COP30: Um teste decisivo para o compromisso do Brasil com o clima
A indefinição sobre a realização da COP30 na Amazônia compromete o protagonismo do Brasil na agenda climática global.
terça-feira, 5 de agosto de 2025
Atualizado em 4 de agosto de 2025 11:46
A incerteza sobre a realização da COP30 na Amazônia expõe desafios logísticos e políticos que comprometem o papel do Brasil na luta contra as mudanças climáticas.
As mudanças climáticas não esperam por crises locais, nem toleram desculpas.
A COP30, planejada para ocorrer em Manaus em 2025, tem tudo para simbolizar o protagonismo do Brasil na agenda climática global: será um marco histórico ao colocar a maior floresta tropical do planeta, a Amazônia, no centro das discussões globais. Entretanto, os recentes rumores sobre uma possível mudança de sede para São Paulo ou Brasília, devido a problemas logísticos e aos preços exorbitantes dos hotéis em Manaus, estão transformando essa oportunidade crucial em uma crise sem precedentes.
Uma oportunidade em risco. Anunciada como o espaço ideal para discussões sobre mitigação climática, preservação ambiental e inclusão social, a COP30 em Manaus representará não só o Brasil, mas especialmente a Amazônia e suas comunidades. Um investimento inicial de mais de R$ 5 milhões já foi realizado, enquanto esforços para preparar a infraestrutura local começaram há meses.
Agora, com a possibilidade de que o evento seja deslocado por desorganização e interesses oportunistas, as projeções positivas começam a desaparecer. Além do impacto financeiro, o Brasil se arrisca a perder algo mais valioso: sua credibilidade climática no cenário internacional. Realizar a COP em São Paulo ou Brasília, por mais conveniente que pareça, enfraqueceria o impacto simbólico de sediar o evento em uma região que é tão vital para a estabilidade climática quanto vulnerável às alterações do planeta.
Razões para permanecer na Amazônia. O valor de realizar a COP30 em Manaus transcende questões logísticas. A floresta amazônica é responsável por capturar aproximadamente 2 bilhões de toneladas de CO2 ao ano e desempenha um papel essencial na regulação do clima global. No entanto, 17% da floresta já foi desmatada, com a ameaça de atingir um ponto de inflexão que mudaria para sempre sua dinâmica ecológica, transformando-a de sumidouro de carbono em uma emissora de CO2.
Realizar este evento no coração da floresta enviaria uma poderosa mensagem: o Brasil está comprometido com a preservação da Amazônia e com soluções climáticas globais. Além disso, daria voz às comunidades indígenas, ribeirinhas e locais que historicamente têm sido os verdadeiros guardiões da floresta, mas que frequentemente são deixados fora das grandes conferências internacionais.
Um déjà vu preocupante. O caso do Chile em 2019, que teve que abrir mão da sede da COP25 devido a protestos e crises sociais, oferece lições claras sobre as consequências da incapacidade organizacional. A mudança para Madrid permitiu que a conferência ocorresse, mas diluiu o foco no contexto específico do país originalmente escolhido. O Brasil enfrenta um cenário similar - mas com fatores que poderiam ter sido evitados, como a explosão nos preços da hotelaria ou a falta de planejamento centralizado.
Diferentemente do Chile, onde fatores externos fizeram a sede se tornar inviável, no caso brasileiro, os problemas são fruto de desorganização interna e de interesses locais que favoreceram o ganho de curto prazo em detrimento da relevância global do evento.
Soluções ainda são possíveis. Ainda há tempo para salvar a COP30 em Manaus. Algumas medidas práticas poderiam resolver os problemas atuais e garantir que a mensagem de compromisso do Brasil com o clima seja fortalecida:
Regulação dos preços: O governo pode intervir para estabelecer limites para os preços de hospedagem durante o evento, além de oferecer incentivos fiscais ou subsídios temporários para os hotéis.
Infraestrutura temporária: Habitações modulares sustentáveis, vilas ecológicas e soluções alternativas de estadia podem reduzir a pressão sobre o setor hoteleiro.
Engajamento público-privado: Parcerias entre o governo, locais e internacionais podem viabilizar a logística necessária, complementar o investimento público e evitar o desperdício de recursos já mobilizados.
Mensagem clara ao mercado: Governos devem alertar empresários que o abuso de preços não apenas prejudica a imagem do evento, mas também compromete futuros projetos na Amazônia.
Conclusão: Um momento decisivo para o Brasil. A realização da COP30 na Amazônia é muito mais do que um evento diplomático: é uma oportunidade de impacto global para reafirmar o compromisso do Brasil com a preservação do meio ambiente e a liderança climática.
Governos, iniciativa privada e sociedade civil precisam agir agora para garantir que o evento permaneça no coração da floresta. Permitir que a falta de planejamento ou interesses econômicos locais ditem o futuro da Conferência seria não apenas um desperdício de recursos, mas também um retrocesso simbólico e prático.
A Amazônia é o centro da crise climática, e é exatamente ali que as soluções devem ser discutidas. Líderes brasileiros ainda têm a chance de provar ao mundo que o compromisso com o clima é mais forte do que a desorganização ou anseios argentários. Mas o tempo está se esgotando: como a própria floresta, a COP30 também exige ação imediata.
Stanley Martins Frasão
Advogado, sócio de Homero Costa Advogados Diretor Executivo do CESA Centro de Estudos das Sociedades de Advogados Membro da Comissão Nacional das Sociedades de Advogados do Conselho Federal da OAB



