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Política & Economia NA REAL n° 105

terça-feira, 15 de junho de 2010

Atualizado às 07:20


O papel de Marina

Para a saúde da política brasileira - e a própria sanidade do futuro governo -, depois da "comoditização" do debate eleitoral promovido pelos candidatos mais bem colocados nas pesquisas, ganha crucial importância a presença verde de Marina Silva na disputa. Deverão ser dela, no bom sentido, as melhores provocações para o debate, a introdução nas discussões de temas novos que não apenas as prioridades de praxe (educação, saúde, segurança), além do espírito verde que ela já despertou nos adversários. Principalmente, Marina será a consciência oculta da sociedade a atazanar a consciência excessivamente pragmática dos oposicionistas, liderados pelos tucanos, e dos governistas, comandados por Lula. Por imposição da livre atiradora, os dois serão obrigados a discutir - e a assumir compromissos que não pretendiam assumir e que pode lhes causar constrangimentos com aliados mais vorazes e menos comprometidos com a ética política. Marina é a esperança de que a sucessão presidencial este ano não caia num triste e vergonhoso ramerrão, desses, como diria Nelson Rodrigues, de fazer corar até um frade de pedra.

Os formadores de opinião

É mais significativa do que tem registrado a imprensa tradicional a penetração da candidatura da ex-ministra do Meio Ambiente nos meios intelectuais e em certos setores da classe média. Sem contar a conquista de viúvas do PT pré-poder e do tucanato dos primeiros movimentos. Não é uma massa, mas tem poder de vocalização capaz de ajudar a candidata do PV a galgar alguns degraus decisivos no termômetro das urnas. Marinistas já imaginam que ela pode chegar a 20% no primeiro turno. Com isso levará a eleição para o segundo turno e se tornará decisiva na disputa entre Serra e Dilma. PT e PSDB não estão, pelo menos para consumo externo, levando a sério esses movimentos. Alguém pode quebrar a cara com tal menoscabo.

Temas-tabu

Na lista de temas que Serra e Dilma querem evitar já podem ser incluídas definições sobre os termos da necessária reforma da Previdência e a questão que está na ordem do dia do Congresso, a reforma do Código Florestal. O assunto do Código está explodindo, e é séria a divisão entre ruralistas e ambientalistas ; não se sabe o que os dois pensam de fato sobre um assunto crucial. Medo de perder votos - e financiamentos de campanha. Marina - não importa se da melhor forma - já se definiu. Omissão neste caso é crime. Quanto à Previdência, o silêncio também é constrangedor. Dilma há poucos dias teve de fazer contorcionismos dignos de artistas do "Circo de Moscou" para desdizer o que tinha dito sobre o assunto.

Serra e Dilma, sem definições econômicas

Pode-se até especular sobre o que cada um dos candidatos à presidência da República pensa sobre os temas econômicos. Todavia, os discursos de lançamento das candidaturas não deixaram nenhuma evidência sobre as suas diferenças na condução da economia. Parecem irmãos siameses neste particular. Talvez sejam realmente iguais naquilo que diz respeito à intervenção do Estado na economia e o papel-motriz dos gastos do governo na execução de planos de desenvolvimento. Uma coisa é certa : não será na economia onde se registrará substanciais diferenças entre os candidatos : Dilma se fixará na defesa dos sucessos do governo Lula. Serra, na defensiva, terá de defender FHC. É o que parece.

Enfim, oposicionista

Pelo tom do discurso de sábado na Bahia, quando foi sagrado candidato tucano à Presidência, José Serra finalmente descobriu que concorre pela oposição e na corrida presidencial não há lugar para uma Dilma do B, como ele dava a impressão às vezes achar que poderia ser.

Enfim, as coisas no lugar

Como diz o personagem de uma série humorística na televisão, "sem querer, mas querendo", o presidente Lula estabeleceu de vez quem é candidato à Presidência na aliança governista : o próprio Lula. Dilma vai apenas ser um pseudônimo na urna, uma vez que, por injunções das leis eleitorais, há um vazio na cédula. Por essas e outras, as pulgas que ficam atrás das orelhas dos políticos dotados de mais acurácia começam a ter certeza de que o projeto político real de Lula depois de deixar o Palácio do Planalto no fim deste ano é o Palácio do Planalto em 2014.

Noivado no escuro

PT, PMDB e companheiros de menor porte já selaram suas alianças. Do lado da oposição de PSDB e DEM já se deu o mesmo. Faltam apenas ajustes menores. Nenhum dos dois, no entanto, apresentou seu dote, os planos de governo. É isto que eles clamam, de boca cheia, de aliança programática, "para melhor servir ao Brasil". Um bom cultor da língua pátria dá a isto outro nome bem menos nobre. Que tal convergência de interesses ?

Na UTI

Inspiram mais cuidados do que os analistas oficiais gostam de admitir as alianças governistas em Minas, com Hélio Costa na cabeça, e no Maranhão, liderada por Roseane Sarney. Já deixou sequelas irremediáveis. Nas terras maranhenses, pela força do clã Sarney - força em todos os sentidos - pode não dar necessariamente no desastre. Nas montanhas das Gerais, Hélio Costa caminha para ser o grande traído destas eleições.

No limbo

Serra e os tucanos se enrolaram tanto na escolha do vice da chapa oposicionista que estão correndo o risco de comprar um problema, qualquer que seja a escolha que venham a fazer agora. Não ter quem acrescente e sim alguém que trará complicações.

O insaciável

Bordão registrado por ouvidos planaltinos atentos durante a convenção peemedebista no sábado : "PMDB já decidiu. Michel e Dilma presidentes (grifo nosso) do Brasil". Michel Temer completou o recado quando disse que o PMDB não vai ser coadjuvante do poder, será condômino. Até agora, o PMDB está dando de goleada no PT na formação de alianças. No PT, já se pensa em formar um cordão sanitário, uma tropa de choque em torno de Dilma. Os mais assustados acham que o PMDB pode querer instalar uma espécie de parlamentarismo de fato na próxima gestão, com as grandes bancadas que pretende formar - com a ajuda do PT - na Câmara e no Senado e com a experiência do "presidente" Temer com as coisas do Legislativo.

A história se repete ?

Os Correios tiveram seus dias de glória no mensalão. Estão de novo na berlinda. São feudos do PMDB, com algumas glebas deixadas ao PT.

Pré-sal eleitoral

A rima do título é rima pobre, de pagodeiro ou sertanejo "muderno", mas os objetivos da pressa na votação dos projetos do governo das novas regras de exploração de petróleo no país, sabidamente não o são, do ponto de vista eleitoral. Antes de surgirem as plataformas em alto mar, nas ricas bacias do pré-sal, a riqueza marinha nacional foi escalada por Lula para integrar outra plataforma - a das eleições. Sabendo da pressa oficial, incluindo no negócio a velocidade para capitalizar a Petrobras antes que o cobertor dos fantásticos investimentos anunciados pela empresa fique curto, o Congresso e outros também quiseram ter a sua plataforma, que veio em forma da divisão equânime dos royalties do petróleo, velho e novo, sem distinção entre Estados e municípios produtores. Lula não queria que esta parte do projeto fosse votada agora, pois fere o Rio de Janeiro e o governo Sérgio Cabral do PMDB, aliados incondicionais de Dilma e onde a candidatura espera amealhar um "marzão" de votos. Mas como todos os outros também estão de olho no dinheiro e são maioria, e o pré-sal eleitoral pode render votos, o Senado confirmou esta semana o que a Câmara já havia determinado : o petróleo é de todos. Lula e Dilma até acham isto. Não confessam, ainda. E os votos do Rio ? É caso : quem com urna ameaça, com urna será ameaçado.

Radar NA REAL

Analistas mais independentes estão considerando seriamente, à luz dos últimos indicadores de consumo e investimento dos EUA, que a possibilidade de se voltar a um quadro recessivo é considerável. Não à toa, o ouro voltou a brilhar. Suas cotações novamente alcançam patamares próximos daqueles registrados no auge da crise financeira. Bem, os mercados de ações voltaram a patamares interessantes para realização de lucros. Aqui e lá fora. Por aqui, o BC mostrou que seguirá na sua política anti-inflação. A atividade econômica está muito acima daquela que é sustentável e os investidores poderão se surpreender com o patamar dos juros ao final desta ano, possivelmente superior ao esperado pelo mercado.

11/6/10  

TENDÊNCIA

SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA alta alta
- Pós-Fixados NA alta alta
Câmbio ²
- EURO 1,2248 baixa baixa
- REAL 1,8047 baixa baixa
Mercado Acionário
- Ibovespa 63.605,38 baixa estável/baixa
- S&P 500 1.091,60 baixa/estável alta
- NASDAQ 2.243,54 baixa/estável alta

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável