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Visual law - Considerações sobre sua utilização

O bom advogado deve ter três grandes características: boa capacidade de análise, bom raciocínio sintético e ótimo poder de comunicação.

quinta-feira, 7 de abril de 2022

Atualizado às 19:27

 (Imagem: Arte Migalhas)

(Imagem: Arte Migalhas)

Todas as novidades que aparecem seguem a mesma trajetória na sua adoção e visual law não é diferente. Segundo o Gartner, as novas tecnologias seguem um padrão de adoção segundo o gráfico a seguir:

Na minha humilde opinião estamos na fase ascendente, logo após o chamado "gatilho da inovação" do gráfico e ainda muito longe da fase de adoção e plena e aceitação, mas vamos as considerações.

Tradicionalmente a comunicação jurídica formal se baseia em textos escritos e há séculos as palavras têm sido a ferramenta de trabalho dos advogados e por isso todo bom advogado tem como sua principal arma o ótimo domínio da linguagem falada e principalmente da escrita, mas isto está mudando!

Como sempre tenho comentado, o bom advogado deve ter três grandes características: boa capacidade de análise, bom raciocínio sintético e ótimo poder de comunicação (seja ela verbal ou escrito) para explicitar a situação e expressar claramente seus argumentos e solicitações. A grande mudança introduzida pelo visual law é que o advogado passa a ter no seu arsenal mais uma arma que são as imagens ou elementos gráficos. A máxima do conceito visual law é a aplicação o ditado "uma imagem vale mais do que mil palavras" na comunicação jurídica e é exatamente nesse ponto onde começam as nossas considerações.

A primeira delas diz respeito a afinidade individual e acionamento de partes do cérebro que não foram treinadas ou que não foram desenvolvidas desde a infância. Lembremos que existem tendencias naturais no cérebro de cada um de nós para formas diferentes de raciocínio (como por exemplo o indutivo ou dedutivo) e afinidades para linguagem ou números e tradicionalmente jovens futuros advogados escolhem desde cedo área chamada de "humanas" e não a de "exatas". Como então adaptar essas pessoas para absorverem outros raciocínios e formas de expressão?

A segunda é a própria formação do profissional, pois até o momento ela é baseada na lógica da linguagem, da intelecção de textos e de suas interpretações e argumentação e vai exigir dos novos advogados a incorporação de novas formas de raciocínio que podem ser diferentes com a utilização de novas ferramentas que ainda não são oferecidas nas universidades. Para que um advogado possa utilizar, por exemplo um fluxograma anexado a seu texto ele primeiro deve conhecer a lógica desta ferramenta e aprender a utilizá-la e interpretá-la.

A terceira é a dosagem correta da utilização dessas outras formas de expressão, pois somente devem ser utilizadas se tornarem o documento como um todo mais inteligível e transformarem a mensagem transmitida mais clara. O intuito é sempre agilizar e facilitar o processo de intelecção e não de deixar o documento mais "bonitinho"! Outro ponto é sempre ter em mente que essa ferramenta (como qualquer outra) não se aplica a todo o qualquer documento e deve ser utilizada quando a substituição de um texto por outra forma de expressão visual realmente aumentar a sua clareza e melhorar a sua intelecção.

A quarta, me parece a mais importante e mais difícil de ser atingida, é a aceitação pela outra parte que receberá o documento, na maioria dos casos é o poder judiciário que é tradicional por definição. No alto dos meus 60 e muito anos, lembro quando no início da década de 80 quando começaram aparecer os computadores com seus sistemas ainda não adaptados à língua portuguesa e impressoras matriciais, os caracteres específicos de nossa língua como o cê-cedilha não eram impressos corretamente e alguns juízes não aceitavam as petições impressas por essa forma.

Vamos analisar alguns exemplos.

Primeiro imaginem a figura abaixo que explica claramente o fluxograma de produção de produtos lácteos (escolhido aleatoriamente da Internet) e que por algum motivo deveria ser descrito textualmente para quem vai ler o documento. Quanto parágrafos ou até páginas deveriam ser utilizadas para descrevê-lo? Será que seria tão claro? Dependendo da habilidade de expressão escrita do advogado (citado no começo dessa discussão), muito provavelmente não! A figura por ela mesma demonstra claramente e intuitivamente o processo e não precisa ser um técnico para entendê-la.

Outro exemplo bastante comum é a transcrição de um terreno rural numa escritura. Já perceberam como é confuso entender? Se não houver um desenho acompanhado a dificuldade é ainda maior!

Dica muito importante: não utilizar absolutamente qualquer diagrama, figura ou imagem que possa de alguma forma dar margem a interpretações diversas, pois dessa forma ficará pior "a emenda que o soneto". Se um texto mal redigido dá margem a interpretações diversas (como os advogados estão cansados de saber), uma figura dúbia gerará mais dúvidas do que elucidação (um fluxograma mal detalhado, por exemplo).

Não estou, nesta discussão, querendo apenas ressaltar os aspectos negativos, mas sim alertar sobre as dificuldades que os inovadores irão encontrar ou já estão encontrando. Como sempre comento, sou fanático por tecnologia e inovação e considero o conceito do visual law genial, pois vai tornar a advocacia mais clara para todos, menos hermética e mais objetiva e principalmente mais ágil. Quanto mais advogados o adotarem, melhor será. Espero sinceramente que num futuro muito próximo essa forma de expressão jurídica seja comum r substitua o "juridiquês" complexo e rebuscado.

José Paulo Graciotti

VIP José Paulo Graciotti

Consultor, sócio e fundador da GRACIOTTI Assessoria Empresarial.

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