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Porandubas nº 729

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Atualizado às 09:20

Abro a coluna com o mestre Inrique...

I.N.R.I. - Iesus Nazarenus Rex Iudaeorum

Conta Leonardo Mota que o mestre Henrique era reputado marceneiro nos sertões de Sergipe. Sua especialidade estava nas camas francesas à Luís Quinze. Quando o freguês achava que o leito era baixo, recebia a explicação de que a cama era francesa, mas era à Luís Quatorze; se se queixava da excessiva altura, ficava sabendo que aquilo era cama francesa à Luís Dezesseis... O mestre Henrique pôs toda a sua ciência no Cruzeiro do patamar da igreja de Aquidabã. No topo do sagrado madeiro, o vigário da freguesia fizera o mestre Henrique colocar uma tabuinha com as letras I.N.R.I., iniciais de Jesus Nazareno Rei dos Judeus, a irônica inscrição latina de que a ruindade de Pilatos se lembrara na ignominiosa sentença de morte do filho de Deus. Decorrido algum tempo, um sertanejo sergipano, intrigado com a significação daquelas quatro letras, perguntou a um seu conhecido:

- Que é que quererá dizer aquele negócio de INRI, que tem escrito em riba do Cruzeiro?

- Você não sabe não? Ali falta é o Q-U-E. Esse QUE não cabeu na tabuinha: aquilo é a assinatura de quem fez, que foi o mestre INRIque...

Voltando à observação do cenário

Acirramento

Ao contrário do que muitos analistas enxergam, este escriba não vê o quadro político-institucional bem posicionado na paisagem. Há uma intenção manifesta de que "vamos todos torcer pela harmonia, sustentando a ideia de que tudo d'antes no quartel d'Abrantes". Pois vejo certa movimentação em quartéis de polícias militares, inclusive com o afastamento daquele coronel que manifestou intenção de botar o bloco nas ruas em 7 de setembro. Foi afastado por João Doria, Mas o coronel insiste em comparecer.

Praças divididas

Os blocos de apoio à Bolsonaro, que haviam feito pedido antes, irão à avenida Paulista no dia 7 de setembro. Caravanas de muitas cidades do interior. Muitas faixas contra o Judiciário, mas os blocos de oposição poderão usar a 9 de Julho, segundo decisão da Justiça, que tem fama de juntar massa, sem o impacto, porém, do cartão postal da Paulista. Na comparação, os favoráveis ao governo ganharão. Foram mais organizados, mobilizados, e contam com a palavra de ordem de Bolsonaro. Hora de dar um xeque (não mate) em algumas entidades, promete Bolsonaro.

Juízes convencidos

Os ministros do STF, um a um, parecem convencidos de que "daquela mata não sairá coelho". Bolsonaro não mudará. É o que é. Sem enfeite de bolo. Não adiantará esperar palavras de bom senso, harmonia, unido. A tensão interessa ao governo. Mantém o plantel do judiciário no cabresto curto. Só que alguns juízes não aceitam ser tratados como figurantes de terceira classe. A depender do plenário, o jogo será jogado conforme os espaços de cada guerreiro no tabuleiro.

CPI da pandemia

Pelo jeito com que dispara verbos e adjetivos, o presidente dá indicações de que não dará bola à CPI da Covid-19. Chutará de lado. Bolsonaro tem certeza de a costura que fez com os costureiros do Centrão foi com linha de aço. Não verga. Nem rompe. A conferir. Os relatórios - o oficial e o do governo - são duas retas que se encontrarão no infinito.

A nota da Fiesp

A Fiesp produziu uma nota que criou polêmica. Até sexta feira, Paulo Skaf prometeu divulgá-la. Ocorrem reações. Os bancos oficiais caíram fora. A nota pedia união entre os Poderes. Skaf tentou costurar o texto de forma a abrandá-lo. E sair bem na parceria com Bolsonaro. Mas as desavenças emergiram. Ficou uma colcha de retalhos. O agrobusiness saiu com uma versão. A Febraban jogou Paulo Guedes numa rede furada. A nota tinha mais de 300 entidades apoiadoras.

A íntegra

*Serenidade, Diálogo e Ações*

As entidades signatárias deste documento veem com grande preocupação a escalada de tensões entre autoridades públicas, o que coloca em risco um dos pressupostos para a funcionalidade da democracia: a harmonia entre os poderes da República.

Esse quadro de hostilidade gera incerteza e graves problemas econômicos, como a perda de renda e o desemprego de milhões de brasileiros. Por isso, a sociedade civil anseia e o momento exige de todos serenidade, diálogo, pacificação política, estabilidade institucional e, sobretudo, foco em ações e medidas urgentes e necessárias para que o país ultrapasse, de forma duradoura, os desafios hoje postos à recuperação da economia e à superação das carências sociais que atingem amplos segmentos da população.

Para o fortalecimento da democracia, é imprescindível que cada ocupante de cargo público, que desempenhe os papéis da mais alta relevância e responsabilidade sobre os destinos do país, aja com racionalidade para distensionar o ambiente político e dissipar incertezas quanto à nossa capacidade de, mesmo nas diferenças, conduzirmos adequadamente as questões do presente, resgatando expectativas quanto ao nosso futuro.

Um truque do Padre Vieira

O Padre Antônio Vieira, o célebre pregador, escritor, político e diplomata jesuíta, subindo certa vez ao púlpito, iniciou estranhamente o seu sermão exclamando:

- Maldito seja o Pai!... Maldito seja o Filho!... Maldito seja o Espírito Santo!...

E quando a assistência, horrorizada, pensava que o grande orador houvesse enlouquecido, ele tranquilamente prosseguiu:

- Essas, meus irmãos, são as palavras e as frases que se ouvem com mais frequência nas profundezas do inferno.

Houve um suspiro de alívio no templo, mas com esse recurso teve Vieira despertada e presa a atenção dos fieis como poucas vezes, por outra via, houvera conseguido.

(Narrado por Luis Costa em Leia Comigo)

Democracia participativa

Podemos enxergar, nos horizontes, maior afluxo de pessoas às manifestações públicas, a desnotar maior dinamismo dos nossos canais de democracia participativa. De tanto sofrer experiências e vivenciar situações conflituosas, acabaremos modelando o nosso sistema democrático.

O périplo de Lula

Acabamos de ver o périplo de Lula por alguns Estados do Nordeste. Menor impacto do que o previsto. Lula pouco apareceu de público. Fez articulação, sondagens, passou o seu termômetro para ver a febre lulista na região. Levou muitas camisas vermelhas, pouco as usou. Maneira de Lula sentir a barra. Ainda carreia grande prestígio, mas não é o Lula de antigamente. Impressão deste analista: Lula procura um candidato de centro-esquerda. Para ser o polo convergente de amplas fatias do arco ideológico. Lula não se sente bem ao atravessar novamente o calvário dos processos que correm contra ele na 1ª instância de Brasília. Tudo deve recomeçar. Seria um pano de fundo que Lula não gostaria mais de ver. Procura-se um perfil. Quem o encontrar, apresentá-lo a dom Luiz Inácio Lula.

Thackhotine (Introdução à mistificação das massas pela propaganda política)

Para legitimar suas conquistas, os ditadores sustentaram, seguidamente, que elas eram efetuadas, quase sempre, pacificamente, ou, pelo menos, sem emprego de violência física. Isso não é verdade senão na aparência: a ausência da guerra não impede o emprego de uma violência não menos real, é a violência psíquica.

A ameaça - os discursos de Hitler - associada à visão da arma mortífera - a mobilização do exército alemão - eis a fórmula exata, segundo a qual os ditadores modernos exercem a violência psíquica. Foi precisamente isso o que se passou, por exemplo, na Europa, em setembro de 1938, e que levou as velhas democracias à capitulação, em Munich.

"Construímos um armamento tal que o mundo jamais viu - posso agora confessar abertamente".

"Em cinco anos, eu me armei efetivamente. Gastei milhões e equipei tropas com as armas mais modernas".

"Temos os melhores aviões, os melhores tanques..."

São frases do discurso do chanceler Hitler, no Palácio dos Esportes, em Berlim, em 27 de setembro de 1938, discurso dirigido ao mundo inteiro, que ouvia atento.

"Dei ordem de erigir fortalezas gigantes em frente à linha Maginot francesa", declarava ele, em meio aos urros aprovadores da massa nazista em Nuremberg.

"As forças alemãs", "o gládio alemão" etc., eis o que se ouvia da boca do senhor da Alemanha, nos anos fatídicos que precederam à Segunda Guerra mundial e isso se repetia em todas as ocasiões.

O punhal de Mussolini

"O punhal - eis o nosso melhor amigo", declarava cinicamente Mussolini; uma carabina sobre um livro foi o símbolo que ele ofereceu à juventude universitária italiana.

"Que preferis, manteiga ou canhões?", perguntava a uma multidão eletrizada, em delírio, que respondia, bestificada, - "Canhões!"

"A paz", "da paz", "pela paz"... era o refrão que se oferecia como desculpa a essas palavras dos ditadores, em todas as oportunidades, em todas as situações, no campo adverso, nas democracias europeias.

A paz, certamente, quem não a deseja? Quem é tão tolo ou tão miserável para invocar o pior dos flagelos humanos? Mas, ter horror à guerra é uma coisa, e cultivar a esperança de evitá-la só com palavras, com ladainhas e invocações em face do perigo é outra bem diferente, que restabelece, na verdade, certas práticas medievais, em que ao incêndio, à peste, à seca, se opunham as procissões com imagens santas!

O Brasil das calamidades

O chiste é conhecido. Ao criar o mundo, Deus distribuiu as catástrofes pela Terra, enquanto comentava com o anjo ao seu lado: "aqui eu vou localizar os EUA com seus terremotos e furacões; ali vai ser a Europa, que vai ter vulcões e também terremotos; acolá, vou instalar a Ásia, com desertos, terremotos e até tsunamis". Curioso, o anjo indagou: "e nesse local vai pôr o quê?" Deus respondeu: "aqui será o Brasil". A terra da mentira por excelência. Insistiu o arcanjo: "e ele não vai ganhar catástrofes naturais"? A resposta divina: "não, de jeito nenhum, mas você vai ver os homens públicos políticos que eu vou botar lá". Ou a versão sobre a criação do mundo não é correta ou a galhofa sobre o Brasil não resiste aos solavancos da natureza nesta segunda década do século XXI. A pandemia, que assola o planeta, registra por aqui cerca de 600 mil mortos, parcela deles vítimas da irresponsabilidade e má gestão. Mas os nossos homens públicos afastam qualquer insinuação de desleixo e incúria.

A burocracia tem pernas

O cidadão chega à repartição e pede para ver seu processo. Ouve do chefe do departamento; "ah, meu senhor, tem muitos outros na frente do seu. Vai demorar um tempão até ser despachado. Papel, doutor, não tem pernas". Agastado, o interlocutor reage: "e quanto o senhor quer para por dois pés nesse papel?". Tirou do bolso um maço de dinheiro (que já tinha separado em casa para não dar na vista e, de maneira disfarçada, entregou ao sorridente chefe). Tiro e queda. O adjutório fez o papel correr rapidinho com seus dois pés. A corrupção se espraia por todos os lados.