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Porandubas nº 805

quarta-feira, 26 de abril de 2023

Atualizado às 07:54

Abro com hilária historinha contada pelo formidável jornalista e historiador Sebastião Nery em seu livro sobre Folclore Político (Geração Editorial).

José Maria Alkmin (este escriba lembra que foi uma das maiores raposas políticas de nossa história), advogou para um cliente em um caso de um crime bárbaro. No júri, conseguiu oito anos para o réu. Recorreu. Novo júri, pena de 30 anos. O réu ficou desesperado:

- A culpa foi do senhor, dr. Alkmin. Eu pedi para não recorrer. Agora vou passar 30 anos na cadeia.

- Calma, meu filho, não é bem assim. Nada é como a gente pensa da primeira vez. Primeiro, não são 30, são 15. Se você se comportar bem, cumpre só 15. Depois, esses 15 são feitos de dias e noites. Quando a gente está dormindo tanto faz estar solto como preso. Então, não são 15 anos, são 7 e meio. E, por último, meu filho, você não vai cumprir esses 7 anos e meio de uma vez só. Veja bem: vai ser dia a dia, dia a dia. Suavemente.

  • Panorama

Um ponto de interrogação

O país entra nesse final de abril olhando para mais um ponto de interrogação: onde vamos chegar no caso 8 de janeiro? O STF julga os participantes da devastação dos espaços dos Três Poderes em lotes de 100. Os incriminados serão quantos? 200, 300, 1.000? Como o país irá reagir ante as condenações em ambiente desfavorável ao governo? Afinal, a economia, apesar dos esforços do ministro Fernando Haddad, não apresentará índices positivos no curto prazo. E, como se sabe, a economia é o motor da política. Capengando, esse motor para o carro na estrada.

Lula sabia?

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, para investigar os atos de 8 de janeiro, terá 16 deputados e 16 senadores, abrindo o palco principal da política, a partir de sua instalação. As narrativas serão expostas. De um lado, a principal, que posicionará o governo Lula como vítima dos vândalos, e a bolsonarista, de oposição, que vai insistir na tese: Lula sabia. Sabia do que iria ocorrer. E a passagem do general G Dias pelo Palácio do Planalto, parecendo mais um bedel checando se as portas estavam fechadas, seria a prova da narrativa. Veremos um debate aceso.

(Pausa para o riso)

Tapioca pra viagem

Seu Lunga chegou numa barraca de feira e pediu uma tapioca. O feirante:

- É para viagem?

- O senhor está vendo alguma bagagem aqui?

Estranho

Mesmo que não se comprove a tese bolsonarista de que os meios de inteligência do Gabinete de Segurança Institucional avisaram o governo sobre o que iria ou poderia ocorrer, as dúvidas serão alimentadas pela extrema direita. O país, dividido, atravessará mais um corredor de querelas e cutucadas recíprocas entre as alas. A polarização do discurso político tende a continuar beneficiando o bolsonarismo. Ruim para Lula, que tem sido o artífice da polarização. Suas falas improvisadas acendem a fogueira. O vencedor nesse primeiro embate da guerra pós eleições aponta para o bolsonarismo. Infelizmente. Em suma, é estranho para formidável parcela da sociedade a explicação do general Gonçalves. Seus gestos suaves não convencem.

Senado e Câmara

O Senado será governista na condução da CPMI. A Câmara dividirá seu posicionamento entre governo e oposição.

Janja, um alvo

Dona Rosângela Lula da Silva, Janja, tem sido o novo alvo de artilheiros que tentam macular sua posição de primeira-dama. Já escrevi sobre seu protagonismo em artigo nos jornais, mostrando que a socióloga não quer ser apenas uma rosa na lapela do marido. Pincei a imagem criada pela ex-primeira dama do Canadá, Margaret Trudeau, mulher de Pierre e mãe do atual primeiro-ministro, Justin Trudeau, que refutava a ideia de ser apenas um objeto de decoração na liturgia da política. "Não quero ser apenas uma flor na lapela do meu marido", dizia ela. Janja é cidadã. Tem direitos. Inclusive o de comprar uma gravata para o marido, ante o esquecimento do adereço na viagem a Portugal e Espanha.

(Pausa para o riso)

Tomando banho

Seu Lunga estava tomando uma sopa num bar de Juazeiro. Um sujeito entra no estabelecimento e pergunta:

- Tomando sopa, Seu Lunga?

E Seu Lunga:

- Não! Tô tomando banho!

Chuvarada

O país registra um índice pluviométrico elevado. O lado ruim é a destruição, que deixa milhares de famílias sem um teto. Enchentes que afligem as populações. O lado bom é a natureza cheia d'água, e sua exuberância verde, e com os reservatórios afastando a seca. Essa praga que maltrata o oeste do Rio Grande do Sul. Que país de contrastes...!

Acomodação

Depois de um ciclo de tensões, as camadas tectônicas parecem mais calmas nas cercanias das Forças Armadas. Certos bolsões não queriam a eleição de Lula.

Inflação

Emerge o temor de que a inflação comece a subir ante as incertezas do amanhã. Nesse último mês, pulou mais alto do que o salto previsto.

O nome dos ministros

O ministério de Lula é enorme. Um exercício difícil é lembrar o nome dos 37 ministros. Tente, leitor, declinar o nome de cinco ministros.

Senador?

Bolsonaro sinaliza interesse em se eleger senador na próxima eleição. Teria vaga garantida, segundo analistas, em Estados como Mato Grosso ou mesmo Distrito Federal. P.S. Sarney passou anos a fio como senador do Amapá.

(Pausa para o riso)

Treinando pra morrer

Seu Lunga estava deitado no sofá quando alguém faz a pergunta:

- Tá dormindo seu Lunga?

- Não! Tô treinando pra morrer.

Mundo menos democrático

A democracia torna-se menor do que há três décadas. As ditaduras atingem o grau mais elevado desde 1995 no mundo. De 2009 para 2022, os sistemas democráticos caíram de 44 para 32, desde 1986. As ditaduras, de 22 para 33. As chamadas democracias falhas (tipo Brasil, África do Sul), que eram apenas 16 em 1970, hoje são 58. Resultados de uma pesquisa feita pelo Instituto sueco, V-Dem, da Universidade de Gotemburgo. Fatores considerados: liberdade de imprensa, independência entre Poderes, repressão policial, integridade do sistema eleitoral, entre outros.

(Pausa para o riso)

É pra matar?

Seu Lunga foi à feira e comprou uma galinha caipira. Chegando a casa ele deu pra mulher. E ela pergunta:

- Lunga, é pra matar?

Lunga responde:

- Não, dê uma surra e solte.

A contribuição sindical

O lobby é forte. Os sindicatos fazem pressão. E o STF tende a achar que a contribuição sindical é um instrumento legal. Mas uma portinha ficará aberta: aos não sindicalizados, a decisão de pagar ou não.

A ronda da morte

As redes sociais constituem o meio mais volumoso para noticiar sobre mortes. Quase todos os dias, leio amigos e familiares anunciando o adeus de entes queridos. E votos de sentimentos e pêsames. Nunca se viu uma ronda de morte tão intensa como a que cerca nossos tristes tempos.

Mais imposto

Vem mais imposto por aí. O governo precisa garantir aumento de arrecadação. Sem imposto, não sairá do buraco. E Haddad pede criatividade aos seus assessores. O fim da ajuda a setores na agenda principal do ministro da economia.

Os indianos

A Índia já teria ultrapassado a casa dos 1,425 bilhão de habitantes. E ultrapassado a China, onde as mortes suplantam os nascimentos. Os indianos liderando o ranking demográfico. Os horizontes sinalizam para o empoderamento de uma potência tecnológica.

Chico

O discurso de Chico Buarque, ao receber o prêmio Camões, no Palácio Queluz, em Portugal, o principal da literatura em língua portuguesa, foi poético e muito expressivo. Trechos:

...herdei de meu pai, o historiador e sociólogo Sergio Buarque de Holanda, alguns livros e o amor pela língua portuguesa. ...o meu pai era paulista, meu avô, pernambucano, o meu bisavô, mineiro, meu tataravô, baiano... tenho antepassados negros e indígenas, cujos nomes meus antepassados brancos trataram de suprimir da história familiar. Como a imensa maioria do povo brasileiro, trago nas veias sangue do açoitado e do açoitador, o que ajuda a nos explicar um pouco. Escrevi um primeiro romance, Estorvo, em 1990, e publicá-lo foi para mim como me arriscar novamente no escritório do meu pai em busca de sua aprovação...gosto em ser reconhecido no Brasil como compositor popular e, em Portugal, como o gajo que um dia pediu que lhe mandassem um cravo e um cheirinho de alecrim....recebo este prêmio menos como uma honraria pessoal, e mais como um desagravo a tantos autores e artistas brasileiros humilhados e ofendidos nesses últimos anos de estupidez e obscurantismo.

Dez linguagens para os próximos tempos

1. A linguagem da afirmação.

2. A linguagem da factibilidade/credibilidade.

3. A linguagem das pequenas coisas.

4. A linguagem da participação - o NÓS versus o EU.

5. A linguagem da verificação - exemplificação - como fazer.

6. A linguagem da coerência.

7. A linguagem da transparência.

8. A linguagem da simplificação.

9. A linguagem das causas sociais - os mapas cognitivos do eleitorado.

10. A linguagem da tempestividade - rapidez - proximidade.

(Adaptado do meu livro Tratado de Comunicação Organizacional e Política)