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Política & Economia NA REAL n° 40

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Atualizado às 07:29

Terça-feira, 17 de fevereiro de 2009 - nº 40

O Brasil real : mais incógnitas do que certezas

A dinâmica do desempenho da economia brasileira dependerá essencialmente do que acontecer lá fora. Embora o sentido das medidas econômicas adotadas pelo governo esteja correta (aumentar a demanda e sustentar o crédito), o desemprego mais elevado e a queda de renda serão crescentes. Além disso, o governo parece mais inclinado a assistir setores econômicos específicos e apoiar operações de fusões e aquisições, via BNDES, como no caso do Grupo Votorantim. Assim sendo, os principais fatos estão concentrados na área política. Na economia, nos próximos dois meses, é ficar com um olho no que ocorre lá fora e outro no BC que vai reduzir em mais 1% a taxa básica de juros. Ademais, continua faltando um plano abrangente e claro a Lula. O governo, porém, deve fazer algumas marolinhas econômicas, para mostrar que está espantando a outra "marolinha" : a aplicação de silicone no PAC, anunciada há dias, e um pacote imobiliário que vem sendo gestado há meses.

O Brasil oficial : ao estilo Marta

Os ares brasilienses - e alguns economistas de outras plagas - já estão captando sinais de que o pior para a economia brasileira já passou : dezembro teria sido o fundo do poço. Nossa situação teria parado de piorar e até começado a melhorar em algumas áreas, conforme diagnóstico apresentado pelo ministro Guido Mantega ao presidente Lula e aos membros do Conselho Político do governo nesta segunda-feira. Animaram especialmente os dados da balança comercial das duas primeiras semanas de fevereiro e relato de empresários sobre retomada dos negócios. O que é motivo suficiente para o presidente e seus assessores adotarem o conselho da ex-ministra Marta Suplicy aos brasileiros no auge da crise aérea do fim de 20007.

Por via das dúvidas...

De todo o modo está sendo protelada, por exemplo, a divulgação dos dados sobre o emprego formal em janeiro, com base nos dados do Ministério do Trabalho. Em dezembro foram perdidos 655 mil postos com carteira assinada. Mês passado a tragédia não foi tão grande, mas o tamanho do rombo, segundo se comenta em Brasília, não dá para "relaxar". Não se surpreendam se o ministro Carlos Lupi anunciar o resultado nos dias carnavalescos, enquanto os brasileiros não-oficiais estarão merecidamente relaxando.
 

China : menos investimento externo

A China foi considerada o principal motor do crescimento mundial durante os últimos anos do boom econômico encerrado há pouco mais de ano e meio. Pois bem : além dos evidentes sinais de desaceleração da atividade econômica nos últimos meses, o interesse em investir no país tem diminuído. Em janeiro o investimento estrangeiro no país foi de US$ 7,5 bilhões, cerca de 33% menor que o mesmo mês do ano anterior. Trata-se de um processo, pois já é o quarto mês de queda no fluxo de investimento direto na China. No ano passado, como foi investido US$ 108,3 bilhões, cerca de 30% superior a 2007, sendo que US$ 92,4 bilhões foram direcionados para projetos de investimento e não o mercado financeiro e de capital. Análises do governo chinês apontam que o investimento direto deve cair 30% neste ano em função da crise internacional. O grande desafio no momento para a China (e o mundo) é o aumento do consumo doméstico. Isto ajudaria a contribuir para o ajuste das contas externas das principais economias mundiais, sobretudo os EUA, e evitaria uma desaceleração ainda maior do PIB mundial.

G-7 : Tom ameno com a China

A reunião do G-7 neste último fim de semana trouxe poucas novidades. Basicamente, os países mais ricos continuam, cada qual a seu modo e prioridade, a coordenar e implementar medidas para reduzir o impacto da fragilidade do sistema financeiro, bem como estimular a demanda. A única novidade do encontro ocorrido em Roma foi o tom ameno adotado para comentar a política cambial da China. Há poucas semanas, o Secretário do Tesouro dos EUA Timothy Geithner criticou fortemente a China afirmando categoricamente que o governo do país manipulava a taxa de câmbio mantendo-a artificialmente subvalorizada. O governo comunista da China reagiu duramente às criticas negando a manipulação e afirmando que a China não poderia ser acusada dos problemas americanos. Nesta reunião do G-7, as lideranças econômicas saudaram "as medidas de estímulo fiscal e flexibilização da taxa de câmbio da China". Como se nota, algo bem mais diplomático. O fato é que uma das saídas da atual crise passa pelo maior estímulo do crescimento dos países emergentes e pela respectiva valorização da taxa de câmbio de cada um deles frente ao dólar. Assim, se evitaria o cenário "pró-bolha" dos últimos anos, uma combinação de dólar forte e taxa de juro negativa frente à inflação. Anote aí : o maior risco da (péssima) conjuntura atual no cenário externo é uma conjunção de deflação e competição entre as moedas com desvalorizações mais acentuadas entre os países. É um aspecto importantíssimo a ser observado.
 

Japão : o pior não passou

O Japão apresentou o pior desempenho de atividade econômica nestas últimas três décadas segundo os dados do PIB do último trimestre de 2008. Em termos anualizados a economia japonesa se contraiu no ritmo de 12,7%, muito superior aos EUA (-3,8%) e na eurozona (-5,9%). Assim, o Japão - ícone em termos de crescimento no período pós-guerra - passou a ser o país de menor crescimento entre as principais economias industrializadas. Concretamente, a fragilidade maior da Europa e do Japão serão enormes barreiras para uma recuperação mais rápida dos EUA. Note-se que apesar da economia norte-americana ser o epicentro da crise atual, a recessão é muito mais aguda na Europa e no Japão, que pareciam mais imunes à hecatombe.
 

O pacote de Obama

O Congresso dos EUA aprovou um pacote de US$ 787 bilhões de estímulo à recuperação econômica da maior economia mundial. O placar da aprovação foi de 246 democratas votando a favor e todos os 176 republicanos votando contra. Portanto, o novo presidente norte-americano não encontrou mínimo respaldo da oposição apesar de seus elevados níveis de popularidade e aprovação. O fato é que o pacote começa a ser implementado em meio a muita descrença. Eis algumas das razões alegadas que justificam o ceticismo de muitos formadores de opinião, investidores e políticos :

1) O pacote é inferior ao que o próprio governo estimava como necessário;

2) O estímulo fiscal, baseado em renúncia fiscal ou isenção, é da ordem de US$ 400 bilhões, montante considerado insuficiente. Novas medidas serão necessárias o que aumentará a percepção de um pacote inacabado;

3) A parte do programa de estímulo destinado à recuperação do crédito é muito vago. Não se sabe se o sistema financeiro voltará a ter capacidade de tomar recursos do mercado e emprestar num prazo relativamente curto. O fato é que instituições financeiras dos EUA estão na prática insolventes e a "limpeza de seus balanços" passou a ser incerta. É necessário "zerar o jogo" no setor creditício. As experiências do Japão e do Brasil nesta área ensinaram que é preciso "esquecer o passado de ativos podres" e criar novos padrões de gestão financeira;

4) Falta consenso político em relação aos aspectos básicos da recuperação. Ainda há muitos republicanos pregando ideologicamente sobre "liberdade dos mercados" e "intervenção estatal". Ora, caso o plano não funcione nos seus primeiros momentos esta gritaria se tornará crítica para aumentar a descrença no plano;

Efeitos sobre o mercado

Resumindo : faltam dois ingredientes vitais para o pacote de Obama : (i) dimensão suficiente para não deixar dúvidas para o mercado de que seus efeitos serão positivos e significativos para recuperar a economia americana e (ii) a recuperação do sistema financeiro é extraordinariamente incerta, pois o governo não parece capaz de enfrentar o principal dilema neste item : esquecer o passado, impor perdas aos investidores em ações e dívidas e começar tudo de novo. Por tudo isto, mantemos a nossa opinião negativa em relação ao desempenho do mercado financeiro aqui e lá fora. Recomendamos aos nossos leitores cuidadosa leitura da nota desta coluna "Mercado financeiro: cinco razões para não aumentar o risco" na edição de 39 de 10/02/09

(clique aqui). Junte às cinco razões mais uma : o pacote de Obama pode não funcionar e não recuperar a credibilidade neste momento crítico.

A eleição é o que importa

Em mais de uma ocasião afirmamos que, a não ser em circunstâncias muito excepcionais, nada se fará no mundo político e burocrático no Brasil em 2009 e 2010 que não tenha como pano de fundo as eleições do ano que vem. Ninguém tomará nenhuma decisão sem sopesar muito bem os efeitos dela sobre o ânimo dos eleitores. O que, necessariamente (muitas vezes, quase nunca), não é o melhor para os brasileiros. O cidadão será chamado na sua hora devida - dar o voto e pagar a conta. É PAC da Dilma, PAC do Serra, PAC do Aécio, festa dos prefeitos de Lula, festa de prefeitos dos tucanos (esperem para breve)... E quando acabar o jogo de 2010 começará o de 2012 de olho no de 2014. Brasil, o país das campanhas eleitorais eternas...

Mais do mesmo

Pelos primeiros e tímidos movimentos de Sarney e Temer no comando do Congresso já da para ver que eles vieram para mudar para tudo permanecer como está.

O PMDB velho de guerra

O que o senador Jarbas Vasconcelos disse de seu partido, o PMDB, na entrevista à revista "Veja" não é novidade nem para o mais ingênuo dos peemedebistas. Por isso, apesar das alguns gestos exteriores de indignação, vai ficar o dito pelo não dito. Ninguém quer mexer no vespeiro, fazer cobranças duras, para não ter seu nome exposto. Além do mais, há outras recompensas... Há muito o PMDB perdeu os brios dos tempos em que era comandado por Ulysses Guimarães. E não faz nenhuma questão de recuperá-los.

Perigo à vista

Logo após as folgas do Carnaval, no início de março, a base governista na Câmara, por orientação do presidente Lula, tentará votar o substitutivo do deputado Sandro Mabel ao projeto de reforma tributária apresentado no ano passado pelo Planalto. O governo quer ter esse diploma nas mãos para apresentar como mais uma de suas ações para combater a marolinha. Mero gesto publicitário : (i) porque a maior parte das mudanças previstas entrarão em vigor no longuíssimo prazo, somente o que é cosmético terá efeito em 2010 ; (ii) porque, somados os pequenos avanços e as grandes armadilhas, a proposta de Mabel está mais para um desastre tributário do que para algo inovador e simplificador em matéria de tributos no Brasil. A sociedade não vai ganhar com as mudanças, pelo contrário. O foco é o bem do Estado.

Reforma política

Há muito de esperteza e nem tanto de boa fé na proposta de reforma política entregue ao Congresso pelos ministros José Múcio e Tarso Genro divididas em 5 projetos de lei e uma proposta de reforma constitucional. Servirá de terapia ocupacional para os parlamentares, ajudará a engabelar o platéia e servirá para o governo mostrar-se ativo. No seu conjunto, não tem chances de ser aprovada, como todas as outras discutidas nos últimos 20 anos no país. Por isso, com a manobra do fatiamento alguma coisa pode ser aprovada, como o financiamento público de campanha e o a abertura de uma "janela" para a infidelidade partidária, coisas de interesse direto dos políticos e dos partidos. O resto vai para o arquivo. Ou alguém acredita que deputados e senadores vão aprovar, por exemplo, a cláusula de barreira, ainda que mitigada ? Ou, ainda, a proposta de que o tempo de rádio e televisão dos partidos coligados não contam para os programas eleitorais, apenas o do partido cabeça da chapa ? Esta medida acabaria com o maior "patrimônio" político do PMDB. E até os peixes do lago Paranoá sabem que sem o PMDB nada se decide em Brasília.

De olhos bem abertos

Economistas, contabilistas e todos os bons fazedores de conta no Brasil aconselham um pouco de atenção na azáfama do BNDES, do BB, da CEF e da Petrobrás. Em nome de uma necessária política imediata de combate aos efeitos da crise econômico-financeira sobre a economia produtiva brasileira, vê-se uma certo açodamento (para dizer o mínimo) que pode estar criando estrondosos esqueletos para o futuro. Já se fala, por exemplo, que o Banco do Brasil, em um futuro não muito distante, necessitará de um aporte de capital.