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Porandubas nº 808

quarta-feira, 14 de junho de 2023

Atualizado às 08:17

Abro com o hilário Zé Abelha.

Eis mais uma historinha do repertório de Zé Abelha, o nosso mineirinho contador de causos. Dr. Luís da Costa Alecrim, juiz de Direito da comarca de Conselheiro Pena, interroga um cidadão acusado de ter esfaqueado uma prostituta, residente na Boate Luar.

- O senhor conhece esta faca?

- Não, doutor, nunca vi essa peixeira.

Dr. Alecrim manda recolher o indiciado.

Mês seguinte, novo interrogatório:

- O senhor conhece esta faca?

- Conheço sim senhor, responde com malícia o indiciado.

- Então o senhor confessa a tentativa de homicídio?

- Não senhor! Eu disse que conhecia a peixeira. Não é aquela que o senhor me mostrou, mês passado?

Leitura por meio de conceitos

Quem se arrisca a sair do ramerrame que se constata na leitura da imprensa, tem uma alternativa: tentar ler o cotidiano por meio de conceitos. É o caminho que este analista de política escolhe para sair da mesmice de Centrão, articulação precária do governo Lula, disputa por espaços e cargos e quetais...

A organicidade social

Começo apontando um fenômeno que tem sido recorrente em minhas análises: a intensa organicidade a que a sociedade tem se submetido nas últimas três décadas, consequência da emergência de grupos e setores, dispersão das massas, arrefecimento das agregações de grandes movimentos, cooptação de sindicatos e centrais sindicais pelo Estado, entre outros fatores. A sociedade tem procurado se organizar em torno de suas referências - setores e núcleos de interesse. Os valores da solidariedade, do companheirismo, da doçura nas relações humanas, da amizade, da comunhão, do trabalho em equipe cedem lugar a jogos mais competitivos.

A sociedade de massas

Da hipótese acima, extrai-se a observação de que as massas se dispersaram, deixando de se juntar em grandes concentrações, com exceção de movimentos de fundo religioso - Marcha Para Jesus, eventos de centrais sindicais sob a motivação de sorteios e shows com artistas. Esporadicamente, vemos um ou outro evento mais denso sem, porém, o chapéu ideológico dos velhos tempos.

A globalização

O mundo globalizado mostrou que as identidades nacionais perdem ímpeto ante a imperiosa interpenetração de fronteiras ideológicas, e esse fenômeno tem acionado mecanismos de defesa de padrões culturais. O Brexit é um exemplo. A globalização mostrou, ainda, que os movimentos setoriais - defesa de gêneros, raça, cor - disseminou-se, a ponto de aparecer como fator de padronização de comportamentos e atitudes.

A velha política

Do caixão de onde se tiram os elementos determinantes de uma nova ordem social, está a velha política, que elegerá, cada vez, menos representantes. A política não tem dado as respostas que a sociedade quer. Por consequência, parte ponderável dos eleitores tem virado as costas para a velha política, abominando seus métodos e recriminando seus modus operandi.

O vazio entre política e sociedade

Cria-se, assim, um vazio, um buraco entre os universos da política e o social, propiciando, dessa forma, a criação de novos polos de poder. Donde vejo a preamar de novas ondas de defesa social, em contraponto aos polos tradicionais da representação política - as instituições políticas do Estado, Câmara de vereadores, prefeituras, deputados estaduais, Federais e senadores, governadores, presidente da República.

A pressão eficaz

Se o Congresso não dá respostas ao que a sociedade almeja, os novos polos de poder oferecem seus préstimos. As organizações não governamentais constituem reflexos da onda organizativa da sociedade. As entidades intermediárias, até para dar respostas ao não atendimento das demandas de natureza política, começam, elas próprias, a mobilizar a sociedade, atuando junto aos Poderes, fazendo articulação para escolha de representantes e formando bancadas corporativas. As bancadas especializadas são o reflexo do que ocorre na sociedade.

A ascensão da micropolítica

Em decorrência de uma reversão de expectativas, comunidades passam a se inspirar pela moeda sonante do pragmatismo, ou seja, a satisfação de demandas imediatas e reprimidas. A macropolítica é substituída pela micropolítica, a política das pequenas coisas, das necessidades próximas aos conjuntos sociais: a iluminação do bairro, a escola próxima de casa, o alimento barato, o transporte rápido e acessível a todos. Lula tenta, com muito esforço, ser um aluno aplicado na implantação da micropolítica. O Centrão sabe disso.

A democracia direta

Há duas leituras que se extraem deste fenômeno. A primeira é a de que a organicidade social, dentro de limites restritos, absorve práticas da democracia participativa, a democracia direta. A sociedade opina e clama por demandas em seus núcleos de base. A outra leitura mostra que movimentos setoriais começam a questionar as Cartas nacionais, como nos Estados Unidos, onde as discussões baseadas em gênero, raças, opções sexuais, são condenadas por fragmentar a identidade nacional.

Raspando o tacho

Dito o que acima foi descrito, vamos aos fatos.

- Luiz Inácio é o homem certo no lugar certo - é um feitor da velha política. Para fazer o que esta quer.

- O Centrão é a fortaleza da micropolítica.

- O ministério de Lula é a colcha de retalhos que encobre qualquer matiz ideológico.

- Daniela do Waguinho é a ministra que não fala de turismo, mas quer ficar no cargo.

- Marina Silva é um galho de uma árvore do bioma amazônico. Será derrubada pelo desmatamento.

- Os Yanomamis são a ponta da visibilidade para a manutenção, mesmo precária, das conquistas indígenas.

- Luiz Inácio terá imensas dificuldades nos tempos que se aproximam.

- Luiz Carlos Hauly, do Podemos, que assume o mandato no lugar de Deltan Dallagnol, é o paladino da reforma tributária. Tem lutado como um leão.

- Há um grupo de senadores eleitos que ainda não deu as caras.

- As milícias darão as cartas nas eleições municipais do RJ. A conferir.

- Lula aparece de branco nas solenidades. Pelas mãos da primeira-dama, Janja da Silva.

- Os sindicatos hão de rever seus métodos de trabalho. Hoje, servem de cabide para muitos. A articulação política deve guiar seus passos.

- A igualdade de salários entre homens e mulheres na AVON foi o passo mais avançado dado nesse espinhoso caminho.

- O senador Randolfe Rodrigues, líder do governo no Congresso, perdeu o ímpeto.

- O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, do MDB, ganha força e adquire voz. Estava calado.

- As mulheres avançam em suas conquistas na frente da política.

- O presidente da FIESP, Josué Gomes, continua como avestruz, de cabeça enfiada na terra.

- O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, vai bem na gestão. Crescendo.

- Joe Biden deve ser reeleito presidente dos EUA, a se manter a intensa divisão dos republicanos.

- Trump deverá ser condenado (Análise com base nos dados de hoje).

Este analista costuma acertar em suas previsões. Erra menos que acerta. A análise política é uma nuvem passageira.

Fecho com o papa

O bêbado entrou no ônibus aos tombos. Malvestido, sujo, tossindo, tropeçando, tremendo, com um jornal na mão, sentou-se ao lado de um padre. A cada arranco do ônibus, tombava para o lado do padre, que, irritado, o empurrava sem piedade ou indulgência, e com nojo. O bêbado abriu o jornal, tentou ler, mas não conseguia porque tremia muito, bateu no braço do padre:

- Padre, o que é artrite?

- É uma doença muito ruim, muito triste, muito feia, muito nojenta, que dá nas pessoas que bebem muito.

- E mata, padre?

- Mata sim, e mata rápido. Ou o doente para de beber ou morre logo.

- Padre, o senhor jura que não está me enganando não?

- Juro por essa cruz que está aqui no meu peito. Não estou enganando. E tem coisa pior. Quem morre de artrite, porque não parou de beber, não vai para o céu, nem mesmo para o purgatório. Vai direto para o fogo do inferno.

- Coitadinho dele, padre.

- Dele, quem?

- Do Papa Francisco, padre. O jornal está dizendo aqui que o Papa operou do intestino e está com artrite no joelho.

O padre se levantou, trocou de lugar, e foi lá pra frente.

(Historinha de Sebastião Nery atualizada por este escriba)