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Política & Economia NA REAL n° 110

terça-feira, 20 de julho de 2010

Atualizado em 19 de julho de 2010 12:02

Confirmada a tendência negativa

A divulgação dos resultados corporativos nos EUA somada com a maior fragilidade dos indicadores de consumo e, sobretudo, de expectativas, derrubou os preços dos ativos na semana passada. Mais importante que olharmos a "fotografia" daquilo que ocorreu pontualmente na semana passada, é importante nos fixarmos no "filme" dos últimos dois meses. A crise europeia reduziu substancialmente as perspectivas de crescimento mundial. A recuperação da economia norte-americana era consistente, mas ainda frágil naquele período. De lá para cá, o consumo se tornou mais instável e os investidores mais ariscos. Resultado : pouco a pouco, os fundamentos voltaram a se deteriorar e as expectativas entraram num ciclo vicioso. Agora, discute-se abertamente a possibilidade de uma dupla recessão mundial. Se ela vai ocorrer, ninguém pode ser categórico, assim como negligenciar os seus efeitos sobre as expectativas é erro substantivo.

Brasil : atividade em redução

A redução dos incentivos fiscais do governo a diversos setores, a elevação da taxa de juros e a dinâmica do investimento - em alta, mas ainda insuficiente - tem influenciado o desempenho da atividade econômica no Brasil. Nada que nos leve a concluir que se trata de uma reversão da tendência positiva da economia brasileira. Todavia, os sinais são de uma estabilização e provável queda da atividade neste segundo semestre. Isto coloca o BC numa posição mais delicada para aumentar a taxa de juros básica, bem como, faz com que os agentes olhem mais para o cenário externo e seus possíveis efeitos sobre as expectativas cá no Brasil. Não à toa, a bolsa de valores patina : ela sinaliza a fortaleza do país frente ao fraco cenário externo - uma vez que permanece com preços elevados - e, ao mesmo tempo, representa a ausência de uma atividade econômica crescente.

Radar NA REAL

Recomendar cautela aos nossos leitores tem sido uma prática constante desde quando detectamos, há dois meses, que os mercados mundiais tinham exaurido o desempenho eufórico iniciado no primeiro trimestre do ano passado. Agora o cenário é de alta volatilidade e inquietação constante dos investidores sobre o futuro. Do nosso ponto de vista, o risco dos mercados mundiais vai aumentar ainda mais nas próximas semanas em função da divulgação dos resultados corporativos do segundo trimestre do ano, bem como os sinais vitais emanados das principais economias mundiais, sobretudo os EUA. Preocupa-nos particularmente o andamento da política monetária brasileira. Como dissemos na nota acima, a atividade econômica parece estar se reduzindo e as pressões inflacionárias devem ceder. Ora, o BC arriscaria fazer um movimento adicional de elevação da taxa de juros ? Qual seria o ganho no médio prazo ? Estas são perguntas que vão se tornar mais enfáticas nas próximas semanas. Por fim, estamos mais pessimistas relativamente ao mercado acionário dos EUA. Nas próximas semanas, serão eles a sinalizar o humor do mercado. Que não anda bom, diga-se.

16/7/10  

TENDÊNCIA

SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA alta alta
- Pós-Fixados NA alta alta
Câmbio ²
- EURO 1,2964 estável estável
- REAL 1,7726 baixa baixa
Mercado Acionário
- Ibovespa 62.339,27 estável/baixa estável/baixa
- S&P 500 1.064,88 baixa baixa
- NASDAQ 2.179,05 baixa baixa

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

Bala envenenada

Pelo andar do cabriolé, o Brasil vai engasgar feio com o tal TAV - Trem de Alta Velocidade - que está sendo empurrado goela abaixo do país em altíssima quilometragem. Nada explica tanta pressa num negócio avaliado em R$ 33 bilhões e alguns quebrados, inicialmente, com direito futuro aos aditamentos e outras providências naturais.

1. Na área de transportes, o Brasil tem outras necessidades muito mais vitais.

2. O maior problema do país, no setor, não é o transporte interurbano de passageiros. É o transporte público de massa nas grandes metrópoles e o transporte de cargas.

3. O projeto, que no passado foi vendido como "coisa da iniciativa privada", vai consumir mais dinheiro público do que se imagina, com os financiamentos subsidiados do BNDES, a capitalização de uma nova estatal em mais de R$ 3 bilhões e algo mais no futuro. A Usina de Belo Monte começou também como uma concessão e antes mesmo do início das obras já está com 80% do capital nas mãos do Estado ou dos fundos de pensão ligados às estatais.

4. O projeto está incompleto, pois menos de 5% dos estudos geológicos foram realizados até agora, o que poderá elevar substancialmente o custo final das obras.

É por essas tantas que o TAV começa a ser chamado também de TAE  - Trem de Alta Eleitoralidade - e de TAP - Trem de Alta Periculosidade. Nem a "bala de prata" do Zorro é tão mortífera para os bandidos que o herói persegue quanto pode ser este trem bala para os cofres públicos nacionais.

Mês produtivo. Produtivo ?

Julho está sendo altamente produtivo para o lado mais estatizante do governo Federal. Viu, finalmente, nascer a Petro-Sal, com o aval do Congresso, e está para pôr de pé duas outras empresas estatais : a Segurobrás, para a área de seguros, e a Balabrás, com um capital superior a R$ 3 bilhões, para administrar o Trem de Alta Velocidade. Além da participação oficial na Usina de Belo Monte já ter passado dos 80%. Devagar, o Estado brasileiro vai engordando. É a emulação petista dos governos dos generais.

Em nome do esporte

A Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 estão gerando medidas facilitadoras que, no futuro, poderão gerar coisas a respeito dos quais até Deus duvidará. A gestação destas medidas está com os burocratas do governo. Alguns torcem o nariz para o que veem. Todavia, a ordem vem de cima e com tom elevado.

Competição ameaçada

Embora o governo, pelo menos para o consumo externo, revele despreocupação, está crescendo entre os especialistas o temor com a acentuada perda de poder de competição da indústria nacional e com uma possível consequente desindustrialização do país. Somente entre sábado e ontem dois técnicos reputados trataram do tema : o professor David Kupfer, da UFRJ, e o economista Julio Gomes de Almeida, do IEDI - Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial e ex-secretário de política econômica do ministério da Fazenda sob a gestão Mantega. As análises se sustentam em dados da balança comercial. Por exemplo : as compras de bens de capital cresceram 26,2% no primeiro semestre na comparação com o mesmo período do ano passado, contra aumento de 49% nos bens de consumo. Ou seja, mais e mais estamos dependendo das exportações de produtos primários. No longo prazo pode ser desastre anunciado. E até antes, se a China, grande compradora dessas mercadorias, desacelerar de fato.

Drogas : preocupação crescente

O México viveu uma semana de terror - ou "narcoterror" como classificam suas próprias autoridades. Na madrugada de sábado um grupo armado invadiu uma festa de aniversário e matou 17 pessoas. Foram 57 mortes no fim de semana, ao todo. Na quinta-feira, um carro bomba explodiu pela primeira vez no país. A explosão e a chacina foram na região norte, na linha de passagem de drogas para os EUA. O México está definitivamente na rota do narcotráfico. No Brasil, pesquisas apontam a violência urbana (incluindo aí a questão das drogas e, em particular, o avanço do consumo de crack rumo à classe média) como a segunda maior preocupação dos brasileiros, atrás apenas da saúde (ver nota da semana passada). O governo lançou há menos de um mês um programa de combate às drogas, recebido sem entusiasmo, pois tinha ranço eleitoral. Desses que parecem feitos sob medida para cobrir lacunas de campanha, ao sabor dos eleitores. Não foi à toa que Serra há semanas acusou a Bolívia de Evo Morales, amigo de Lula - e, portanto, de Dilma - de propiciar o tráfico para o Brasil. Índio do Brasil, o vice de Serra, exagerou na dose, no tom e em tudo o mais quanto tentou ligar o PT e sua candidata ao terrorismo das Farc e tudo o mais, mas estava na rota da campanha oposicionista de acuar a situação neste assunto. O problema está ficando sério demais para ser tratado apenas com o olho gordo nas urnas.

O ramerrão eleitoral

Nada mais desinteressante, nada mais aborrecido no Brasil nos últimos sete dias - ou até mais - do que a campanha eleitoral, com sua charrete-chefe da sucessão presidencial. Os principais candidatos fazem todo o esforço possível para ficarem cada vez mais parecidos uns com os outros. E para que ninguém descubra suas ideias e intenções mais recônditas, apenas as mais óbvias. Esta semana talvez traga alguma emoção. Dois institutos - Vox Populi e DataFolha - vão divulgar pesquisas eleitorais nos próximos dias e, apesar de não ter ocorrido nada que justifique mudanças significativas em relação aos levantamentos de opinião anteriores, sempre pode surgir uma surpresa.

Pouco a dizer

Teremos também mais uma rodada de entrevistas, ainda não de debates, na TV Brasil : Dilma quarta, Serra quinta, Marina sexta. Será um teste a mais para o esconde-esconde dos candidatos e também para o jornalismo da televisão oficial. Se eles conseguirem manter o padrão das aparições anteriores, no Roda Viva da TV Cultura de SP, será tudo muito morno e dispensável.

Urticária de Dilma

Teremos na quarta-feira mais uma definição do BC em torno da taxa de juros básica da economia. Um assunto que causa urticárias no comitê de Dilma, pois dependendo do aumento escolhido pelo Copom ela não poderá calar, mas também não poderá falar muito. E que gera alvoroço no território de Serra, pois pode dar a ele mais um mote para bater na política monetária de Lula.