de universidades americanas, fale com especialistas e conheça outros estudantes também interessados em fazer uma pós-graduação de ponta nos Estados Unidos. Não perca essa oportunidade! Datas: - Brasília, 24 de outubro; - São Paulo, 26 de outubro; - Rio de Janeiro, 28 de outubro; - Buenos Aires, 31 de outubro; - Santiago, 2 de Novembro. Link para calendário e inscrições: https://educationusa.org.br/agenda-de-eventos/  Concluindo... Um agradecimento especial à equipe do EducationUSA por ter entrado em contato com a equipe editorial do Migalhas e, desde então, colaborado tanto para estabelecermos esta fantástica parceria! Não deixe de segui-los no Instagram para ficar de olho em outros eventos e dicas para quem pensa em estudar fora: @educationusabr. P.S: faremos uma cobertura especial da LL.M Fair de Brasília através do Instagram do Migalhas Para Estudantes, então não deixe de acompanhar lá também!
É quase impossível pensar em uma Faculdade de Direito sem pensar em seu Centro Acadêmico. Almejando sempre atingir voos muito mais altos do que uma simples representação dos discentes, os famosos CAs são importantíssimos, principalmente, por abrirem aos estudantes a oportunidade de estarem diretamente imersos no universo da democracia, da política e do debate desde mesmo os primeiros momentos de graduação. Não é loucura, pois, dizer que o mais nobre papel de um CA é usufruir do destaque acadêmico e representativo que lhe é inerente para tentar mudar o mundo - de sala em sala, de ato em ato. Os objetivos transcendem muito o pátio da faculdade. Um primeiro passo dessa tradicional aventura democrática depende, claro, de sua chapa agradar os eleitores e ser a escolhida para representá-los: é sempre bom declarar que o Migalhas Para Estudantes não recomenda ou apoia golpes e/ou rupturas institucionais. Passado este belo momento de democracia microcósmica, cabe à chapa eleita tornar-se situação e, logo, assumir o manto institucional de gestão do Centro Acadêmico. A partir daí, caberá a seus respectivos membros - por vezes subdivididos em intrincados sistemas de organização - deliberar sobre os rumos a serem tomados e as melhores maneiras de cumprir as diretrizes apresentadas ainda nos projetos iniciais. Cada palestrante em um evento ou cada linha em um pronunciamento é sempre resultante da ampla matriz de ideias e vieses apresentada anteriormente aos estudantes e por eles escolhida. É a tal democracia representativa. É, então, desta mistura entre representatividade política, experimentos democráticos e vontade de mexer com o status quo que surge o profundo espírito de um Centro Acadêmico de Direito. E assim tem sido há muito tempo: os CAs foram, sem dúvidas, atuantes em todos os mais dramáticos momentos da democracia brasileira contemporânea. De tal forma, não haveria forma melhor de conhecer mais sobre a importância histórica dos Centros Acadêmicos de Direito do que ouvindo aqueles envolvidos nessa atmosfera todos os dias. Pensando nisso, a coluna conversou com diretores de dois CAs especialmente atuantes no presente e no passado político brasileiro: o Centro Acadêmico XI de Agosto, da Universidade de São Paulo (USP) e o Centro Acadêmico de Direito da Universidade de Brasília (CADir UnB). Foram entrevistados, então, os Franciscanos: Manuela Morais (Presidente do XI), Amanda Medina (Diretora-geral do XI) e Thiago Zambelan (Diretor de Cultura e Patrimônio do XI). Quanto aos UnBenses, conversamos com: Rayssa Cavalcante (Diretora do CADir e pesquisadora especialista na história do CA), Euric Khauri (Diretor Acadêmico do CADir) e Dylhermanno Reis (Diretor Acadêmico do CADir). XI de Agosto: história e presente de Democracia "O XI foi fundado em 11 de agosto de 1903 e surgiu, inicialmente, da necessidade dos estudantes de possuírem estabilidade institucional para suas demandas", conta Thiago Zambelan. Ele adiciona, ademais, um fato curioso e que bota em perspectiva a enorme história do Centro Acadêmico: "a fundação foi o primeiro evento iluminado a luz elétrica no centro de São Paulo". Em contrapartida, o passar do tempo reservaria ao XI um lugar muito mais importante à história do que meramente agir pelos discentes do Largo de São Francisco. Como Manuela explicou, "o XI busca não só representar os estudantes, mas expandir o debate para a sociedade como um todo". A firme oposição durante o autoritarismo Varguista ainda na década de 30 já indicava a tônica dos quase cem anos de "Heroica Pancada" desde então: intransigente defesa da democracia e do Estado de Direito. Assumindo postura de incrível resistência política durante a Ditadura Militar, encampando manifestações pelas Diretas Já e promovendo atos para o lançamento de manifestos democráticos de grande destaque (em 1977 e 2022), o XI prova-se cada vez mais engajado à manutenção dos alicerces republicanos. Mas isso não é tudo. Consoante à presidente do XI, "manter o Estado Democrático de Direito e a Constituição é um pré-requisito para possibilitar outras pautas". Amanda completou: "o objetivo é buscar uma democracia que transponha as desigualdades, chegue a todos e englobe pautas vanguardistas". Advém desta paixão intransigente pela vanguarda a recente necessidade de abordar pautas contemporâneas, como, por exemplo, a necessidade de representatividade, a transformação racial e econômica do espaço acadêmico a exposição de contradições sociais e políticas - principalmente dentro das próprias Arcadas. "São discussões necessárias à democracia, à sociedade e à faculdade; a gente tenta usar o espaço do XI para rememorar glórias do passado sem fechar os olhos para erros e lutas do presente" continuou Amanda. O lema do XI de Agosto, Ridendo Castigat Mores ("rindo, corrigem-se os costumes"), ajuda a explicar o constante e irreverente destaque dado a temas de grande repercussão social. Uma frase de Thiago pouco antes do fim da entrevista resumiu muito bem a importância dada pelos Franciscanos à ideia encostar o dedo na ferida:"o incômodo e a sátira são importantes, afinal o desconforto gera mudanças dentro e fora da faculdade". CADir UnB: do horror da Ditadura para a história Os primórdios do Centro Acadêmico de Direito da UnB estão diretamente atrelados à intervenção militar direta sofrida pela Universidade já poucos anos após sua criação. Fundada em 1960, a UnB foi barbaramente invadida pelos militares em 1968: professores e alunos foram presos ou mesmo torturados, a liberdade de cátedra foi violada e as representações estudantis foram duramente reprimidas. Apesar do cenário de terra arrasada, os movimentos discentes da UnB seguiram fortes nos bastidores e, já na redemocratização, passaram a assumir relevante voz institucional. "Com a Redemocratização, os CAs da UnB foram além do papel de representar os interesses dos estudantes perante seus respectivos departamentos acadêmicos" comentou Rayssa, "é a partir daí que os diretórios ganham força política para pleitear demandas que haviam sido desprezadas durante os anos de repressão", ela completa. A partir de sua oficial fundação - no sentido burocrático - em 1993, o CADir pôde, então, tornar-se megafone de um afrontoso esforço pela maximização da independência universitária e acadêmica: "a retomada de linhas de pesquisa jurídicas críticas sobre temas importantes à sociedade, como o racismo e a discriminação tem sido uma bandeira levantada pelo CA desde mesmo antes da fundação formal", explicou Dylhermanno. Por outro lado, a atuação política do CADir transcende muito as questões pertinentes somente à academia e alcança mesmo os núcleos mais essenciais da democracia. Como explicou Euric, "além de trazer destaque para problemas relevantes para o estudante, entrar no CA é a melhor chance do estudante de se envolver de verdade com a arte da política". É dessa missão de fazer política que surge a grande responsabilidade de manter uma equilibrada linha de ações e posicionamentos coerente aos anseios dos representados. Euric completou: "o CA deve ser aquilo que os estudantes querem que ele seja e, pra isso, deve seguir as diretrizes políticas apresentadas ainda durante o 'período eleitoral'". Ou seja, as décadas na luta pela democracia social tornaram inerente e sagrado o respeito, também, pelos desejos e anseios da democracia interna, universitária e - claro - estudantil. O XI de Agosto, o CADir e as cartas do dia 11/08/2022 Como bem sabemos, a data que dá nome ao Centro Acadêmico da USP tornou-se, neste ano, momento dedicado à ampla defesa do Estado Democrático de Direito, da Constituição Federal e do sistema eleitoral. Na ocasião (que marcava os 195 anos da criação dos cursos jurídicos no Brasil) foi amplamente divulgada a elaboração de cartas e eventos pelo corpo acadêmico de algumas das mais tradicionais faculdades brasileiras. É óbvio que o XI de Agosto e o CADir jamais ficariam fora de um instante tão especial. A impressionante repercussão da nova "Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito" e sua respectiva milionária quantidade de assinantes colocou o posicionamento da Faculdade de Direito da USP nos mais destacados holofotes midiáticos. E não havia como ser diferente: foi à frente das Arcadas que Goffredo Telles Jr. leu a Carta original em 1977, sob olhares atentos de uma Ditadura ainda não tão envergonhada. Sendo assim, coube ao XI - mais especificamente à Presidente, Manuela - colaborar às celebrações com uma das primeiras falas da tarde. "Quem estava lá percebeu que foi um momento quase mágico", ela conta, "perceber que todos estavam ali em defesa do Estado de Direito foi muito aconchegante e me deixou muito mais tranquila", finaliza. Ademais, a participação do XI seguiu a linha vanguardista comum aos posicionamentos do Centro Acadêmico: aproveitou o contexto para trazer temas carentes de destaque à luz da mídia e clamar por pautas ainda mais amplas do que a defesa institucional da democracia - a fala sobre uma "democracia verdadeira", por exemplo, foi muito bela. Já no caso da Universidade de Brasília e do CADir, a data motivou o acontecimento de um ato na FD contando com a participação das mais diversas organizações civis, acadêmicas, discentes e estudantis conectadas à faculdade. Logo, incumbida de elaborar uma entre as quatro cartas lidas durante o ato, a diretoria do CADir optou por destacar a segurança do sistema eleitoral, a necessidade de coibir-se a violência partidária e, principalmente, explicitar a memória dos estudantes da UnB desaparecidos durante a Ditadura militar - seja traçando paralelos à escrita de Honestino Guimarães, seja contando a história de Ieda Santos Delgado. O resultado foi o melhor possível. Autor de grande parte do primeiro rascunho do texto, Euric conta que teve a incrível oportunidade de entregá-la pessoalmente ao Ministro Edson Fachin (à época ainda Presidente do TSE) nos dias seguintes às celebrações político-democráticas: "a carta, o evento, o encontro com o Fachin, foram todos magníficos".  Concluindo...    Tendo destacado um pouquinho das incríveis trajetórias históricas do Centro Acadêmico XI de Agosto, da USP, e do Centro Acadêmico de Direito da UnB, não há como terminar a coluna desta semana de qualquer forma além de agradecendo! Um grandessíssimo "muito obrigado" às diretorias do XI de Agosto e do CADir por terem topado participar desta coluna! Foi extremamente gratificante poder saber mais sobre instituições tão importantes, tão obstinadas e, como os últimos anos têm mostrado, tão plurais. Continuem, por favor, tentando mudar o mundo. Mesmo que de migalha em migalha. __________  P.S: um último agradecimento extra ao amigo Vinícius Ferreira - também estudante da USP - que possibilitou que entrássemos em contato com a diretoria do XI de Agosto!                Não deixem de compartilhar este texto e os respectivos posts no Instagram do Migalhas Para Estudantes com amigos que possam se interessar! Isso ajuda muito a divulgar a coluna.                                                               Até semana que vem!
Apesar de o mundo contemporâneo praticamente girar em torno de redes sociais como WhatsApp, Facebook, Instagram e Twitter, o meio mais comum para a comunicação escrita formal ainda é - e deve continuar a ser por um bom tempo - o endereço de e-mail. Do cadastro no vestibular ao recebimento da aprovação na OAB, não há dúvida que todos os grandes avisos na vida do estudante chegam por e-mail. Sendo assim, mantendo sempre em mente o objetivo de se comunicar de forma clara, objetiva, formal, adequada e rápida, é importante se atentar a alguns pontos especiais para escrever e-mails melhores. Salve este artigo para retornar quando estiver escrevendo da próxima vez!  Explicar o assunto O mundo corporativo, jurídico ou acadêmico envolve, inconfundivelmente, um grande fluxo de emails. De propagandas levemente enganosas a ofertas de emprego na firma dos sonhos, não é incomum que e-mails sejam recebidos e enviados diversas vezes durante um dia só. Sendo assim, preocupação para você - o remetente - é, garantir que seu importantíssimo comunicado não se perca entre milhares de ofertas de desconto para produtos chineses e canais de luta pay-per-view. Neste caso, melhor forma de evitar uma comunicação ineficiente é, pois, preencher a seção destinada ao "assunto" de forma sucinta e objetiva, explicitando diretamente a temática a ser tratada nas linhas seguintes. O ideal é não se alongar, uma frase já é suficiente para se explicar e garantir que o interlocutor vai notar o recebimento do email em sua caixa de entrada - principalmente se já estiver esperando por este.  Vocativo, cumprimento e pronome de tratamento Por constituírem a primeira parte lida pelo destinatário, o vocativo e o pronome de tratamento utilizados são fundamentais. Eles determinam, logo de cara, o tom geral daquele comunicado. É importante pensar, então, que deve-se coordenar estes termos aos objetivos daquela comunicação e à posição do destinatário. É simples: se o propósito é um mero e cotidiano contato com uma pessoa próxima, começar logo com um bem-humorado "Opa, querido XXX, tudo brilhando?" é extremamente eficiente; se o objetivo é algum tipo de aproximação profissional, não há muito como evitar algo na linha de "Bom dia, Doutor (a) [dica: só pare de chamar de doutor se a pessoa lhe pedir diretamente] XXXX, tudo bem?". Isso abre espaço para usar o famoso - ou infame - "Exmo (a) Sr (a)". Marca registada de e-mails formais, começar um comunicado com esta combinação ocasiona, desde o primeiro minuto, um tom impessoalíssimo e profissionalíssimo. Se é esta a intenção, ótimo. Em contrapartida, outros vocativos e pronomes de tratamento devem ser empregados se a intenção é menos drástica do que a destas condições supracitadas: excesso de profissionalismo soa pedante se o contexto não o exige. Tal qual já foi adiantado quanto ao uso ou não de doutor, o emprego de corretos pronomes de tratamento segue sendo - desde que o ego surgiu no mundo - importantíssimo. A aposta mais certeira aqui é, sem dúvidas, preferir pecar pelo excesso a pecar pela falta. Ou seja: chame todo e qualquer advogado ou profissional do Direito de "doutor", mesmo desconhecendo completamente se o indivíduo fez ou não a pós-graduação teoricamente necessária à atribuição do título. Além disso, na hipótese de o destinatário ser um professor, é recomendável referir-se a este como "professor XXXX" logo no vocativo, substituindo-se, então o uso de "doutor". O uso de Vossa Excelência deve limitar-se, em grande parte, a autoridades públicas de notável destaque e de alto escalão. Tal qual há quem enxergue este pronome de tratamento como uma verdadeira Máquina do Tempo de volta aos anos 1800, também há quem considere desrespeitoso contactar autoridades sem empregá-lo no início. Corpo do texto Apesar de constituir a maior parte do texto, o corpo é, provavelmente, a parte mais intuitiva de um email. Não há um padrão exato ou mesmo dicas para escrever um excelente texto de comunicação eletrônica, haja vista que a escrita é um dom consideravelmente atrelado à prática - nem Machado de Assis nasceu escrevendo como Machado de Assis. Por outro lado, há, sim, três pontos principais a se ater enquanto elabora seu texto: 1) ortografia e elementos formais do português; 2) a dupla mágica - coesão e coerência ao tema e ao tom - e 3) objetividade e períodos curtos. O primeiro ponto é óbvio. Textos adequados sob óticas formais e/ou estruturais são consideravelmente mais valorizados pelo interlocutor - principalmente num contexto corporativo ou acadêmico - e, também, são capazes de transmitir sua essência de forma mais clara, adequada e profissional. Além disso, a importância de elementos puramente gramaticais como ortografia, pontuação e regência verbal é frequentemente subestimada: basta um ou outro erro mais notável para que o destinatário crie uma impressão ruim acerca do remetente. Nem sempre quem escreve certo, escreve bem. Mas, no contexto profissional, quem escreve bem torna-se ainda melhor quando escreve certo. Partindo para o ponto 2, pode-se dizer que a dupla coesão e coerência faz referência à capacidade do autor de manter o tom e o tema de seu texto consistentes e constantes por meio de uma boa coordenação de sinônimos e elementos conectivos - se não quiser ousar, expressões simples usando pronomes demonstrativos como "nesse sentido" ou "nesta conjuntura" tendem a resolver o problema. Nessa perspectiva (viu como é fácil?), é importante ressaltar também que esta concatenação temática e tonal passa, obviamente, pelas decisões tomadas no assunto e no vocativo: o primeiro apresenta a temática a ser tratada, o segundo apresenta o tom. Por último, é fundamental que a mensagem seja apresentada de forma objetiva e direta, tendo em vista o atual altíssimo volume de emails recebidos diariamente. Por conseguinte, o ideal é mirar em um texto curto e direto ao ponto: explique quem você é, o porquê de estar entrando em contato e zarpe direto para o cerne da questão. Ademais, usar frases curtas e bem ordenadas é uma excelente maneira de agilizar a leitura e torná-la mais fluida e agradável ao interlocutor, além de permitir organizar as ideias mais adequadamente de forma separada. Despedida A despedida e a assinatura têm, obrigatoriamente, que concordar com o tema, o tom e as circunstâncias em que está sendo estabelecida esta via de comunicação. Sendo assim, apesar de a soma entre "Exmo Sr." e "calorosos abraços" claramente não combinar, basta experiência com emails informativos para saber que termos como "respeitosamente" e "atenciosamente" são extremamente versáteis e ideais para emails de tom amistoso, mas profissional. Atente-se, todavia, a um ponto importante: há quem considere "respeitosamente" uma despedida usada apenas quando se referindo a pessoas de mais elevada posição hierárquica, enquanto "atenciosamente" pode ser - e é - empregado em contextos de características amplamente diferentes. É provavelmente a mais comum forma de despedida em e-mails. Por último, também não é uma má ideia incluir elementos indicando a expectativa de um retorno futuro. Levando em conta que isto pode ser feito tanto ao fim do corpo do texto quanto na despedida em si, o uso de expressões como "aguardo retorno" adido de termos adverbiais como 'ansiosamente" ou "num futuro próximo" garante que o tom de cobrança - que é inegável - não conflite com a amistosidade e/ou profissionalismo retratados no restante do texto.
Explorar as opções acadêmicas ainda durante a faculdade é frequentemente citado como uma das formas mais interessantes de se destacar no mercado de trabalho e se preparar para outras fases da formação jurídica. Além de abrilhantar logo cedo o currículo Lattes, o contato com a academia pode contribuir drasticamente a habilidades importantes como a escrita, a pesquisa científica, a citação de doutrina, a análise comparativa e o senso crítico. Mas do que adiantaria muito escrever e pouco publicar? É dessa vontade de contribuir diretamente aos meios científicos que surgiram e se consolidaram as revistas acadêmicas estudantis. Assim, tornou-se frequente, no contexto universitário internacional, a coexistência de law reviews (periódicos jurídicos) geridas por professores doutores e outras lideradas por estudantes. Esse amplo leque de publicações converge, porém, em um aspecto indispensável: a altíssima qualidade das publicações. Comuns às mais renomadas universidades estadunidenses, os periódicos geridos por graduandos têm relevância verdadeiramente centenária e contribuem de forma decisiva ao acesso à pesquisa e à doutrina jurídicas. Não há exemplo mais especial e conceituado do que a Harvard Law Review, a revista jurídica editorada pelos estudantes de Harvard. Durante sua centenária existência, a famosíssima The Review tornou-se definitivamente o mais reconhecido periódico jurídico e veiculou centenas de artigos relevantíssimos aos alicerces jurisdicionais do common law estadunidense contemporâneo. Também não pega mal mencionar que seu primeiro presidente afro-americano acabou por tornar-se relativamente conhecido mesmo fora da academia: você, caro leitor, há de ter ouvido falar em um tal Barack Obama. Seguindo, por hora, no assunto "personalidades", não há atestado maior ao prestígio internacional das revistas universitárias do que a Suprema Corte dos Estados Unidos. Simplesmente todos os membros da atual composição do mais alto tribunal norte-americano participaram das law reviews de suas respectivas faculdades: quatro, incluindo o presidente da corte - John Roberts - contribuíram à Harvard Law Review; outros quatro fizeram parte do corpo editorial da Yale Law Journal (o periódico jurídico da Universidade Yale); por último, Amy Coney Barrett, a exceção ao predomínio de Harvard e Yale na Corte, foi editora da Notre Dame Law Review (a revista da Universidade Notre Dame). Tendo explicado as possibilidades de publicação representadas pelas revistas estudantis e sua importância inegável ao cenário acadêmico internacional, não foram surpreendentes o surgimento e o desenvolvimento de periódicos neste molde em algumas das principais faculdades brasileiras. Algumas, como veremos a seguir, já passam de duas décadas em funcionamento e contam com prestigiosos autores durante suas trajetórias. Mas como funcionam as law reviews estudantis? Qual a missão delas? Por que participar de uma? Como são selecionados os artigos? Como são garantidas a qualidade e a veracidade do conteúdo publicado? Foi com o objetivo de responder estes e mais outros diversos questionamentos importantes que a reportagem do Migalhas Para Estudantes entrou em contato justamente com aqueles que vivem - todos os dias - os desafios derivados do fenômeno das revistas estudantis e experimentam em primeira mão toda essa atmosfera acadêmica. Falamos, então, com as equipes de editoração dos três mais relevantes periódicos universitários de Brasília. Foram consultados: Gabriel Pedroza, Letícia de Amorim e Diego Matos - editores da Revista dos Estudantes de Direito da UnB (RED - UnB); João Paulo Branco e Rafael Gonet Branco - editores-chefes da Revista de Direito e Atualidades do IDP (RDA - IDP); e, por último, Cecília Vendramin, Gabriel Borba e Francisco Silva - editores-chefes da Revista de Egressos e Acadêmicos de Direito do CEUB (READ - CEUB).  Qual o propósito de uma revista acadêmica estudantil?  Seguindo as variadas respostas explicadas pelos jovens acadêmicos, não resta muita dúvida que o grande propósito dos periódicos jurídicos liderados por eles resulta de duas nobres missões: estimular o contato com o universo da pesquisa científica e oferecer mais meios de publicação aos graduandos. Tal qual não é difícil de se imaginar, a existência de dezenas de periódicos jurídicos no Brasil frequentemente não se reflete em mais oportunidades de imersão acadêmica aos estudantes de Direito. "Existem muitas revistas renomadas, mas a grande maioria exige titulações de mestrado ou doutorado para a participação no processo editorial ou para a publicação de artigos", afirma Gabriel Pedroza, editor-chefe da RED. Dessa forma, os graduandos acabam impedidos não somente de expressar seus qualificados sensos críticos e opiniões, mas também de desfrutar dos diferentes benefícios tangentes à participação em um boletim jurídico. Coube, então, aos periódicos estudantis buscar atender os anseios dos graduandos por mais oportunidades de agregar experiências acadêmicas: até aquele momento, nem a editoração nem a escrita científica eram acessíveis. Logo, pode-se afirmar que a combinação verdadeiramente única entre textos científicos bem-feitos, pareceres de especialistas renomados e a especial experiência editorial constitui uma excelente lista de motivos para participar de uma revista acadêmica. "O contato direto com produção acadêmica de boa qualidade, com os professores pareceristas (aqueles que analisam os textos submetidos) e com o processo editorial produz muitas possibilidades de aprendizado pessoal", conclui Rafael, da RDA. Ademais, outra relevante consequência das law reviews é a experiência comparativa entre dezenas de opiniões divergentes e contrastantes - mas de boa fundamentação. Nesse sentido, observar de perto o constante e intenso debate de ideias que é inerente à academia e à elaboração de um periódico é, sem dúvidas, uma interessantíssima maneira de analisar conceitos importantes postos à prova e aplicados à materialidade. "Pesquisa é o elo entre o aprendizado da graduação e suas aplicações no mundo", foi a forma - quase poética - como a Cecília destrinchou essa característica da produção acadêmica.  Como são selecionados os artigos? Há "controle de qualidade"? É compreensível que um dos primeiros pensamentos após tomar conhecimento das revistas estudantis seja algo na linha de "como eles vão aprovar e recusar textos sendo apenas da graduação?". Bom, isso é fácil de responder: não são os graduandos que filtram os textos. Isto é, pelo menos quanto à qualidade do conteúdo. As três equipes editoriais explicaram que, para a grata surpresa desta reportagem, seguem processos internos consideravelmente similares - e rígidos - para determinar quais textos serão aprovados, reprovados ou aprovados com observações. "A ideia de manter a qualidade dos artigos passa pelos professores especialistas, afinal mesmo que nós não sejamos mestres ou doutores, os pareceristas são", foi como a Letícia de Amorim, da RED, explicou a continuidade da presença de excelentes artigos nas já mais de vinte edições publicadas da revista. Já João Paulo, da RDA, explicou que "o propósito de abrir para estudantes não quer nunca dizer prejudicar o nível dos artigos" e mencionou que uma eventual queda não seria jamais bem-vinda, tendo em vista que significaria a perda de prestígio da revista perante os renomados juristas e professores - até estrangeiros - que já submeteram seus textos ao crivo da editoração. Assim, torna-se necessário, indubitavelmente, a aplicação consistente de efetivos métodos de triagem, seleção e formatação: trata-se, pois, de uma elaborada operação de múltiplas fases cuja grande estrela é, sem dúvidas, a etapa da double blind peer review, a avaliação dupla às cegas. É neste momento que os textos já submetidos e aprovados nos testes estruturais (análise de ABNT, citações e tamanho do texto realizada pelos graduandos editores) são apreciados por dois pareceristas - profissionais especialistas naquela área titulados, no mínimo, com mestrado - os quais não conhecem a identidade um do outro ou do autor. Sendo assim, a organização e a publicação por parte de estudantes não passam nem perto de conturbar a qualidade altíssima dos artigos publicados, afinal a triagem profunda destes se dá por meio de pareceres de profissionais com ampla bagagem acadêmica. Esse rígido controle permite, simultaneamente, uma manutenção do padrão adequado dos artigos e experiências de aprendizado àqueles cujos artigos não foram aprovados: desaprovação por parte dos pareceristas é frequentemente somada de feedback sobre o que pode ser melhorado para uma futura publicação. Dessa forma, mesmo o recebimento de uma negativa evita um permanente desânimo daquele graduando quanto ao universo da academia, incentiva o autor a manter-se dedicado e, por isso, serve de experiência de aprendizado às suas aptidões de escrita e pesquisa científicas. Concluindo, pode-se dizer que o método da double blind peer review com pareceristas permite que periódicos estudantis não somente driblem a desconfiança que porventura poderia vir a surgir de avaliações teóricas realizados por graduandos, como também ofereçam feedback do mais alto nível a seus autores interessados.  É um diferencial profissional? Como fazer parte?                Sendo este o último tópico geral a ser levantado sobre as revistas estudantis jurídicas no geral (a seguir serão destacadas individualmente cada uma das revistas mencionadas aqui), é imprescindível falar sobre os impactos e benesses de um histórico acadêmico à colocação profissional de um estudante de Direito. Levando em conta o quão valorizados profissionais de boa escrita e de boa capacidade criativa têm sido recentemente, é possível - e correto - afirmar que fazer parte de uma revista acadêmica estudantil ou contribuir com artigos são ambos diferenciais notáveis no currículo. Sendo habilidades como a da escrita e da pesquisa profundamente beneficiadas pela imersão acadêmica, a possibilidade de aprendizados verdadeiramente profissionais é, sim, um outro incentivo interessante à participação numa revista. Além disso, a experiência de compor um grupo numeroso de graduandos dedicados à academia traduz-se, invariavelmente, em diversas chances de exercitar as tão faladas soft skills: da liderança à comunicação eficiente, a construção conjunta de uma coletânea de belos artigos significa prosperar em projetos em equipe. Desse modo, integrar o corpo editorial de um periódico torna-se uma alternativa àqueles interessados por melhorarem determinadas habilidades pessoais mas não almejantes de outros programas de extensão - como as Empresas Juniores. Em suma, conclui-se que a importância das revistas ao contexto dos estudantes de graduação transcende a tradicional ambientação acadêmica e pode, diretamente, contribuir para a formação de profissionais significativamente mais preparados a desafios de pesquisa, gestão e liderança. Por fim, também é imprescindível explicitar o efeito causado à leitura do currículo de um candidato: um possível analisador deve, muito provavelmente, entender um histórico de produção ou editoração como um eco de capacidades de amplos benefícios ao mundo profissional. Se interessou? Então a notícia é boa. É, em grande parte, bastante simples fazer parte de um periódico estudantil: basta fazer parte do corpo discente da faculdade representada por aquela revista e, posteriormente, participar de seu respectivo processo seletivo específico. Boa sorte!  Revista de Estudantes de Direito da UnB (RED - UnB) Inicialmente inaugurada em 1996, a RED passou por substantivas mudanças até consolidar-se, definitivamente, no atual modelo de funcionamento desde 2016. Contando com quase 50 membros, um expoente renome acadêmico e um padrão de qualidade de publicação altíssimo, é motivo de orgulho para os estudantes da Faculdade de Direito UnB. Além de contar com a tradicional revista - a qual é lançada bianualmente em formato físico e digital -, a RED também empreende diversos projetos interessantíssimos que visam, segundo seu editor-chefe, Gabriel Pedroza, "capacitar simultaneamente o corpo editorial, os autores e a comunidade acadêmica da UnB". É desse amplo leque de opções que surgiram o Blog da RED, o REDCast UnB, muitos eventos presenciais e remotos e, não menos importante, os chamados Cursos da RED, que dependem de inscrição, abordam temas contemporâneos relevantes ao direito e contam com a tutela de professores do mais alto nível. A relativa longevidade permitiu que a revista, nesses anos de experiência sobressalente, estabelecesse um bem sistematizado funcionamento interno, ganhasse destaque no meio acadêmico da capital e, em decorrência disso, recebesse com frequência artigos escritos por juristas de renome nacional - ministros do STF, ministros do STJ, juízes, professores e doutrinadores. Se interessou pelo conteúdo da RED? Não deixe de acompanhá-la pela página do Instagram @RED.unb ou pelo site oficial. Tem interesse em publicar seu texto na RED? Envie seu artigo agora! Aproveite a oportunidade, a revista está atualmente recebendo artigos para a próxima edição até o dia 18/09. Você não precisa ser da UnB para submeter seu artigo!                Tem interesse em entrar na editoria da RED? O processo seletivo infelizmente está fechado, mas deve abrir no começo do ano que vem somente para alunos da UnB. Revista de Direito e Atualidades - IDP (RDA - IDP) Criada durante a o começo da pandemia de Covid-19, a RDA surgiu, tal qual seus fundadores me explicaram, com o objetivo principal de preencher duas lacunas: 1) o IDP, apesar de possuir até uma conceituadíssima revista "A1", não possuía - ainda - revistas geridas por graduandos ou nas quais graduandos podiam publicar frequentemente seus textos; 2) o contexto da pandemia inviabilizava grande parte das atividades extracurriculares acadêmicas. A solução foi a criação da RDA, agora uma já respeitada revista no universo acadêmico-legal. Contando com artigos de renomadas figuras da esfera jurídica nacional desde a sua primeira edição, a RDA teve uma verdadeira ascensão meteórica durante os últimos dois anos e já está em vias de celebrar o lançamento de seu quarto exemplar. Além disso, o aspecto contemporâneo das temáticas abordadas nos artigos permite a elaboração de estudos e conclusões que transcendem o mero saber legal e tomem partido dos efeitos práticos das leis e normas à realidade na qual estão contextualizadas. É justamente da convergência entre o "Direito" e as "Atualidades" que surgem interessantes oportunidades de falar sobre o presente sob uma perspectiva jurídica. Se interessou pelo conteúdo da RDA? Não deixe de acompanhá-la pela sua página do Instagram @RDA_IDP ou pelo site oficial. Tem interesse em publicar seu texto na RDA? O edital de novos artigos infelizmente está fechado agora, mas fique de olho no lançamento da nova QUARTA EDIÇÃO nos próximos dias. Você não precisa obrigatoriamente ser aluno do IDP. Tem interesse em entrar na editoria da RDA? Fique atento ao Instagram @RDA_IDP, pois a informação é que o processo seletivo deve abrir nos próximos dias. Revista de Egressos e Acadêmicos de Direito do CEUB (READ - CEUB) A mais nova entre as revistas estudantis procuradas durante a realização desta reportagem, a READ mobilizou-se durante o último ano para abrir, recentemente, o edital de recebimento de artigos para a sua primeira edição. Já contando com quase 20 membros - entre graduandos e recém-graduados -, a READ promete dar esse grande passo inaugural no universo das publicações acadêmicas já com artigos de alta qualidade e assinados por professores de renome em suas respectivas áreas. Planejada como uma "revista dos alunos para os alunos, mas representando muito bem o CEUB" - segundo a editora-chefe Cecília Vendramin -, a READ vêm sendo cautelosamente administrada pelos últimos meses de forma a agregar uma adequada equipe de especialistas pareceristas e, assim, possibilitar bons feedbacks e avaliações mesmo àqueles cujos textos não forem aprovados diretamente. Assim, a expectativa é que sejam veiculados artigos de diversas áreas diferentes do direito submetidos por autores com os mais variados backgrounds. O lançamento da edição inaugural está previsto para o primeiro semestre de 2023. Se interessou pelo conteúdo da READ? Não deixe de acompanhá-la pela página do Instagram @READCEUB. Tem interesse em publicar seu texto na READ? Envie seu artigo agora! Aproveite a oportunidade, a revista está atualmente recebendo artigos para a primeira edição até o dia 25/09: https://linkr.bio/read_ceub. Você não precisa ser aluno do CEUB para submeter seu artigo! Tem interesse em entrar na editoria da READ? O processo seletivo infelizmente está fechado.
Estar em contato com o mundo profissional ainda durante a graduação é frequentemente citado como uma das formas mais inteligentes de se destacar no mercado de trabalho. É justamente dessa busca por um lugar ao sol que cresceram as empresas juniores. Lideradas por graduandos, as famosas EJs atingem resultados financeiros verdadeiramente impressionantes e permitem que seus membros sintam na pele a aplicação prática dos conteúdos que estudam em sala. Nessa perspectiva, era óbvio que não demoraria para que estas iniciativas chegassem à realidade do Direito, levando em consideração o surrealmente competitivo mercado jurídico brasileiro. Assim, já são muitos os cursos jurídicos no Brasil afora que contam com Empresas Juniores bem estruturadas, sérias, competitivas e, principalmente, lucrativas. Apesar de não poderem atuar como verdadeiros escritórios de advocacia - tendo em visto os requerimentos da OAB -, essas empresas oferecem diferentes serviços e têm alcançado números expressivos. Mas, parando para pensar... Como elas funcionam? O que fazem? É um diferencial no currículo? A coluna Migalhas Para Estudantes desta semana almeja responder justamente estas perguntas! Dessa forma, não há jeito melhor de descobrir mais sobre o assunto do que falando com quem vive esta realidade todos os dias. Sendo assim, a reportagem conversou com membros da diretoria da AdvocattA - a empresa júnior da Faculdade de Direito da UnB - para entender a atuação e as funções de uma EJ que faturou quase 300.000 reais no último ano. Coube, então, à presidente Yara Oliveira e ao assessor Felipe Lima explicar detalhadamente as características da AdvocattA, o seu processo seletivo, sua ampla gama de serviços realizados e todos os desafios de manejar - ainda na graduação - uma empresa com dezenas de alunos membros.  Como funciona a AdvocattA? Fundada inicialmente em 2004, a AdvocattA tem como principais missões estimular a atuação jurídica e proporcionar maior conhecimento prático sobre o mercado de serviços ainda durante a faculdade. "Nossa maior motivação é exatamente incentivar a prática jurídica o quanto antes for possível", declara Felipe. Esse interesse profissional precoce é diretamente demonstrado pelo moderno e inclusivo processo seletivo da companhia: qualquer estudante de qualquer período do curso pode se inscrever e passar por imersivas experiências de estudo de cases e debates em equipe. Por conseguinte, caso enquadre-se no perfil de colaborador buscado para aquele semestre, o aluno - até se for um calouro - é logo aprovado, contratado e começará em breve a conhecer a fundo sua futura área profissional. Ademais, abordando os impressionantes números de faturamento da empresa, os diretores explicam que os atuais patamares de receita não vieram de um dia para o outro e exigiram que a empresa diversificasse gradualmente seu leque de serviços. Sendo assim, apesar de já ter engendrado até projetos envolvendo criptomoedas e tokens digitais, a AdvocattA dedica-se, principalmente, aos serviços de assessoria, pesquisa e redação jurídicas, registro de patentes e consultoria jurídico-financeira a microempreendedores. Por outro lado, por estar sujeita ao Estatuto da OAB como qualquer outro empreendimento jurídico, a Advocatta não pode atuar na advocacia contenciosa, tendo em vista os requerimentos burocráticos e profissionais se para explorar este campo. E, bom, para onde vai todo esse capital? Yara explicou, já em nossa primeira reunião para falar das EJs, que ele é integralmente reinvestido na empresa de diferentes formas e, por isso, permite que seus membros possam participar ao máximo possível do universo das EJs e do empreendedorismo universitário. Um exemplo recente foi o Encontro Nacional de Empresas Juniores, o qual ocorreu em Maceió durante o último final de semana e contou, óbvio, com representantes da AdvocattA. Outro ponto interessantíssimo diz respeito às divertidas premiações internas: enquanto a meta é certamente ser nomeado o "Melhor Vendedor", há sempre a possibilidade de receber a honrosa estatueta endereçada ao "Melhor Fofoqueiro" ou algo do tipo. Tendo detalhado toda a história, os objetivos e as capacidades de uma empresa júnior de tanto renome quanto a AdvocattA, os relatos de Felipe e Yara ajudam a entender o quão engrandecedor é participar de uma Empresa Júnior de Direito e todas as habilidades adquiridas ou aprofundadas nessa esfera. Dessa maneira, é importante separar os principais benefícios de explorar essa opção de extensão universitária em três grandes guarda-chuvas: empreendedorismo, networking e currículo. Empreendedorismo Não é difícil imaginar que participar de um empreendimento com dezenas de colaboradores ainda durante a faculdade é um natural incentivo a habilidades fundamentais para o empreendedorismo. A completa imersão na esfera comercial e a possibilidade de assumir cargos de liderança podem ser um grande diferencial para aqueles que buscam criar seus próprios negócios mais a frente. "Lidar com impactos positivos e negativos ainda muito antes de fundarem seus próprios negócios é muito interessante para alunos que muito provavelmente não terão a oportunidade de empreender durante ou logo após a faculdade", explica Yara. Ela destaca, também, que os membros da AdvocattA muito se orgulham do fato de diversos membros-fundadores da empresa terem aberto seus próprios escritórios de advocacia após concluírem o bacharelado. Assim, por "colocarem estratégia, poder de decisão, autonomia e liderança nas mãos dos estudantes", como disse Felipe, as Empresas Juniores dão aos seus membros muitas chances de assumir o protagonismo e, por isso, lidar com o peso da responsabilidade de atuar como líderes de uma empresa de faturamento altíssimo. "É importante para percebermos que as coisas simplesmente não acontecem se ninguém se dispuser a fazê-las", completa Yara. Resumindo: a atuação dentro de uma EJ de Direito envolve constantemente gerir pessoas, captar clientes e trabalhar em equipe e, por isso, permite ao estudante que desenvolva muitas das tão faladas soft skills consideradas fundamentais para o sucesso no mundo empresarial. Networking Tal qual já foi detalhado repetidamente aqui nesta coluna anteriormente,  o networking é indiscutivelmente fundamental para o estudante de Direito atual. A capacidade de criar, expandir e consolidar uma rede de contatos com pessoas de interesses similares e/ou de destaque em suas respectivas áreas é importantíssima no mercado profissional e acadêmico. Nesse contexto, é fácil constatar que o contato constante com clientes, consultores, professores conselheiros e colegas de empresa inerente à participação em uma Empresa Júnior de Direito é um claro empurrãozinho à arte do networking. Assim, a oportunidade de conhecer empresários, advogados e professores de renome por meio de parcerias institucionais permite ao colaborador vivenciar ambientes e experiências interessantíssimos. Eventos, palestras, lançamentos de livros e visitas a escritórios de advocacia podem ajudar consideravelmente o estudante a se situar melhor no mundo jurídico. Além disso, o contato com especialistas de diferentes áreas de atuação permite que o estudante descubra mais sobre a aplicação profissional de determinados campos antes mesmo de explorá-los em sala de aula. Ter essa noção prática tão cedo pode, então, estimular o aprendizado tradicional em sala e, simultaneamente, ajudar o graduando a transcender o mero estudo da doutrina jurídica. "Tem gente da AdvocattA que ainda nem chegou a estudar Tributário, mas já tem certeza que não gosta", comenta Yara, entre risos. Fechando a questão do networking, Felipe ressaltou que a necessidade de se adequar desde cedo à "comunicação do Direito com todos os seus formalismos" é sempre um desafio inicial àqueles cursando os primeiros semestres da graduação. Por outro lado, ele destaca que esse aprendizado prático proporciona que o membro de uma EJ de Direito saiba sempre se portar em ambientes jurídicos profissionais, sejam eles físicos ou digitais. Dos posts bem feitos e organizados do LinkedIn ao acesso exclusivo a profissionais especialistas, pode-se dizer que a experiência do networking é diretamente aumentada pela participação em uma Empresa Júnior de Direito. Currículo Se o contato direto com o universo empreendedor e a possibilidade de expandir sua rede de contatos são benefícios abstratos de fazer parte de uma Empresa Júnior, não há vantagem mais concreta do que poder adicionar uma dessas associações a seu currículo desde os princípios da graduação. Sendo assim, é indispensável afirmar que a possibilidade de listar projetos e atuação como membro de uma EJ é um grande diferencial e, por isso, pode ser determinante em um mercado de trabalho tão concorrido quanto o jurídico. Além de demonstrar um diferenciado e precoce entendimento do mercado antes mesmo do primeiro estágio em escritório de advocacia, registrar no currículo - e no LinkedIn - sua experiência em uma EJ indica diversas características de personalidade e atuação que são amplamente buscadas por muitos processos seletivos. Explico: se é tão comum na atualidade a valorização de termos como "trabalho em equipe", "criatividade" e "liderança", é fácil entender porque o analisador do R.H logo enxergaria a participação em uma Empresa Júnior como um diferencial grande no currículo. Se a comprovação de vivência em equipe e de espírito empreendedor representados pela listagem de uma Empresa Júnior no currículo já não bastasse, é ainda bem comum que essas empresas contribuam com a apresentação e qualificação profissional de seus membros. Fotos profissionais, conselhos para a formatação adequada do LinkedIn e a oferta esporádica de cursos de especialização externos à faculdade também são benefícios ao currículo do estudante proporcionados pelas empresas juniores. Não há prova maior do impacto positivo das EJs à construção de um currículo competitivo do que a própria experiência pessoal da Yara. Ela conta, orgulhosa, que conseguiu seu estágio atual após o recrutador ler em seu perfil do LinkedIn o título de "Presidente da Advocatta" e, não muito tempo depois, entrar em contato com ela oferecendo a possibilidade de uma entrevista pessoalmente. Conclusão e agradecimentos Tendo em vista todos os pontos destacados durante a coluna desta semana, não há como negar que participar de uma Empresa Júnior de Direito pode trazer consideráveis benefícios aos estudantes de Direito e serve como um grande diferencial na esfera jurídica profissional. Se a sua faculdade conta com uma dessas associações, não deixe de pesquisar sobre e conhecer mais! É imprescindível, também, agradecer à Yara e ao Felipe pelas contribuições diretas a esta coluna semanal do Migalhas Para Estudantes. Desejamos todo o sucesso do mundo a eles e à AdvocattA e esperamos que ela continue - por muito tempo - sendo referência em seu setor de atuação. Agradecemos, por último, ao querido colega de UnB Eduardo Araújo, o qual possibilitou a realização desta matéria ao criar a ponte entre o Migalhas e a diretoria da AdvocattA. Para mais informações sobre a empresa júnior, não deixem de acompanhar a AdvocattA no Instagram (@advocatta) e em seu belíssimo site institucional. Aos estudantes de Direito da UnB fica um aviso extra: o processo seletivo deles para novos membros está aberto!
A pandemia global da Covid-19 alterou drasticamente a rotina e as realidades sociais de literalmente todas as pessoas. O isolamento físico inevitável nos globais esforços de retardar a doença inevitavelmente virou qualquer cotidiano profissional ou estudantil de cabeça para baixo. Incumbidos por dar solução a este imprevisível obstáculo, órgãos públicos, firmas, escritórios, escolas e universidades agiram com pressa para tentar manter ao menos um mínimo de qualidade na oferta de serviços. A tecnologia foi a grande solução. Não demorou para que, meras semanas após a chegada da Covid-19 ao território brasileiro, já estivéssemos sendo introduzidos a uma gama de apps e recursos que rapidamente se popularizaram no mundo pandêmico de home office e EAD. Zoom, Microsoft Teams, Google Meet,- além do retorno não-tão-triunfal do Skype. Capazes de diminuir as distâncias da pandemia ancorando reuniões virtuais, chamadas e vídeos ao vivo, estes aplicativos tornaram-se essencialmente indispensáveis e complementares: o dia normal de um estudante de Direito em meados de 2020 invariavelmente envolvia participar de aulas à distância e, ao fim do dia, assistir às carismáticas lives dos maiores músicos nacionais (essa parte acabou, ainda bem). Onipresentes e incontestados durante os meses que se seguiram, o ensino à distância e o teletrabalho dominaram as rotinas de estudantes e profissionais de praticamente todas as áreas. E não podia ser diferente. De conselhos de condomínio a retumbantes congressos acadêmicos, o mundo rapidamente se adaptou aos avanços tecnológicos das chamadas em grupo. O surgimento de novas ondas e variações da doença, por sua vez, estendeu ainda mais o reino desses nunca antes tão fundamentais meios de comunicação. Não havia quem duvidasse: a rápida expansão desses recursos duraria enquanto durassem os mais preocupantes períodos da pandemia. Mas agora, mais de dois anos após o início da transmissão comunitária no Brasil, ela parece ter se arrefecido. E como ficam as chamadas simultâneas, as reuniões on-line, as aulas virtuais, os prazos do home office e as atividades assíncronas do ensino EAD? Há motivo para crer em uma continuação dessas ferramentas agora em um cenário pós-pandêmico? Ao que tudo indica, sim. Apesar de terem - corretamente - a absoluta certeza de que jamais serão novamente tão indispensáveis quanto no período de pandemia, os apps e empresas responsáveis pelos serviços supracitados entraram definitivamente no cotidiano das pessoas. Por causa dos meses e meses de dependência digital, grande parte das pessoas agora entende, confia e sabe operar essas ferramentas tecnológicas. Dá para dizer, sem muito medo de errar, que foi um movimento irreversível. A "Caixa de Pandora" de megabites foi aberta. Num ponto de vista meramente social, grande parte da sociedade simplesmente saber que estes apps existem e saber usá-los é um grande aspecto positivo dessa atropelada e inesperada imersão digital. As chamadas virtuais encurtam distâncias entre parentes queridos, facilitam reuniões profissionais, auxiliam diretamente o processo de networking e contribuem para um mais ágil intercâmbio de conhecimento. Não há motivo para pensar que todos estes pontos positivos hão de ser desconsiderados apenas por causa da recente volta aos ambientes de trabalho e estudo presenciais. Agora falando de um ponto de vista profissional e acadêmico, são muitos os escritórios e universidades que aproveitaram o arrefecimento da pandemia para, ineditamente, começar a ofertar funções inteiramente em home office e graduações em Direito 100% EAD. Por mais que tenhamos - quase todos - sofrido consideravelmente com as aulas à distância, a expansão do leque de cursos ofertados neste modelo é sim uma excelente notícia: a possibilidade de conquistar um sonhado diploma de bacharel torna-se muito mais acessível com o intermédio da flexibilidade inerente às aulas online. A tecnologia possibilitará a milhões de pessoas que possam tomar as rédeas de oportunidades que outrora seriam simplesmente inviáveis, seja na conjuntura estudantil ou no mercado de trabalho. Em suma, apesar de tão associadas ao desesperador contexto da pandemia, as ferramentas para contato à distância e as atividades que elas possibilitam - EAD, home office - vieram para ficar. Não existe pensar uma realidade pós-pandêmica sem pensar nas atividades isoladas que tanto se desenvolveram durante ela. Tal qual, não existe pensar nos atual e futuro cenários tecnológicos sem pensar nas tecnologias que tanto se difundiram nos últimos meses e anos.
A publicação da "Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito!" pelo corpo docente da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo tem atraído grande comoção social nos últimos dias. Contando com a adesão virtual de mais de meio milhão de pessoas - incluindo notáveis, juristas, ministros e presidenciáveis - o manifesto resgata a ferrenha e inspiradora defesa da democracia talhada na primeira Carta aos Brasileiros, elaborada pelo ilustre Goffredo da Silva Telles Jr. no contexto da ditadura civil-militar. Os contextos dos textos são diferentes, sem dúvida. O Brasil de agosto de 1977 vivia um novo momento de recrudescimento do regime militar representado pelo autoritário Pacote de Abril: outorgado poucos meses antes da leitura da lendária Carta, o conjunto de normas reforçava a imutável força parlamentar da ARENA através da figura dos indicados senadores biônicos. O Brasil de julho de 2022, por sua vez, não vive um cenário de ditadura. Mas é o completo apavoro provocado pela possibilidade de uma tramoia antidemocrática que tornou inevitável a elaboração de uma nova Carta. Os traumas de 1964 a 1985 não ficaram para trás com o tempo. "Ditadura e tortura pertencem ao passado", afirma a nova declaração. Os temas tratados pelos textos - apesar de tangentes - também não são os mesmos. Em seu ensaio, mestre Goffredo clamava pela volta de um Estado Democrático de Direito suprimido há mais de uma década, pela volta do respeito aos direitos civis e pela volta da legitimidade fundamental às normas positivas. Por outro lado, o recente manifesto reflete o nublado contexto do qual se origina: ele fala da manutenção da ordem democrática, da manutenção do pacto constitucional, da manutenção da lisura do processo eleitoral. Ele menciona e reafirma a confiança popular no sistema eletrônico e na justiça eleitoral - há algum tema mais politicamente atual do que este? Quando brada sua preocupação com as recentes instabilidades democráticas, a nova Carta explicita que seu grande objetivo é que não seja necessário, em ponto algum do futuro próximo, outro texto implorando pela volta da democracia tal qual o de 1977. Mesmo que seus diferentes focos temáticos traduzam os contextos consideravelmente diferentes dos quais se originam, as cartas personificam papéis fundamentais da academia jurídica: a vigília e o alicerçamento teórico do Estado Democrático de Direito. De nada adiantaria a extensa produção de textos e artigos inerente ao desenvolvimento do saber jurídico se, às portas da deslegitimação constitucional, a resposta fosse o silêncio e a apatia. Os manifestos mostram que o clamor pela legalidade normativa é, sim, um elemento digno de amplo apoio popular e de considerável valor simbólico à estabilidade democrática nacional. Declarações de amor à democracia forjadas em seio jurídico, mas fundamentadas nos anseios de uma nação preocupada, as Cartas juntam ao prestígio do academicismo o timbre do apoio popular. Quem as escreveu foi a elite intelectual brasileira, mas quem as abraça é o povo. É justamente esse levantar de vozes conjunto e multipolar que já torna notável a nova Carta aos Brasileiros, tal qual também tornou a anterior. Elas demonstraram, cada uma do seu jeito, cada uma em sua época, o saber jurídico como uma luz à sociedade em tempos de incerteza democrática e legal.         
Falar sobre a importância do networking não é um tema novo. Além disso, não é - nem de longe - um tema exclusivamente relevante à realidade dos estudantes de Direito. Conhecer, se aproximar e ter a oportunidade de colaborar com pessoas qualificadas e de destaque é fundamental em toda e qualquer área profissional. Por outro lado, é bem deduzível que essa formação de conexões torna-se ainda mais importante em um mercado com tantos profissionais quanto o mercado jurídico: a concorrência é grande, óbvio, mas aquela famosa indicação de um colega pode ajudar demais como um diferencial. Há quem fale sobre networking com tons e mais sobretons de palavras fortes como "influência", "disciplina", "liderança", "lealdade" e "apresentação pessoal". Isto nada mais é do que tornar complexo e rebuscado algo que, em sua essência, não poderia estar mais longe disso. Quanto mais forçado o primeiro contato com uma pessoa soar, menor é a chance de ali se formar uma conexão realmente interessante e com potencial de convergir em grandes colaborações futuras. A lógica é simples. Se você foca em conhecer alguém já mentalizando o objetivo de ela te recomendar para um escritório ou te ajudar a publicar um livro, não demora para que ela perceba o objetivismo inatural por trás da sua aproximação. A situação ainda piora muito se entrar um cadinho de bajulação na mistura. Nessa perspectiva, o melhor caminho a ser trilhado é pautado pela naturalidade e, principalmente, pelos interesses, pessoas e histórias de vida em comum. Explico: é muito mais casual e eficiente começar a conhecer uma pessoa falando com ela sobre um livro recentemente publicado ou sobre o último jogo do Vasco e, tendo quebrado o gelo, desenvolver a conversa até chegar a assuntos profissionais - sem pretensões, finalidades prévias ou bajulação. Assim, o ponto não é que o networking pode ser um processo descomplicado, o networking deve ser um processo descomplicado. É justamente este o grande assunto dessa coluna. Sendo a formação de contatos tão importante ao mercado jurídico de 2022, como encará-la com naturalidade e, por consequência, torná-la mais eficiente, interessante e menos árdua? Faculdade de Direito Não há ambiente mais propício ao networking do que a própria faculdade de Direito. Não poderia ser diferente. O contato diário com dezenas de estudantes antenados no mundo jurídico é, sem dúvidas, um grande catalisador para eventuais colaborações de grande relevância. Nesse sentido, apesar de experiências como trabalhos em grupo ou discussões em sala de aula serem fundamentais para conhecer e se aproximar de colegas talentosos, considero que um networking simples, natural e eficiente não acontece necessariamente na sala de aula: é nos corredores, bibliotecas e pátios que a coisa realmente anda. Ter sempre a atmosfera acadêmica da faculdade e acontecimentos relevantes em comum proporciona, sem muitas dúvidas, inúmeras oportunidades de empreender ideias conjuntas. Dessa forma, é de se imaginar que a melhor maneira de formar uma engajada e independente rede de conexões ainda durante a graduação é aproveitando as aberturas que ela em si oferece. Grupos de monitoria, entidades políticas como centros acadêmicos, associações atléticas desportivas e até mesmo trabalhos em grupo são, então, alguns dos melhores facilitadores para conhecer e se aproximar de outros estudantes qualificados e com interesses similares. Atividades extracurriculares Se, por um lado, as conexões são muito mais facilmente formadas dentro da faculdade de Direito, é fora dela que existe um maior potencial de se desenvolverem. Por serem muitas as pessoas conhecidas durante os anos da graduação, grande parte dessas conexões não avançará ao interessantíssimo compartilhamento de informações e colaboração em projetos que é característico do processo do networking. Isso se dá, principalmente, por causa da amplitude dos conteúdos e projetos característicos à faculdade: é bem compreensível que você, um interessado em Direito Penal, nunca venha a colaborar muito com uma colega cuja área é Direito Trabalhista, por exemplo. Nesse sentido, as atividades extracurriculares podem ajudar a preencher justamente essa lacuna de especificidade que falta à amplitude da faculdade. Nas atividades de extensão abre-se a oportunidade de não só conhecer pessoas de considerável qualificação - tal qual a rotina de faculdade tradicional -, mas também de que tais pessoas estejam diretamente envolvidas em áreas de interesse mais específicas. Logo, essa convergência de curiosidades tende, invariavelmente, a uma maior chance de conexão e, por consequência, de colaborações, recomendações ou pesquisas. Resumindo, engajar-se em atividades acadêmicas que transcendem os limites clássicos de uma faculdade de Direito é uma excelente forma de networking. Dessa forma, associações estudantis (a ABEDP, formada por estudantes de Direito Processual é um bom exemplo), grupos de pesquisa, congressos jurídicos e projetos voluntários são boas apostas para quem almeja formar uma ampla rede de conexões com outras pessoas qualificadas da sua área. Redes Sociais (LinkedIn e Instagram) Por último, não há como entrar no assunto networking sem mencionar as principais ferramentas contemporâneas especialmente modeladas para tal: as redes sociais! Falando primeiro sobre o Instagram, engana-se fatalmente quem limita seu uso da rede social a assistir vídeos de animais fofos ou a curtir fotos antigas de uma colega da faculdade (outro tipo de networking). Apesar de muito menos focado no aspecto profissional do que o LinkedIn - o qual irei detalhar a seguir -, o Instagram pode ser muito útil para o propósito de conhecer e interagir com pessoas extremamente qualificadas. Primeiro, é inegável que não são poucos os eventos que ocorrem remotamente pela rede (debates em forma de lives, por exemplo) ou cuja divulgação ocorre majoritariamente por lá. Segundo, é pelo Instagram que um estudante de Direito pode receber sucintamente grande parte das notícias relevantes ao mundo jurídico, o que ajuda diretamente a se manter antenado em oportunidades de networking. Terceiro, o Instagram facilita - e muito - uma aproximação pessoal com colegas com quem já existe uma ligação profissional (tal qual conhecidos da faculdade ou do trabalho), o que definitivamente colabora para recomendações. Falando agora sobre o LinkedIn, é bem fácil imaginar que uma rede criada inteiramente com o propósito de estabelecer e organizar conexões profissionais é simplesmente indispensável para o networking. Sim, mesmo antes de entrar no mercado de trabalho. Apesar de talvez mais complicado de dominar completamente do que o Instagram, um uso básico do LinkedIn já pode se provar bem útil. Comece cumprindo os seguintes passos:  é primeiramente fundamental manter um perfil pessoal organizado e devidamente atualizado, sendo que aspectos como formação acadêmica, línguas estrangeiras e experiência profissional tem que ser bem explicados e verdadeiros. Segundo, é importante lembrar que cumprir as instruções de perfil recomendadas pela própria rede é necessário para que seu perfil apareça mais frequentemente nos feeds de recrutadores e colegas. Terceiro, faça upload da sua lista de contatos ao app do LinkedIn e, a partir desse primeiro nível de pessoas próximas, vá adicionando pessoas conhecidas à sua rede de conexões a partir das funções "conectar" ou "seguir" (mais comum para figuras de relevância pública). O quarto e último passo para tomar um já razoável proveito do LinkedIn é frequentemente postar sobre eventos que participou, textos que publicou ou simplesmente experiências curiosas que teve: esse tipo de post abre a chance de falar sobre assuntos do seu interesse e de destacar suas competências. Concluindo o contexto do LinkedIn, considero que basta abri-lo pelo menos uma vez ao dia com o objetivo de se atualizar sobre as atividades profissionais das pessoas à sua volta e, por consequência, usar o app como uma eficiente ferramenta de networking. Assim, o serviço tem, entre seus principais pontos positivos visando o desenvolvimento de uma rede de contatos, a possibilidade de ficar sabendo sobre oportunidades em sua área, a organização de um "currículo" digital e facilmente acessível, o algoritmo que tende a sugerir publicações relevantes e/ou de pessoas relevantes e, por último, as funções de conexão e chat, as quais possibilitam um contato mais direto com pessoas cujas postagens lhe instigarem. Use o constante e onipresente acesso à internet a seu favor! Faça web-conexões! Conclusão Sendo o networking tão fundamental ao progresso e à consolidação de uma carreira no absurdamente concorrido mercado jurídico, seguir algumas das dicas mencionadas acima não é uma má ideia. Pare tudo que está fazendo e vá criar um LinkedIn! Não deixe de acompanhar o Migalhas Para Estudantes aqui e no Instagram (@migalhasestudantes) para saber mais sobre networking e sobre tantos outros assuntos relevantes ao estudante de Direito!
Seguindo a temática de estudos jurídicos internacionais que tem permeado a última coluna e os mais recentes conteúdos do Migalhas para Estudantes (principalmente no Instagram, @migalhasestudantes), entrevistei Luís Henrique Fernandes, advogado no Pinheiro Neto Advogados, participante de LL.M na Universidade da Pensilvânia (UPenn) e criador do projeto Por Dentro do LL.M. Para saber mais sobre LL.Ms, leia a coluna da segunda passada, a qual fala sobre os principais tipos de estudo no exterior! A página do Instagram conta com postagens, conteúdo e até entrevistas frequentes e extremamente informativas para aqueles que cogitam participar de um LL.M - um programa de pós-graduação de Master of Laws no exterior. Assim, a partir de uma mistura bem equilibrada entre posts de autoria própria (divididos entre as categorias "preparação", "prestes a ir" e "cheguei!) e contribuições de pessoas que tiveram outras experiências de estudo jurídico no exterior, a Por Dentro do LL.M torna-se gradualmente ainda mais essencial para aqueles que almejam complementar sua formação com um período fora do Brasil. Na entrevista, Luís nos conta detalhadamente sobre sua interessantíssima trajetória acadêmica e profissional, além de explicar o grande ideal por trás da criação do Por Dentro do LL.M: agregar, em uma mesma plataforma, informações e dicas básicas acerca dos LL.Ms. Luís diz que a motivação deriva de sua própria experiência antes de se candidatar, ser aprovado e, finalmente, participar de um LL.M. Ele conta que, mesmo fazendo parte de um escritório com grande presença internacional e conhecendo diversas pessoas que haviam participado de um programa de pós-graduação nestes moldes, teve dificuldades para saber com detalhes quais providências deveria tomar para viabilizar sua participação num LL.M e a consequente estadia prolongada no exterior. Falamos, além disso, sobre as principais características do LL.M e sobre como um estudante interessado pode se manter antenado em oportunidades de participar de um desses programas. Seguindo esse propósito, Luís Henrique recomenda redes como o LinkedIn e o Instagram e o contato com pessoas que já participaram de uma experiência internacional nesses moldes como bons meios de se guiar e, principalmente, saber mais sobre como se candidatar a estudos jurídicos no exterior. Nesta fase, então, torna-se importantíssima uma certa convergência com o processo de networking profissional, tendo em consideração que justamente o contato com pessoas qualificadas pode ser essencial àqueles interessados em um LL.M. Outro tema interessantíssimo que foi abordado é como perseguir desde cedo - ainda durante os princípios da graduação - o interesse em fazer um LL.M. Nessa perspectiva, Luís afirma, levando em conta sua experiência própria e seu contato com Daniela Branco (membro da comissão de admissões da UPenn) que os critérios não são completamente objetivos ou definidos em pontos específicos como notas e trabalhos extracurriculares. A aprovação para um desses programas depende, na verdade, da combinação de diversos fatores e aspectos pessoais, profissionais e acadêmicos: projetos que demonstrem liderança e criatividade, colaboração com atividades de extensão, bom desempenho acadêmico, publicação de textos e artigos científicos ainda durante a graduação e até mesmo participação em associações estudantis são frequentemente citadas como diferenciais e pontos positivos. Ademais, chegamos àquela que era a pergunta pela qual eu mais esperava: qual o momento certo de fazer um LL.M? Tal qual muitas outras coisas na vida, a resposta aparentemente é que isso depende de inúmeros fatores de muitas naturezas diferentes (econômica, familiar, profissional) e que, por isso, cabe a cada um decidir o seu momento de ir - ou não - encarar os desafios de estudar no exterior. Em contrapartida, o advogado conta que, levando em conta sua experiência, sugeriria ao estudante ter pelo menos alguma experiência profissional antes de se aventurar num LL.M, afinal suas contribuições às aulas e seminários e sua integração com os colegas internacionais serão muito mais fluidas e convergentes. {EMBED_YOUTUBE_764} Por último, falamos sobre o grande tabu dos estudos no exterior, os custos! Luís Henrique nos conta que, infelizmente, o senso comum não está muito enganado: voltar do exterior diplomado como um Master of Laws é bem caro. Somando custos da faculdade (tuition, ou anuidade), de aluguel, de estadia e de lazer, é compreensível imaginar que não é uma experiência barata. Em contrapartida, são ofertadas diversas bolsas a estudantes internacionais que podem ajudar a viabilizar - ou até pagar completamente, no caso das bolsas full ride - a participação em um desses programas. No caso das bolsas, Luís nos conta que é comum, inclusive, que estudantes tentem negociar bolsas maiores com as faculdades ou, em alguns casos, contar com o auxílio de fundações educacionais privadas que podem, por vezes, vir a bancar os estudos de estudantes muito fora da curva (é o caso da famosa bolsa Fulbright, por exemplo). Aproveitando para contar mais sobre sua experiência pessoal na UPenn, Luís Henrique menciona que, no seu caso, teve sua participação no prestigioso programa de LL.M da faculdade possibilitada por três vias, além de suas economias pessoais: a faculdade lhe ofertou uma bolsa equivalente a cerca de 25% dos custos, seu escritório - o Pinheiro Neto Advogados - custeou uma outra parte e, por último, ele pagou o restante de seus custos de anuidade e estadia na Pensilvânia através de empréstimos estudantis, os quais são muito comuns nos Estados Unidos. No mais, assim como na entrevista da semana passada com o especialista Claudio Klaus, debatemos uma das grandes perguntas relacionadas a estudar fora. Afinal, fazer um curso no exterior para o abre muitas portas como um diferencial no currículo? De acordo com o Luís Henrique, sim! Ele conta que, em razão do programa de LL.M, suas oportunidades foram muito além das já incríveis possibilidades comuns a cursos de estudo no exterior: O LL.M permite ao profissional de direito participar do Bar Examination (rudimentarmente explicado como o "Exame de Ordem" americano, o qual licencia um advogado a atuar nos Estados Unidos), trabalhar como associado internacional em um escritório estadunidense (Luís Henrique tem, nos últimos meses, feito parte dos quadros da firma Gibson & Dunn, de grande destaque internacional),  e, além disso, serve de trampolim para um PhD também fora do país, um atrativo grande para aqueles mais interessados em uma carreira dedicada à academia. Não deixem de seguir a página Por Dentro do LL.M no Instagram (@pordentrodollm), onde o Luís Henrique posta sobre cursos no exterior, inglês jurídico, networking e, mais especificamente, programas de LL.M! Nesse mesmo viés, acompanhe o Instagram do Migalhas para Estudantes (@migalhasestudantes) pelos próximos dias para receber cortes de momentos mais relevantes da entrevista e ficar de olho em todo o conteúdo sobre estudos no exterior que temos postado pelos últimos dias e postaremos até próxima semana. Leia a coluna de segunda para saber mais sobre os principais tipos de programa de estudo no exterior: GUIA BÁSICO.
Seguindo a temática de estudos jurídicos internacionais que tem permeado a última coluna e os mais recentes conteúdos do Migalhas para Estudantes (principalmente no Instagram, @migalhasestudantes), entrevistei o especialista em estudos no exterior e criador do fantástico grupo Estudar Direito pelo Mundo Claudio Klaus Jr. para saber sobre suas - várias - experiências no mundo jurídico internacional e falar sobre outros assuntos importantes nesse tema! Klaus foi estudante e bolsista da Fordham University - de Nova Iorque -, além de ter sido pesquisador na Suprema Corte do Estado americano do Arizona. Falamos, inicialmente, sobre os principais pontos que o estudante deve se preocupar antes de participar dos processos de seleção para estudar fora e sobre a necessidade da proficiência em inglês para aprovação e para o aprendizado no exterior, dois assuntos fundamentais quando se trata de qualquer curso fora do Brasil. Nesse sentido, elementos como notas, uma boa carta de motivação e cartas de recomendação de professores e orientadores renomados e de confiança são muito importantes para quem procura melhores chances de ser aprovado. Além disso, Klaus dá dicas mais específicas a quem busca melhorar o inglês e comprovar proficiência (exames do TOEFL ou do ETS são normalmente exigidos) antes de ir: inserir o inglês no cotidiano mudando a língua do celular, assistindo séries em inglês e lendo notícias em jornais estrangeiros é um bom começo. Ademais, outro tema debatido foram os recentes empecilhos àqueles que planejam estudar fora do Brasil. A pandemia global de covid-19, a desvalorização do real perante outras moedas de relevância e, de acordo com Klaus, uma notável diminuição das bolsas ofertadas a estudantes brasileiros por parte das universidades são todos aspectos que dificultam a ida e a estadia no exterior. A questão das bolsas de estudo, inclusive, foi abordada particularmente mais a frente: quão importante é o currículo para conseguir uma bolsa ou desconto? (muito!) Existem bolsas específicas para estudantes brasileiros/latinos? (sim!) É possível negociar uma bolsa maior com a faculdade? (sim!) Por último debatemos uma das grandes perguntas relacionadas a estudar fora: fazer um curso no exterior abre muitas portas como um diferencial no currículo? Bom, de acordo com Klaus, sim! Ele conta que, desde seu maior envolvimento com o Direito internacionalmente, teve incríveis oportunidades de conhecer pessoas muito qualificadas, aprimorar seu entendimento de Direito Internacional, imergir-se em culturas diferentes e realizar pesquisas acadêmicas de importância, isso sem levar em conta a melhora na proficiência do inglês e a maior autonomia e independência pessoais herdadas de projetos demandosos assim.        {EMBED_YOUTUBE_748}      Não deixem de seguir o Claudio Klaus no Instagram, onde ele posta sobre cursos no exterior, inglês jurídico, TOEFL, networking e, óbvio, DIREITO! @claudioklausjr Nesse mesmo viés, acompanhe o Instagram do Migalhas para Estudantes (@migalhasestudantes) pelos próximos dias para receber cortes de momentos mais relevantes da entrevista e ficar de olho em todo o conteúdo sobre estudos no exterior que temos postado pelos últimos dias e postaremos até próxima semana. Leia a coluna de segunda para saber mais sobre os principais tipos de programa de estudo no exterior: GUIA BÁSICO.
O recente arrefecimento da pandemia global de covid-19 trouxe a possibilidade de estudar em outros países de volta ao imaginário comum dos estudantes de Direito. Cursos de verão, cursos de aperfeiçoamento linguístico, períodos de pesquisa orientada e LL.Ms tornam-se gradualmente mais conhecidos e populares entre os brasileiros, apesar da recente situação econômica desfavorável na qual estamos imersos. Nesse sentido, o Migalhas Para Estudantes se dedicará, durante esta semana, a abordar assuntos relevantes justamente àqueles que consideram etapas acadêmicas fora do Brasil fundamentais ao desenvolvimento de suas carreiras. Sendo assim, fique antenado em nosso Instagram (@migalhasestudantes) durante os próximos dias para acompanhar mais textos, vídeos e posts importantes sobre o tema! Nesse contexto, a coluna buscará destacar as caraterísticas gerais das categorias mais conhecidas de estudo no exterior e as mais relevantes diferenças entre elas. Ademais, também serão ressaltados aspectos burocráticos como os exames de proficiência em inglês e a obtenção de visto de estudo. Cursos para proficiência e fluência em inglês ou outras línguas Mesmo sendo menos diretamente acadêmica entre as opções de programas no exterior que serão esmiuçadas neste texto, a importância dos cursos para proficiência linguística não pode ser subestimada. Tal qual mencionado no tópico anterior, o atual mercado de trabalho jurídico tende a valorizar significativamente experiências no exterior e fluência em línguas estrangeiras. Isso se dá, em grande parte, porque imagina-se que tal experiência e as competências consequentes dela permitam ao futuro profissional uma mais ampla gama de soluções para os gradualmente mais complexos e internacionais problemas de um mundo globalizado. Sendo assim, os grandes trunfos de um curso no exterior focado em melhorar o domínio de uma outra língua são justamente a possibilidade de estar imerso em uma nova cultura e, além disso, tornar-se mais competitivo num contexto atual de grande valorização de profissionais bilíngues. Em contrapartida, o fato de esse tipo de programa focar essencialmente no aprendizado linguístico ocasiona que outras partes interessantes de estudar no exterior sejam menos prestigiadas: o ambiente acadêmico não necessariamente é o de uma faculdade, a possibilidade de estudar assuntos jurídicos de interesse é substancialmente reduzida e a produção de pesquisas, artigos e textos acadêmicos não é uma prioridade. Como se manter informado: são muitas as empresas brasileiras relacionadas à área de intercâmbios e cursos de idiomas fora do Brasil, então é uma boa ideia acompanhar posts no Instagram ou, talvez, procurar uma sede de representantes em sua cidade. Exemplos: EF (Education First), CI Intercâmbio & Viagem, Student Travel Bureau (STB). Períodos do ano e duração: tendem a ser ofertados durante todo o ano, mas as durações podem variar. Experiência pessoal: eu, Gabriel Rodrigues Teixeira, autor desta coluna, participei de um curso curto para aprendizado de inglês na Brunel University, em Londres, ainda durante meu Ensino Médio. Acredito que a melhor parte da experiência foram as pessoas conhecidas - alguns dos meus melhores amigos eram tunisianos - e o ambiente universitário em que estive imerso. Apesar de não ter realizado pesquisa ou estudos acadêmicos enquanto estive lá, fiquei alojado nos dormitórios da faculdade. Cursos de verão - "summer courses" Apesar de serem muitas as possíveis configurações, locais, requisitos acadêmicos e características de um curso de verão, todos tem um ponto essencial em comum: abrem ao estudante a possibilidade de mergulhar mais profundamente em temas específicos de seu interesse durante um período breve de tempo no exterior. Dessa forma, os cursos de verão são uma excelente forma de qualificar ou atualizar seu conhecimento referente a uma determinada área. Exemplo: muitas faculdades europeias oferecem cursos de verão sobre direito da União Europeia, uma matéria interessantíssima àqueles interessados em direito internacional e que raramente abordamos no Brasil. Outro importante ponto de destaque é a imersão - a curto prazo - em um ambiente acadêmico e uma cultura completamente diferentes daqueles a quais estamos normalmente habituados: outra língua, outros colegas, outros professores, outro campus. Nessa perspectiva, a curta duração de um curso de verão torna a complexa experiência de morar fora muito mais simplificada, afinal impede um possível "perrengue" prolongado - caso as coisas saiam do planejado - e barateia consideravelmente os custos de viagem, alimentação e estadia. Concluindo, é válido dizer que os cursos de verão oferecem um excelente custo-benefício, principalmente levando em conta preços e duração. A participação nestes programas traduz-se em um currículo imediatamente mais competitivo, em contato com uma cultura e língua diferentes - um forte diferencial no mercado atual que tanto valoriza a fluência do inglês -, na oportunidade de explorar uma nova área ou se aprofundar num interesse pessoal e na espetacular experiência de conviver com o corpo discente, os colegas e a estrutura de um centro universitário de ponta a nível global.  Como se manter informado: como a grande maioria das faculdades do exterior ofertam cursos de verão, a melhor forma de saber detalhes mais específicos sobre o curso desejado é procurando informações no site específico da faculdade. Exemplo: acesse aqui. Períodos do ano e duração: tradicionalmente duram um mês ou pouco mais de um mês e acontece durante o verão do Hemisfério Norte, ou seja, entre junho e agosto. Estudante-visitante internacional ou pesquisa orientada Programas de international visiting student (estudante-visitante da pós-graduação) ou visiting  undergraduate student (estudante-visitante ainda na graduação) permitem ao estudante brasileiro fazer parte do corpo discente de uma faculdade de ponta no exterior durante um ou mais semestres e ter acesso a todos os mesmos recursos ofertados aos estudantes tradicionalmente matriculados à universidade. Nesse sentido, pode-se dizer que esta modalidade de estudo proporciona a experiência de imersão acadêmica de ponta mais direta possível àqueles que ainda estão na graduação - ou seja, excluindo mestrados e doutorados. Por serem considerados parte do bloco estudantil tradicional das faculdades, estudantes-visitantes podem participar de atividades de pesquisa e extensão acadêmicas, ações beneficentes, movimentos estudantis e, principalmente, projetos de pesquisa. Assim, a permanência e o convívio com o campus e suas estruturas - um exemplo bom são as fantásticas bibliotecas - durante os mesmos períodos do ano que os estudantes nativos contribui para uma convergência muito interessante de networking profissional, aprendizado jurídico, produção acadêmica e imersão cultural. Ademais, programas assim são conhecidos por um determinante viés acadêmico, o que se traduz tanto nos processos seletivos para eles, quanto na importância deles à formação de um currículo competitivo à nível mundial. Estudantes-visitantes quase invariavelmente deverão passar por um processo robusto de interlocução com as faculdades antes de realmente ingressarem nos programas: muitos programas requerem ao estudante jurídico que decida sua área de estudo e, mais especificamente, se realizará ou não projeto de pesquisa específico ainda antes de serem entrevistado pelo Zoom. Por outro lado, a necessidade de dedicação integral durante um ou mais semestre torna obrigatório um período longo de estadia no exterior e, consequentemente, mais gastos e mais preocupações (burocracias referentes a vistos estudantis, aluguel de local de estadia, comprovantes de saúde, entre outras). Além disso, dedicar-se a um desses programas no exterior significa, obviamente, suspender a graduação no Brasil por um determinado tempo, o que - a depender do aproveitamento ou não de matérias e créditos - não é uma opção àqueles almejantes de uma graduação acelerada. Outro problema é a razoavelmente menor oferta de programas desse naipe por muitas universidades, afinal muitas apenas aceitam alunos de universidades parceiras (o programa de visiting-student de Yale é um exemplo famoso, afinal aceita visitantes de pouquíssimas faculdades). Como se manter informado: a melhor maneira de saber mais sobre possibilidades de participar de uma experiência de estudante-visitante no exterior é pesquisando, no site das faculdades, sobre as características de seus respectivos programas de visiting-student, afinal, como foi dito, muitas não disponibilizam vagas a estudantes advindos de faculdades brasileiras. Exemplo: acesse aqui. Períodos do ano e duração: as universidades tradicionalmente oferecem experiências de estudante-visitante duas vezes por ano: uma para o spring semester (primeira metade do ano) e uma para o fall semester (segunda metade do ano). Grande parte dos programas oferece ao estudante a possibilidade de escolher ficar um ou dois semestres. Experiência pessoal: fui estudante-visitante na University of California, Berkeley, durante a primeira metade de 2022 e posso afirmar que considero indubitavelmente esta oportunidade uma das melhores experiências da minha vida. Além disso, mesmo tendo recentemente voltado de lá, já não são poucas as portas abertas a mim por ter um período como estudante da UC Berkeley no currículo. Go Bears! Mestrado - LL.M ou MPhil in Law (nome usado no Reino Unido) Os programas de o LL.M ("master of laws") ou MPhil in Law ("master of philosphy in Law") são renomados por seu avançado nível de academicismo e qualificação profissional. Nestes contextos, apesar de não serem considerados especializações de mestrado em sentido literal, estes programas oferecem excelentes oportunidades a futuros juristas em momentos diferentes da vida profissional pós-graduação. Assim, LL.Ms variam enormemente em características e, por isso, podem contribuir com a consolidação de diversos projetos de carreira: não é difícil citar exemplos de acadêmicos, ministros, advogados, políticos, membros do Ministério Público ou juízes que se dedicaram à obtenção de um desses diplomas. Ademais, frequentados por um amplo leque de estudantes e profissionais em diferentes momentos da carreira, os LL.Ms, por natureza, permitem oportunidades de networking verdadeiramente únicas. Ainda falando da formação de relacionamentos, o contato constante com estudantes locais e com o ambiente acadêmico de uma universidade de ponta contribuem diretamente para transformadoras experiências culturais, de aprendizado e profissionais. Dessa forma, é comum ouvir de ex-participantes que o LL.M foi fundamental para melhor entenderem tendências e contextos globais referentes ao Direito e à vida profissional. Outra importante porta aberta pelo LL.M é a do PhD no exterior: muitos usam essa primeira grande imersão acadêmica como um trampolim para voos ainda mais altos. É desse contexto que vem à tona um dos grandes trunfos do LL.M nas faculdades americanas: os graduados podem realizar o Bar Examination - rudimentarmente explicado como uma espécie de "Exame de Ordem" - o qual, mediante aprovação, permite a atuação jurídica profissional no mercado de trabalho dos Estados Unidos. Além disso, um diferencial notável e significativamente reconhecido dos LL.Ms é a possibilidade de ser contratado por uma instituição, empresa ou escritório internacional após a conclusão do curso, principalmente se houverem conexões internacionais propiciadas pelo empregador do Brasil. Nesses casos, é comum a estadia até o fim de alguma das permissões de trabalho mais comumente concedidas pelo governo americano a estudantes internacionais - os quais, por via de regra, já possuem o visto de estudos F-1. "Àqueles mais apaixonados pela academia, finalmente, não podemos deixar de ressaltar um ponto muito relevante: o contato com docentes de relevância global em temas contemporâneos ainda proporciona - sem dúvidas - oportunidades de aprendizado e produção científica excepcionais. Consoante aos relatos de ex-estudantes de LL.M, a carga de leitura é considerável e as horas despendidas estudando são muitas - o que faz sentido em um curso desse calibre de academicismo -, mas as bibliografias, aulas e seminários montados por equipes disciplinares verdadeiramente vanguardistas formam o background necessário para discutir tamanha diversidade de temas. Ademais, existem três obstáculos negativos que tangem a participação em um LL.M e que devem ser mencionados. Primeiro, o altíssimo custo de tuition ("mensalidade") e o longo período de estadia tornam os LL.M extremamente custosos a estudantes brasileiros, principalmente no recente cenário da alta do dólar. Segundo, fazer parte de um LL.M em uma universidade de ponta depende de aprovação num de seus processos de application, os quais visam filtrar os candidatos com base em seus currículos, experiência profissional e objetivos. Estes processos seletivos levam inúmeros aspectos em conta - a depender da faculdade ofertando o programa - e incluem, normalmente, uma soma de cartas de recomendação, entrevistas e a comprovação da proficiência em inglês. Por último, o terceiro importante refere-se à obtenção de visto estudantil, a qual está associada a diversos procedimentos e requerimentos burocráticos. Para saber mais sobre os LL.Ms, leia a matéria do Migalhas falando sobre o assunto com o incrível Luís Henrique Fernandes, advogado brasileiro que fez LL.M na University of Pennsylvania e administra a página Por Dentro do LL.M. Além disso, duas entrevistas inéditas sobre o tema serão postadas na página do Instagram do Migalhas para Estudantes (@migalhasestudantes) durante os próximos dias: uma com o próprio Luís Henrique e outra com Cláudio Klaus Jr., dois verdadeiros especialistas em estudos jurídicos no exterior. Obrigado aos dois por terem topado o convite, fica aqui registrada minha admiração! Como se manter informado: a melhor maneira de saber mais sobre LL.Ms e ficar de olho em oportunidade é pesquisando, no site das faculdades desejadas, sobre as características de seus respectivos programas, além de acompanhar pessoas que participarão, participam ou já participaram através do LinkedIn e do Instagram. Seguir as páginas especializadas Por dentro do LL.M (@pordentrodollm), ALC Consultoria (@alc.consultoria) e o e especialista Claúdio Klaus (@claudioklausjr) é indispensável! Períodos do ano e duração: LL.M são normalmente ofertados tanto no começo quanto no meio do ano, mas a duração do período de estudos é sempre a mesma, entre 8 e 9 meses. Adendo: um possível período de trabalho posterior à conclusão do LL.M obviamente ocasionaria uma mais longa estadia no exterior. Concluindo Considerando que o principal propósito desse texto era ressaltar principalmente informações gerais e mais relevantes sobre cada uma dessas modalidades de estudo no exterior, pesquisar mais profundamente sobre programas que despertaram um maior interesse é, sem dúvidas, uma excelente ideia. Lembrete: durante esta semana teremos a primeira Semana Temática no Instagram e na coluna Migalhas para Estudantes. Serão postados textos, vídeos e entrevistas sobre o mesmo tema de Estudos no Exterior de segunda até sexta! Por favor não deixem de acompanhar e, principalmente, comentem sugestões de temas futuros.
Há poucas coisas mais diretamente associadas ao estudo tradicional do Direito e a todo o campo semântico jurídico do que a escrita e publicação de textos acadêmicos. Não são poucas as faculdades que, às vezes ainda nos primeiros semestres da graduação, incentivam a inserção desse tipo de atividade no cotidiano dos estudantes: na Universidade de Brasília (UnB), por exemplo, não há aluno que avance no curso sem antes ter passado pela clássica matéria de Pesquisa Jurídica. Sendo assim, se é tão comum entender a produção científica como imprescindível ao ensino de Direito, quão relevante ela é, exatamente, àqueles que estão na primeira fase de o que há de vir a ser uma estrondeante carreira jurídica? Trata-se, pois, de um tema muito amplo. As utilidades, benefícios e consequências de se engajar em projetos tradicionalmente acadêmicos variam muito dependendo do ramo profissional e da trajetória estudantil-profissional almejadas. Logo, não é difícil chegar à conclusão que, apesar de inerentemente obrigatória àqueles que almejam para si uma carreira como professor ou pesquisador, a produção acadêmica raramente será prioridade de postulantes a cargos concursados - ao menos até a aprovação no concurso -. Desta forma, esta coluna buscará explicitar justamente os principais motivos para valorizar, sim, atividades e publicações acadêmicas ainda durante a graduação através de pontos de relevância comum a todo o espectro de estudantes de Direito: do maior fã de juristas germânicos parcialmente desconhecidos ao corajoso que decide o tema do TCC faltando especificamente 2 semanas, 4 dias, 3 horas e 20 minutos para a data de entrega. Estudos no exterior Não é necessário ser especialista em estudos no exterior para saber que a área acadêmica é muito mais valorizada em outros países. Falando dos Estados Unidos, por exemplo, é comum faculdades de ponta exigirem dos candidatos em programas de visiting-student, LLM (explicando simplificadamente, um mestrado) ou JD (resumidamente, um doutorado) que expliquem suas motivações acadêmicas e áreas de interesse ainda antes de participarem até mesmo de entrevistas com oficiais da faculdade. Foi o meu caso em Berkeley: já pousei na Califórnia sabendo que minha linha de pesquisa seria Direito Constitucional Comparado tangenciado à área de Current and Historical Politics ("Políticas Históricas e Atuais"). Além da importância dada à produção acadêmica durante o período de estudos no exterior, pode-se dizer que essa competência também é um excelente diferencial para aqueles almejantes de uma vaga em um destes programas. Nesse contexto, ter publicado artigos em revistas acadêmicas - principalmente as universitárias - é uma particularidade extremamente valorizada pelos norte-americanos no processo de análise do currículo de um candidato. Estar envolvido com a produção, editoração e divulgação destas revistas, mais ainda: literalmente todos os ministros da Suprema Corte estadunidense fizeram parte do bloco editorial das principais revistas jurídicas de suas respectivas universidades. Desse modo, a pesquisa acadêmica passa a ser uma importante habilidade a se aprender, aperfeiçoar e se dedicar para os estudantes que planejam participar de experiências no exterior durante ou após a graduação no Brasil e que entendem necessitar de um diferencial no currículo. Adendo: uma coluna especificamente sobre cursos no exterior será publicada aqui no Migalhas Para Estudantes num futuro próximo, fiquem de olho! Opiniões credíveis e valorizadas em tempos de fake news A escolha de produzir conteúdo acadêmico tem, muito frequentemente, a motivação de aproveitar a possibilidade de expressar opiniões sobre temas de interesse pessoal, relacionados a contextos profissionais ou mesmo tangentes a temas de atual relevância social. Em tempos de livre acesso aos maiores megafones da história da humanidade - as redes sociais -, é compreensível acreditar que a noção de depender de revistas e compilações para arremessar ideias ao mundo pareça meio datada. Todavia, na minha opinião, a realidade é justamente o contrário: as redes sociais e a internet tornaram a vida acadêmica mais acessível e mais importante do que nunca. A conjuntura marcada por produções deliberadamente falaciosas ou de procedência no mínimo duvidosa - as famosas fake news - na qual estamos imersos elevou a verificação de informações a um pedestal de magnânima importância. Pensar, fundamentar empiricamente e elaborar uma peça pouco adianta se o meio de publicação não tem um certo lastro de credibilidade. Ninguém publica um TCC na timeline do Twitter. Dessa forma, as revistas, publicações, jornais e compilações acadêmicas podem abrir aos estudantes a possibilidade de ouro de dar voz a suas ideias em plataformas cuja credibilidade é reconhecida - a melhor parte: ainda durante a graduação. Além disso, tendo explicado como o boom das redes sociais alçou as publicações acadêmicas a um patamar ainda mais alto, é simples entender que essa revolução também contribuiu para que elas se tornassem ainda mais acessíveis. A possibilidade de contar com edições, processos seletivos e reuniões digitais agiliza - e muito - todos os processos envolvidos na organização e na divulgação de uma publicação acadêmica. Um exemplo: eu soube da existência da magnífica RED - UnB (Revista dos Estudantes de Direito da UnB) meros dias após ser aprovado no vestibular após um edital de submissões passar pelo meu feed do Instagram. Estamos, então, numa época de frequentes oportunidades para se participar do ambiente acadêmico e de todo seu criterioso prestígio. Diferencial forte no currículo profissional No contexto de petições, sustentações e pareceres, a habilidade da escrita é um aspecto importantíssimo para tornar-se competitivo no mercado de trabalho jurídico. Todavia, o fato de não ser comprovável através de um diploma - tal qual é possível, por exemplo, com a fluência em outro idioma -, esta não é uma habilidade fácil de ser legitimada antes do começo de uma nova experiência profissional, ou seja, ainda durante o processo seletivo. Sendo assim, mesmo sendo numerosas e criativas as estratégias dos candidatos para mostrar ao RH sua competência na escrita (há quem mencione a nota da redação do ENEM), apresentar um histórico de experiências acadêmicas é, sem dúvida, a forma mais direta e confiável. Tal qual já mencionado no tópico anterior, a grande valorização e prestígio das publicações acadêmicas aparece como importantíssimo novamente neste contexto de destaque profissional. Uma seção do currículo dedicada a textos, artigos e participações em contextos tradicionalmente relacionados à pesquisa não somente comprova a habilidade dissertativa do candidato, mas também destaca sua capacidade criativa, um aspecto primordial a um estudante de Direito fora da curva. Explico: considerando o atual mercado transbordando de competidores, profissionais que transcendem a mera memorização de conceitos usando-os como base para criação de novas ideias são, indubitavelmente, muito mais valorizados. O networking acadêmico não pode ser subestimado Por último, agora voltando à noção do mercado de trabalho jurídico como um afetado diretamente pela magnitude imensa de profissionais formados em Direito no Brasil, o networking não pode nunca deixar de ser citado como talvez o principal meio de aparecer em meio à multidão. Óbvio, em breve publicaremos um texto especificamente sobre este fenômeno aqui no Migalhas Para Estudantes. Falar sobre a formação de uma rede de contatos num contexto puramente profissional não seria, jamais, qualquer tipo de novidade. Trata-se de tema já debatido, explicado e esmiuçado das mais diversas formas e nas mais variadas mídias. O networking no meio acadêmico, por outro lado, é um artifício por vezes subestimado. Conhecer pessoas com interesses similares aos seus e, por ventura, de áreas de estudo possivelmente convergentes à sua abre um leque de possibilidades futuras unicamente especial. Seguindo essa lógica, não há forma melhor de dar início a todo esse processo do que participando de grupos de estudo e mantendo-se atualizado sobre recentes desdobramentos acadêmicos em sua área de interesse. Para esta última faceta específica, recomendo dois métodos: 1) criar uma rede ampla de contatos no LinkedIn e seguir as páginas de revistas acadêmicas na plataforma; ou 2) o mais divertido, que consiste em stalkear frequentemente o currículo Lattes de pesquisadores da sua área, tal qual me foi recomendado por uma professora do primeiro semestre.
Em janeiro deste ano, passada quase meia década desde a primeira manifestação oficial favorável por parte de autoridades brasileiras, o conselho de ministros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) aprovou que negociações formais visando a entrada do Brasil no grupo fossem realizadas. Fundada em 1961, a OCDE é composta pelas maiores economias do mundo - entre os atuais dez países de maiores PIBs, apenas Brasil, Índia e China não são membros - e, com o passar dos anos, tornou-se espaço relevante nas discussões econômicas internacionais. Dessa forma, o ingresso do Brasil no grupo é considerado por muitos um passo fundamental para a formação de vantajosos acordos comerciais com países desenvolvidos e a atração de investimentos externos. A parte da negociação formal trata-se, pois, de uma parte fundamental do processo de admissão: os países postulantes à OCDE devem se adequar a padrões estabelecidos pela organização - denominados por ela "melhores práticas internacionais" - referentes a aspectos de ordem econômica, social, legal e política. No último 21 de junho a OCDE publicou o relatório "Regulatory Reform in Brazil", no qual estabelece melhorias e conformações necessárias a diversos setores de bens e serviços da economia brasileira. As medidas sugeridas neste relatório  provavelmente serão os futuros postulados administrativos aos quais o Brasil deverá se submeter para sacramentar sua tão desejada entrada no famoso "Clube dos Países Ricos". É urgente debater as medidas apresentadas pela OCDE como necessárias à desburocratização regulamentar do Brasil, pois o cumprimento à risca das medidas hoje apontadas como necessárias significaria a completa transformação da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e da advocacia como hoje é praticada. O debate é urgente e relevante porque se estima em dois a cinco anos para que o Brasil implemente, ou não, as mudanças sugeridas. A partir da página 25 do relatório são citadas as seguintes medidas que se referem às profissões liberais e especificamente à advocacia no Brasil: -  Reavaliar a obrigatoriedade da inscrição na OAB para o exercício da advocacia; - Reconsiderar a exigência de que advogados estrangeiros tenham que passar pelo Exame de Ordem; - Considerar a possibilidade de o Exame de Ordem ser realizado por autoridade pública independente, ao invés da OAB; - Considerar retirar as restrições à atuação de um mesmo advogado em diferentes estados da federação (seccionais da OAB), o que significaria o fim da inscrição suplementar; - Reavaliar a obrigatoriedade da inscrição na OAB para o exercício da advocacia, entendida comumente como responsável pela manutenção de uma conduta adequada, consistente e regrada por parte dos advogados a nível nacional; - Aumentar o nível de competitividade nas cobranças pelos serviços prestados a partir da remoção de regulações e recomendações relativas a valores dos honorários; - Acabar com o impedimento à associação entre a advocacia e outros tipos de empreendimento comercial; - Remover restrições consideradas desnecessárias, entre as quais é citada a proibição a anúncios e propagandas de serviços de advocacia - atualmente, cabe à OAB coibir esse tipo de publicidade. Se as sugestões apresentadas no relatório se concretizarem em demandas obrigatórias para a entrada do Brasil na OCDE, não é difícil imaginar mudanças profundas na advocacia e na atuação da OAB no âmbito federal. Será missão do Conselho Federal e das lideranças seccionais da OAB monitorar o avanço das pautas referentes à adesão brasileira à OCDE pelos próximos tempos. Teme-se, justamente, que proposições drásticas relacionadas à advocacia - tais quais as citadas - sejam exigidas e posteriormente aprovadas sem alarde em meio aos tantos termos de caráter comercial constituintes do futuro acordo.  O prosseguimento do tema sem os devidos debates necessários à formação de um amplo consenso social referentes às medidas seria danoso aos interesses de todos aqueles diretamente ligados ao Direito, de estudantes a advogados. As proposições da OCDE - se confirmados os rigorosos e desarticulantes moldes latuais - contrariariam diretamente o disposto no texto constitucional: "o advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei" (Artigo 133). A essencialidade notável da OAB e do exercício da advocacia, a qual é ancorada em suas responsabilidades perante a sociedade civil e resguardada pelo texto constitucional de 1988, torna certamente imprópria uma possível transformação regulamentária com vistas estritamente comerciais, tal qual a sugerida no relatório da OCDE. Por consequência, qualquer avanço nos processos referentes à admissão brasileira à organização deve contemplar a relevância invariável dos serviços e das pautas da advocacia civil à sociedade nacional, ao contrário da atual perspectiva adotada - a qual foca demasiadamente em elementos de ordem comercial e econômica em detrimento de aspectos relativos aos interesses sociais.
segunda-feira, 27 de junho de 2022

As oportunidades da volta à presencialidade

A totalidade das universidades, faculdades e instituições de ensino superior brasileiras teve que apressadamente se adaptar ao ensino à distância durante pelo menos os piores momentos da recente pandemia global de covid-19. Enquanto algumas retornaram às aulas presenciais ainda em 2021 ou no início deste ano, ainda há aquelas que planejam voltar em um futuro próximo. Muitos estudantes de Direito pouco puderam aproveitar as principais benesses e vantagens do ensino presencial antes da suspensão das aulas ainda nos princípios da pandemia, em março de 2020. A situação ainda piora: com a continuidade da realização de vestibulares e processos seletivos durante os últimos dois anos, não são poucas as turmas Brasil afora que nem mesmo chegaram a ter aulas presenciais e, por isso, não puderam tirar proveito de muitas das melhores partes do início da vida acadêmica: tradições para calouros, matérias introdutórias e basilares ao Direito, aulas magnas e se conectar com colegas e professores são todos elementos interessantíssimos costumeiramente vividos nos primeiros semestres da graduação. Tendo em vista tudo isso, destaco aqui alguns dos principais pontos que o estudante de Direito deve se atentar para melhor aproveitar o retorno à normalidade nas universidades:  Melhor Aprendizado Por melhor que tenham se preparado certas escolas, colégios e universidades à súbita conversão ao ensino à distância causada pela covid-19, estudos mostram que o ensino à distância durante a pandemia deixará legados prejudiciais ao aprendizado de estudantes de diferentes níveis de ensino. Segundo relatório pedagógico produzido pelo Center for Education Policy Research com base na experiência de mais de dois milhões de estudantes estadunidenses durante a pandemia do covid-19, os diferentes níveis de engajamento com o Ensino à Distância decorrentes de fatores desiguais como o acesso estável à internet afetaram drasticamente o aprendizado. Além disso, o estudo comprova algo que já era imaginável desde o início da transição ao ensino remoto: a piora do aprendizado foi desproporcionalmente maior para estudantes de menor poder aquisitivo. Com os cursos de Direito não foi diferente. A distância das salas de aula prejudicou partes tradicionalíssimas do ensino jurídico: debates conceituais, júris simulados, apresentações e discussões sobre acontecimentos recentes foram todos prejudicados. Até a clássica frase "abre aí a jurisprudência pra mim" sumiu quase completamente no cenário do EAD. Sendo assim, a volta às aulas presenciais pode ser vista, sim, como uma oportunidade de voltar ao ritmo normal de aprendizado e de estudo. A melhor forma de aproveitá-la, então, é engajar ao máximo com as atividades propostas pelos professores, discutir conteúdos com colegas de sala e aproveitar a infraestrutura física da faculdade, principalmente bibliotecas e salas de estudo.  Networking Como já abordado brevemente na apresentação inicial desta coluna, o chamado networking profissional é fundamental aos primeiros passos do estudante de Direito, tanto no concorrido mercado jurídico quanto na produção acadêmica. Nesse sentido, pode-se dizer que a convivência direta com colegas, monitores e professores tem o potencial de não somente melhorar o nível de aprendizado - tal qual foi ressaltado no ponto anterior -, mas também de formar conexões que podem ser importantes em diversos contextos: de projetos acadêmicos ao mercado de trabalho; do início da graduação à consolidação no mercado de trabalho; de trabalhos em grupo a palestras em congressos. Dessa forma, já que criar tais conexões torna-se muito mais difícil sem o contato cotidiano num espaço em comum - a faculdade -, a volta das aulas presenciais indubitavelmente permite ao estudante interagir com professores diretamente, conhecer colegas novos ou se aproximar mais daqueles cujo único contato anterior foi em salas do Zoom e grupos de email. Adendo: sabendo da importância do networking ao início da carreira e da importância tomada por esse tema nos contemporâneos tempos de LinkedIn, lhe abordaremos especificamente em uma coluna futura.  Atividades extracurriculares                Apesar de diversos eventos terem sido normalmente transferidos para o formato virtual, a chegada e a perduração da pandemia de covid-19 traduziu-se numa grande diminuição de eventos, palestras, congressos e grupos de estudo relacionados a áreas e abordagens interessantíssimas do direito e que, por vezes, não são trabalhadas diretamente na graduação. Atividades extracurriculares são boas ferramentas àqueles que planejam ter experiências práticas com menos seriedade e exigência do que um estágio, àqueles que almejam estudar e debater mais a fundo alguma área de seu interesse - grupos de estudo constitucional são comuns, por exemplo -, àqueles que querem se conectar a outros estudantes com interesses similares, àqueles que simplesmente querem cumprir a quantidade de horas complementares requerida pela instituição de ensino ou, finalmente, àqueles que querem melhorar seu currículo.  Falando deste último ponto, especificamente, a participação em atividades extracurriculares é de suma importância para a formação de um currículo competitivo, principalmente se tratando de processos seletivos ou períodos de estudo fora do Brasil: no contexto de uma grande concorrência a uma vaga de estágio, as atividades extracurriculares podem fazer grande diferença; além disso, elas tornam-se ainda mais fulcrais no contexto de intercâmbios, sanduíches e pós-graduações no exterior cujas taxas de aceitação demonstram níveis de concorrência acirradíssimos, principalmente nos Estados Unidos. Logo, com o gradual retorno de palestras, congressos, grupos de estudo, eleições estudantis ou até mesmo grupos de voluntariado em decorrência do recente arrefecimento da pandemia, abrem-se ao estudante de Direito incontáveis oportunidades de fazer parte de atividades que transcendem a grade básica de sua faculdade e, assim, possibilitam a ele novos contatos, mais aprendizado, mais experiência e interessantes acréscimos ao currículo.  Vida universitária  Nem só de estudo, networking e atividades é feita a vida do estudante. Tendo destacado estes pontos nos parágrafos anteriores, não poderia ficar de fora esta parte fundamental do ensino superior: a atmosfera, as tradições e o convívio universitário. Considerando os milhares de litros de tinta que não foram despejados em calouros, as centenas de partidas de pebolim - totó - que não foram jogadas e as dezenas de aulas magnas infelizmente realizadas pelo Zoom Brasil afora, não é fácil estimar as incríveis experiências perdidas pelos estudantes durante os últimos dois anos. Sendo assim, a recomendação final desta coluna não poderia ser outra senão a de aproveitar ao máximo os anos restantes na faculdade e todas as oportunidades de se envolver nos vários naipes de atividade estudantil: centros acadêmicos e conselhos de representantes; organização de festas e comissão de formatura; atléticas e times esportivos.
quinta-feira, 23 de junho de 2022

Apresentação das Migalhas para Estudantes

Primeiramente, falando sobre mim: meu nome é Gabriel Rodrigues Teixeira, tenho 20 anos, sou estudante de Direito na Universidade de Brasília (UnB), passei os últimos meses como Visiting Student na UC Berkeley e, estando agora de volta ao Brasil, serei o responsável pela produção semanal da coluna Migalhas para Estudantes. Tendo sido aprovado na UnB no começo de 2020, infelizmente não tive tantas oportunidades de aproveitar a faculdade e os importantíssimos primeiros semestres do curso antes da transição para o ensino à distância motivada pela pandemia da covid-19. Ainda assim, tentei tirar o máximo da situação frequentando congressos, palestras, aulas optativas e me candidatando a diferentes monitorias. Em meio a tudo isso, em 2021 surgiu a ideia de tentar um semestre estudando fora do país em uma faculdade de ponta. Passados meses de entrevistas e questões burocráticas, fui aprovado na UC Berkeley e, então, tive a surreal oportunidade de fazer parte de seu corpo estudantil durante o primeiro semestre deste ano. Berkeley, com toda sua tradição de inovação e produção acadêmica, foi o ambiente perfeito para que a ideia rudimentar do Migalhas para Estudantes surgisse: escrever sobre assuntos especialmente relevantes àqueles que, assim como eu, se aventuram no tão concorrido mundo legal. Segundo o último "Exame de Ordem em Números", relatório publicado pelo Conselho Federal da OAB e elaborado pela Fundação Getúlio Vargas, o brasileiro que decide pela carreira legal entra num mercado abastecido por mais cursos de formação jurídica do que em todos os outros países do mundo - somados. Ele tem, logo, que passar por consecutivos gargalos para se destacar: concorrem, em média, cinco vestibulandos para cada vaga num curso de Direito; entre os aprovados, somente uma parcela concluirá o curso; entre aqueles que concluirão o curso, apenas uma será aprovada no Exame de Ordem; por último, mesmo para os que forem aprovados na OAB e estiverem regulamentados a atuar como advogados, não é simples se posicionar competitivamente no mercado. Partindo disso, o Migalhas para Estudantes se propõe justamente abordar os obstáculos de um futuro jurista durante as primeiras fases definitivas de sua carreira jurídica: o período universitário, as introduções à pesquisa acadêmica, os estágios, os projetos extracurriculares, o networking profissional e a montagem de um currículo competitivo são todos pilares fundamentais da formação do estudante de Direito e, por isso, serão os principais focos desta seção especializada do Migalhas. Quando e onde começar a estagiar? Quais as diferenças entre estagiar em órgãos públicos, tribunais, escritórios pequenos ou grandes? Como conciliar estudo e trabalho? Vale a pena publicar trabalhos acadêmicos? Como aproveitar ao máximo as oportunidades da faculdade? É viável interromper a graduação para estudar fora do Brasil? Como tornar o currículo mais competitivo? Por que e como participar de processos seletivos? Contando com relatos de expoentes da advocacia e da Justiça brasileira sobre seus primeiros passos profissionais, uma coluna semanal TODA SEGUNDA-FEIRA sobre temas relevantes ao mundo jurídico e posts diários na página do Instagram, o Migalhas para Estudantes publicará conteúdo relevante a toda uma futura geração de aficionados pelas leis: do estudante de segundo grau que planeja cursar Direito ao jovem advogado de currículo cintilante, todos podem se beneficiar com opiniões especializadas e qualificadas antes de tomar decisões profissionais. Resumindo a programação: colunas às segundas, Instagram (@MigalhasEstudantes) nos outros dias! Como todo início de projeto, conto com feedback e sugestões para melhor atendermos às dúvidas, curiosidades e questionamentos do público interessado. Sugestões de temas ou entrevistas são especialmente bem-vindas! Sinta-se livre para entrar em contato através das mensagens diretas na página oficial do Instagram (@MigalhasEstudantes) ou por e-mail. {EMBED_INSTAGRAM_605}