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Política & Economia NA REAL n° 121

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Atualizado em 18 de outubro de 2010 16:45

A nova estratégia americana I

Muito embora a eleição brasileira seja fundamental para a análise da política e a economia no médio prazo, temos de considerar um novo e importante fator externo na avaliação das perspectivas para 2011. Trata-se da decisão do Fed de recomprar títulos de longo prazo - 10 e 30 anos - do tesouro norte-americano. Com isto o Fed pretende aumentar ainda mais a liquidez do mercado, derrubando a taxa de juros destes títulos e produzindo um movimento adicional de desvalorização do dólar frente às demais moedas, inclusive dos países emergentes, sobretudo a China. Há algum tempo as autoridades dos EUA cogitavam esta estratégia, sobretudo diante da resistência da China em valorizar espontaneamente sua moeda.

A nova estratégia americana II

Como qualquer estratégia econômica, nada pode ser considerado "certo" nesse processo. Ao contrário : uma eventual desvalorização do dólar americano pode ser compensada por desvalorizações equivalentes das moedas dos outros países. Afinal, o que os EUA tentam é minimizar sua fraqueza econômica por meio de exportações mais competitivas. Nenhum país aceita receber a recessão de outro de forma passiva. Especialmente no caso da Europa, onde o crescimento econômico ainda é frágil. Dessa forma, pode ocorrer uma série de "desvalorizações competitivas" para evitar os efeitos negativos do dólar fraco. O aumento da volatilidade das moedas é talvez o maior e mais indesejado risco neste momento. Por que então os EUA tentam este caminho ?

A nova estratégia americana III

Claramente o governo de Obama tenta reativar a economia e evitar o doloroso desgaste que vem sofrendo e que pode minar suas pretensões na reeleição de dois anos à frente. Esta nova estratégia, apesar de ser engendrada pelo Fed, tem o apoio da Casa Branca e do tesouro. De outro lado, claramente o governo Obama está priorizando os benefícios internos em detrimento de seus aliados. Estes últimos terão de pagar a conta, mas antes terão de aceitá-la. Logo, o que pode iniciar-se é um processo cheio de senões e riscos e, dependendo do vigor, os riscos podem aumentar muito no mercado.

Os efeitos sobre o Brasil

Não está claro ainda o que Brasília pensa da nova estratégia americana. O governo brasileiro está de olho mesmo é na eleição presidencial. Todavia, para um país cuja moeda foi a que mais se valorizou nos últimos anos, este assunto é vital. O movimento clássico de reação em termos de política econômica seria o BC reduzir a taxa de juros. O limite desta reação é a política anti-inflação. Assim, dificilmente veremos este movimento do BC nos próximos meses. O que resta ? Mais impostos sobre operações financeiras que se apropriam dos elevados ganhos financeiros no Brasil e a compra - custosa - de dólares no mercado. Ou seja, a possibilidade de uma nova onda de valorização do real é concreta. O risco é a menor competitividade das exportações e os investimentos industriais no país. O novo presidente terá árdua tarefa para executar, tão logo a foto oficial for colocada nas paredes da administração pública Federal.

Radar NA REAL

15/10/10  

TENDÊNCIA

SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA estável alta
- Pós-Fixados NA estável alta
Câmbio ²
- EURO 1,3968 queda estável
- REAL 1,6611 estável estável/baixa
Mercado Acionário
- Ibovespa 71.830,18 estável/alta estável/baixa
- S&P 500 1.176,19 estável/alta estável
- NASDAQ 2.468,77 estável/alta estável
 

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

O espírito de Minas I

No início da campanha, quando as candidaturas não estavam nem oficializadas, o senso comum dizia que a sucessão presidencial poderia ser decidida em Minas, segundo colégio eleitoral do país, com seus mais de 14 milhões de eleitores. O raciocínio era simples : igualdade no centro-oeste, grande vantagem de Dilma no norte e no nordeste e no Rio, compensados pela vantagem de Serra em SP e no sul. Os mineiros alterariam a balança. Marina Silva, a inesperada, alterou o equilíbrio. Em Minas, Dilma fez 1,7 milhão de votos a mais do que Serra e não levou no primeiro turno. O espírito de Minas falhou. No segundo turno, porém, ele voltou a levitar e a assombrar tucanos e petistas.

O espírito de Minas - II

Para quem está estranhando o empenho de Aécio por Serra no segundo turno e para quem acha também que tudo não passa de um jogo de cena do senador eleito : Aécio não tem outra saída, para seu futuro político, do que se agarrar ao PSDB. Não dá para fundar outro partido nem há espaço para ele nas legendas de maior peso como o PT, o PMDB, o PSB. Terá, então, de mostrar serviço aos tucanos e não deixar que Alckmin, totalmente empenhado na campanha de Serra, fixe uma imagem nacional superior à dele. Os dois disputam a futura liderança nacional do partido, mesmo com Serra presidente.

Espírito de Minas - III

A grande pergunta para a oposição é : qual foi o acordo que fizeram Serra e Aécio em relação a um futuro governo Serra e principalmente em relação a 2014 (ou 2015) ? Lá atrás se dizia que Serra havia oferecido a Aécio, para ser vice, o comando da área social do governo e a desistência da reeleição, com um mandato de cinco anos. (Lula é quem não vai gostar nada de um acordo desses, se vier - e se Serra vencer.)

Espírito de Minas - IV

Qualquer que seja o resultado da eleição, mesmo com a vitória de Dilma (o que ainda parece o mais provável, segundo as cada vez mais discutidas pesquisas), Lula terá cometido seu mais brutal erro político em Minas Gerais. Erro que no limite pode custar caro a Dilma. Ao impor ao PT mineiro a candidatura de Hélio Costa, do PMDB, para ajudar Dilma, não conseguiu seu intento no primeiro turno (não teve os 2,5 milhões, 3 milhões de vantagem), não derrotou Aécio, destroçou o PT e humilhou os principais líderes locais do partido. E agora, quando Minas voltou a ser o provável centro de decisões, há muitas indefinições, divisões e mágoas na aliança governista local.

O espírito do PMDB

É maldade dizer que o PMDB está se preparando para botar um pé mais firme no barco serrista, só porque o diretório estadual do RS, governista no primeiro turno, recomendou aos filiados apoio ao candidato tucano no segundo turno. Os líderes peemedebistas, entre uma cobrança e outra ao PT - com certo regozijo, é claro, por terem sido escanteados da campanha de Dilma no primeiro turno e ter dado o que deu - têm reafirmado seu compromisso com a candidata de Lula. Porém, o PMDB está muito low profile nesta fase, estranhamente para quem se diz empenhado em ganhar a eleição presidencial. O PMDB se assanhou porque o PT mostrou que sozinho não sabe ganhar eleições. O partido aumentou seu poder de barganha. E aumenta ainda mais quando flerta, às escondidas, mas não muito discretamente, com os tucanos.

A contribuição de Alckmin

Alckmin teve para governador neste primeiro turno 2,5 milhões de votos a mais do que Serra para presidente.

A contribuição de Lula

Durou menos do que uma partida de futebol o arroubo de alguns conselheiros de Dilma em tentar separar a imagem da candidata da de seu mentor. A ideia era mostrar que ela tem autonomia não é apenas uma espécie de "sublula". O cálculo era que ela estava perdendo pontos entre formadores de opinião por parecer que não tem vontade nem ideias próprias. Porém, falou mais alto o cacife de Lula com seus 80% de popularidade e sua perfeita identificação com as camadas populares, o maior contingente de eleitores no Brasil. Falou também, mais alto ainda, a vontade de Lula. A dívida de Dilma e do PT com Lula vai dobrar.

À venda

As boas casas do ramo ainda têm em seu estoque sandálias da humildade, em modelos masculinos e femininos.

Mas só em tese

Quanto aos números de oposição e apoios na Câmara e no Senado que cada um se eleito supostamente terá, são números que valem apenas como estatística, só no atacado. Cada projeto importante terá de ser exaustivamente negociado, com toda a carga que esta palavra carrega. Negociação parlamentar legítima e negociação no varejão.

Notáveis contabilistas

Sincero - ou indiscreto - o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse que Dilma (seria o caso de José Serra também) terá de fazer um ajuste fiscal no ano que vem. Pequeno, segundo ele. Não é o que se pensa no ministério da Fazenda nem na campanha da candidata, pelo menos de público. O "fiscalista" José Serra também arquivou estrategicamente o tema em suas falas. Para boa parte dos especialistas independentes, no entanto, o ajuste é um imperativo. E provavelmente nem tão pequeno quanto diz o ministro Bernardo. Com ironia, diz-se até que o futuro presidente terá inicialmente de montar um grupo de trabalho com os notáveis contabilistas da área pública e privada para desvendar os artifícios contábeis adotados para mascarar o superávit primário das contas públicas.

Anotem

Correios, BNDES, Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica...

Ainda a Petrobras

Não são poucos os investidores que estão se debruçando sobre os números da Petrobras para entender o que está acontecendo de fato na empresa. Alguns advogados, inclusive no exterior, examinam se a empresa cumpriu todas as normas de divulgação requeridas na recente operação de capitalização da empresa. Ademais, há muita curiosidade para saber as razões para tantos analistas terem mudado tão rapidamente de opinião sobre as suas recomendações de investimento em relação às ações da petroleira brasileira. Novidades sobre o tema podem pipocar inclusive antes da conclusão do processo eleitoral.