COLUNAS

  1. Home >
  2. Colunas >
  3. Política, Direito & Economia NA REAL >
  4. Política & Economia NA REAL n° 134

Política & Economia NA REAL n° 134

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Atualizado em 13 de dezembro de 2010 12:36

Um concerto inusitado

Dois fatos significativos, mesmo que discretamente avaliados, despontaram no final da semana passada e são fundamentais para avaliar o futuro da economia mundial e do desempenho do mercado financeiro e de capital. O primeiro fato foi a firme reiteração do chairman do Fed, Bem Bernanke, de que a injeção de US$ 600 bi no mercado, via compra de títulos do Tesouro dos EUA, vai mesmo ocorrer a despeito dos protestos mundiais. O segundo fato diz respeito à moderação da linguagem de Pequim sobre a política econômica que irá seguir em 2011. Haverá mais preocupação com a inflação e o crédito pelos lados do dragão chinês. Pouco se disse, via porta-voz do governo comunista, sobre câmbio, o calcanhar de Aquiles da relação com os EUA. É possível e até provável que os chineses valorizem um pouco sua moeda, sem reagir a provável queda do dólar dos EUA. Uma guerra cambial neste momento é o que menos interessa à China. E ao mundo.

Uma estrela cai

É provável que os mercados emergentes não sejam destaque dentre os principais segmentos do mercado financeiro mundial. A moderação do crescimento chinês e o ajuste da política econômica brasileira revelam que há certa exaustão em relação à valorização dos ativos de renda fixa e variável destes países. Há, inclusive, quem veja uma "bolha" localizada no eixo Brasil - Índia - China.

Mercado de ações nos EUA

As expectativas de bons resultados corporativos em 2011, a taxa de juros negativa, a desvalorização provável do dólar estão deslocando vultosas quantias da renda fixa para as ações no mercado norte-americano. Não à toa o Índice S&P 500 está no maior patamar em 27 meses. O mesmo vale para a maioria dos índices de ações norte-americanas.

Nossa aposta

Está se formando um cenário mais desfavorável para o mercado acionário dos países emergentes. No caso do Brasil, a maioria dos setores é de commodities e os preços destas devem se reduzir com a redução da atividade chinesa. A correlação entre tais preços e as cotações das ações é muito forte. Além disso, a elevação da taxa de juros básica para conter a inflação, tornará o mercado mais hostil aos ativos de risco. Neste contexto, é bem provável que as ações norte-americanas se valorizem mais que as chinesas e brasileiras. Não há razões para acreditarmos em ajustes bruscos. Tudo deve ser mais suave, mesmo que surpresas sempre apareçam pelos lados do mercado financeiro...

Radar NA REAL

10/12/10   TENDÊNCIA
SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,3277 alta alta - REAL 1,7060 estável/alta estável/alta Mercado Acionário - Ibovespa 68.341,80 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.240,40 alta alta - NASDAQ 2.637,54 alta alta

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

A penúltima de Lula para Dilma

Com toda a pompa e circunstância que é capaz promover, Lula vai registrar amanhã em um cartório de Brasília - não se sabe, ainda, se apenas num notário terreno ou também, como na música de Vinicius de Moraes e Baden Powel, "no cartório do céu e assinado em baixo por Deus" - os feitos de seu governo. Ministros e até ex-ministros estão sendo convidados para o séquito presidencial. Convite irrecusável. É uma providência inédita, nunca antes vista neste país ou mesmo no planeta Terra ou em outros do sistema solar.

Não há inocência

Não é, porém, um gesto inocente. Aliás, do grande ator e do extraordinário político no qual Lula se transformou, nada nele tem mais a espontaneidade dos velhos tempos do sindicalismo e dos primeiros tempos do PT. Lula quer perpetuar o que ele (vide coluna passada) assume como sua "herança bendita". Perpetuar para que não venha a ser apropriada por outros, assim como se faz com o direito autoral, mas também para deixar bem claro que é o responsável pelo sucesso brasileiro dos próximos anos ou quais poderão ser os responsáveis por inesperados insucessos futuros. Depois da cadeira presidencial, é o mais importante presente de Natal de Lula para Dilma. Mas pode não parar nisso.

Dilmismo e lulismo

Aumenta rapidamente o número de "dilmistas", não só no PT como também em outras legendas aliadas. O movimento ainda é discreto, para não contrariar o dono da voz. Porém, já é considerável o contingente de amigos de infância da ex-presidente, mesmo muitos deles só tendo vindo a conhecê-la durante a campanha ou após a eleição. Pode ser um movimento natural, do "rei morto, rei posto" admitido até por Lula. Mas está ganhando também, como sentimos em algumas conversas com gente graduada, um início do "revisionismo" em relação à dita era lulista. A palavra populismo já é frequente nas considerações.

Ministério descartável ?

A cada vez que Dilma desvenda o ocupante de um dos ministérios negociáveis na sua equipe, aumenta a sensação (ou torcida) no mundo político e em setores mais antenados da sociedade de que a equipe com que ela vai inaugurar o governo é um ministério de transição. Quando tiver os pés mais firmes no chão e alguns fantasmas mais ectoplasmáticos no horizonte, a presidente eleita fará uma renovação de quadros. A tese é confortável para Dilma. Porém, uma operação de troca de ministros com pouco meses de governo, sem razões muito concretas, pode ter um custo político elevado. Basta ver as enxaquecas já provocadas pela montagem desta equipe. Fora Lula e Sarney e os escolhidos, ao que se saiba não há quem não esteja tendo uma dorzinha de cabeça ao menos. A outra tese é a de que Dilma, que já deu um "nó PMDB" e armou uma delicada situação para o PSB de Eduardo Campos, vá ser o que se diz dela : concentradora e autoritária, menos flexível do que Lula. Se será bom ou ruim é outra coisa.

PS - A grande novidade no ministério é a entrada na liça de Ciro Gomes.

Ministérios e subministérios, ministros e subministros

Algumas pessoas andaram consultando a coluna para entender a classificação acima usada para definir postos no governo. Perguntam também se não é a mesma coisa "ministério" e "ministro", "subministério" e "subministro". Não é a mesma coisa : um subministério pode ter um ministro e um ministério pode estar ocupado por um subministro. Tudo é uma questão de poder político, de influência e de decisão, verbas, obras. Os "subs", tanto ministro quanto ministério, não tem nada disso ou têm muito pouco de alguma coisa. Exemplos práticos ajudarão a entender. Caso 1, Ministério das Minas e Energia - é um ministério, pois tem orçamento alto, toca um setor sumamente importante. Porém, o seu titular indicado, Edison Lobão, foi no passado e será novamente depois de primeiro de janeiro, um subministro. Não escolherá o secretário-geral, os presidentes da Petrobras, da Eletrobrás, de Furnas, da Chesf, de Itaipu e por aí adiante. Do que lhe sobrar, terá de pedir benção a José Sarney e ao PMDB. Terá as circunstâncias. Caso 2, o atual ministério de Assuntos Estratégicos - não tem nem orçamento próprio, abriga um punhadinho de auxiliares apenas faz "futurologia". É, portanto, um subministério. Porém, seu titular no momento, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, embora discreto, é um ministro. Tem voz, inspira respeito, foi um dos formuladores da política externa brasileira ao lado do amigo Celso Amorim.

A prova do pudim

Até o dia 21, para não atrapalhar as férias dos parlamentares e não deixar Dilma, com as mãos atadas logo no início de seu governo, as forças governistas prometem um esforço concentrado para aprovar o orçamento do ano que vem. Um orçamento, uma façanha brasileira, teve três relatores em uma semana. Com a discrição que é possível, o esquema de Dilma tenta que o Congresso faça em parte os cortes nos gastos do ano que vem que já são por todos da equipe da presidente eleita considerados necessários. Ela seria poupada de se indispor com alguns setores do seu público logo de cara. O problema é que há uma distância de mais de R$ 20 bilhões entre o que os deputados e senadores querem que o governo gaste em 2011 e o que a turma econômica de Dilma acha que pode gastar.

Fala quem sabe

Quem quiser conhecer bem a história da petroquímica brasileira, um setor em constante transformação, não pode deixar de ler o livro de Otto Vicente Perrone, "A indústria petroquímica no Brasil". Mineiro de Guarani, Otto Perrone foi diretor da Petrobras, diretor e vice presidente da Petroquisa, presidente da Copene e da Norquisa, é um dos fundadores da petroquímica brasileira, figura de primeira linha no setor. Pena que o livro, editado pelo IBP - Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis seja tão difícil de encontrar.

Ministeriômetro - Notas técnicas 5

Para entender a lista na nota seguinte, alguns esclarecimentos :

- Os atuais ministros não confirmados, continuam na luta. Mesmo Celso Amorim, que fora do Itamaraty, pensa ser aproveitado em outro local.
- Dilma deve criar pelo menos dois outros ministérios (ou secretarias como tal) e descartar um - o da Comunicação Social.
- Criamos duas outras categorias : "quase confirmados", sobre os quais falta apenas a palavra oficial, e "genéricos", para convidados sem designação da pasta.
- Na lista estão não só estatais, mas também órgãos cobiçados por seu valor financeiro e eleitoral. É o caso da Funasa, por exemplo, do Ministério da Saúde, e do Porto de Santos, hoje na Secretaria dos Portos.
- Acrescentamos mais duas torres ao edifício dos cargos, o BB e os Correios, ambos arduamente disputados pelo PT e o PMDB.
- Há estatais novas no ar : a do petrosal, uma para o São Francisco transposto, a do tem bala (quando ele sair), até uma nova diretoria na Petrobras. Sem contar que há gente querendo reviver uma para o setor de seguros. E uma nova agência reguladora, a Agência Nacional de Comunicações (Anacom), paralela à Anatel.
- Caiu a ideia de um Ministério dos Portos e Aeroportos, ficará a Secretaria Especial dos Portos e nascerá uma Secretaria Especial de Aviação Civil. São mais lugares a distribuir.
- Voltou a ideia do Ministério dos Portos e Aeroportos
- Há ministros quase confirmados, até já sondados, mas que podem mudar de galho.

Ministeriômetro - Capítulo XII

Possivelmente a última lista. Se mantiver o cronograma que se impôs, Dilma fecha a equipe principal até amanhã. Mas parece difícil.

Confirmados

Ministério da Fazenda - Guido Mantega
Ministério do Planejamento - Miriam Belchior
Assessoria Especial da Presidência - Marco Aurélio Garcia
Banco Central - Alexandre Tombini
Justiça - José Eduardo Cardozo
Casa Civil - Antonio Palocci
Secretaria Geral da Presidência - Gilberto de Carvalho
Pesca - Ideli Salvatti
Comunicações - Paulo Bernardo
Turismo - Pedro Novais
Agricultura - Wagner Rossi
Previdência Social - Garibaldi Alves
Assuntos Estratégicos - Moreira Franco
Minas e Energia - Edison Lobão
Transportes - Alfredo Nascimento
Direitos Humanos - Maria do Rosário
Comunicação Social - Helena Chagas (há dúvida se permanecerá com status de ministério)

Quase confirmados

Relações Exteriores - Antonio Patriota
Relações Institucionais - Alexandre Padilha
Defesa - Nelson Jobim
BNDES - Luciano Coutinho
Educação - Fernando Hadad
Petrobras - José Sergio Gabrielli
Ciência e Tecnologia - Aloizio Mercadante
Integração Nacional - Fernando Bezerra Coelho (Ciro Gomes atropela por fora)
Desenvolvimento - Fernando Pimentel

Candidatos, indicados

Integração Nacional - Ciro Gomes
Relações Institucionais - Wellington Dias, Luis Sergio, Marco Maia
Portos Aeroportos - Fernando Bezerra Coelho
Assessoria Especial da Presidência - Nelson Barbosa
Mulheres - Iriny Lopes
Esportes - Manuela D'Avila
Igualdade Racial - Vicentinho (abre vaga para José Genoíno na Câmara), Luis Alberto, Luisa Bairros, uma mulher afro-descendente
Cidades - Marta Suplicy, PP, Jose Filippi Junior, Luiz Fernando Pezão, Mario Negromonte
Cultura - José Abreu, Emir Sader, Celso Amorim, Antonio Grassi, Ângelo Osvaldo, Ângelo Vanhoni, Fernando Morais, Ana de Holanda (Dilma chegou a consultar oficialmente a mineira Ângela Gutierrez, que não se comoveu)
Portos - PSB, Fernando Schimidt, Marcio França
Porto de Santos - PSB
Vale - Rossano Maranhão
Pequena e média empresa - Alexandre Teixeira, Antonio Carlos Valadares, Paulo Okamoto
Desenvolvimento Agrário - Joaquim Soriano. Wellington Dias, Zezeu Ribeiro, Nelson Pelegrino, Geraldo Simões
Secretaria Especial de Aviaçao Civil - Antonio Henrique da Silveira e Solange Vieira.
Desenvolvimento Social - Patrus Ananias, Moema Passos Gramacho, Teresa Campelo, Maria Lucia Falcon, Ana Fonseca
Meio Ambiente - Carlos Minc
Funasa - PMDB
STF - PMDB, PT
Banco do Brasil - PT, PMDB
Correios - PT, PMDB
Saúde - Fausto Pereira dos Santos, Alexandre Padilha, Jorge Solla, Gonçalo Vecina
BNB - Ciro Gomes
Embratur - Geddel Vieira Lima
Infraero - Geddel Vieira Lima
Anvisa - PT, PMDB

Avulsos

Abrir vaga para José Genoino na Câmara
Abrir vaga para José Eduardo Dutra no Senado
Eva Chiavon
Beto Albuquerque
Marcelo Crivella
Olívio Dutra
Empresário (grife, como Roberto Rodrigues e Luis Furlan no primeiro ministério de Lula)
Sindicalista
Clara Ant (no Palácio do Planalto)
Jorge Gerdau

Credores

Virgilio Guimarães
Ciro Gomes
Henrique Meirelles (em baixa)
Patrus Ananias
Osmar Dias