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Porandubas nº 837

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Atualizado às 08:44

Abro a coluna com o "francês" Dirran.

Infame, mas engraçada...!

Dirran (com "biquinho" para parecer um francês correto), galego meio sarará, entroncado e de pernas curtas, jogava no Clube Atlético Potengi, no Rio Grande do Norte. Um dia, disputava no Machadão uma partida contra o Potyguar de Currais Novos, pela 2ª divisão do campeonato potiguar. O jogador atleticano era o destaque. Fazia dribles desconcertantes e lançamentos perfeitos. Fechou as glórias com um golaço. O narrador da rádio Poti gritava: "Dirran é um craque", "Dirran, revelação do futebol norte-rio-grandense". Dirran prá cá, Dirran pra lá. No final do jogo, o Clube Atlético Potengi perdeu por 3 x 1. Mas o destaque foi Dirran. Vendo todo aquele sucesso, um jovem repórter da Rádio Poti correu para fazer uma entrevista com o craque na beira do gramado. Disparou uma bateria de perguntas: "Você tem parentes na França? Qual a cidade onde nasceu, Monsieur? Como veio parar no Brasil? Pode comparar o futebol europeu com o futebol brasileiro? Qual a origem de seu nome?" Espantado, sem atinar com a situação, o jogador respondeu ao incrédulo repórter: "Pera aí, meu sinhô, num é nada disso; meu apelido é Cú de Rã, mas como num pode falar na rádio, então, eles abreveia pra Dirran."

(Historinha enviada pelo amigo Álvaro Lopes).

  • Parte I

A conjuntura - A síndrome do touro

A fala desastrada do presidente Luiz Inácio, ao comparar a guerra de Israel contra o Hamas, na faixa de Gaza, com o holocausto, que ceifou a vida de seis milhões de judeus, nos coloca diante de uma das mais terríveis síndromes da contemporaneidade: a síndrome do touro, o animal que pensa com o coração e arremete com a cabeça. Lula ganhou do governo de Israel a pecha de "persona non grata", um ato de rejeição da diplomacia para pessoas indesejáveis, que não recebem o status de bem-vindas ao país atingido. Lula não vai pedir desculpas, sob a crença de que "sacudiu o mundo", nas palavras de seu assessor para assuntos internacionais, Celso Amorim.

O Estado-Espetáculo

Lula vai presidir o G20, numa temporada que confere ao Brasil uma posição de destaque no campo da visibilidade nesse ano. Pensa em usar o grupo das 20 Nações mais poderosas no campo da economia para acabar ou diminuir a fome no mundo. No horizonte, sinaliza com o recebimento do Prêmio Nobel da Paz. Com a expressão sobre os judeus, "a vaca vai pro brejo", ou seja, o sonho do Nobel vai para o atoleiro. O Estado-Espetáculo parece guiar os passos do mandatário em seu terceiro governo. Brilho, glórias, aplausos, subir ao pódio da visibilidade mundial - eis a teia com que Lula sonha para acolher sua imagem.

Impactos

A fala de Lula terá impactos na área da política. De um lado, afastará de suas proximidades a poderosa comunidade judaica, que tem forte influência no meio da pirâmide social. De outro, verá mais longe a comunidade de igrejas religiosas que, hoje, ainda estão próximas do bolsonarismo. Há tempos, Luiz Inácio procura atrair esses núcleos. Sem sucesso. E agora, os verá mais distantes. É fato que Lula procurou uma fala para massagear o coração de sua base encravada no território da extrema esquerda. Há um contingente que concorda com seu antissemitismo. O país continua dividido. Lula perde com a boca falante. Encarna a síndrome do touro.

Boulos, Tábata e Nunes

Guilherme Boulos, o candidato do PSOL apoiado pelo PT, receberá respingos da cachoeira palanqueira de Lula. Fosse Tábata Amaral mais experiente, canalizaria muitos votos desgarrados do lulopetismo. Quem sabe, mais adiante poderá ser mais viável. Hoje, o prefeito Ricardo Nunes, MDB, é quem mais se beneficia dos indignados contra Lula. Nunes espera contar com a massa satisfeita com seu programa de recapeamento. Boulos espera agregar setores do centro. Tábata tem esperança de que sua imagem ganhará densidade na esteira de maior conhecimento junto ao eleitorado.

Bolsonaro no palanque

Dia 25 próximo, domingo, Jair Bolsonaro espera um milhão de pessoas na avenida Paulista. Quer ver muita gente no que espera ser o comício inicial do terceiro turno das eleições. Pode juntar bastante gente, mas não a quantidade com que sonha. O pastor que comandará o espetáculo é Silas Malafaia, sem apelo popular em São Paulo. Diz que contratará dois carros de som. Só? Garante-se que cerca de 100 deputados Federais confirmaram presença. Bolsonaro passa a impressão de que quer se vitimizar e receber o aplauso das massas. O papel de vítima lhe convém em momento de tiroteio na imagem de Lula. P.S. Nunes, o prefeito, perderá ou ganhará com sua eventual presença no palanque da Paulista?

Os paradoxos da modernidade

Não há lugar para certezas nesse quase meado da segunda década do século XXI. Não deixa de impressionar a escalada de paradoxos da modernidade: nunca se gastou tanto em segurança pública e privada, mas os cidadãos nunca se sentiram tão inseguros; investem-se bilhões e bilhões em biotecnologia e nas mais diversas áreas da medicina para prolongar o tempo de existência do ser humano, mas o percurso de uma pessoa sobre a terra é um fio tênue e fragilizado pela ciclópica cadeia de problemas das cidades. Por momentos, ondas de civismo banham Nações, fortalecendo a consciência da Cidadania, mas cresce também a letargia da alienação, decorrente do stress, dos medos, da insegurança, da falta de governos, da ausência de políticas públicas capazes de acender o entusiasmo das populações.

Cadeias máximas?

A venda de fugas passou a ser um grande negócio. Essa fuga de dois bandidos da cadeia de segurança máxima de Mossoró/RN é o cume da montanha da contradição em que vive o país. Nossas cadeias mais seguras mostram que são inseguras. Diz-se uma coisa e a realidade é outra. O nosso território está inundado de drogas, milícias e violência. Estamos passando da posição de corredor de drogas para o ranking dos consumidores. Os governos prometem agir. Mas agem em outras direções. Arrecadar mais, por exemplo. É isso que mais entusiasma a burocracia de Brasília.

A arte de governar

Há 227 anos, o segundo presidente dos Estados Unidos, John Adams, fazendo uma reflexão sobre os governos, dizia que "todas as ciências progrediram, menos a de governar, que não avançou, sendo praticada apenas um pouco melhor que há quatro mil anos". O conceito se amolda a alguns dos nossos governantes. Daltônicos, confundem cores. Insensíveis, invertem prioridades. Agem como touros, decidindo com o coração e arremetendo a cabeça contra as massas.

Abílio Diniz

A coluna presta homenagem a um empreendedor de vulto. Um visionário que espalhou grandeza pelos campos em que caminhou. Um homem trabalhador. Um amigo das artes e da cultura. Um amante dos esportes. Um são-paulino como este escriba. Viva, Abílio Diniz. Viva! Viva! Viva!

  • Parte II

Raspando o tacho

- A convocação do embaixador brasileiro em Israel, Frederico Salomão Duque Estrada Meyer, pelo governo israelense, para receber uma reprimenda no espaço do Museu do Holocausto, e não na sede do Ministério de Relações Exteriores, como é praxe, foi um gesto extravagante. Mais ainda pelo fato de que o chanceler israelense puxou a orelha do nosso embaixador em uma fala em hebraico, sem tradução simultânea, merecendo apenas um olhar interrogativo de Duque Estrada.

- Lula vai fazer campanha municipal nas grandes cidades. Quer chegar em 2026 equipado.

- O oposicionismo ganha mais uma pauta em seu calendário de críticas ao governismo: o alinhamento simpático de Luiz Inácio a Maduro, da Venezuela, e Putin, da Rússia, que não são democracias.

- Por falar em Putin, ele está ganhando a guerra contra a Ucrânia. E se dando ao luxo de presentear o ditador da Coréia do Norte, Kim Jong-un, com uma limusine fabricada na Rússia, no mesmo estilo da que lhe serve no Kremlin. Um carrão.

- O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, está no Brasil para uma rodada de conversas. Chegou sem estardalhaço. Trata-se de funcionário que está em primeiro lugar na ordem de precedência e na linha de sucessão presidencial. Blinken conversa hoje com Lula e participará de reuniões do G20, que reúne as maiores economias do mundo. Com Lula, deve discutir as questões bilaterais e globais entre Brasil e Estados Unidos.

- A questão da idade estará no centro do debate presidencial nos EUA. Joe Biden estaria se esquecendo de coisas importantes. Memória falha. Trump, com 77, tem apenas quatro anos a menos do que Biden, com 81 anos. Em 2026, Lula terá 80.

- O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, em palestra na FIESP, segunda-feira, ganhou aplausos da plateia ao demonstrar amplo conhecimento sobre os terrenos da indústria, história da globalização, meio ambiente, medicina, e até - pasmem - biologia. Um arquivo ambulante de números, temas da atualidade e historinhas hilárias.

Fecho a coluna com a desconfiança do coronel Juca Peba.

Desconfiado e matreiro, o coronel Juca Peba não era de muita conversa. Tinha dinheiro, e muito, guardado sob o travesseiro. Até o dia que inauguraram a Agência do Banco do Brasil, em Cajazeiras. A gerente foi procurar o coronel Juca Peba com o argumento:

- Coronel, bote o dinheiro no banco. Vai ser guardado, bem guardado, e vai render juros.

Depois de muita conversa, e muitos cafés no varandão da casa, o coronel, ainda desconfiado, foi ao banco. Com 100 contos numa bolsa de couro. Tirou devagar o pacote. Contou. Uma, duas, três vezes. Depositou. Matreiro, ficou na espreita, na calçada, olhando, espiando o movimento do banco. Para ver se aquele troço não era tramoia. A desconfiança aumentou. Entrou no banco. Foi ao Caixa. Ordenou:

- Quero os 100 contos que eu botei aqui. Já.

Aflito, o bancário foi buscar o dinheiro. O coronel pegou o maço. Conferiu. Uma, duas, três vezes. E devolveu, sob a expressão juramentada:

- Eu só queria mesmo conferir. Pode guardar.