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Porandubas nº 794

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Atualizado às 07:55

Abro com historinhas de Churchill. Faço um repeteco.

Sou o chefe dele

O General Montgomery foi homenageado após vencer Rommel na batalha da África, na 2ª Guerra Mundial. Discurso do General Montgomery:

"Não fumo, não bebo, não prevarico e sou herói".

Churchill ouviu o discurso e retrucou:

"Eu fumo, bebo, prevarico e sou chefe dele".

Se houver...

Telegramas trocados entre o dramaturgo Bernard Shaw e Churchill, seu desafeto. Convite de Bernard Shaw para Churchill:

"Tenho o prazer e a honra de convidar o digno primeiro-ministro para primeira apresentação de minha peça Pigmaleão. Venha e traga um amigo, se tiver".

Resposta de Churchill:

"Agradeço ilustre escritor honroso convite. Infelizmente não poderei comparecer à primeira apresentação. Irei à segunda, se houver".

Por que não?

Quando Churchill fez 80 anos, um repórter de menos de 30 foi fotografá-lo e disse:

- Sir Winston, espero fotografá-lo novamente nos seus 90 anos.

Resposta de Churchill:

- Por que não? Você me parece bastante saudável.

Veneno no seu chá

Bate-boca no Parlamento inglês. Aconteceu num dos discursos de Churchill em que estava uma deputada oposicionista, Lady Astor, conhecida pela chatice, que pediu um aparte (Sabia-se que Churchill não gostava que interrompessem seus discursos, mas concedeu a palavra à deputada). E ela disse em alto e bom tom:

- Sr. Ministro, se Vossa Excelência fosse o meu marido, eu colocava veneno em seu chá!

Churchill, lentamente, tirou os óculos, seu olhar astuto percorreu toda a plateia e, naquele silêncio em que todos aguardavam, mandou:

- Nancy, se eu fosse o seu marido, eu tomaria esse chá com muito prazer!

  • Panorama

Sensação de mesmice

As percepções sobre o planeta da política vivem momentos de intensidade nesse início de governo Lula. Os analistas correm atrás de detalhes para ancorar suas observações e hipóteses. É o caso deste analista. Assim, detenho-me em alguns destaques. Uma sensação que sobressai é a de que a mesmice volta com força nessa abertura de horizontes. Nada de novo no front. O fato de terem sido criados 37 ministérios mostra que o "espichamento" da estrutura governamental é exemplo da velhíssima política. O Executivo, para governar, abre grandes portões para o Legislativo. Sem medo de compactuar.

Noves fora a parte do PT

Mas os espaços cedidos aos partidos não foram concedidos em detrimento dos territórios tirados do PT. Este partido ficou com os ministérios da Casa, do entorno presidencial, e que comandam as linhas da economia. Ou seja, a estrutura foi inchada sem prejuízo do mando petista. Como sabemos, o PT tem um projeto de poder de longo prazo e vai lutar para, de maneira lenta e gradual, resgatar a força que tinha nos dois governos Lula. E que começou a perder ao longo dos governos Dilma. Para tanto, está desalojando as casas ocupadas pelo bolsonarismo.

Um ponto fora da curva

Ao mesmo tempo em que se distingue a percepção de mesmice, emerge a sensação de que o governo Bolsonaro foi um ponto fora da curva. Não estava dentro do quadrado o acervo de disjunções, dissonâncias, descalibre, desordem, descasos, enfim, do rol de dis e des... que transformaram a administração bolsonarista em um monstrengo franksteiniano. Nunca se viu tanto despropósito no cotidiano de uma administração pública. O fato de ter conseguido agradar grupos de direita, e isso é fato, não justifica o desconcerto. Esses grupos estavam e estão à procura de um guia, de um condutor que pudesse acolher suas demandas. Sob o lema de "PT, nunca mais". Quem vai retomar essa liderança?

Lula

A percepção sobre Lula, nessa abertura do espetáculo governamental, é a de um ator à procura de uma peça. De pronto, podemos aduzir que a peça não será nova. Será um reensaio, algo como a estreia recauchutada de um velho drama. Onde o protagonista principal se apresentará mais experiente, mais maduro, menos intransigente, mais flexível. Mesmo assim, cometerá os velhos vícios, dentre os quais a recorrência ao "nós e eles". Coisa enrustida, e que aparece, aqui e ali. Espera-se, até, que sua dileta companheira, Rosângela Silva, possa agir como uma espécie de ombudswoman a corrigir cacoetes. Lula se mostra com mais jogo de cintura, a ponto de ter, em cerca de um mês de comando, recolocado o Brasil no painel das Nações. A visita do primeiro-ministro alemão, Olof Scholz, foi um sinal de prestígio do país.

Yanomami, o grande desafio

Luiz Inácio está autorizando os órgãos de controle e segurança a expulsar os garimpeiros da reserva Yanomami. Um desafio e tanto. Estariam ali cerca de 20 mil garimpeiros, que patrocinam 40 voos diários na região. Não são apenas os exploradores que integram grupos econômicos, mas micro e pequenos grupos que ali permanecem. Conseguirá livrar a reserva do garimpo ilegal? Os alemães já disponibilizaram cerca de R$ 1 bilhão para o Fundo Amazônico. Parte desse dinheiro será usada no resgate das condições sanitárias dos indígenas. O expert em matéria amazônica, que já dirigiu trabalhos na frente indigenista, Sidney Possuelo, ex-presidente da FUNAI, garante que se houver "vontade política" a expulsão dos garimpeiros será feita.

Possuelo

Lembrando: Possuelo começou sua carreira ajudando os irmãos Villas-Boas com o seu trabalho entre os povos indígenas da região do Rio Xingu. Ele foi o homem que, nos anos 1980, mudou todo o conceito sobre a melhor maneira de proteger os índios brasileiros. Até então, toda a política da FUNAI era baseada no contato, seguindo os ensinamentos do marechal Cândido Rondon e dos irmãos Villas-Boas. Mais tarde, Possuelo tornar-se-ia o fundador da Coordenação Geral de Índios Isolados, o setor da FUNAI que é responsável por proteger as últimas tribos isoladas das doenças e da violência trazidas pela sociedade.

Senado e Câmara

Até o momento, Rodrigo Pacheco tem garantida sua reeleição para a presidência do Senado. Rogério Marinho poderá tirar algum coelho da cartola? Em política, tudo pode acontecer. Já Arthur Lira está seguro em sua chance de reeleição. Cooptou o PT. Ou seja, o bastião de sustentação do governo Bolsonaro virou de lado. Como se diz, aqui e alhures, Lira "deu nó em pingo d'água".

Alckmin

Geraldo Alckmin é um bom maestro. Administra com competência suas funções constitucionais de vice-presidente da República com o cargo de ministro de Estado da Indústria, Comércio e Serviços. Rege uma grande orquestra. Um perfil que gera confiança.

Dino

O ministro da Justiça, Flávio Dino, ganha respeito e confiabilidade. Fala forte, mas com palavras de caprichado conhecimento jurídico. Está bem no figurino da Justiça.

Prates

Outra pessoa bem talhada para o cargo: Jean Paul Prates, presidente da Petrobras. Advogado, economista, ambientalista e empreendedor. Ex-senador pelo Rio Grande do Norte, assumiu a vaga deixada pela governadora Fátima Bezerra; renunciou ao cargo para assumir a presidência da Petrobras. Estudioso das matérias petróleo e gás, formou-se pela Universidade da Pensilvânia, EUA.

E a imprensa, hein?

Os jornais estão à cata de informações de impacto. A mídia impressa parece padecer de inanição face aos avanços das mídias eletrônicas. A propósito, resgato, aqui, a definição de Chesterton, em 1912, inserida pelo advogado e escritor José Paulo Cavalcanti Filho, em um ensaio intitulado "E Lord Jones Morreu - Discurso por Controles Democráticos ao Poder dos Meios de Comunicação", publicado no livro Informação e Poder, por ele organizado: "A imprensa é 'a arte de dizer que Lord Jones morreu a quem nunca soube que Lord Jones existiu'. Com o tempo, ela passou a ser também o ofício de indistintamente dizer que Lord Jones disse tudo o que Lord Jones disse, ou dizer que Lord Jones disse tudo o que Lord Jones nunca disse, ou não dizer que Lord Jones disse o que Lord Jones disse, ou fazer de conta que nunca existiu um Lord Jones, a um público cada vez mais informado; com uma eficiência que poucos teriam sonhado. Mas 1912 é pré-história." Grande José Paulo.

Fecho a coluna com a arte (?), técnica (?) para ganhar uma discussão, da autoria de Schopenhauer.

Ganhar uma discussão

Schopenhauer, em "A Arte de Ter Razão", traçou 38 estratagemas para alguém vencer qualquer discussão, mesmo quando o interlocutor esteja errado. São técnicas que têm efeito de curto prazo. Aqui, cinco delas:

A- Leve a proposição do seu oponente além dos seus limites naturais; exagere-a. Quanto mais geral a declaração do seu oponente se torna, mais objeções você pode encontrar contra ela.

B- Use significados diferentes das palavras do seu oponente para refutar a argumentação dele. Exemplo: a pessoa A diz: "Você não entende os mistérios da filosofia de Kant". A pessoa B replica: "Ah, se é de mistérios que estamos falando, não tenho como participar dessa conversa".

C- Ignore a proposição do seu oponente, destinada a referir-se a alguma coisa em particular. Ao invés disso, compreenda-a num sentido muito diverso, e em seguida refute-a. Ataque algo diferente do que foi dito.

D- Oculte a conclusão do seu oponente até o último momento. Semeie suas premissas aqui e ali durante a conversa. Faça com que o seu oponente concorde com elas em nenhuma ordem definida. Por essa rota oblíqua você oculta o seu objetivo até que tenha obtido do oponente todas as admissões necessárias para atingir o seu objetivo.

E- Use as crenças do seu oponente contra ele. Se o seu oponente se recusar a aceitar as suas premissas, use as próprias premissas dele em seu favor. Se o oponente é membro de uma organização ou seita religiosa a que você não pertence, você pode empregar as opiniões declaradas desse grupo contra o oponente.