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Porandubas nº 586

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Atualizado às 07:59

Abro a coluna com o magistral Padre Vieira.

Um truque

O Padre Antônio Vieira, o célebre pregador, escritor, político e diplomata jesuíta, subindo certa vez ao púlpito, iniciou estranhamente o seu sermão exclamando:

- Maldito seja o Pai!... Maldito seja o Filho!... Maldito seja o Espírito Santo!...

E quando a assistência, horrorizada, pensava que o grande orador houvesse enlouquecido, ele tranquilamente prosseguiu:

- Essas, meus irmãos, são as palavras e as frases que se ouvem com mais frequência nas profundezas do inferno.

Houve um suspiro de alívio no templo, mas com esse recurso teve Vieira despertada e presa a atenção dos fiéis como poucas vezes, por outra via, houvera conseguido.

Bolsonariando

A onda Bolsonaro continua forte. Agora, não são apenas eleitores das margens que expressam voto no capitão. Até empresários de calibre estão anunciando que nele votarão. Pelo andar da carruagem, a bolsonarização do país é fruto do estado de violência e da bagunça que toma conta do país. A crônica da morte violenta se expande pelo território, a denotar o avanço da criminalidade. No Rio de Janeiro, a guerra das gangues assume proporções fantásticas. O próprio Jair Bolsonaro aparece em vídeos que mostram membros de grupos criminais agindo nas ruas. E ele no papel de xerife.

Fatores do voto

O voto do grupo que ainda não sabe em quem votar e os indecisos fazem a maioria do eleitorado de 147 milhões de eleitores. Esses contingentes vão decidir mais tarde. Mas serão influenciados por um conjunto de fatores, a saber: a) o estado da economia (equação BO+BA+CO+CA - Bolso, Barriga, Coração, Cabeça; b) o discurso da ordem contra a violência e a bagunça; c) as demandas mais prementes (saúde, emprego, educação, etc.); d) a esperança encarnada pelo perfil; e) o recall do passado (lembrança do candidato); f) a taxa de indignação contra os políticos; g) a proximidade do candidato; h) o tempo de exposição do candidato na mídia eleitoral e i) a maneira de apresentação/modo de falar (discurso estético).

Quatro blocos

Os 13 candidatos podem ser agrupados em quatro (4) blocos: 1) centro e centro direita - Alckmin, Álvaro Dias, Meirelles, Amoedo e Eymael; 2) centro e centro esquerda - Ciro, Marina e Goulart Filho; 3) Direita - Bolsonaro e Cabo Daciolo; e 4) Esquerda - Boulos, Lula (Haddad) e Vera Lúcia. No arco ideológico, esses blocos ganham as seguintes percentagens: direita, 30%; esquerda, 30%; centros (esquerda e direita), 40%.

Votos regionais

Se fatiarmos o Brasil nas cinco regiões, poderemos ver essa divisão: a) Sudeste tem 43,38% dos votos ou 63.902.486; Nordeste agrega 26,62% dos votos, significando 39.222.155; Sul possui 14,52% dos votos, com 21.396.027; Norte tem 7,83% dos votos, com 11.533.833; Centro-Oeste agrupa 7,29% dos votos, com 10.747.115 dos votos; e exterior, 0,35% dos votantes, com 500.728 eleitores.

Tipologia

Tentando decifrar a natureza desses votantes, podemos, regra geral, estabelecer algumas distinções, a saber: a) o voto do Sudeste é mais racional, independente, mas as margens sociais também tendem a dar um voto populista/messiânico; b) o voto das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste é mais conservador, ainda contendo alta taxa de votos de cabresto, a par do tradicional voto em salvadores da Pátria, portanto, de fundo emotivo; c) Já o voto do Sul tem um cunho mais regional/nacionalista, a par do voto racional.

Profissionais liberais

Estamos vivenciando o I Ciclo da Campanha, com o início da presença de candidatos nas ruas. Esta será uma típica campanha de articulação com a sociedade organizada, eis que as massas estão dispersas e ainda sem rumo a tomar. Daí emerge a força do contingente de profissionais liberais e das entidades a que são associados. Esse grupo é, por excelência, o que melhor toca a tuba de ressonância. Seu som chega aos redutos mais longínquos. As classes médias fazem repercutir seu discurso para cima e para baixo da pirâmide social. Formam a pedra que bate no meio do lago, fazendo com que as marolas cheguem até às margens.

Os militantes

A militância organizada ou profissional, como as do PT, CUT e MST, terá nessa campanha importância vital. O bumbo que tocará tem o dom de energizar ambientes e plateias. Teremos os bumbos da esquerda e da direita. Os candidatos do centro contarão com tambores mais fracos, que não têm o poder de mobilização quanto alas dos extremos do arco ideológico.

Minas Gerais

O Estado de Minas Gerais é uma grande representação do Brasil. Abarca o segundo maior eleitorado brasileiro, mais de 16 milhões de eleitores. Ali, PT e PSDB entrarão em forte confronto. O que acontecer no largo espaço das Minas Gerais tende a acontecer no país. Fernando Pimentel, do PT, ganhará do senador Antônio Anastasia, do PSDB? O que se sabe é que Dilma Rousseff está liderando a corrida para o Senado. Anastasia parece ter condições de levar a melhor na esteira de denúncias que sujam a imagem do governador Pimentel. Aécio, também de imagem suja, será candidato a deputado.

A estratégia do PT

Ao arrastar a candidatura de Lula até quando der (prazo fatal será 17 de setembro), o PT enfrenta riscos. Poderá não haver tempo suficiente para a visibilidade nacional do vice de Lula, Fernando Haddad, que, isolado, tem hoje 2%. Quando indicado por Lula, sobe para 12%. E se essa indicação não for tão percebida pelo eleitor? Jaques Wagner, candidato do PT ao Senado pela Bahia, tem razão. O PT cometerá a barbaridade de apostar no candidato Lula, quando todos os sinais mostram que ele será jogado na inelegibilidade da lei de Ficha Limpa.

Renovação

10% dos deputados Federais vão ter seus nomes substituídos por familiares: filhos, pais, primos, sobrinhos, etc. A tão proclamada renovação não aparecerá na próxima legislatura. Os mais conhecidos e os mais providos financeiramente serão os beneficiados na onda de uma campanha mais curta - 45 dias de rua e 35 dias de mídia eleitoral.

Governabilidade

Haverá governabilidade caso um perfil de índole muito radical chegue ao poder central? Sim. Porque quem ganha a presidência da República logo se afastará da extremidade para pular na condição de viabilidade governativa garantida pela real politik. Ou seja, fará alianças com Deus e o Diabo. O passado bombástico irá para o baú. Se não fizer isso, qualquer que seja o eleito, ao escorregar em casca de banana, poderá ser impichado.

Militares na política

A campanha eleitoral deste ano reunirá o maior número de candidatos militares dos tempos de redemocratização: 90. Chama a atenção a quantidade de convocados para compor chapas majoritárias aos governos estaduais. Em São Paulo, duas tenentes coronéis comporão como vices as chapas do governador Márcio França (PSB) e do presidente licenciado da FIESP, Paulo Skaf (MDB). No Paraná, a governadora Cida Borghetti (PP) terá como vice um coronel aposentado da PM.

O significado

Qual a razão? O ambiente de deterioração que acolhe a esfera política. A lama da corrupção tem escorrido sobre os vãos e desvãos da República, afogando protagonistas da política, da burocracia estatal e do mundo dos negócios privados. O mensalão e o petrolão (Lava Jato) compõem as duas grandes operações que, ao correr de meses, ganharam espaços midiáticos, plasmando a imagem destroçada de representantes, governantes, executivos e empresários. Pôr ordem na bagunça que virou o Brasil de ponta-cabeça, eis o apelo embutido no chamamento aos militares. Assumem conotação de profissionais sérios, de vida pacata na caserna e corajosa no cotidiano nas ruas, combatendo máfias criminosas, ainda mais quando a violência se expande nas cidades e nas áreas rurais.

É o que explica Bolsonaro

Deputado alvejado de críticas ao longo de 30 anos de mandato, conhecido por frases fortes, algumas de caráter machista, homofóbico e xenófobo, Bolsonaro não frequentava o ranking de representantes respeitados. Foi catapultado ao andar de cima do protagonismo eleitoral na esteira do clamor social por limpeza na política. De repente, o acervo discursivo do capitão, considerado folclórico e de baixo nível, passou a ganhar aplausos de todos os lados.

A malandragem

O general Mourão, vice de Bolsonaro, atribuiu aos negros a pitada de "malandragem" na cultura brasileira. General, malandro teria sido o colonizador Pero Vaz de Caminha. Veja o finalzinho da Carta de Pero Vaz a El Rei de Portugal.

"E nesta maneira, Senhor, dou aqui a Vossa Alteza conta do que nesta terra vi. E, se algum pouco me alonguei, Ela me perdoe, pois o desejo que tinha de tudo vos dizer, mo fez por assim pelo miúdo. E pois que, Senhor, é certo que, assim neste cargo que levo, como em outra qualquer coisa que de Vosso serviço for, Vossa Alteza há de ser de mim muito bem servida, a Ela peço que, por me fazer graça especial, mande vir da Ilha de São Tomé Jorge de Osório, meu genro - o que dela receberei em muita mercê." E conclui Caminha: "Beijo as mãos de Vossa Alteza. Deste Porto Seguro de Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500. Pero Vaz de Caminha".

Um pedido aqui, um oba-oba acolá e tome bajulação.