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Porandubas nº 193

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Atualizado às 07:59


Viabilidade

Carlos Matus, cientista social chileno, em um magistral estudo sobre Estratégias Políticas, demonstra que a viabilidade de um ator na política tem a muito que ver com a estratégia e seus princípios fundamentais. Eis alguns princípios estratégicos :

a) Avaliar a situação; b) Adequar a relação recurso/objetivo; c) Concentrar-se no foco; d) Planejar rodeios táticos e explorar a fraqueza do adversário; e) Economizar recursos; f) Escolher a trajetória de menor expectativa; g) Multiplicar os efeitos das decisões; h) Relacionar estratégias; i) Escolher diversas possibilidades; j) Evitar o pior; k) Não enfrentar o adversário quando ele estiver esperando; l) Não repetir, de imediato, uma operação fracassada; m) Não confundir "reduzir a incerteza" com "preferir a certeza"; n) Não se distrair com detalhes insignificantes; o) Minimizar a capacidade de retaliação do adversário.

Sarney na berlinda

Nunca antes na história deste país, viu-se um ex-presidente da República tão acuado. José Sarney, a figura mais poderosa da esfera parlamentar, atravessa o mais longo calvário de sua trajetória política. O Senado passou a ser a grande fogueira da República. O fogo come as entranhas do presidente da Casa. Senadores pedem sua renúncia. Sarney não deverá sair : 1) porque mostraria fragilidade; 2) perderia espaço - e que espaços - na administração federal. 3) deixaria também fragilizado o governo de sua filha Roseana, no Maranhão; 4) abriria espaços para o fogo corroer a floresta familiar. Sarney só tem uma saída : fazer uma grande reforma no Senado. De meios, métodos e processos.

A ambição desmesurada

No meu livro "Marketing Político e Governamental", cito um pensamento do cientista político, Robert Lane, em Political Life, que explica como a ambição desmesurada pelo poder funciona como um bumerangue. Seria o caso de Sarney ? Por que ele, no auge de sua vida pública, poderoso e influente, quis voltar ao comando do Senado e se submeter às intempéries gerados por circunstâncias ? Eis o pensamento de Lane : "A fim de ser bem-sucedida em política, uma pessoa deve ter habilidades interpessoais para estabelecer relações efetivas com outras e não deve deixar-se consumir por impulsos de poder, a ponto de perder o contato com a realidade. A pessoa possuída por um ardente e incontrolável desejo de poder afastará, constantemente os que a apoiam, tornando, assim, impossível a conquista do poder".

Toffoli ainda imberbe ?

Há quem considere - e não são poucos - o advogado-geral da União, José Antônio Toffoli, inexperiente para assumir a alta posição de ministro da Corte Suprema. Dizem que é o candidato de Lula e será nomeado na próxima oportunidade. Toffoli precisaria correr um pouco mais na vida pública antes de querer postular aquela posição. E se Lula nomeá-lo, estará se dobrando a interesses personalistas e a uma visão estreita de governante. O estadista não confunde as questões do Estado com as questões pessoais.

Dilma palanqueira

A cada dia que passa, Dilma Rousseff sobe mais um degrau na escada da popularidade. Esta semana, os aplausos populares vieram do interior do Paraná. Dilma abraçou pessoas, beijou crianças, fez promessas. Lula, ao lado, dava aprovação. O mestre ensinava à aluna como se comportar ante das massas. Este escriba já fez sua previsão, que é esta : a ministra que comanda a Casa Civil tem chances de vir a comandar a Nação. Com cerca de 20% nas pesquisas de intenção de voto, já decolou. Quem achar o contrário, nunca leu pesquisas.

"Não há superfícies bonitas sem profundezas assombrosas." (Friedrich Nietzsche)

Garotinho na onda

Quem acaba de subir na prancha da onda dilmista - há, sim, uma onda dilmista - foi o ex-governador e sempre candidato a algo, Antony Garotinho. Gordo como nunca se viu, alardeia seu apoio à candidatura de Dilma. Quer se viabilizar como candidato ao governo do Rio de Janeiro, após se ver cada vez mais apertado pelo PMDB do governador Sérgio Cabral, que será candidato à reeleição. Garotinho, como se sabe, saiu do PMDB.

Jornalista e cozinheiro

Não é o diploma que faz o jornalista. É o conhecimento. Professor de jornalismo por mais de 30 anos, sempre achei que profissionais de outras áreas poderiam também exercer a profissão de jornalista. Clara, com o domínio das técnicas adotadas por esta profissão. Agora, não dá para concordar com o presidente do STF - o respeitado e também admirado por este escriba, Gilmar Mendes - quando compara o jornalista ao cozinheiro. Nada contra o cozinheiro. Mas, convenhamos, cada um no seu lugar merece respeito. Cada profissão possui sua identidade. Uma natureza.

O objeto científico

Dizer, ainda, que ao jornalismo falta um objeto científico é querer dizer que também esse objeto não identificado falta em muitos nichos das ciências humanas. Qual é o objeto científico da advocacia ? Otto Groth, o teórico alemão que chegou a escrever um quilométrico Tratado, defendeu o conceito de jornalismo como ciência. Tese polêmica, mas muito bem sustentada. O jornalismo como outros feixes conceituais na área de Humanidades é um sistema aberto e multidisciplinar. Aliás, nesse ponto, equivale ao Direito.

Curió...sidades

Pois é, o famoso major Curió decidiu abrir seus arquivos. Afirmou, de maneira categórica, ter havido fuzilamento de guerrilheiros no Araguaia, por ocasião da guerrilha (1972-1975). Confesso que não entendi o que está por trás dessas curió...sidades. Acrescentou mais 16 guerrilheiros executados à lista que se conhece. Curió quis matar a curiosidade de alguns ? Quis se antecipar a denúncias ? Quis livrar algumas pessoas ?

O furo do Estadão

Louve-se a sensacional reportagem-furo do Estadão, um jornal que supera outros em matéria de conhecimento.

Greve na USP

A greve dos servidores da USP tem uma faceta aberta, outra, fechada. O lado aberto tem como foco reivindicação salarial. O lado escondido é o da baderna, a faceta que trabalha com a ideia de "quanto mais barulho e violência, melhor". Para arrematar, por trás do movimento está a readmissão do ex-servidor Claudionor Brandão, que foi demitido dos quadros por graves questões. PCO, PSTU e PSOL são os partidos de extrema esquerda que comandam o movimento.

Cândido radical

O professor Antônio Cândido é um ícone da intelectualidade. Respeitado e respeitável. Mesmo sob essa identidade, não tem o direito de cometer exageros. Teria incentivado o alunato a exagerar nos atos baderneiros. Já Dalmo Dallari, também uma bandeira da justiça, expressou a voz da moderação.

A prudência

"A prudência para interesse próprio é, na maior parte das suas ramificações, sabedoria depravada. É a esperteza dos ratos, que saberão abandonar a casa antes de ela cair; é a matreirice da raposa que expulsa o texugo do buraco onde se vai alojar; é a hipocrisia do crocodilo que, chorando, atrai a presa para a devorar". (Francis Bacon)

O fim do diploma

O fim do diploma de jornalismo disparará uma corrente de mestrados profissionais. Os cursos de pós deverão melhorar. A procura pela pós-graduação aumentará. Os cursos ruins serão fechados. Os cursos qualificados continuarão prestigiados. Basta ver o que ocorre na área da Publicidade, que não exige diploma para o exercício da profissão.

Twitter, mensagem tempestiva

Entrei na tempestividade (não confundir com tempestade) do Twitter. Jogo impressões - frases, observações dos meus momentos. De repente, alguém lá no fim do mundo captura a mensagem. Estamos em Telépolis, gigantesca metrópole sem limites físicos e com o mundo nos olhando. Estou cercado de bits e navegando pelas largas avenidas na internet.

Guerra comercial

Fontes desinformadas dizem que a pane que ocorreu em São Paulo com a banda larga da Telefônica teve como causa a terceirização de serviços. A alegação é de que os profissionais são desqualificados e as prestadoras colocam em serviço produtos não muito robustos. Nada mais falso. A engenheira Vivien Suruagy, presidente do Sindicato Nacional das Empresas Prestadoras de Serviços e Instaladoras de Sistemas de Redes de TV por Assinatura, Cabo, MMDS, DHT e Telecomunicações (Sinstal) e vice-presidente da Federação Brasileira de Telecomunicação (Febratel), argumenta que isso não é verdade. Segundo ela, as empresas sérias do segmento, a exemplo do que ocorre no mundo todo, investem fortemente na qualificação, especialização e capacitação de seus profissionais para mantê-los atualizados com as novas tecnologias. A pane esconde uma guerra comercial entre gigantes da telefonia.

Comunicação Organizacional

Acaba de chegar às livrarias o livro "Comunicação Organizacional - Volume 1" (org. Magarida Kunsch), que tenho a honra de abrir com o primeiro Capítulo, onde descrevo as diversas fases da comunicação organizacional, no Brasil, a começar pela experiência pioneira da PROAL - empresa de jornalismo empresarial do início dos anos 70 - da qual participei, como sócio, ao lado de uma das maiores figuras do jornalismo e da comunicação no Brasil, Manuel Chaparro. O livro, com 17 capítulos, é a maior coletânea de ensaios e artigos sobre comunicação organizacional.

Câmara em alta

Enquanto a Câmara Alta (que é o Senado) está em baixa, a Câmara Baixa (que é a Câmara Federal) está em alta. Basta ver duas decisões tomadas pelo presidente da Casa, dep. Michel Temer : uma, interpretando a abrangência das MPs, abriu a pauta de votação, que estava estrangulada. Nos três primeiros meses da gestão, foram votadas 27 matérias. A partir do entendimento dado por Michel, em 5 de maio, foram votadas, até quinta-feira passada, 87 matérias. Em quatro meses e meio de 2009, das 114 aprovadas sob a gestão Temer, apenas 17 foram MPs. Entre 7 de fevereiro e 17 de agosto de 2007, primeiro semestre de Arlindo Chinaglia na direção da Casa, foram aprovadas 119 projetos, mas 45 deles foram MPs. No primeiro semestre do ano passado, a situação não foi muito melhor : 128 matérias aprovadas, sendo 36 delas MPs.

Cinco axiomas

O Cardeal Mazarino, um dos pioneiros da matreirice e maquiavelismo na política, em seu Breviário dos Políticos, oferece alguns conselhos :

1. Age com todos os teus amigos como se eles devessem tornar-se teus inimigos.

2. Em uma comunidade de interesses, o perigo começa quando um dos membros tornar-se muito poderoso.

3. Quando te preocupares em obter alguma coisa, que ninguém se aperceba de tua aspiração antes de a realizares.

4. É preciso conhecer o mal para poder enfrentá-lo.

5. Não procures resolver com a guerra ou um processo aquilo que podes resolver pacificamente.

Conselho a Sarney

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado ao governador José Serra. Hoje, volta sua atenção ao presidente do Senado, José Sarney :

1. Decida, logo, antes que seja tarde, realizar um amplo programa de reformas.

2. Faça como o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab : abra todas as listas de contas, pagamentos e salários.

3. Procure reduzir a massa funcional. É inimaginável que o Senado, com 81 senadores, trabalhe com 10 mil funcionários.

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