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Porandubas nº 721

quarta-feira, 23 de junho de 2021

Atualizado às 08:17

Dois "causos" hilários, antes da leitura da conjuntura.

Deu-se o vice-versa

Dr. Dantinhas, deputado da Bahia, elo de todo um clã político do Estado (neto do barão de Geremoabo), foi convidado para padrinho de casamento da filha de um coronel do sertão. No dia de viajar, recebeu telegrama:

- Compadre, não precisa vir. Deu-se o vice-versa. Menina morreu.

Puxa-sacos

Tempos eleitorais. Tempos de fidelidade e infidelidade. Guararé era cabo eleitoral do governador Sebastião Archer, do Maranhão. Convenção do PSD, alguém acusou Guararé de puxa-saco. Guararé argumentou:

- Cada um puxa quem pode. Eu puxo o senhor, governador Archer. O senhor já puxa o senador Vitorino Freire. E o senador puxa o general Dutra. É a lei da fidelidade partidária.

Tópicos sobre a conjuntura

Canalhas

O encontro do presidente Jair com jornalistas, anteontem, em Guaratinguetá/SP, mostrou o capitão nervoso e virulento. Mandou uma jornalista calar a boca, chamou outros de canalhas, fazem um jornalismo porco, atirando na CNN e na TV Globo. A postura presidencial, mesmo que não cause surpresas, sabendo-se como usa a linguagem, chamou a atenção em razão da indignação ter como motivo a manifestação contra ele no sábado último. Bolsonaro ainda tirou a máscara quando falava e arrematou dizendo que o "nove dedos" só ganhará dele em outubro de 2022 se houver fraude.

Por antecipação?

A campanha está nas ruas. Mas nem Bolsonaro nem qualquer analista, por mais arguto que seja, podem dizer quem ganhará o pleito. Veremos muita água a correr por baixo da ponte até outubro do próximo ano. Bolsonaro quer o voto impresso, quando se sabe que esta modalidade favorece fraudes. E sinaliza com uma convulsão social se a comprovação impressa do voto não for aprovada. A Câmara votará nos próximos dias o processo. Pelo que se infere das extravagâncias do mandatário-mor, ele tenta desenhar um cenário de fraudes para tentar reverter o impacto de eventual derrota. P.S. Lembre-se que ele esbravejou contra "fraude" na eleição de 2018, garantindo que ganhou no primeiro turno. A propósito, o corregedor do TSE, ministro Luiz Felipe Salomão, acaba de estipular o prazo de 15 dias para que Bolsonaro apresente provas da fraude.

Condições

Como tenho exaustivamente descrito, a vitória do atual comandante do país dependerá da economia saudável + bolsas e auxílios emergenciais + vacinação em massa da população + garantia de equilíbrio, credibilidade e segurança. Imagem de que poderá virar a mesa causará medo. A economia saudável, por exemplo, é uma variável com raízes na conjuntura internacional. A quantas andará a inflação? E o nosso PIB? O país receberá afluxo de investimentos?

Candidatos de Bolsonaro

Há um grupo, a cada dia ganhando mais corpo, que tentará se abrigar na sombra de Bolsonaro para enfrentar a tempestade eleitoral. E o próprio presidente acredita que sua sombra é como tiro e queda: quem ficar sob sua proteção, chegará ao paraíso. Pura ilusão. O eleitorado de um pleito costuma não repetir o modelo anterior. Se o presidente imagina que tudo será como 2018, quando uma leva de figurantes chegou ao pódio graças a ele, engana-se. Mesmo que consiga vencer - o quadro será bem mais difícil pela vacina ética que oxigena os eleitores - não se repetirá a situação. Tarefa das mais difíceis será eleger um candidato tirado do bolso do colete.

A mosca azul

A nota acima é um lembrete aos atuais ministros e assessores: cuidado com a mosca azul.

Salles

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, é persona non grata na paisagem ambiental das Nações. É designado "ministro do desmatamento". Nas redes, o humor: há uma nova dupla caipira no mercado musical, Mata e Desmata. Bolsonaro e Salles.

Luz 15% mais cara

A crise hídrica apertará o bolso, a partir de julho, com um aumento em torno de 15% nas contas. Bandeira vermelha. Aperto no bolso, barriga roncando.

Covax, 1000%

A vacina da Covax foi comprada a um preço 1000% mais alto do que o anunciado pela própria fabricante, Bharat Biotech, seis meses antes da aquisição. De US$ 1,34 a dose, o Ministério da Saúde a adquiriu por US$ 15 por unidade. Teve intermediário. E processo acelerado.

Sonhos que se vão....

Sonhos que se esfumaçam sob o empuxo das crises sanitária e econômica. Dado de arrepiar: quase metade dos jovens brasileiros entre 15 e 29 anos (47%) pensa em sair do país para ter estabilidade e melhores condições de vida. É o que escancara a pesquisa Atlas das Juventudes da FGV Social. A maioria não pertence à classe média alta que vai para o exterior fazer intercâmbio, cursar um MBA ou garantir um diploma internacional de mestrado. Muitos dos jovens estão à procura de uma vaga de trabalho há mais de um ano e acreditam que no exterior é possível juntar dinheiro, conseguir a casa própria, um carro e ter condições financeiras para viajar e comer fora de casa.

A autoestima se esvanece

É triste constatar que a autoestima dos brasileiros está em um dos níveis mais baixos de toda a história. As populações aflitas rogam aos céus. O conceito de Pátria se esvanece. O que vemos não é o anelo comum, a união de ideais, a comunhão da coletividade na mesa da harmonia, da satisfação, das expectativas atendidas, da felicidade. A Nação, que é a congregação de valores, dá lugar ao território, o espaço físico que se torna mero habitat, onde a barbárie se instala e se estende, sob a forma da banalidade da morte, dos milhões de seres que vivem na extrema pobreza, da má gestão da coisa pública, dos precários serviços do Estado, da irresponsabilidade dos governantes. Tristeza e angústia enchem os corações.

Em São Paulo

No Estado mais poderoso da Federação, mais de um milhão de famílias vivem na condição de extrema pobreza.

Bolsonaro na CPI

O vice-presidente da CPI da Covid-19, senador Randolfe Rodrigues (Rede Sustentabilidade-AP), diz que o presidente Jair Bolsonaro será preso. O relator, senador Renan Calheiros(MDB-AL), anuncia que vai tentar inserir o presidente no rol dos depoentes. As duas sinalizações podem dar com os burros n'água. Bolsonaro se mostra um rebelde contra as normas. Como sempre lembra, faz o que quer, vai aonde quiser.

O nó górdio e o ovo de Colombo

Se a paisagem política fosse outra, as alternativas poderiam ser as mesmas que Alexandre, o Grande, e Cristóvão Colombo, escolheram para suas manobras. O oráculo prognosticara que o guerreiro que conseguisse desatar o nó que atava o jugo à lança do carro de Górdio, rei da Frígia, dominaria a Ásia. Muitos tentaram. Desistiram. Alexandre Magno, a quem também foi posto o desafio, tinha duas opções: desfazer o nó, corda a corda, ou cortá-lo com a espada. Foi o que fez. Num lance rápido, cortou o nó. Cristóvão Colombo não ficou horas tentando equilibrar o ovo em posição vertical, que era o desafio imposto. Muitos tentaram e não conseguiram. Colombo chegou, olhou, pensou. Com uma batida na extremidade mais larga, pumba, o ovo fixou-se sobre a mesa. Alexandre e Cristóvão exibiram a capacidade de antever possibilidades, quando a maioria das pessoas só enxerga restrições. Se as circunstâncias políticas assim o permitissem - derrocada da economia, falta de apoio congressual, bombas reveladas pela CPI da Covid - o nó górdio e o ovo seriam o impeachment. Este analista não acredita nesta hipótese. A não ser que o Brasil inteiro fosse para as ruas. Alternativa também complicada. O capitão tem por volta de 25% do eleitorado hoje.

A ponderabilidade

O território da ponderabilidade é vasto. Abriga tudo o que é provável ocorrer, numa escala que abriga situações com forte, média ou tênue previsibilidade. Veja-se o caso das vacinas. Mesmo com a comprovação de delitos, irresponsabilidade, compras superfaturadas, o ambiente político tende a amainar a situação dos implicados. Haverá manifestações de ruas nos próximos tempos? É bem possível, tendo em vista a estampa de indignação e a crescente participação de grupos militantes com interesse em antecipar a campanha eleitoral. A inflação poderá enervar os consumidores da cesta básica e contribuir para a desestabilização eleitoral? Se subir muito, sem dúvida. E uma virada de mesa? Golpe? Ah, coisa bem mais complexa. Terreno da imponderabilidade.

Fecho com um pouco de humor.

Farta feição

José Aparecido chegou à sua Conceição do Mato Dentro/MG, começou a romaria dos amigos. Entrou um coronel, mansos passos e chapéu na mão:

- Bom dia, doutor. Boa viagem?

- Boa. Como vão as coisas?

- Tudo correndo como de costume. Novidade aqui nunca tem e lá pra fora não sei, porque minha televisão está defeituada.

- O que é que aconteceu com ela?

- Não sei não. Às vez, farta prosa, às vez, farta feição.

(José Aparecido foi deputado Federal, ministro da Cultura, governador de Brasília e embaixador em Portugal. Excepcional figura).