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Porandubas nº 406

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Atualizado às 08:02

Abro a coluna com um "causo" do PI.

Dois vereadores da Arena de Parnaíba, nos tempos da ditadura, entraram em querela. Um, da Arena de Petrônio Portela, outro, da Arena de Alberto Silva. Inimigos políticos. Um, dentista, pôs os dentes na boca do outro, nos tempos em que eram amigos. Mas, na primeira sessão da Câmara, brigaram feio :

- Vossa Excelência é um desonesto.

- Desonesto é você, filho de uma... Devolva o meu dente, pois fui eu que pus.

- Canalha, mas eu paguei essa merda.

- E daí que pagou ? Falar mal de mim, até pode. Com meu dente, não.

Partiu para cima. Atracaram-se. E arrancou o dente. Sem anestesia.

Eduardo em sabatina

Eduardo Campos foi submetido à sabatina na TV UOL, em evento promovido pela Folha de S.Paulo, SBT e Jovem Pan. Fui lá conferir, a convite da Pan. Campos enfrentou todas as questões abordadas, inclusive as perguntas "cascas de banana". De modo geral, saiu-se bem pela fluência e raciocínio. Mas deslizou em algumas, ficando nas generalidades e sem respostas diretas e objetivas. Por exemplo : promete fazer um governo diferente, mesmo tendo de fazer alianças com políticos das antigas. Até porque é de opinião de que "não se pode destruir o que existe".

Vantagem no NE

O ex-governador de PE confia que terá uma grande votação no Nordeste, chegando a ultrapassar a presidente Dilma, que obteve extraordinária aprovação nas urnas em 2010, com mais de 12 milhões de votos de maioria na região. Campo acredita que, em final de agosto, já estará na frente. Quer mudar a modelagem econômica, é favorável ao "passe livre", trabalha com o conceito de gestão eficaz, põe fé na meritocracia, faz duras críticas à presidente, mas procura preservar o ex-presidente Lula.

A feição de Marina

Marina Silva, a quem Campos sempre se refere muitas vezes nas entrevistas, mostra-se afinada ao discurso do companheiro de chapa. Pelo menos é que diz sua cabeça, ao confirmar, de maneira positiva, as respostas de Eduardo. O candidato faz críticas fortes ao tucano Aécio Neves, que, segundo ele, faz alianças com o conservadorismo. E, quando apontado que ele também busca parcerias nas alas conservadoras, sai pela tangente dizendo que não barganha por espaços de mídia, mas negocia em torno de ideias.

As Copas

Finda a Copa de futebol, outras copas serão enfrentadas, doravante, na visão de Campos. E nas Copas da Saúde, Educação, Segurança, Mobilidade Urbana, acha que tem melhores condições de fazer os gols que o país está a merecer.

O PT meio perdido

O PT parece meio perdido com a situação : o país fez uma belíssima Copa do Mundo, mas nossa seleção foi um desastre. O que explorar ? Claro, o lado do desempenho do país e não o lado da performance futebolística. Mas um lado teima em canibalizar o outro. Para complicar, registra-se uma querela entre dois profissionais da campanha do PT, o ex-ministro Franklin Martins, e o marqueteiro-mor, João Santana. O motivo da briga ? A questão de um "Mais" ; que, para Franklin, deveria vir depois, "Muda Mais" ; para Santana, antes : "Mais Mudanças". A disputa, ganha por João, teve até um fundo de semiologia. Haja lábia para encantar a presidente.

E Lula, hein ?

Esta coluna mais uma vez pergunta : e Lula hein, onde se escondeu durante a Copa ? Por que não apareceu torcendo pela seleção ? E por que calou o bico, ele que tanto gosta de falar ?

Futebol e eleição

Reforço o que tenho dito em entrevistas (entre as quais, a da revista Veja, desta última semana) e escrito em artigos : o eleitor sabe separar política de futebol. Claro, uma derrota acachapante como a que tivemos contribui para criar um clima de desânimo e desmotivação. Mas o futebol é apenas um dos fios do rolo comportamental. Sozinho, não terá influência nas urnas. Minta tese é a da equação BO+BA+CO+CA. O Bolso cheio será fundamental para a barriga saciar-se, o coração agradecer comovido e a cabeça decidir votar nos patrocinadores do bolso. Arremato : o dinheiro no bolso das massas, em outubro, é que decidirá o processo eleitoral, dando continuidade ou quebrando as amarras do PT na árvore do poder.

Nuvens pesadas

Este consultor foi para o meio da massa, no último fim de semana, para presenciar a confraternização do povo em uma festa típica de uma região. Foi em Pirassununga, na festa Nenete, em homenagem a um músico da região, já falecido. Comidas típicas, muita música sertaneja, danças, costumes, galeras animadas. Multidão na rua. Não vi briga. As conversas giravam em torno da degradação geral da política. E muito desprezo pela Seleção brasileira. Elogios mil à equipe alemã pela simplicidade, respeito ao Brasil, simpatia dos jogadores e integração comunitária.

Em compensação, os argentinos

Relatos se ouviam de muitos lados sobre a grosseria dos argentinos, a balbúrdia, as agressões contra as mulheres (inclusive, mulheres casadas, acompanhadas de seus maridos), desprezo e discriminação aos brasileiros. Minha lupa não flagrou simpatia pelos hermanos (hermanos?), melhor dizendo, pelos vizinhos.

As mulheres

A Alemanha, em primeiro lugar na Copa, a Argentina, em segundo, e o Brasil, em quarto. Países dirigidos por mulheres. A Holanda, até pouco tempo, estava sob o reinado da rainha Beatriz, que acabou abdicando em favor de seu filho. O que isso quer dizer ? Mera coincidência. Ou simples curiosidade. Não queiram tirar ilações sobre o governo de Cristina Kirchner, por exemplo.

Impugnados e sujos

Há uma batelada de nomes impugnados pelo MP, por frequentarem a lama dos fichas sujas. São 1.308 candidatos impugnados, 177 com o nome sujo. E há, até, candidatos ao governo de Estado que estão na lista, como é o caso de José Roberto Arruda, que quer voltar ao governo do DF.

E a grana das campanhas ?

A grana das campanhas deste ano é escassa. Empresas, mesmo as tradicionais doadoras, estão com um pé tapando o cofre. Temem entrar nas listas dos Tribunais, receiam oferecer recursos a um candidato e rejeitar pedidos de outros, e muitos estão sem saber quais os potenciais de cada um : quem vai ganhar ou perder ? Esta campanha tem grande número de interrogações. Mais adiante, quando as pesquisas mostrarem os cavalos que correm na frente, os doadores até vão pensar em suprir o estoque de pasto.

20 pedidos

Um empresário confessou a este consultor que recebeu cerca de 20 pedidos de recursos. Está sem saber o que fazer. Ou, melhor dizendo, saberá o que vai fazer um pouco mais adiante.

Mercadante

O ministro Aloizio Mercadante, da Casa Civil, está sendo inflado para assumir o comando da campanha da presidente Dilma. Ele tem voz forte. Alguns fazem objeção : não gera empatia.

Choque de gestão

Faz-se urgente um "choque de gestão" no futebol brasileiro, o que implicaria a oxigenação nas cúpulas da cartolagem, a busca de perfis adequados aos contextos de competitividade e o fim do ciclo até então vivido pela seleção, com foco em grupinhos, prepotência, arrogância. Pode ser um caminho. Mas não se espere que mexer com uma pedra do tabuleiro será suficiente para conduzir o nosso futebol aos primeiros lugares do ranking mundial. Ele é parte de um todo, não um fio separado do rolo. O ethos nacional é mescla de hábitos, costumes, atitudes, visões, história e tradição.

Serviços públicos

Clama-se, ainda, por um choque na gestão do Estado. Trata-se de dever inalienável da administração do Estado cuidar para suprir as demandas dos contingentes sociais. Daí a importância de um "choque geral de gestão". A escorchante e vergonhosa derrota do Brasil para a Alemanha pode abrir o encontro do Brasil com suas realidades. Passar uma camada de tinta sobre o nosso futebol, deixando o reboco mofado sobre as paredes da saúde, educação, segurança pública, transportes urbanos, enfim, continuar a encobrir a paisagem torta das ruas é perpetuar o estado de carências. O mergulho profundo do país no oceano de suas grandes causas pode ser a luz de um novo horizonte. Vai significar a gestão da responsabilidade, tempo dos compromissos com metas e resultados, exigência de qualidade, reparo e reengenharia nas estruturas existentes, busca da simplicidade e da priorização de questões essenciais com plena transparência.

Mobilização e articulação

Não adianta apenas saber fazer bons programas nas campanhas de TV. Eles são ferramentas essenciais, mas não exclusivas. Outros eixos são importantes : a mobilização, caracterizada pelos eventos, comícios, showmícios, reuniões, encontros do candidato com as massas ; e a articulação, que aparece na formação de alianças, nas parcerias com associações e sindicatos, enfim, com as entidades organizadas da sociedade civil. Sem a combinação desses cinco eixos fundamentais, as campanhas ficarão capengas, tortas, frouxas. Muito cuidado para evitar campanhas que pendem mais para um lado que para outro. Ao consultor cabe fazer uma completa análise dos pontos fortes e fracos dos candidatos, a fim de potencializar seus valores e qualidades e minimizar seus defeitos. Deve-se ter uma visão externa mais abrangente, de fora para dentro, a fim de se evitar privilegiar certas áreas em detrimento de outras.

O que é tática ?

No futebol, quando o atacante joga a bola para trás, recuando-a para seu próprio campo de defesa, parece realizar um movimento covarde. Às vezes, é apupado. Muitos acham que a jogada não tem lógica. Mas essa bola recuada pode abrir espaços, deslocar o adversário, obrigá-lo a avançar de maneira descuidada e abrir a defesa. Pois bem, tal manobra pode gerar uma sequência de ações que culminarão com um gol. Essa é uma operação também chamada de OP. O gol é uma operação OP, de caráter terminal. E é construído por jogadas intermediárias. A tática é ferramenta de vitória.

E os índices ?

E os índices de intenção de voto não contam ? Não servem para nada ? Aqui vai a resposta : índice de intenção de voto é igual ao desenho do elefante visto nos céus. Dentro de pouco tempo, o que era elefante se esgarça e se transforma em gafanhoto ; e o que era uma nesga de nuvem, parecendo um gafanhoto, se agiganta, mais parecendo o incrível Hulk. Durante uma exposição massiva, de 45 dias seguidos e intensos, qualquer desconhecido se transforma em astro, celebridade. As campanhas eleitorais fazem esse milagre.

Canibalização

Entende-se por canibalização o esmaecimento de um perfil de baixa visibilidade perante outros, de alta visibilidade. Canibalizar - comer, devorar, superpor, ultrapassar, esmaecer. Esse é um princípio consagrado da comunicação. O mais forte massacra o menor. O sistema cognitivo do povão acaba substituindo nomes e perfis visíveis por outros muito mais visíveis, principalmente se houver um bom programa de TV e rádio. Campanha política, porém, abriga outros componentes : estruturas administrativas, peso das máquinas municipais, estaduais e Federal. Tais estruturas comportam milhares de funcionários, muitos ligados a partidos e políticos.

(Do meu recente livro, Novo Manual de Marketing Político, editora Summus)

Conselho aos dirigentes de futebol

Na última nota, a coluna oferece pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos nossos jogadores. Hoje, volta sua atenção aos dirigentes de clubes e às autoridades :

1. Chegou o momento de mudar a estrutura do futebol brasileiro : regras, calendários, comandos, exportação de jogadores, etc.

2. Urge um choque de gestão e inovação, voltado para eliminar a cartolagem viciada e os velhos padrões de mando.

3. A área política deve atentar para a situação e buscar mecanismos que possam impulsionar as estruturas do esporte brasileiro.