O PIZZAIOLO RUDE

Severino Cavalcanti, presidente da Câmara, é um homem rude. Isso o Brasil todo já sabia. A rudeza em política tem sinônimo de truculência. Ele diz o que quer para quem não deseja ouvir. Agora, dizer que não há motivos para parlamentares serem cassados, ah, é mais que leviandade. Pois foi isso que Severino disse, ontem, em sua entrevista à Folha de S. Paulo. Se "Caixa dois" não justifica penalidade, que o Brasil todo se locuplete com as maracutaias. Severino faz mal à política. Se há alguém interessado em esquentar uma gigantesca pizza, o candidato aí está.

DELFIM NO PMDB

Pode até ser que não haja relação de causa-efeito. Mas o deputado Delfim Netto, do mesmo partido de Severino, o PP, liderado por José Janene, está deixando a sigla. Delfim é uma das cabeças mais lúcidas da República. Preparado, inteligente, arguto, perspicaz, irônico, sabe tudo de política e administração pública. Pensou, pensou, viu e ouviu Severino e deve ter concluído: chega. Vou fazer as malas e partir. O PMDB está abrindo os braços para receber o deputado.

PMDB COMEÇA A SE ARRUMAR

Vocês já perceberam que o PMDB está se arrumando (pasmem) para chegar unido em 2006 ? As cartas que estão sendo jogadas são essas: o partido fechou duas datas importantes para processar a política interna. Até 5 de fevereiro, aceita pré-candidaturas à presidência da República. Dia 15 de março, abrirá o debate aos pré-candidatos, que correrão os Estados em busca dos votos da base. Nos próximos dias, o presidente da sigla, deputado Michel Temer, começará a visitar os Estados para promover a mobilização partidária. O Paraná abrirá os encontros com o governador Roberto Requião acolhendo governadores e líderes.

OS PRÉ-CANDIDATOS

Os pré-candidatos do PMDB são: Anthony Garotinho, que está bem nas pesquisas, mas enfrenta dificuldades nas bases. Os governadores Roberto Requião e Germano Rigotto, tendo este gaúcho mais possibilidade de que o paranaense. O atual presidente do STF, Nelson Jobim, graças ao qual o partido adiou para 5 de fevereiro a data para decisão dos pré-candidatos. E Itamar Franco. Esse mesmo. Está começando a fazer articulação. O melhor nome será aquele que conseguir vestir a camisa das circunstâncias, pelos meados de março.

AÉCIO SE MOVE

Aécio Neves não é carta fora do baralho nas eleições de 2006. Os tucanos paulistas - José Serra, Geraldo Alckmin, Fernando Henrique - estarão engalfinhados. FHC procurará ser juiz. Serra espera sair candidato, se as pesquisas continuarem a colocá-lo na dianteira. Alckmin tem estrutura. Tem perfil moderado. O momento exige mais determinação. Aécio Neves vê tudo isso. Conta com a possibilidade de reeleição, mas a arena de lutas paulista poderá acabar lhe favorecendo. Não contem com FHC. Sofre o efeito do desgaste de material. O pai-econômico-liberal de Lula.

10 ANOS NO PURGATÓRIO

Passar 10 anos no purgatório é pouco. Mas é o tempo que o PT terá para conseguir purgar-se dos pecados e pensar em tirar passaporte para o céu. Nesse intervalo, passará por intenso debate interno, com direito a pugilato e morte abrupta de alguns de seus membros. Parcela dos quadros migrará para espaços mais à esquerda, PSOL, por exemplo, o partido de Heloisa Helena. Aliás, esse partido é o que, por enquanto, ganha mais com a crise. Identidade clara, discurso forte, assepsia política. E o PT procurará um canto no hemisfério esquerdo, que já está muito congestionado. Eis o busílis.

CASSAÇÃO DO CONGRESSO

Se a pizza rolar no banquete das CPIs, rolarão cabeças na desforra eleitoral de 2006. O Congresso Nacional está sob ameaça. Na eleição do próximo ano, caso se confirme a negociação severina para salvar a vida dos parlamentares acusados de receber mensalão, poderemos ter o maior número de votos em branco e nulos de nossa história. Não se pode, ainda, garantir tal hipótese. Mas o clima social, hoje, é de aguda indignação. Como jamais de viu na contemporaneidade.

A FLOR NO PÂNTANO

Até no pântano, nascem flores. No pântano da política, a semente da ética e da moral está sendo jogada. Brotará, primeiro, uma pequena flor. Depois, mais algumas iluminarão os dias. O jardim florescerá cheio de encanto e cores depois de longo tempo de exposição ao sol. A crise está fertilizando a terra brasileira. Não tenham dúvidas.

SANTO ANDRÉ VEM AI

O caso Santo André está renascendo. Para aflição do grupo de José Dirceu. Há uma dissonância no ar. O médico legista, externando muita segurança, argumenta ter havido tortura a partir dos "tiros de esculacho" que descobriu. O delegado Marco Antônio Desgualdo, no alto de sua segurança (?), fala que Celso Daniel foi vítima de um crime comum. E a voz das conversas de bastidor dá conta de um acerto de linguagens entre tucanos e petistas. Alckmin estaria sendo enrolado?

O SILÊNCIO DOS INTELECTUAIS

Vejam essa história do Silêncio dos Intelectuais. A Petrobras e o Ministério da Cultura promovem um seminário intitulado "O Silêncio dos Intelectuais" para fazer com que um grupo de "intelectuais" diga algo sobre a crise. E aí surge a manifestação de uma filósofa dizendo que há muitos intelectuais tagarelas que, neste momento, estão falando. Mais ainda: prefere ficar calada porque ainda não compreendeu a natureza dessa crise. Não dá para entender. Uma pessoa tagarela não chega ao altar da filosofia. E é pouco provável que um ente filósofo seja tagarela. Tagarelice e filosofia são coisas dissonantes. Spinoza já ensinava: urge saber distinguir a idéia verdadeira dentre as idéias falsas. No senso comum, alho de bugalho.