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Porandubas nº 443

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Atualizado às 08:32

Abro a Coluna com duas historinhas das Minas Gerais.

Será o Benedito ?

Às vésperas da escolha do interventor de Minas Gerais, em 1934, Benedito Valadares se encontrou no Rio de Janeiro com Zé Maria Alkmin :

- Se você for o escolhido, me convida para secretário ?

- Você está louco, Benedito ? Respondeu um divertido Alkmin.

Dias depois, Getúlio Vargas anunciaria a escolha de Benedito, que logo recebeu um telegrama : "Parabéns. Retiro a expressão. Ass. Zé Maria". Zé Maria Alkmin acabou nomeado secretário do Interior. (Historinha mandada por Álvaro Lopes.)

Milagre, milagre

José Maria Alkmin, a raposa mineira, mestre da arte política, chegava da Europa com cinco garrafas enroladas na pasta. A Alfândega quis saber o que era.

- Água milagrosa de Fátima.

- Mas tudo isso ?

- Lá em Minas o pessoal acredita muito nos milagres da água de Fátima. Não dá para quem quer.

- O senhor pode desenrolar ?

- Pois não, meu filho.

- Mas, deputado, isso é uísque.

- Ué, não é que já se deu o milagre ? Vejam, um milagre.

(Do amigo Sebastião Nery)

Sabatinado

Luiz Edson Fachin, indicado por Dilma para o STF, foi sabatinado. Na visão desse analista, saiu-se bem. Foi apertado. Respondeu de maneira educada. Mostrou-se suprapartidário, sempre ressalvando a letra constitucional acima de convicções pessoais. O senador tucano Aloysio Nunes Ferreira foi contundente quanto às questões : empresa ligada ao PT, que criou um site em favor de Fachin ; sua ligação com o PT e o direito social da propriedade (prevalece sobre o direito legal ?). No contraponto, o senador tucano e paranaense, Álvaro Dias, levantou um hino de louvor ao indicado.

Chegando ao colo

A repetição de respostas de Youssef a respeito de Lula, ao ser indagado se o ex-presidente sabia sobre os dutos de propina no entorno da Petrobras, reforça a convicção de muitos de que o fato era do conhecimento dele. Mesmo dizendo que não tem provas, o doleiro, como é também designado, fala com muita naturalidade sobre o tema, dando a impressão de que esta é uma matéria vencida, já impregnada nas cacholas dos atores políticos. A continuar a marcha das apurações, esta denúncia tem condições de chegar efetivamente ao colo do ex-presidente. Mas a banalização acaba enfraquecendo o impacto.

Ciclo da maciota

Ao que se infere dos últimos comportamentos dos chefes dos Poderes, abre-se o ciclo da maciota, ou seja, do arrefecimento da animosidade que os distanciava. O senador Renan Calheiros, presidente do Senado, o deputado Eduardo Cunha, presidente da Câmara, e a presidente da República, Dilma Rousseff, teriam aberto um diálogo mais estreito. O momento do país é grave e os atores políticos se imbuem do espírito de integração de propósitos. Portanto, o lema do "quanto pior, melhor" está cedendo lugar ao lema "vamos dar uma chance para o país sair da crise".

As oposições

As oposições também chegam à conclusão de que não é hora de apostar no pior. Se seus representantes estivessem vivendo momentos de glória junto ao eleitorado, até que poderiam forçar a barra e radicalizar o discurso. Não é o caso. Toda a representação política enfrenta alta taxa de rejeição. Políticos estão no patamar mais em baixo no ranking da imagem. Nesse momento, as imagens dos políticos estão sujas.

Pacote fiscal

Pelo visto, o pacote fiscal de Joaquim Levy passará pelas duas casas congressuais, ganhando alguns ajustes pontuais. Não deverá ser aprovado em sua totalidade, mas não deverá comprometer seriamente as contas do governo, caso receba algumas mudanças. A MP 664 terá mais dificuldades que a MP 665, particularmente no que concerne às disposições sobre a aposentadoria. O PTB, por exemplo, diz que votará contra qualquer tentativa de mudança no dispositivo sobre aposentados.

As próximas eleições

As eleições municipais serão balizadas por um conjunto de situações, como : 1. O cinturão econômico : se muito apertado, o bolso vai ficar mais vazio e a barriga roncará ; 2. O cinturão político : a sujeira na imagem dos políticos, com origem nos escândalos e denúncias, abrirá um vácuo entre eleitores e candidatos ; 3. O cinturão social : a precariedade dos serviços públicos empurrará grupos e contingentes ao paredão de pressões. E as pressões abrirão frestas nos vãos das candidaturas.

Atenção, prefeitos

Prefeito ineficaz não se reelege e não fará o sucessor. Dinheiro até pode mudar o sentido de uma eleição, mas não tem o mesmo peso do passado. Vida limpa, obras focadas para o interesse coletivo, transparência administrativa, enxugamento de estruturas, racionalização de processos, circulação no meio do povo, desburocratização e simplificação de serviços constituem os parâmetros modernos para as administrações. O dinheiro está curto e cada centavo passa a ser valorizado. Ademais, fortalece-se o poder crítico das bases municipais, fator que se percebe na conduta de vereadores conscientes do papel fiscalizador. Para arrematar o quadro, há uma mídia denunciativa, que, mesmo em pequenos municípios, procura bem informar, interpretar e opinar criticamente.

Perfis procurados

Ante essa moldura, o eleitorado tenderá a procurar perfis que encarnem valores e princípios relacionados às mudanças : gente asséptica, não comprometida com a velha política ; passado limpo, vida decente ; nem muito velho nem muito jovem, revelando alguma experiência na frente de empreendimentos (área pública ou área privada) ; ideias revolucionárias, porém factíveis ; capacidade de liderar equipes ; visão suprapartidária ; boa expressão e apresentação pessoal ; sólida argumentação.

Suprapartidarismo

A pergunta é recorrente : a polarização política deverá aumentar ou diminuir ? PT e PSDB continuarão a ser os principais motores da polarização ? Tenho respondido a estas questões, como, por exemplo, no programa Ponto a Ponto, da TV Bandeirantes, com Mônica Bergamo e Antônio Lavareda. Meu cenário : arrefecimento da polarização. Os partidos perderam seu escopo doutrinário. Ficaram iguais. Não há diferenças fundamentais entre eles. Querem o poder pelo poder. Por isso, outros atores entrarão em cena como o próprio PMDB, disposto a fazer o maior número de prefeitos em 2016 ; o PSB que se funde com o PPS ; e os partidos médios que poderão ganhar mais força até outubro de 2016. Sob essa teia de hipóteses, PT perderá força e PSDB terá também de renovar seus quadros.

As redes, a nova mídia

As redes sociais, até que enfim, conseguem alcançar o meio da montanha em matéria de força e prestígio. Até as próximas eleições, chegarão ao cume. Ou seja,seu papel será fundamental nas estratégias de visibilidade de candidatos, integração social, interação com o eleitor, ampliação dos circuitos de amigos, formação de grupos de apoio, fomento ao discurso substantivo etc. Da noite para o dia, as redes tocam, sensibilizam, convocam, mexem com o ânimo das comunidades virtuais.

Terceirização

Renan Calheiros decidiu que o PL 4.330 passará por quatro Comissões no Senado : Comissão de Constituição e Justiça, Comissão de Assuntos Sociais, Comissão de Assuntos Econômicos e Comissão de Direitos Humanos. A hipótese, por enquanto, é que seja intensamente debatido nas Comissões, devendo, porém, ser destroçado na Comissão de Direitos Humanos, onde a questão ideológica poderá suplantar a racionalidade.

Histórias de ontem

Em 64 A.C., Cícero disputou o consulado contra Catilina, o general que decidiu enfrentá-lo. Foi uma campanha de vitupérios. Catilina era apoiado pelo proletariado, Cícero pelas elites. Quintos preparou um manual em que recomendava Cícero a ser pródigo nas promessas, pois "os homens preferem uma falsa promessa a uma recusa seca". E sugeria encontrar escândalos na vida de seus rivais. O grande tribuno Cícero venceu Catilina, depois de acusá-lo de corrupto e pervertido. E em célebre discurso, puxou as orelhas do general com a famosa frase : "até quando, Catilina, abusarás de nossa paciência ?" (quousquem tandem, Catilina, abutere patientia nostra ?)

Reforma política

A cada semana, afunila-se a hipótese de uma reforma política com poucos pontos. Hoje, este analista identifica como os mais prováveis : distritão, para deputados Federais ; distrital misto, para deputados estaduais ; distritinho, para vereadores em cidades acima de 200 mil eleitores. Financiamento misto de campanha, com teto a ser determinado por empresas e recursos públicos nos moldes atuais. E um teto também para campanhas eleitorais.

Incômodo

As viagens internacionais do ministro Dias Toffoli começam a incomodar. A cadeira vazia no STF recebeu um rechaço na coluna Radar, de Lauro Jardim : "As cadeiras vagas são uma constante. É falta de envergadura à cadeira. É falta de senso de compenetração."

PL à vista

O Partido Liberal está chegando. Mais um pouco e sairá do forno do TSE. A dúvida é : poderá se fundir a outro ? E abrirá janela para migrantes partidários ?

Manifestações

Os movimentos sociais organizados estão debatendo seus próximos passos. A perspectiva é de ocupação de ruas a partir do mês de junho. Estão no aguardo das primeiras condenações da operação Lava Jato.

Livros

Os jornalistas Claudio Tognolli e Malu Magalhaes autografam, amanhã, na Livraria Cultura, Conjunto Nacional, em São Paulo, o livro Bem Vindo ao Inferno (Ed Matrix), que conta a história da estilista Vana Lopes, uma das vítimas do ex-médico Roger Abdelmassih. E no início de junho, Tognolli estará lançando mais um livro, desta feita sobre os desmandos da ABIN (Agência Brasileira de Inteligência).

O poder de Deus

O marechal Idi Amin Dada, ex-todo poderoso de Uganda, vivia dizendo que conversava com Deus para cumprir fielmente seus mandamentos. Um dia, indagado por um jornalista se tais conversinhas ocorriam com muita frequência, o cara-de-pau não teve papas na língua e soltou : "só quando necessário". A verve do ex-cabo que se transformou em ditador faz escola pelo mundo. No Brasil, o discurso dadadiano ainda pontifica. Numa campanha eleitoral, passeando numa feira com um candidato a prefeito de São Paulo, um jornalista, ao ver um galo, perguntou-lhe, de repente, se seria capaz de fazer o galo cantar, caso eleito. A resposta veio de pronto : "é claro". Vocês, leitores, serão capazes de dizer o nome deste todo poderoso ?

A arte de depor

Neste ciclo de depoimentos na operação Lava Jato, convém pinçar os ensinamentos de Nicolau Eymerich, frade dominicano espanhol. Ele escreveu, em 1376, o "Manual dos Inquisidores", onde apontava os truques dos hereges para responder sem confessar. Eis alguns : responder às perguntas de maneira ambígua ; responder acrescentando uma condição ; inverter a pergunta ; fingir-se de surpreso ; mudar as palavras da pergunta ; deturpar as palavras ; auto justificar-se ; fingir debilidade física ; simular demência ou idiotice e se dar ares de santidade.

A arte de responder

Certos políticos se enquadram no catálogo. Alguns exercem a arte de responder o que não foi perguntado e não dizer o que todos querem ouvir. Jânio Quadros era perito na arte de se fazer surpreso. Perguntado por Leon Eliachar, o humorista, qual era seu slogan : 50 anos em 5 ou 5 anos em 60 ? Jânio responde : "50 anos em 5, mais o pagamento dos atrasados". O truque de mudar as palavras é comum. Ao político se pergunta : "o senhor vai dizer tudo o que sabe aos procuradores ?" Resposta : "quem diz a verdade, tem tudo a seu favor. Quem não deve, não teme". O truque de deturpar as palavras é usual. "O sr. acredita que o relatório da Petrobras vai absolvê-lo ?" Possível resposta : "o relatório pode ser uma peça de condenação ou de inocência. Quem me condena é a imprensa, não a petrolífera".