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Porandubas nº 714

quarta-feira, 5 de maio de 2021

Atualizado às 08:20

Abro com o meu RN.

"Da casa do cacete"

No primeiro mandato de Garibaldi Filho como governador deu-se a largada dos projetos de recursos hídricos, com as adutoras que se tornaram marca registrada do seu governo. Em Pau dos Ferros, na inauguração oficial, Garibaldi foi cobrado de público pelo abastecimento d'água da cidade. Sem se afobar, como é do seu hábito, o governador pegou carona na cobrança popular com indisfarçável irritação: "Vou botar água em Pau dos Ferros nem que a água venha da casa...". Aí parou. Sentindo que não podia ir além, repetiu a frase: "Já autorizei Rômulo Macêdo a elaborar o projeto e vou botar água em Pau dos Ferros nem que a água venha da casa do...". Parou de novo. Populares de raciocínio apressado completaram: "Da casa do cacete...". O orador foi sutil e perspicaz: "Eu não queria dizer essa palavra...". Risos gerais. "Gari" guardara a postura e conseguiu o resultado.

(História contada pelo espirituoso escritor e acadêmico da ANRL (Associação norte-rio-grandense de Letras, Valério Mesquita).

  • Panorama

Pandemia

Tudo como d'antes no quartel d'Abrantes. A CPI começou e as primeiras oitivas se comportam como o previsível. O barulho ainda não ensurdece. O governo tem minoria na Comissão. Independentes e opositores somariam sete, governistas, quatro. Mas o governo conta com sua artilharia pesada, menos falas de seu grupo e mais cargos. Daqui a um mês, será possível a regularização da remessa de vacinas. E o passado transformar-se-á em nuvem fugidia. Arthur Lira e Rodrigo Pacheco não teriam disposição para abrir um processo de impeachment se o relatório final da CPI apontar para este caminho.

Ruas

Convém ouvir o murmúrio das ruas. No 1º de maio, as ruas de diversas cidades foram ocupadas por militantes bolsonaristas. Com todas as imperícias e falas desastradas do mandatário-mor, não se pode fechar os olhos para sua militância, algo em torno de 25%. Quem viu as maiores manifestações da história do Brasil, como alguns torcedores fanáticos do bolsonarismo fizeram questão de dizer a este analista, estava com os olhos embaçados. Tinha bastante gente na avenida Paulista, algo como três quarteirões cheios. Mas o chutômetro costuma aparecer jogando a bola para o teto ou para as laterais. Temos, geralmente, três faixas de números: uma da PM, outra dos organizadores (ONGs, movimentos) e Institutos de Pesquisa.

Cálculos

Usando imagens de satélite, pesquisadores e medições, o Instituto Datafolha apura que a av. Paulista tem 136.000 metros quadrados disponíveis para a concentração de pessoas, incluindo calçadas, canteiro central e vias, vão livre do MASP e até espaços dos túneis. Para comportar 1 milhão de pessoas, a Paulista deveria abrigar concentração de 7,5 pessoas por metro quadrado ao longo de toda a área disponível. Coisa inviável. Nos horários de pico do metrô, a concentração nos vagões é algo entre 6 e 7 pessoas por metro quadrado. Para abrigar 1 milhão, deveriam os estatísticos dos eventos na Paulista considerar toda a extensão da avenida da Consolação e 7 pessoas por metro quadrado. Geralmente, esse número oscila entre 3 e 5.

Nos EUA

Para aperfeiçoar a contagem e reduzir a margem de erro, o arquiteto Curt Westergard, fundador da empresa Digital Design and Imaging Service (DDIS), desenvolveu, segundo a Veja, uma nova metodologia. A emissora CBS News contratou a empresa para estimar o número de pessoas que se reuniu em uma manifestação organizada por um apresentador da Fox News e em outra coordenada por comediantes. No primeiro evento, os organizadores anunciaram 500.000 pessoas; Westergard e sua equipe contaram 87.000, com uma margem de erro de 9.000 pessoas para mais ou menos. Na segunda manifestação, visivelmente mais numerosa, um dos comediantes brincou que havia 10 milhões de pessoas; mas a DDIS contou 250.000, com uma margem de erro de 10%. Em suma, o chutômetro fica por conta dos torcedores a favor e contra.

Sudeste mais Nordeste

Tem sido assim nas últimas décadas. Os eventuais candidatos presidenciáveis procuram arrumar suas chapas com a tentativa de inserir perfis a vice com visibilidade e domínio político em duas regiões: Sudeste e Nordeste. Apenas São Paulo tem 46 milhões de votos, com Minas Gerais, em segundo lugar, com cerca de 17 milhões e o Rio de Janeiro, com 12 milhões. O Nordeste soma mais de 27% dos votos. Nessa região o favoritismo de Lula já foi maior. O porcentual de intenções de voto no petista representa uma perda na fatia do eleitorado de 2020 até agora. Em maio do ano passado, por exemplo, o ex-presidente tinha ali 38,4%. No mesmo período, Bolsonaro avançou de 16,6% para 26,8%.

Nomes

O PSDB tem três nomes para disputar prévias: Tasso Jereissati, João Doria e Eduardo Leite. Tasso começa a ser chamado de "Biden brasileiro". Seria um nome forte para mobilizar o Nordeste. Caso escolhido, seu vice seria naturalmente da região Sudeste. Já se o candidato for o governador de São Paulo, João Doria, inverte-se: o vice deveria ser do Nordeste. A região Sul tem a terceira posição no ranking eleitoral. Leite, escolhido candidato, deveria compor com um nome do Sudeste ou do Nordeste. Mais especulação: Minas Gerais, desde a morte de Tancredo, crê que o Brasil lhe deve um tributo, a vaga que perdeu. Dilma, mesmo tendo nascida em Minas, não é considerada como tal para efeitos de composição política. Cheguemos ao Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, boa pinta, boa expressão, perfil moderado. Vai depender de sua atuação no comando da Câmara Alta. Escolhido, puxaria um bom nome do Nordeste ou mesmo de São Paulo, um leite com café retemperado.

E Bolsonaro, hein?

Com o vice Mourão praticamente descartado de sua chapa, Jair Bolsonaro teria de escolher um político com o pé no Nordeste ou mesmo em São Paulo para enfrentar os adversários. De pronto, deve excluir a possibilidade de mais um militar compondo sua chapa. A não ser que decidisse "engrossar o caldo" e "remilitarizar" o governo com novas levas de quadros das Forças Armadas. Para aliviar a identidade pesada, um bom nome deveria agregar valores como renovação, assepsia política, respeitabilidade, inserção nas camadas jovens, visão avançada, empreendedorismo.

Alckmin e França

Acabo de receber de Murilo Hidalgo a pesquisa do Paraná Pesquisas, dando Geraldo Alckmin (PSDB) e Márcio França (PSB) como líderes na disputa para o governo de São Paulo em outubro de 2022. No principal cenário, Alckmin tem 19,9% das intenções de voto contra 15,4% de França. Tecnicamente empatados. Fernando Haddad (PT) tem 13,4% e Guilherme Boulos (PSOL) soma 11,4%, também ambos empatados. Paulo Skaf, por enquanto ainda no MDB, tem 10,2%. Rodrigo Garcia (DEM), atual vice-governador, tem 3,1% e o deputado estadual Arthur do Val (Patriota), Mamãe Falei, tem 6,4%. Skaf, pelo que se comenta, gostaria de ser o candidato bolsonarista em São Paulo.

Bolsonaro

Segundo a pesquisa, Bolsonaro lidera a eleição em SP, mas 49,4% desaprovam o seu governo. Presidente aparece com 32% das intenções de voto contra 23,7% do ex-presidente Lula em levantamento feito no estado pelo Instituto.

Bruno Covas

O prefeito de São Paulo, o tucano Bruno Covas, enfrenta com firmeza e disposição o câncer que o ataca. Tirou licença de 30 dias. O prefeito interino Ricardo Nunes (MDB) cumprirá a agenda de Bruno. Nossos votos de plena recuperação ao prefeito. Um homem de coragem como seu avô, Mário Covas.

Aécio recuperando

Aécio Neves, passo a passo, recupera sua capacidade de articulação nos bastidores da política. Voltará ao palco principal.

Hauly

Um destemido, resiliente e respeitado tributarista, o ex-deputado Luiz Carlos Hauly. O Brasil muito deve a ele pelo esforço que vem fazendo para lapidar a reforma tributária.

BO+BA+CO+CA

Minha velha equação Bolso, Barriga, Coração, Cabeça, aguarda com muita expectativa os próximos tempos. A classe média C caiu de posição e adentra na D. Auxílio Emergencial, Bolsa Família e que tais estão de olho nos governos e na burocracia, que impede rapidez no acesso aos parcos recursos. Tempos pandêmicos, barriga roncando. Ainda bem que a solidariedade brasileira se faz presente na seara das doações de alimentos.

Catacumbas do desperdício

Jogamos fora 50% dos alimentos produzidos (perda estimada em R$ 15 bilhões anuais, o que daria para alimentar 30 milhões de pessoas), 40% da água distribuída, 30% da energia elétrica. Os cálculos foram feitos pelo professor de Engenharia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro José Abrantes, autor do livro Brasil, o País dos Desperdícios. Há simplesmente um bom pedaço do PIB desperdiçado, ou seja, jogam-se no lixo R$ 4,0 trilhões. Se a montanha de riquezas perdidas pudesse ser preservada, o país estaria, há tempos, no ranking das potências.

Res privada

A que se deve isso? Primeiro, a uma cultura política plasmada no patrimonialismo, assim explicada: a res publica é entendida como coisa nossa, o dinheiro dos cofres do Tesouro tem fundo infinito, o Estado é um ente criado para garantir nosso alimento e bem-estar. O jeito perdulário de ser do brasileiro começa, portanto, com a visão do Estado-mãe, providencial e protetor, no seio do qual se abrigam a ambição das elites políticas e o utilitarismo de oportunistas. O (mau) exemplo dado pelos faraós do topo da pirâmide acaba descendo pelas camadas abaixo, na esteira do ditado "ou restaure-se a moralidade ou nos locupletemos", que uns atribuem a Stanislaw Ponte Preta e outros ao Barão de Itararé.

Municipalização x nacionalização das campanhas?

Questões que florescerão no jardim do Marketing Eleitoral: campanhas próximas serão municipalizadas ou tenderão a receber inputs federais? Micropolítica - política das pequenas coisas - ou macropolítica, temáticas abrangentes? O discurso da forma (estética) suplantará o discurso semântico? Campanhas privilegiarão pequenas ou grandes concentrações? Qual é o papel das entidades de intermediação social (associações, movimentos, sindicatos, federações, clubes, etc.)? Telegráficas respostas: 1) Ambiente geral - estado geral de satisfação/insatisfação - adentra esfera regional/local (temas locais darão o tom, mas a temperatura ambiental será sentida); 2) Micropolítica, escopo que diz respeito ao bolso e a saúde, estará no centro dos debates; 3) O discurso semântico - propostas concretas e viáveis - suplantará a cosmética; 4) Pequenas concentrações, em série, gerarão mais efeito que grandes concentrações; 5) Organizações sociais mobilizarão eleitorado.

Lições táticas

As lições de táticas e estratégias dos clássicos da política e das guerras parecem não merecer nenhuma consideração por parte de nosso presidente. Lembremos conselhos de Sun Tzu:

a) "Quando em região difícil, não acampe. Em regiões onde se cruzam boas estradas, una-se aos seus aliados. Não se demore em posições perigosamente isoladas. Em situação de cerco, deve recorrer a estratagemas. Numa posição desesperada, deve lutar. Há estradas que não devem ser percorridas e cidades que não devem ser sitiadas".

b) "Não marche, a não ser que veja alguma vantagem; não use suas tropas, a menos que haja alguma coisa a ser ganha; não lute, a menos que a posição seja crítica. Nenhum dirigente deve colocar tropas em campo apenas para satisfazer seu humor; nenhum general deve travar uma batalha apenas para se vangloriar. A ira pode, no devido tempo, transformar-se em alegria; o aborrecimento pode ser seguido de contentamento. Porém, um reino que tenha sido destruído jamais poderá tornar a existir, nem os mortos podem ser ressuscitados".

Para a cidade inteira

Volte sua atenção para a cidade inteira, todas as associações, todos os distritos e bairros. Se você atrair à sua amizade seus líderes, facilmente vai ter nas mãos, graças a eles, a multidão restante. (Cícero - Manual do candidato às eleições, 34 A.C.)

Defesa e ataque

"A invencibilidade está na defesa; a possibilidade de vitória, no ataque. Quem se defende mostra que sua força é inadequada; quem ataca, mostra que ela é abundante". (Sun Tzu)

Sinal de derrota

"O maior sinal da derrota é quando já não se crê na vitória". (Montecuccoli)