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Porandubas nº 775

quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Atualizado às 07:35

Abro a coluna com uma historinha da Paraíba.

O caso ocorreu na encenação da Paixão de Cristo numa cidadezinha da Paraíba. O dono do circo, em passagem pela cidade, resolveu encenar a Paixão de Cristo na sexta-feira santa. Elenco escolhido dentre os moradores e no papel de Cristo, o "gatão" da cidade. Ensaios de vento em popa. Às vésperas do evento, o dono do circo soube que 'Jesus' estava de caso com sua mulher. Furioso, deu-se conta que não podia fazer escândalo sob pena de perder o investimento. Bolou uma maneira. Comunicou ao elenco que iria participar fazendo o papel do 'centurião'.

- Como? - reclamaram - O senhor não ensaiou!

- Não é preciso ensaiar porque centurião não fala!

O elenco teve que aceitar. Dono é dono. Chegou o grande dia. Cidade em peso compareceu. No momento mais solene, a plateia chorosa em profundo silêncio. Jesus carregando a cruz ... e o 'centurião' começa a dar-lhe chicotadas.

- Oxente, cabra, tá machucando!

Reclamou Jesus em voz baixa.

- É pra dar mais verdade à cena, devolveu o centurião.

E tome mais chicotada. Chicote comendo solto no lombo do infeliz. Até que Jesus enfureceu-se, largou a cruz no chão, puxou uma peixeira e partiu pra cima do centurião:

- Vem, desgraçado! Vem cá que eu vou te ensinar a não bater num indefeso!

O centurião correndo, Jesus com a peixeira correndo atrás, e a plateia em delírio gritando:

- É isso aí! Fura ele, Jesus! Fura ele, Jesus, aqui é a Paraíba, não é Jerusalém, não!

Parte I - Panorama

O debate da Band

Uma surpresinha: quem esperava um duelo de vida e morte entre Lula e Bolsonaro, no primeiro debate da televisão aberta, viu golpes e estocadas vindas das laterais, desferidas por duas mulheres. A senadora Simone Tebet, com o apoio da colega, senadora Soraya Thronicke, ambas do Mato Grosso do Sul, ganhou o troféu da primeira batalha. Saiu da TV Bandeirantes como a candidata à presidente da República que melhor aproveitou os rounds da luta.

Indecisos e...

Parcela dos indecisos olha para o desempenho dos (a) candidatos (a) no debate e toma posição. Adere ao vitorioso. As bases de cada candidato são imutáveis. Consolidam suas decisões. E, como temos um eleitor mais racional este ano, diferente do eleitor de campanhas passadas, é razoável apostar na possibilidade de mudança de voto de certo núcleo que já havia escolhido seu candidato (a).

Simone Tebet

Teve ótimo desempenho na CPI da Covid. Fluente, experiente, professora, boa gestora como prefeita de Três Lagoas/MT, cara larga que ocupa toda a tela em primeiro plano, simpática, Simone, seja qual for o resultado do pleito, estará na agenda da política nos próximos tempos. Tornar-se-á conhecida e, assim, mais palatável ao gosto do eleitorado.

O novo Lula

O Luiz Inácio Lula da Silva de 2022 não é o Lula de ontem. Cabelos embranquecidos, com áreas vazias, voz mais rouquenha que a do costume, algumas vezes incompreensível. A contundência do passado tem sido amenizada pela sua caminhada ao centro do arco ideológico, ditada pela decisão de repaginar seu manto de cores radicais. O Lula do centro, com Geraldo na chapa como seu vice, é menos incisivo para desgosto de sua base tradicional. O novo Lula não empolga tanto como no passado. Sua voz, muito rouca, prejudica o desempenho. Falta de fonoaudióloga, dizem. Mas tem carisma.

Ciro

Deve ir até o final, sem desistência e sem vontade de aderir à chapa encabeçada por Lula, conforme aceno deste no debate da Band. Ciro saiu-se bem, é o mais preparado dos candidatos, mas tem problema de imagem. Um perfil tempestuoso. Trata-se de uma fonte inesgotável de dados, informações, comparações, conhecimento de Brasil. Parte de suas ideias se perde no emaranhado de uma fala que corre mais que lebre fugindo do caçador.

Bolsonaro

Facilmente irritável, inesperado e pronto para enfrentar a briga. Palavroso, dispara um canhão de palavras de mal trato, deseducado, comete um disparate com a maior tranquilidade. Mas suas bases vibram com suas peripécias linguísticas. Suas motociatas ficarão na história das campanhas eleitorais. Não tem escrúpulos. Atira contra uns e outros, mais ainda contra umas (mulheres) e outras (mulheres). Uma cultura extremamente machista. Um cara corajoso. Sem querer esconder seus maus costumes. Como lembra Vera Magalhães: não gosta de ser questionado por mulheres.

O último mês

Quando setembro vier... (quem se recorda do filme de Robert Mulligan, com Rock Hudson, Gina Lollobrigida e Sandra Dee?). Pois é, setembro virá amanhã. O tempo de a onça beber água. O mês de eventuais viradas de chapas preferenciais. Ou até de consolidação de posições já tomadas pelo eleitor. Dia 15 é um prazo-chave. Vejamos se pesquisas ainda são diferentes ou tendem a aproximar seus números. Nenhum Instituto quer passar recibo de parcial, vendido, mentiroso. Dia 20, a 12 dias do pleito, o clima será de "quase" definitivo. Por que o "quase"? Pelo respeito que tenho ao Senhor Incomparável dos Anjos.

Eleição sob o bolso

Volto a repetir. A economia será o guia do eleitor nas urnas. Não vou repetir minha equação para não ser tão recorrente. Mas o estado geral da sociedade - satisfação/insatisfação, felicidade/infelicidade/, alegria/amargura, ditará o resultado das urnas. E tais estados de espírito costumam ser balizados pela economia, pelo bolso capaz de fazer a feira, pagar o remédio, a passagem de trem ou de ônibus. Lembro ainda: aquele Senhor (acima citado) costuma visitar o Brasil.

Os programas eleitorais

As velhas receitas voltaram em cheio para maltratar os ouvidos dos telespectadores. Mensagens repetidas saturam. Histórias humanizadas de alguns protagonistas parecem artificiais. Animais, vozes de narração esportiva, sobrenomes hilários, João Ponta Grossa, Manezim da Esquina, Lourival do Jabá, figuras estrambóticas, números gritados, falas gritadas, numa algaravia (confusão de vozes) de Torre de Babel, educação, saúde, transportes, enfim, um palavrório sem pé nem cabeça - esse é o calvário que temos de suportar nas próximas semanas. Bons programas. E aguardem o 2º turno.

O Brasil será outro

Aqui segue minha visão sobre o amanhã. O Brasil caminhará por outras vias. Não significa que teremos de mudar tudo. As exigências de uma comunidade exigente, crítica e com tendência a participar do processo decisório com mais firmeza são pressupostos para a formação de polos de poder e pressão em todo o território. A esfera política, por sua vez, vai focar sua ação nesse processo. E tomará decisões mais afinadas à sociedade. Da mesma forma, agirão os poderes Executivo e Judiciário.

Parte II - Secos & molhados

- 7 de setembro não terá parada militar, mas um espetáculo militar na praia de Copacabana. Quem apostou em refluxo das FFas perdeu. Vai haver saltos de paraquedistas, tiros de canhão do Forte de Copacabana, urros e gritos, bastante gente na motociata de Bolsonaro.

- Marcas difíceis de apagar: corrupção no governo Lula; desprezo de Bolsonaro pelas mulheres e má gestão da pandemia; estrebuchadas do Ciro Gomes; desfile de perfis insossos na programação eleitoral.

- Dinheirama não dá direito à vitória; eleitor é sabido.

- Mulheres deverão fazer bancada forte na Câmara e Assembleias estaduais.

- O soberano, segundo Thomas Hobbes, em Leviatã (1651), ouvia seus conselheiros de um a um, nunca em conjunto.

A obra é fundamental para o entendimento do comportamento humano, sobretudo no que tange ao poder, sua organização, exercício e compreensão pelo homem, além de ser um dos pilares fundamentais tanto da sustentação daquele regime quanto da compreensão do universo político, guardadas as devidas diferenciações e proporções, em todo o mundo e em todos os tempos.

- Governantes: separem o Estado laico da religião. Não confundam alhos com bugalhos.

- Maior conhecimento dos candidatos implica maior adesão ou distanciamento por parte do eleitor.

- Candidatos: observem a lei das maiores quantidades. Maiores conjuntos eleitorais carecem de maior presença dos protagonistas.

- Rejeição é fator crucial em um 2º turno. E chave do portão no primeiro turno.

- Em São Paulo, a disputa para entrar no 2º turno será uma das mais acirradas do país.

- Este analista acredita em viradas eleitorais de última hora. Quando o vento correr para determinado lado, não há força que o detenha.

- Teremos um pleito com a maior organicidade social no país. Com o maior número de entidades representativas dos conjuntos sociais e profissionais.

Fecho a coluna com a época da Inquisição.

Dez truques

Dez truques dos hereges para responder sem confessar:

1. A primeira consiste em responder de maneira ambígua.

2. O segundo truque consiste em responder acrescentando uma condição.

3. O terceiro truque consiste em inverter a pergunta.

4. O quarto truque consiste em se fingir de surpreso.

5. O quinto truque consiste em mudar as palavras da pergunta.

6. O sexto truque consiste numa clara deturpação das palavras.

7. O sétimo truque consiste numa autojustificação.

8. O oitavo truque consiste em fingir uma súbita debilidade física.

9. O nono truque consiste em simular idiotice ou demência.

10. O décimo truque consiste em se dar ares de santidade.

(Manual dos Inquisidores - escrito por Nicolau Eymerich em 1376. Revisto e ampliado em 1578 por Francisco de La Peña).

Resposta de Lula a uma pergunta se houve corrupção em seu governo:

- Ora, se delatores confessaram o roubo, é porque houve.