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Política & Economia NA REAL n° 118

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Atualizado em 20 de setembro de 2010 14:22

Ao vencedor, as batatas I

Não há quem não perceba que o grande eleitor dessas eleições foi Lula. Sem ele, sem sua imposição e sem suas ações o rumo do processo eleitoral poderia ter sido muito outro. Se Lula tivesse agido como FHC em 2002, a disputa presidencial este ano seria certamente muito diferente - muito mais acirrada do que está. O candidato governista de fato é Lula - com sua realidade e a extraordinária mitologia popular que foi se formando em torno dele. É isto que explica a razão pela qual, denúncia vai, denúncia vem, e Dilma permanece impávida nas pesquisas eleitorais. No imaginário da maioria da população, ela é apenas, como diz o povo humilde do nordeste, a "muié do Lula". E vai fazer tudo o que o seu senhor mandar. Eis então o grande mistério da fé lulista : qual será o papel de Lula num futuro governo Dilma ? Observador ou mentor ? As indicações são as de que o presidente não se reserva apenas para platitudes.

Ao vencedor, as batatas II

Pelos sinais emitido por Lula, passando a sensação de que pode estar nascendo, com um prestígio nunca antes visto, um novo condestável da República, e depois do "recado" quase direto do ex-ministro José Dirceu de que o PT terá papel preponderante no provável futuro governo comandado pela favorita nas pesquisas, surgiu um outro mistério de fé, este de parte da sociedade : qual será o papel Dilma num futuro governo Dilma Rousseff.

Ao vencedor, as batatas III

O terceiro mistério da fé da política brasileira atual é a função a ser destinada ao PMDB : é parceiro preferencial na aliança, sócio-cotista com o mesmo número de cotas do PT no condomínio do poder - como querem os peemedebistas - ou como um parceiro secundário, com cargos vistosos, mas sem capacidade de decisão (como sonha Dilma) ? A definição desses mistérios dará os rumos do governo Dilma, sua opção preferencial entre o pragmatismo lulista, o ideologismo do PT que Dirceu encarna ou o fisiologismo do PMDB. Para equilibrar essas tendências Dilma terá de mostrar uma habilidade política e uma liderança até aqui adormecidas em seu currículo.

Para evitar confrontos

Não é à toa que até agora a aliança oficial não apresentou seu programa definitivo de governo, elaborado por uma comissão de "notáveis" sob o comando de Marco Aurélio Garcia. Nem mesmo o prometido resumo de 13 princípios prometido há mais de dois meses. Nem apresentará para não fazer "marolinhas". No máximo, o que se vê são promessas na campanha e balões de ensaio na imprensa para acalmar algum setor da economia.

Ajuste fiscal ? - I

Com a "inconfidência" de José Dirceu de que Dilma, no governo, representa a opção pelo projeto do PT - o que Lula não representou por ser "duas vezes maior" que o partido -, voltaram a circular informações, de fontes ocultas, que a ex-ministra caso eleita como indicam as pesquisas, promoverá um ajuste nas contas oficiais. Um antídoto contra o temor que certas ideias petistas em matéria de economia causam em determinados agentes econômicos. Porém, Dilma parece pender mais para Zé Dirceu do que para, por exemplo, Antonio Palocci. Veja-se, a título de ilustração, o que ela disse recentemente em entrevista ao jornal O Globo : "O papo de ajuste fiscal é a coisa mais atrasada que tem. Não se faz ajuste fiscal porque se acha bonito. Faz porque precisa. E eu quero saber : com a inflação sob controle, com a dívida caindo e com a economia crescendo, vou fazer ajuste fiscal para contentar a quem ? Quem ganha com isso ? O povo não ganha." Até algum ajuste verbal ao contrário, ajuste fiscal em governo Dilma é conversa para engambelar a elite econômica e financeira e os economistas neoliberais.

Ajuste fiscal ? - II

Parece ter o mesmo sentido "engambelatório" a informação, também com origem desconhecida, de que Lula está disposto, principalmente depois das eleições, a fazer tudo que se mostre necessário para que Dilma possa começar seu governo com tranquilidade, sem riscos de desgostar eleitores. Até maldades se elas forem mesmo indicadas ? Para lembranças : Fernando Henrique, com Pedro Malan e Armínio Fraga, fizeram duas elevações pesadas na taxa de juros em seus últimos 15 dias de governo, evitando assim que Lula iniciasse sua gestão com tão impopular medida. Esta foi uma das muitas heranças malditas que FHC deixou para seu sucessor.

Alvo

Jornalistas e órgãos de imprensa de valor não entregam seus informantes, o sigilo da fonte é matéria de fé. Se entregassem, porém, salvariam da angústia algumas almas corroídas do petismo de fé com Dilma, ensandecidos para descobrir de qual trincheira amiga partiram os obuses que abateram Erenice Guerra : se de companheiros abespinhados com o prestígio de outros companheiros ou se de aliados agastados com perdas de espaços postais. Assim, sumiram discretamente as alegações oficiais que as histórias do sigilo fiscal e das estripulias guerreiras seriam tramóias da oposição.

E se fosse poderosa ?

A "imprensa comprometida, fraca, mentirosa", com uma semana de noticiário derrubou quatro pessoas no governo Federal, entre elas uma ministra e um diretor dos Correios, e deixou ao relento membros da família Guerra que se aboletavam na administração. Já pensaram se ela fosse forte ? Que estragos !

Mais que uma ameaça ?

Depois do discurso de José Dirceu na Bahia e do recrudescimento dos ataques do presidente Lula à mídia, é difícil não imaginar que não esteja vindo por aí alguma coisa, patrocinada por Lula ou mesmo por Dilma, para conter o "excesso de liberdade da imprensa" existente hoje no Brasil segundo classificação do ex-ministro chefe da Casa Civil.

Na mira, a prefeitura de São Paulo

O produto principal da campanha petista em São Paulo é a eleição municipal de 2010 na capital paulista. Aloizio Mercadante foi para o sacrifício - trocou uma reeleição para o Senado quase certa por uma derrota anunciada para o governo estadual - para aumentar seu cacife na sucessão de Gilberto Kassab. Marta Suplicy faz da ida para o Senado e do sonho de um novo ministério com Dilma como sua plataforma para a prefeitura. Os dois sonham reconquistar o lugar de novo para o PT, ainda mais que vêem a atual situação local sem um candidato incontrastável e prestes a se dividir. Um, agora nem muito nas aparências, deseja enfeitar o bolo do outro. Marta faz uma campanha quase do "eu sozinha" e os petistas de Mercadante fazem festas para o sambista Netinho emplacar uma votação bem superior à da ex-prefeita.

Último suspiro

A derradeira esperança da oposição são os desdobramentos do escândalo da Casa Civil da família Guerra, com ramificações nos Correios e possíveis tentáculos também na ANAC. Por enquanto. Calcula-se que Dilma teria de perder cerca de 7% nas suas intenções de voto hoje, transferidos para Serra e/ou Marina para provocar o segundo turno. Quinta e sexta-feira teremos três novas pesquisas, iniciadas ontem, que dirão se as estripulias guerreiras terão efeito sobre o eleitorado maior do que teve a história do sigilo fiscal da filha de Serra e outros quatro tucanos. Este, pelo menos até agora, teve um efeito puramente marginal, atingindo apenas alguns formadores de opinião. O outro, porque ocorreu no lugar onde Dilma operava e por tratar de coisas mais próximas à população - corrupção, empreguismo - tem mais apelo eleitoral. Foi por perceber isto, talvez movido por pesquisas internas, que Lula chutou tão rapidamente Erenice Guerra do Palácio do Planalto. Ela não teve o mesmo período sabatino que beneficiou Dirceu e Palocci antes de serem defenestrados. Mesmo sendo a esperança a última que morre, oposicionistas mais prudentes tratam já de se preparar para o futuro. Como oposicionistas. Afinal, não basta apenas ir para o segundo turno. Será preciso depois arrumar um discurso que desconstrua o prestígio e a estratégia do grande eleitor.

O outro lado da oferta da Petrobras

A oferta de novas ações da Petrobras será um sucesso em que pese os aspectos menos claros da operação, sobretudo no que tange à possibilidade de diluição da posição dos acionistas não-controladores por parte do governo. A capitalização ficará próxima dos R$ 135 bilhões, um patamar significativo. Todavia, há uma questão de fundo que mereceria maior discussão pela sociedade : esta capitalização servirá como plataforma para uma extraordinária expansão dos investimentos da estatal no setor petrolífero. É interessante que o país invista tão massivamente neste setor ? Os aspectos ecológicos estão sendo levados em consideração ? O cálculo dos custos de extração é razoável ? Os investidores estão cientes do fato de que o retorno do pré-sal se dará no longo prazo ? Resta saber quem neste momento eleitoral está disposto a discutir o tema...

Novas medidas para conter a queda do dólar

Está aberto de novo o debate sobre o excesso de valorização do real frente ao dólar. Comenta-se que o governo poderia comprar dólares via Fundo Soberano e/ou mercado futuro (swap reverso). Ora, a valorização do real não é um fenômeno natural e imprevisível. Resulta da fraqueza da economia mundial frente à fortaleza da demanda interna e, principalmente, em função do desequilíbrio entre a taxa de juros doméstica e a externa. (O Brasil paga em termos nominais quase três vezes a taxa de juros dos títulos do Tesouro dos EUA). Portanto, as medidas que possam ser adotadas agora e à frente para administrar o câmbio terão efeitos passageiros e a tendência de queda do dólar permanecerá. Repensar a política cambial requer um exame muito profundo de todo o modelo, inclusive do ponto de vista dos efeitos sobre o nosso processo de industrialização.

Assuntos (externos) eleitorais esquecidos

Alguém lembrará dos temas de política externa durante esta campanha eleitoral ? Como será a política brasileira em relação ao Irã ? Como ficarão as relações com a Bolívia, grande fornecedora de gás para o país ? O governo Dilma se manterá distanciado dos EUA ? Como será a postura do Brasil em relação à licitação dos aviões de caça da Força Aérea ? Como serão tratados os contenciosos comerciais do país na OMC ? O Mercosul continuará a evoluir lentamente ? Como serão as relações do Brasil com o FMI ? Qual a estratégia do futuro presidente caso Hugo Chávez venha a ser derrotado nas próximas eleições parlamentares do país ? Temas relevantes numa campanha pobre de ideias e debate...

Radar NA REAL

Houve uma saudável estabilização dos diversos segmentos do mercado financeiro e de capital ao redor do globo. Os investidores estão mais calmos e cientes de que a crise é longa e que a liquidez persistirá elevada enquanto um dos elementos essenciais para que o desemprego seja reduzido. Assim sendo, na semana passada tivemos a valorização de grande parte dos ativos de risco. O Brasil segue na sua trajetória positiva e deve continuar a ser uma dos países prediletos pelos investidores. Não alteramos o nosso radar nesta semana de vez que já tínhamos feitos muitas e significativas alterações na semana passada.

17/9/10  

TENDÊNCIA

SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA estável alta
- Pós-Fixados NA estável alta
Câmbio ²
- EURO 1,3078 queda estável
- REAL 1,7185 alta estável/baixa
Mercado Acionário
- Ibovespa 67.089,12 estável/alta estável/baixa
- S&P 500 1.125,59 estável/alta estável
- NASDAQ 2.315,61 estável/alta estável

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

Desemprego estável

Há claras evidências de que as autoridades econômicas das principais economias mundiais afinaram o discurso e as políticas e manterão a altíssima liquidez para sustentar o consumo e, em menor medida, o investimento. Todavia, não deixa de ser gritante o fato de que a taxa de desemprego sequer dá mínimos sinais de melhoria na maioria dos países desenvolvidos. Vai mês, vem mês e a taxa de desemprego não oscila. Trata-se de um péssimo sinal : a confiança para investir e consumir permanece baixa, muito embora certos indicadores antecedentes de expectativas mostrem sinais de melhoria. Na hora do consumo, contudo, o consumidor acaba por conter o próprio ânimo. Nos EUA, a paciência do eleitor/consumidor será testada nas próximas eleições parlamentares de novembro.

Os lobistas e os bancos oficiais

Reparados os supostos fatos envolvendo a ex-ministra Erenice e seu filho, um "consultor" especializado na atração de recursos oficiais para empresas e projetos privados, não seria o caso de se pesquisar com mais afinco os critérios, padrões e formas de deliberação que os bancos oficiais adotam na concessão de crédito e efetivação de investimentos junto ao setor privado ? Há algo de muito obscuro na interação entre certos "consultores" e o setor público. Com a palavra o TCU e os políticos...