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Porandubas nº 739

quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Atualizado às 08:06

Abro com "causo" narrado pelo mestre Leonardo Mota.

Quem entra no "Hotel Roma" de Alagoinhas, na Bahia, vai com os olhos a uma tabuleta agressiva em que peremptoriamente se adverte:

Pagamento adiantado, hóspedes sem bagagens e conferencistas

Já em Pernambuco, o proprietário do hotelzinho de Timbaúba é, com carradas de razão, um espírito prevenido contra conferencistas que correm terras. Notei que se tornou carrancudo comigo quando lhe disseram que eu era conferencista, a pior nação de gente que ele contava em meio à sua freguesia. Supunha o hoteleiro de Timbaúba que eu fosse doutor de doença ou doutor de questão. Por falar em Timbaúba, há ali um sobrado, em cuja parte térrea funciona uma loja de modas, liricamente denominada "A Noiva". O andar superior foi adaptado para residência de uma família. Eu não sabia de nada disso quando tendo indagado do Major Ulpiano Ventura onde residia o dr. Agrício Silva, juiz de Direito da comarca, recebi esta informação chocante:

- O doutô Agriço? O doutô Agriço está morando em riba d' "A Noiva"...

Paradinha no "animus animandi"

Parlamentares voltando para seus Estados, famílias se preparando para o Natal, movimentos mais intensos nas ruas e corredores de vendas, como a 25 de março, em São Paulo, evangélicos em euforia com a entrada de André Mendonça, "terrivelmente evangélico" no STF, pandemia com a variante Delta em declínio e a variante ômicron em expansão, bolsa sentindo uma imensa queda no último mês, CVM abrindo inquérito contra Bolsonaro para averiguar informação "vazada" de diminuição do preço dos combustíveis e a descrença geral de que isso não resultará em nada. O "animus animandi" da sociedade está em refluxo.

Recuo até do STF

A ministra Rosa Weber, que havia paralisado a execução/liberação de recursos do Orçamento secreto, em despacho manda a ação prosseguir sob o alerta de que, mais adiante, quer ver os nomes dos autores das emendas (????), e tudo fica como d'antes no quartel D'Abrantes. O fato é que o corpo parlamentar acha que o Supremo está "jurisdicionando" muito a pauta política. Para o bem-estar da Nação e harmonia natalina, por enquanto fica tudo como está.

Glossolalia

Falar muitas línguas sob transe religioso é um fenômeno chamado glossolalia, explicado pela psiquiatria e estudos da linguagem. Trata-se de situações de fervor religioso, em que a pessoa crê expressar-se em uma língua desconhecida, por ela atribuída à origem divina. Foi o que teria ocorrido com a primeira-dama Michele Bolsonaro, quando viu que seu amigo André Mendonça havia sido aprovado pelo plenário do Senado para ingressar na Corte Suprema. Não entrarei no mérito desta questão. Em assuntos de religião e futebol, prefiro estender a eles a máxima latina: poetis et pictoribus, omnia licet. Ou seja, aos poetas e pintores, tudo é permitido. E aos profundamente crentes, também.

Endurô lenim lenam aiê

A glossolalia, por mais que os crentes a entendam como a língua dos anjos, contém uma dose de coisa engraçada. Se eu estivesse por perto de alguém que falasse de maneira tatibitate, confesso que abriria o sorriso, quem sabe, uma gargalhada. No início dos anos 70, o cartão de Natal da PROAL, nossa empresa de jornalismo empresarial, que chegou a fazer 40 jornais e revistas, continha uma mensagem que pesquei em algum manual sobre cultura africana: endurô lenim lenam aiê - que, na língua de algumas tribos da África, significava: "abram as porteiras que vou entrar com tudo". Embaixo: "nesse ano que se inicia, a Proal quer ajudar sua empresa a abrir as porteiras da comunicação". Um desenho de um africano fumando um cachimbo arrematava a mensagem. Um sucesso. O cartão marcou uma era. Até hoje, gargalho com essa frase, que mais parece coisa de glossolalia.

Decalagem

Nesses tempos de termos estranhos, lembro outro: decalagem, isso mesmo. Não confundir com decolagem. Significa a distância entre o cano da arma do caçador e a ave. O caçador, medindo a distância, atira um pouco mais para cima ou para baixo, levando em consideração a força do vento e o tempo que o tiro leva até o alvo. Pois bem, os atuais pré-candidatos, visando ao alvo de outubro de 2022, estão atirando sem calcular a decalagem. Falam de coisas que não deviam falar, miram o alvo errado, atiram a torto e a direito, desperdiçando munição. Quem pode ser parceiro de outro? Quando começar a correr o Brasil? Quem são os alvos preferenciais nesse momento?

Vazamento

O vazamento de autoria do presidente, ao anunciar que nos próximos dias, a Petrobras iria baixar o preço dos combustíveis, mereceu uma resposta da petrolífera fazendo um desmentido e a abertura de um inquérito pela Comissão de Valores Mobiliários, CVM. Anotem: coisa pra inglês ver. Dará em nada. E Bolsonaro, se quisermos um comentário do senador Flávio Bolsonaro, deve ter reagido às providências tomadas com uma sonora gargalhada: rah, rah, rah...!

PL no RJ

Pois é, por falar no senador Flávio Bolsonaro, o presidente do Valdemar da Costa Neto, do PL, teve de aceitar a exigência: quem vai mandar no partido, no RJ, é o senador. E assim, devagar, mas sob constante pressão, a família Bolsonaro espera controlar o partido criado pelo deputado Álvaro Vale, de saudosa memória. O canto dos escravos hebreus, música que ancorava os programas eleitorais do PL, deve ser substituído por um "samba do crioulo doido".

O triplex

Prescreveu a ação do triplex do Guarujá. Dessa, o ex-presidente Luis Inácio tomou distância. Manifestação da Procuradoria da República no Distrito Federal ocorre após STF ter considerado o ex-juiz Sergio Moro suspeito no caso e anular condenação de Lula.

Reforma Tributária

A PEC 110 está morta? Sobreviverá? A economia brasileira estará salva ou não? O Brasil continuará com seu manicômio judiciário? O ex-deputado Luiz Carlos Hauly já fez mais de 420 palestras sobre o tema. É persistente. Merece o Prêmio da Persistência de 2021.

Mega-Sena

Vem aí a mega-sena. Resultado em 31 de dezembro. R$ 350.000.000. Sonho de milhões de brasileiros. Gente de fé. Quem ganhar sozinho vai passar o resto da vida num hospício. Antes, dia 22, será sorteado o prêmio El Gordo, na loteria de Natal na Espanha. Prêmio de R$ 15 bilhões. Com direito a ataque fulminante ao ganhador exclusivo. Felizmente, o prêmio terá muitos ganhadores. Com direito a comemorações menos traumáticas.

Corrupção

Continua livre e se expandindo o vírus da corrupção. PF investiga suposto superfaturamento de R$ 130 milhões em impressão de provas do Enem. Contratos foram firmados entre 2010 e 2019 com RR Donnelley e Valid. Investigação aponta enriquecimento ilícito de servidores do Inep.

Nosso vocabulário político

Nosso vocabulário político tem origem nos gregos - democracia, tirania, polícia, a própria política -, e nosso vocabulário cívico nos romanos - civilidade, cidadão, civilização. Roma se apresentava como exemplo de uma política conduzida por homens com funções que definiam o exercício do poder, que se repartia entre dois conceitos: potentia, significando poder físico, e potestas, direito legal, poder inerente ao cargo. A tais modalidades de poder se colocava outro conceito dos romanos para a política - auctoritas -, a união da política com a religião.

O poder

Estou concluindo meu 13º livro - Política, Poder e Retórica - Da Antiguidade aos Nossos Dias. Sobre Poder, resgato o pensamento de grandes filósofos e cientistas sociais, dentre eles, Thomas Hobbes, Baruch de Espinosa, Max Weber, Karl Marx, Friedrich Engels , Jean-Jacques Rousseau, Karl Deutsch, Friedrich Nietzsche , Immanuel Kant, Norberto Bobbio, Hannah Arendt, John Kenneth Galbraith, Elias Canetti e Amitai Etzioni.

O poder nas organizações

Etzioni, autor de Análise Comparativa de Organizações Complexas: Sobre o Poder, o Engajamento e Seus Correlatos, faço um destaque. Em minha tese de livre-docência defendida em 1983, na Universidade de São Paulo, tomei como base sua abordagem sobre os três poderes utilizados pelas organizações complexas para legitimar suas políticas junto à comunidade trabalhadora: o poder remunerativo - a capacidade de cooptar a base funcional por meio da remuneração; o poder coercitivo - condição usada pela organização para demitir aqueles que não se engajam no trabalho, e; o poder normativo - usado para o cumprimento da ordem imposta pela norma. Adicionei a este triângulo de poder uma quarta vertente: O poder expressivo.

O poder expressivo

A comunicação é poder expressivo. Se poder é a capacidade de uma pessoa em influenciar uma outra, esta aceita as razões da primeira pela força da argumentação. Do uso da retórica. A comunicação desenvolve, pois, uma relação de poder. Nas organizações, a comunicação é usada de diversas formas. Desenvolve-se, de um lado, um conjunto de comunicações técnicas, instrumentais, burocráticas, normativas. Em paralelo, ocorrem situações de comunicação emotiva, centrada nas capacidades das fontes, em suas habilidades, comportamentos e posturas. A "comunicação humanizada" propicia empatia, concordância, engajamento, participação.