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O pensamento crítico na era da IA

A automação e a sobrecarga de informações destacam a necessidade do pensamento crítico em advogados. O excesso de dados promove consumo superficial e decisões apressadas, enquanto algoritmos reforçam "bolhas" de perspectivas limitadas, intensificando a polarização e dificultando a distinção entre verdade e desinformação.

segunda-feira, 15 de abril de 2024

Atualizado às 14:15

A automação de tarefas devido aos avanços tecnológicos, como a inteligência artificial, torna o pensamento crítico mais importante do que nunca para advogados. Essa habilidade combina raciocínio dedutivo e indutivo para chegar a conclusões lógicas, fazer julgamentos sólidos e tomar decisões informadas.

Vivemos uma avalanche de informações. Porém, informação demais não é informação. O excesso nos leva ao consumo superficial, sem análise crítica da qualidade e veracidade. Há mais de 20 anos, a "infotoxicação" reflete a angústia com a impossibilidade de assimilar tudo. A sobrecarga de informação é um problema que a tecnologia dificilmente resolverá sozinha.

A cultura do imediatismo também não incentiva a análise calma e crítica. A conectividade e a capacidade de acesso instantâneo podem ser úteis, mas levam a decisões apressadas, pensamento raso, falta de reflexão e pouca atenção aos detalhes.

Além disso, estamos presos em "bolhas". Algoritmos limitam a exposição a perspectivas e informações novas ou contraditórias. Em vez de ampla visão do mundo, vemos conteúdo alinhado a crenças e preferências. Isso leva à polarização, "câmaras de eco" e dificulta identificar desinformação e notícias falsas.

Não é coincidência que "pós-verdade" tem sido tão usada. Sente-se que fatos e verdade influenciam menos a opinião pública do que emoções e narrativas apelativas. Desde então, a avalanche de informações cresceu, estamos mais conectados, os algoritmos evoluíram e é difícil distinguir verdade de mentira. A opinião é cada vez mais manipulável.

O pensamento crítico é primordial para o futuro da sociedade e bem-estar das próximas gerações. Uma sociedade que o valoriza e promove é mais aberta à mudança, capaz de soluções criativas para problemas complexos, pode identificar riscos e tomar medidas preventivas. É mais inclusiva, resolve conflitos melhor, valoriza a educação e é mais resiliente. Sem pensamento crítico, é complacente e manipulável.

Para advogados, essa competência é crucial para adaptação às mudanças no mercado e ambientais. Permite analisar situações complexas, identificar riscos e oportunidades, tomar melhores decisões. Impulsiona a inovação, questionando o status quo e propondo soluções alternativas.

Com a adoção de inteligência artificial, essa necessidade se torna ainda maior. Advogados devem interpretar e analisar resultados gerados pela IA, avaliar qualidade e relevância das informações, identificar erros ou vieses, tomar decisões informadas e determinar se a IA é usada de forma ética. A IA pode facilitar e automatizar tarefas, mas o julgamento humano ainda é necessário.

Além disso, é preciso ter consciência do próprio nível de competência e limitações para não ser vítima do efeito Dunning-Kruger, superestimando ou subestimando a capacidade. O pensamento crítico promove humildade intelectual e aprendizado contínuo.

Para desenvolver o pensamento crítico, os advogados precisam buscar repertório, ter a capacidade de ouvir opiniões contrárias às suas e não ter preguiça de pensar. Isso significa adquirir conhecimento em diversas áreas, considerar visões divergentes com abertura e fazer o esforço intelectual de ir além do óbvio.

A boa notícia é que essa habilidade pode ser desenvolvida. Para isso, é preciso sair do "piloto automático", fazer autorreflexão, buscar feedback e entender que percebemos o mundo como somos, não como ele é. Contemplar inputs externos exige perceber como nossos filtros moldam a interpretação.

A educação contínua também é essencial para atualização diante da mudança constante. O conhecimento ajuda a detectar se recomendações algorítmicas fazem sentido ou se os resultados gerados pelo ChatGPT, Gemini e tantos outros não são alucinações. Trabalhar em equipe, trocar ideias e participar de eventos ampliam a visão para além da própria área e conectam conceitos de várias disciplinas, permitindo inovação.

Interagir com diferentes pontos de vista, expor-se a diversas experiências e contextos ajuda no pensamento crítico. Fazer perguntas é crucial para usar IA de forma eficaz na advocacia. Perguntas abertas, que exigem raciocínio e não apenas respostas automáticas, testam os limites e vieses da IA. Juntamente com o pensamento crítico, ajudam a obter os melhores insights.

Advogados devem praticar a escuta ativa e a empatia para entender perspectivas alheias, reconhecer diversidade de opiniões e tomar decisões mais equilibradas. 

Concluindo, na era da IA cultivar o pensamento crítico é crucial diante da superficialidade e excesso de informações. A autorreflexão, a educação contínua, o trabalho em equipe e a exposição a novas experiências desenvolvem essa competência. 

Advogados preparados para os desafios dessa nova era são informados, reflexivos e fazem as perguntas certas para extrair o máximo de valor da IA de forma ética. O pensamento crítico é uma responsabilidade compartilhada entre indivíduos, escolas, empresas e instituições. Todos devem colaborar para promovê-lo, visando uma sociedade mais desenvolvida, resiliente e inclusiva.

Maria Olívia Machado

VIP Maria Olívia Machado

Estrategista de carreira e negócios jurídicos com quase 15 anos de experiência. Autora de 5 livros, Professora da USP, Top Voice Linkedin, catalisadora da transformação de ideias em resultados.

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