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Porandubas nº 753

quarta-feira, 30 de março de 2022

Atualizado às 07:28

Abro a coluna com pequena aula de política.

Aula de política

Diálogo entre Colbert e Mazarino, durante o reinado de Luís XIV, na peça teatral Le Diable Rouge, de Antoine Rault:

Colbert: Para arranjar dinheiro, há um momento em que enganar o contribuinte já não é possível. Eu gostaria, senhor superintendente, que me explicasse como é possível continuar a gastar quando já se está endividado até o pescoço.

Mazarino: Um simples mortal, claro, quando está coberto de dívidas, vai parar à prisão. Mas o Estado é diferente! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se. Todos os Estados o fazem!

Colbert: Ah, sim? Mas como faremos isso, se já criamos todos os impostos imagináveis?

Mazarino: Criando outros.

Colbert: Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.

Mazarino: Sim, é impossível.

Colbert: E sobre os ricos?

Mazarino: Os ricos também não. Eles parariam de gastar. E um rico que gasta faz viver centenas de pobres.

Colbert : Então como faremos?

Mazarino: Colbert! Tu pensas como um queijo, um penico de doente! Há uma quantidade enorme de pessoas entre os ricos e os pobres: as que trabalham sonhando enriquecer e temendo empobrecer. É sobre essas que devemos lançar mais impostos. Cada vez mais, sempre mais! Quanto mais lhes tirarmos, mais elas trabalharão para compensar o que lhes tiramos. Formam um reservatório inesgotável. É a classe média!

  • Parte I

Panorama das candidaturas

1. A estrada aplainada

Os tratores da política aplainam a estrada da política. Abrem os cursos mais estreitos, alargam as margens, limpam a terra no meio do caminho. O Centrão tem os maiores tratores. Mas todos os pré-candidatos usam seus meios e formas. Os mais endinheirados começam a compor suas equipes. E todos pensam em como avançar sem grandes empecilhos. Nenhum deles consegue. A desconfiança é generalizada na política e em seus protagonistas. Façamos uma análise das coisas inconvenientes.

2. Lula - PT

Tem o percurso mais largo, nem por isso o mais fácil. O PT, mesmo com as vitórias de Luiz Inácio nas instâncias da Justiça, continua marcado com o sinal da desconfiança. Para começo de conversa, Lula não foi inocentado. Mas ganha a batalha da comunicação porque o julgamento das Cortes, principalmente, no STF, é que o processo contra ele foi mal conduzido, merecendo começar tudo do zero. Para efeito externo, ele foi inocentado. E mais: com os altos índices nas pesquisas, quem vai condenar Lula? Portanto, a primeira instância de Brasília vai esperar ad aeternum.

3. Costuras desajustadas

As costuras feitas por Lula em torno de sua candidatura não são unanimidade no PT. Parte do petismo duro - as influências tradicionais - não aceitam algumas, nem mesmo a possibilidade de Geraldo Alckmin vir a compor a chama lulista. Marília Arraes, neta de Miguel Arraes, sai do PT para ingressar no partido de Paulinho da Força. E racha alguns partidos, mesmo que venha apoiar Lula. O mercado - o famoso corredor da avenida Faria Lima - ainda vira os olhos com medo do PT. E Lula promete o céu na terra, dizendo, entre outras coisas, que nem José Dirceu, José Genoíno e Dilma Rousseff serão aproveitados em seu eventual governo.

4. Bolsonaro - PL

Recupera alguns pontos na avaliação do governo e no grau de confiança junto a setores que o viam, de modo desconfiado, mas continua o pré-candidato de um olho só: cheio de ódio, uso de termos ácidos, enaltecimento da ditadura, beneficiador de polícias e religiosos, luta do bem (ele mesmo) contra o mal (Lula). Acende todos os dias algumas luzes para o diabo. E acha que os eleitores que não votam nele são metade comunistas ou apaixonados pelo lulopetismo. Olhar completamente enviesado. Ainda por cima, cerca-se de militares sob a ameaça de que ele poderá ser o salvador da Pátria.

5. Moro - Podemos

Sergio Moro entrou na vala comum dos políticos mortais, passando a conviver com as pressões e contrapressões da política. Passa a ser triturado pela máquina destruidora de reputações. Já não porta uma réstia de carisma, coisa que o beneficiava, antes de substituir os ossos do ofício. Não deverá alargar seu caminho, arrumando contingentes eleitorais ou formando frentes partidárias. Será massacrado pelo embate sangrento nas hostes políticas.

6. Ciro - PDT

Ciro Gomes, mesmo com sua costumeira metralhadora giratória, tem dificuldades em se posicionar como alternativa. Atira livremente para todos os lados. E, ao invés de mostrar alto conhecimento do país, como é seu caso, prefere usar balas de canhão. Melhorou o discurso e a postura - obra de João Santana - mas não sai da linha de tiroteio. E o eleitor está saturado de tanto balaço.

7. Doria - PSDB

João Doria faz um bom trabalho no comando do governo de São Paulo, é proativo, trabalhador, incansável. Mas faz o marketing de uma nota só. Até cunhei um nome para isso: egomarketing. O patrocinador número um das vacinas, grande articulador na área dos investimentos, cria rastilhos de pólvora por onde anda e também não é bem visto por alas tucanas. Ganhou as prévias de Eduardo Leite, governador do RS, que tem certo carisma. E poderia vir a ser candidato. Leite, se quiser, terá vida longa na política. Continua no PSDB, após renúncia ao governo do RS.

8. Simone - MDB

Seria ótima opção se viesse a ser candidata de uma frente partidária. É desconhecida no país. Tem fluência ideativa, mas está muito longe das massas.

9. Luiz Felipe D'Ávila - Novo

Desconhecido no país. Sem chances de empolgar as massas.

10. André Janones -Avante

Sem condições - Aproveitamento de oportunidades.

11. Eymael - DC

Sem condições- a musiquinha é antiga: um democrata cristão.

12. Luciano Bivar - União Brasil

Sem condições - Poderá fazer uma grande bancada.

13. Vera Lúcia - PSTU

Sem condições- Marcar presença.

14. Sofia Manzano - PCB

Sem condições- Marcar presença.

  • Parte II

Lições do passado

A morte de Sócrates

Aos discípulos que o visitavam na prisão e o aconselhavam a fugir, Sócrates respondia:

- "Uma das coisas em que acredito é no reinado da lei. Bom cidadão como tantas vezes vos tenho dito, é aquele que obedece às leis de sua cidade. As leis de Atenas condenaram-me à morte, e a inferência lógica é que, como bom cidadão, eu deva morrer."

Narra Max Eastman, em ensaio sobre "O Mais Justo e o Mais Sábio dos Homens", que, ao se aproximar a hora fatal, rodeado de amigos, chega o carcereiro, a quem pergunta:

- "Agora, você que entende dessas coisas, diga-me o que fazer."

- "Beba a cicuta, depois levante-se e ande um pouco até sentir as pernas pesadas. Então, deite-se e o torpor subirá ao coração."

Fez o que foi recomendado. Quando andava, lembrou-se de algo:

- "Crito, devo um galo a Esculápio. Providencie para que a dívida seja paga."

Deitou-se, fechou os olhos e quando Crito lhe perguntou se havia mais recomendações, ele já não respondia.

Confúcio

Quando Confúcio visitou a montanha sagrada de Taishan, encontrou uma mulher cujos parentes haviam sido mortos por tigres. Ele perguntou:

- "Por que não se muda daqui?"

- "Porque os governantes são mais ferozes que os tigres."

Um pouco mais de Confúcio:

"Se você quer ser sábio, aprenda a questionar razoavelmente, a escutar com atenção, a responder serenamente e a calar quando não tiver nada a dizer."

O pensamento de Confúcio gira em torno da educação como fonte de virtudes. Ele prega três virtudes fundamentais: 1) A bondade, que gera alegria e paz interior; 2) A ciência, que permite dissipar as dúvidas, e; 3) A coragem, que afasta todas as formas de medo. Compartilharemos aqui algumas dessas frases de Confúcio que continuam válidas até hoje.

Martin Luther King

Em 28 de agosto de 1963, King discursou para um público de 250 mil pessoas em Washington. O discurso é uma das melhores peças de oratória contemporânea.

Eu tenho um sonho

"Estou feliz em me unir a vocês hoje naquela que ficará para a história como a maior manifestação pela liberdade na história de nossa nação. Cem anos atrás um grande americano, em cuja sombra simbólica nos encontramos hoje, assinou a proclamação da emancipação [dos escravos]. Este decreto momentoso chegou como grande farol de esperança para milhões de escravos negros queimados nas chamas da injustiça abrasadora. Chegou como o raiar de um dia de alegria, pondo fim à longa noite de cativeiro. Mas, cem anos mais tarde, o negro ainda não está livre. Cem anos mais tarde, a vida do negro ainda é duramente tolhida pelas algemas da segregação e os grilhões da discriminação. Cem anos mais tarde, o negro habita uma ilha solitária de pobreza, em meio ao vasto oceano de prosperidade material. Cem anos mais tarde, o negro continua a mofar nos cantos da sociedade americana, como exilado em sua própria terra. Então viemos aqui hoje para dramatizar uma situação hedionda. Digo a vocês hoje, meus amigos, que, apesar das dificuldades de hoje e de amanhã, ainda tenho um sonho".

Fecho a coluna com pequenas lições de marketing.

Primórdios do marketing político

"Rastreie, vá ao encalço de homens de toda e qualquer região, passe a conhecê-los, cultive e fortaleça a amizade, cuide para que em suas respectivas localidades eles cabalem votos para você e defendam sua causa como se fossem eles os candidatos". (Quinto Túlio Cícero aconselhando o irmão Marco Cícero, o grande tribuno, em 64. A. C., quando este fazia campanha para o Consulado de Roma).

O marketing de campanha

O marketing político eleitoral abriga duas vertentes: o marketing massivo, voltado para atingir classes sociais e categorias profissionais, indistintamente; e o marketing vertical, segmentado ou diferenciado, voltado para atender agrupamentos especializados: profissionais liberais, donas de casa, formadores de opinião, núcleos religiosos, militares, funcionários públicos, etc. Nas campanhas, o marketing segmentado acaba assumindo tanta importância quanto o marketing massivo. E a razão está na intensa organicidade da sociedade brasileira.

Ciclos da campanha

Orientação para candidatos e assessores: estabelecer adequado cronograma dos ciclos da campanha, que, como se sabe, possui cinco ciclos: lançamento, por ocasião da Convenção; crescimento, entre quatro e cinco semanas após a Convenção; maturidade/consolidação, quando a campanha se firma no sistema cognitivo do eleitor, após ampla visibilidade; clímax, momento em que o candidato alcança seu maior índice de intenção de votos; e declínio, quando o candidato tende a cair nas pesquisas de opinião. Todo esforço se faz necessário para o clímax ocorrer na semana das eleições. A dosagem dos ciclos há de obedecer ao funil da comunicação - jogando-se mais água (volume de comunicação/visibilidade) na segunda quinzena de setembro. Candidato que começa a decair antes do tempo corre o perigo de morrer na praia.

Planejamento de campanhas

Este consultor, ancorado em sua vivência, chama a atenção para o planejamento do marketing das campanhas, que abriga estas metas: 1) priorizar questões regionalizadas, localizadas, na esteira de um bairro a bairro, ou seja, fazer a micropolítica; 2) procurar cria um diferencial de imagem, elemento que será a espinha dorsal da candidatura, facilmente captável pelo sistema cognitivo do eleitor; 3) desenvolver uma agenda que seja capaz de proporcionar "onipresença" ao candidato (presença em todos os locais); 4) organizar uma agenda contemplando as áreas de maior densidade e, concentricamente, chegando às áreas de menor densidade eleitoral; 5) entender que eventos menores e multiplicados são mais decisivos que eventos gigantescos e escassos; 6) atentar para despojamento, simplicidade, agilidade, foco para o essencial, mobilidade, propostas fáceis de compreensão e factíveis. Esse um resumido escopo de planejamento.

Marketing: os cinco eixos

Resgato, aqui, os cinco eixos do marketing eleitoral: pesquisa, formação do discurso (propostas), comunicação (bateria de meios impressos - jornalísticos e publicitários - e eletrônicos), articulação política e social e mobilização (encontros, reuniões, passeatas, carreatas, etc.). A mobilização dá vida às campanhas. Energiza os espaços e ambientes. A articulação com as entidades organizadas e com os candidatos a vereador manterá os exércitos na vanguarda. A comunicação é a moldura da visibilidade. Principalmente em cidades médias e grandes. Sem ideias, programas, projetos, os eleitores rejeitarão a verborragia. E, para mapear as expectativas, anseios e vontade, urge pesquisar o sistema cognitivo do eleitorado.