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Porandubas nº 786

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Atualizado às 08:37

Abro a coluna com uma historinha dos EUA, que serve para orientar a leva de parlamentares de primeiro mandato em Brasília.

Compre um cachorro

O ano de 2023 se aproxima. Novos desafios, expectativas, alegrias, frustrações. Muitos deputados e senadores voltarão aos velhos costumes. Mas o Parlamento receberá um contingente de perfis que desconhecem como é a vida de Brasília. São os quadros de primeiro mandato.

O que fazer, como fazer?

A propósito, pinço uma historinha que me é contada pelo dr. Istênio Pascoal, médico de alto conceito, com pós-doutoramento em Chicago, EUA, especialista na área de hemodiálise e experiente conhecedor das malhas do Poder em Brasília.

Um jovem parlamentar, filho de um amigo do presidente Harry Truman, chegou a Washington, capital federal, e, depois de algum tempo, pediu uma audiência ao presidente. O jovem havia morado em Washington quando criança, quando o pai fizera amizade com o "tio" Truman. Que o recebeu na Casa Branca. O jovem queria conselhos e lembrar os tempos do pai, falecido.

- E aí, meu jovem, parabéns pela eleição. Seja bem-vindo à capital. Está gostando?

- Presidente, confesso que estou entediado. Washington não tem esquinas, cidade espalhada, sem alma, não tenho conhecidos, deixei minha mulher na minha cidade, moro num apartamento, sozinho, enfim, confesso que é uma chatice.

O presidente ouviu, calado, e saiu-se com esse conselho ao jovem deputado:

- Quer ter um amigo em Washington, um bom amigo?

O rapaz:

- É o que eu mais queria, presidente.

- Então, faça o seguinte: compre um cachorro. E você se sentirá melhor.

A onda contrária

De um observador atento da política, experiente na arte de analisar manhas e artimanhas, indagado por este escriba sobre os movimentos de Valdemar da Costa Neto junto ao TSE. Visando contestar as urnas fabricadas antes de 2020: "trata-se de jus sperneandi.... não duvido que, após a posse de Lula, apareça um processo de impeachment contra ele. Aliás, o PT vai enfrentar a mesma tática que usou no passado. Lembra-se? Depois da posse de Fernando Henrique, em 1994, o partido entrou com um pedido de impeachment. Foi o deputado Milton Temer, na época PT do RJ. Sobre Valdemar, trata-se de um pedido sem nexo. Contestar os resultados do Segundo Turno? Seria querer anular as eleições...coisa sem pé nem cabeça".

Candidatos na pós

Lula, glorioso, volta do Egito, via Portugal, onde relançou o conceito de Brasil no planeta. Fez um dos melhores discursos de sua vida na COP27. Em Portugal, foi recebido como Chefe de Estado. Bolsonaro, pesaroso, não tem ido ao Palácio do Planalto, sendo visto nos corredores do Palácio da Alvorada, onde se recupera de erisipela. O presidente deve ter baixado a guarda em sua imunidade.

Cuidados

Luiz Inácio fez procedimento médio, retirando uma leucoplasia (lesão na garganta), devendo poupar a voz nos próximos dias. Dentro de dois dias, estará dando expediente normal. O tratamento dos dois presidentes tem aberto muita especulação. Este é um terreno em que não se pode encobrir com mentiras. Os laudos médicos dizem que ambos estão se recuperando. Um, com entusiasmo, outro, sem euforia.

O vídeo de Nardes

Corre nas redes um vídeo atribuído a Augusto Nardes, ex-deputado e hoje ministro do Tribunal de Contas da União. Ali, Nardes estaria falando com um amigo do agronegócio, dando conta da movimentação dos quartéis. Prenúncio de um golpe. Inquietação e articulação. Nardes se retratou. Disse que foi "mal interpretado".

- "Questão de horas, dias, no máximo, uma semana, duas, talvez menos para que um desenlace bastante forte na nação ocorra".

O vídeo foi massificado. Colegas teriam dito que se trata de blefe. Ouvi o áudio. Mais parece, realmente, uma tentativa de garantir ao grupo interlocutor do agronegócio que sabe das coisas, é bem informado etc. etc. Dá a impressão de expressar desejo pessoal. Não uma informação colhida nos quartéis.

A movimentação

Talvez Nardes tenha levado em consideração as aglomerações, pequenas, nas proximidades dos quartéis. Aqui, nas minhas cercanias, está instalado o Comando Militar do Sudeste. Pois bem, lojinhas com bandeiras brasileiras e camisas verde-amarelas são o ponto de encontro de pessoas que, todos os dias, descem em direção ao parque do Ibirapuera. Ouvem-se hinos e palavras de ordem de grupos ainda inconformados com o resultado do pleito. Essa movimentação ocorre também em outras capitais, oito a dez. Há oficiais da ativa que emitem opiniões abertas, nas redes sociais, sobre intervenção militar.

Partido ao meio

São manifestações de parcela do Brasil que votou em Bolsonaro. Quase metade do Brasil. Os contingentes pregam intervenção das Forças Armadas. Não aceitam que Lula assuma o governo. Valem-se, agora, do relatório encomendado por Valdemar da Costa Neto, que encomendou uma empresa para fazer uma investigação sobre as eleições. E a conclusão é de que as urnas fabricadas antes de 2020 têm o mesmo número, sendo impossível saber se podem ou não ser adulteradas. Valdemar promete levar o problema ao TSE e ao STF.

Sobre Valdemar

À propósito do presidente do PL, corre também nas redes um vídeo, atribuído a Maria Christina Mendes Caldeira, que mora hoje nos Estados Unidos, detonando Valdemar, com quem foi casada. O vídeo contém revelações bombásticas. Christina levou um arsenal de provas com ela. E chegou a dizer que entregaria esse pacote às autoridades norte-americanas. Teria coisas do "arco da velha", situações envolvendo "evasão de divisas" e sonegação por parte de Bolsonaro e filhos. Quem conhece Caldeira, diz que ela é destemida e sabe os unir os laços de uma trama. Mulher inteligente. Conhece bem o emaranhado da política.

O mercado como alvo

Lula fez a Bolsa despencar com suas declarações sobre o teto de gastos. Para ele, matar a fome está em primeiro lugar. "Vai cair a Bolsa? Vai subir o dólar? Paciência".

A questão: furar ou não o teto de gastos para costurar um amplo cobertor social?

Resumo a polêmica com as palavras de Michael J. Sandel, em "Justiça, O que é fazer a coisa certa".

"O livre mercado é justo? Existem bens que o dinheiro não pode comprar - ou não deveria poder comprar? Caso existam, que bens são esses e o que há de errado em vendê-los?

...A questão do livre mercado fundamenta-se basicamente em duas afirmações - uma sobre liberdade e a outra sobre bem-estar social. A primeira refere-se à visão libertária dos mercados. ...permitir que as pessoas realizem trocas voluntárias, respeitando a liberdade; a segunda questão é o argumento utilitarista para os mercados...pelo qual quando duas pessoas fazem livremente um acordo, ambas ganham e, se o acordo as favorece sem que ninguém seja prejudicado, ele aumenta a felicidade geral.

Céticos do mercado questionam esses argumentos. Afirmam que as escolhas nem sempre são tão livres quanto parecem. E afirmam também que certos bens e práticas sociais são corrompidos ou degradados se implicarem alguma transição com dinheiro".

Jogo a abordagem no foro de debates.

O transatlântico

A equipe de 320 pessoas convocadas para o governo de transição, abrigadas em 31 grupos técnicos, é a maior já reunida no país para esta finalidade. Há 207 homens e 113 mulheres. Espera-se que se faça o melhor programa de governo do nosso regime presidencialista. Os chateados são os petistas, que não gostariam ver tantas caras de outros partidos. Difícil mudar a cartilha do petismo. Mas o presidente Luiz Inácio é assim que quer.

PT

O Partido dos Trabalhadores há de mudar seu pensamento sobre alianças, parcerias, apoios e outras questões. A continuar imaginando que só eles ganharam a campanha, abrirá uma larga avenida de tensões e querelas interpartidárias. Coisa que desagradaria o presidente eleito.

Os vitoriosos

Parcela significativa dos votantes de Lula espera que faça um governo acima das barreiras ideológicas e visões radicais que inspiraram, por décadas, o ideário do PT. Os integrantes do partido esperam que seja uma extensão dos três mandatos do PT. Um clima de euforia impregna os ares dos vitoriosos. Os eleitores de Bolsonaro, nem todos, ainda sonham com uma reação dos quartéis, evitando a posse de Lula. Parcela do eleitorado, angustiado, olha à direita e à esquerda, na ânsia de achar um rumo. Lula está com o cetro.

As massas desvalidas

Já os contingentes marginais aguardam medidas, ações e programas que possam melhorar as condições de sua subsistência. Agem pragmaticamente. Vão esperar pelos 100 primeiros dias de Lula na cadeira presidencial.

As vírgulas

Estava em dúvida, mas decidi contar. Há tempos, José, um prestador de serviços da Porto Seguro, foi à minha casa atender a um chamado de elétrica. Jornalista e conversadeira, minha mulher descobriu que o filho do José estava se preparando para prestar vestibular. Recebeu de presente uma sacola de livros e apostilas para o vestibular, que estavam guardados.

Meses depois, em nova solicitação para prestação de outros serviços e, por coincidência, José reapareceu, desta feita, com um texto escrito pelo filho. Para que fosse lido. Minha mulher leu, elogiou o conteúdo, a forma de abordagem, mas alertou: tem muitas vírgulas, precisa corrigir.

Esta semana, um ano depois da primeira visita, eis que José surge novamente. Faz um agradecimento: "agradeço o que a senhora fez. Meu filho passou no vestibular para Medicina em várias instituições, entre as quais, a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP/USP). E, também, valeu a opinião sobre as vírgulas".

O filho de José, em fevereiro do próximo ano, adentra os portões da Universidade. Destaco: passou na primeira tentativa.

O livro abre as portas do futuro. Amigas e amigos, façam suas doações (livros, manuais e apostilas sem uso), que possam melhorar a vida de nossos semelhantes.

Salgar meu pai

Conto uma historinha do Rio Grande do Norte, mais precisamente da cidade de Macaíba, vizinha à Capital.

Em certa administração municipal, constituída em sua grande maioria por pessoas de Natal, um pobre rapaz procurou o gabinete do prefeito com um problema urgente. Era uma sexta-feira. "Meu pai morreu e vim pedir o caixão", suplicou o jovem à secretária natalense da mais fina flor da moderna burocracia. "Hoje não há como atender. O prefeito e todo o pessoal foram a Natal. Volte segunda-feira, está bem?", respondeu a funcionária conscientíssima do dever cumprido.

Desolado, o rapaz recuou e abriu novamente a porta do gabinete para nova abordagem:

- Dona, poderia me arranjar dois reais?

- Pra quê você quer o dinheiro? interrogou a eficiente servidora.

- É pra comprar sal grosso, salgar o meu pai até segunda-feira.

(Quem conta o "causo" é deputado estadual Valério Mesquita).