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Porandubas nº 771

quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Atualizado às 07:25

Abro com um filho inepto da Bahia.

Velhos tempos. Tempos de deboche e criatividade. O deputado Luís Viana Neto estava na tribuna da Câmara:

- Filho e neto de governadores da Bahia...

Lá embaixo, o deputado Francisco Studart (MDB-RJ) gritou:

- Não apoiado!

- Senhor deputado, sou filho e neto de governadores da Bahia.

- Perdão, excelência. Entendi mal. Entendi:

"Filho inepto de governadores da Bahia"...

Risadas gerais no plenário.

Secos & molhados

Cadê o pique?

Percepção geral é a de que os generais do núcleo duro do governo perderam o pique que mostravam no início da gestão. Mais silenciosos, mais precavidos, mais observadores do cenário.

Bivar

Luciano Bivar é o chefão do partido que detém a maior fatia partidária e o maior tempo de mídia eleitoral: o União Brasil. Bivar deixa de ser candidato à presidência da República para voltar a ser candidato a deputado Federal por Pernambuco. Corre o risco de não se eleger. Coisas da política.

O deputado Pazuello

O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello será candidato a deputado Federal pelo Rio de Janeiro. Declara ter patrimônio de R$ 1,288 milhão. Espera-se que tenha boa votação, empurrado pelo bolsonarismo.

Desunião Brasil

O União Brasil poderá se transformar, no próximo ano, no Desunião Brasil, com tantos interesses repartidos entre seus membros.

O manifesto

documento em defesa da Democracia, preparado por docentes da Faculdade de Direito da USP, poderá chegar a 1 milhão de assinaturas. É denso e apartidário. Só não vê quem não quer. Pode ser tudo, menos uma "cartinha", como designou o presidente Bolsonaro.

Arquivando

O STF tem se mostrado disposto a não aumentar as tensões com o presidente Jair. Tende a arrefecer o ânimo de seus quadros, significando predisposição para arquivar os pedidos de investigação contra ele. Momento sugere distensão, diástole, não sístole.

Muito manifesto

Vejo multiplicação de manifestos. Advogados, entidades de imprensa, empresários e outros. Isso acaba gerando confusão, um processo de "canibalização" recíproca, uns comendo outros. Não se sabe O QUÊ E PARA QUEM...

A chapa de Tebet

Simone Tebet terá como vice, em sua chapa, a senadora tucana Mara Gabrilli, um perfil de respeito e impacto. Teve mais de 6,5 milhões de votos. Mara sofreu um acidente de automóvel que a deixou paraplégica, fundou uma ONG e se tornou uma figura emblemática na defesa dos portadores de deficiência. Não se pense que será uma chapa frágil. Ambas, Simone e Mara, mostram-se dispostas a provar que a política é também esfera do gênero feminino.

Favas não contadas...

A eleição de 2 de outubro não está com as favas contadas, conforme querem fazer crer 95% dos analistas de política. A campanha ganha oficialmente as ruas só agora, após as convenções. Nomes sacramentados, partidos com suas listas formadas, alianças feitas, a arena começa a receber os gladiadores. As pesquisas continuam a mostrar vantagem confortável de Luiz Inácio. Mas Bolsonaro reage um pouco.

São Paulo, o epicentro

O Estado mais forte da União, com seus 36 milhões de votos, será crucial para o sucesso ou o fracasso dos candidatos à presidência. Essa última pesquisa do Instituto Paraná Pesquisas mostra Bolsonaro com 40,1% e Lula com 36,2%. Na espontânea, Bolsonaro está com 26,9% e Lula com 23,9%. Essa margem, mesmo pequena, é significativa em se tratando do maior bolsão de votos do país.

A recompensa

Ademais, os impactos dos pacotes assistencialistas ainda não chegaram às margens. O Auxílio Brasil adicionará mais R$ 200. O pacotão de recursos do Orçamento para aplicação nas regiões, atendendo a critérios eleitorais, também fará diferença. Pensar que não se troca mais voto por recompensa é um erro. O toma lá dá cá, mesmo em tempos de voto mais racional, ainda funciona. Bolsa Auxílio pode ser confundido com Bolsa Família, dos tempos lulistas? Pode, mas os candidatos bolsonaristas vão tocar suas trombetas propagandísticas.

Até 15 de setembro

Os eleitores começam a abrir os ouvidos. O processo de internalização das mensagens - apreensão pelo sistema cognitivo e imersão - irá até meados de setembro. Daqui até lá, a paisagem aberta dará direito a comentários plurais, versões e contra-versões, fatos e fakes, ilações, observações. Atentem, candidatos de todas as esferas do Executivo e do Legislativo: vocês constituem a maior mensagem. O que dirão, o que fazem e farão, como pensam, a estética de apresentação, todos esses componentes influenciarão no processo decisório. O eleitor fará uma filtragem de tudo que capta.

Simpatia e antipatia

Dois fenômenos se instalarão, se não já se instalaram, no sistema cognitivo do eleitor. Refiro-me ao comportamento do eleitor quanto aos candidatos ao Legislativo na esfera estadual, porque em relação ao Executivo (nas esferas Federal ou mesmo estadual), uma posição prévia já foi tomada. Mas não há ainda um posicionamento definitivo quanto aos candidatos a deputado Federal ou estadual. Há certa simpatia ou alguma dose de antipatia em relação aos candidatos à presidência e governos de Estado. Simpatia, uma predisposição positiva, a antipatia, uma predisposição negativa.

Empatia

Mas a decisão se dá mesmo junto àqueles eleitores que se ligam empaticamente ao candidato. Empatia é a capacidade de um interlocutor - candidato - de amarrar o interesse, a boa vontade, o compromisso do eleitor, que enxerga nele o perfil mais completo na galeria dos candidatos. O eleitor ouve mensagens que aprecia e aplaude. Projeta suas demandas nos programas do candidato, de forma que se liga umbilicalmente ao candidato, considerado alguém próximo, quase um familiar.

Primórdios

"Rastreie, vá ao encalço de homens de toda e qualquer região, passe a conhecê-los, cultive e fortaleça a amizade, cuide para que em suas respectivas localidades eles cabalem votos para você e defendam sua causa como se fossem eles os candidatos". (Quinto Túlio Cícero aconselhando o irmão Marco Cícero, o grande tribuno, em 64. A. C., quando este fazia campanha para o Consulado de Roma)

Marketing segmentado

O marketing eleitoral abriga duas vertentes: o marketing massivo, voltado para atingir classes sociais e categorias profissionais, indistintamente; e o marketing vertical, segmentado ou diferenciado, voltado para atender agrupamentos especializados: profissionais liberais, donas de casa, formadores de opinião, núcleos religiosos, militares, funcionários públicos, etc. Nas campanhas, o marketing segmentado acaba assumindo tanta importância quanto o marketing massivo. E a razão está na intensa organicidade da sociedade brasileira. Na campanha deste ano, o marketing segmentado atingirá os mais altos graus de seu conceito.

Rodrigo Garcia

Fernando Haddad (PT), candidato de Lula, e Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidato de Bolsonaro, lideram a campanha de São Paulo. Quem está encostando em Tarcísio é Rodrigo Garcia, o atual governador do PSDB, que, pelo domínio da máquina administrativa, ameaça entrar no 2º turno com o candidato do PT. E aí ficará mais difícil para Haddad.

Os 5 ciclos

É oportuno se lembrar dos cinco ciclos de uma campanha: lançamento, por ocasião da Convenção; crescimento, entre quatro e cinco semanas após a Convenção; maturidade/consolidação, quando a campanha se firma no sistema cognitivo do eleitor, após ampla visibilidade; clímax, momento em que o candidato alcança seu maior índice de intenção de votos; e declínio, quando o candidato tende a cair nas pesquisas de opinião. Todo esforço se faz necessário para o clímax ocorrer na semana das eleições. A dosagem dos ciclos há de acompanhar o funil da comunicação; joga-se mais força (volume de comunicação/visibilidade) na segunda quinzena de setembro. Candidato que começa a descer da escada antes do tempo, corre o perigo de morrer antes de chegar à praia.

O povo

O povo não é uma ficção. Eis ali o povão correndo para pegar o ônibus das 5, aboletando-se nos trens da periferia, aplaudindo e xingando nos estádios, grudado defronte às vitrines para pegar os lances do futebol, lambendo os beiços com os churrascos gregos das calçadas ou voltando, com o sol poente, dos campos e das roças para a cansada solidão de suas casas. O povo é a realidade dos mais de 30 milhões de brasileiros que se encontram à margem do processo de consumo, dando duro, levantando prédios, construindo máquinas, moldando a anatomia do país. A crise desse povo é a falta de comida, de emprego, de hospitais, de segurança, de casas, de lazer.

A força moral

A força moral é a arma mais poderosa da campanha eleitoral deste ano. Será o maior contraponto ao estado de degradação que corrói parcela razoável de nossos quadros políticos. Trata-se de uma força que funcionará como imã, puxando a atenção e a adesão dos eleitores. Os candidatos se esforçarão em dizer que a possuem. Ocorre que a força moral não é um conceito sobre o qual se possa cantar loas. Quem a carrega, não precisa discorrer sobre ela. Será reconhecido por isso. Gandhi, pobre e despojado, era um ícone de força moral. Arrastou multidões. Como a simplicidade, a força moral é a virtude dos sábios e a sabedoria dos santos.