'Uma imagem vale mais que mil palavras': Como os exemplos de mulheres na liderança podem impulsionar a equidade de gênero no setor jurídico
Representatividade feminina no Direito inspira mudanças, enfrenta desafios e impulsiona ações concretas por mais equidade, inclusão e redes de apoio.
quinta-feira, 11 de setembro de 2025
Atualizado às 10:08
É comum vermos imagens que reproduzem os espaços de liderança de empresas, tribunais e escritórios de advocacia, em que grupos diversos são pouco ou nada representados, dentre os quais as mulheres. Isso é um sinal evidente de que, embora sejamos maioria nas salas de aula e entre os jovens profissionais, não alcançamos as posições estratégicas o tanto quanto merecemos e ainda possuímos um longo caminho pela frente.
Sendo esse um fato inquestionável, cabem algumas indagações: qual a importância de aumentarmos a diversidade entre os líderes do mercado jurídico e como fazer isso se tornar uma realidade? As respostas são muitas e todas dependerão de engajamento, esforço e intencionalidade.
Em primeiro lugar, criar oportunidades para que mais mulheres ocupem posições de liderança é o justo e o certo a fazer, razão mais do que suficiente para que trilhemos esse caminho. Como se não bastasse, há inúmeros estudos e pesquisas que demonstram que mais diversidade nas posições de comando implica em melhores resultados tangíveis e intangíveis.
A McKinsey, na pesquisa "A diversidade Importa Cada Vez Mais", de 2023, indica que empresas com mais diversidade de gênero na liderança são, em média, 21% mais lucrativas. Já o "Potencial Projects Spring", de 2022, atesta que a liderança feminina recebeu melhores notas em coragem, transparência, presença e gentileza.
Além disso, serão as mulheres líderes que proporcionarão mais oportunidades para os demais grupos subrepresentados. Não é por outra razão que o "Women Board Report", de 2016, atesta que a presença de ao menos três mulheres em Conselhos é o ponto de virada para melhorar a equidade nas empresas.
No mais, quanto mais pudermos nos identificar com aqueles que ocupam posições estratégicas, mais assimilaremos que esta oportunidade está disponível a nós. Michele Obama, ao se tornar a primeira-dama dos Estados Unidos, afirmou que uma das suas maiores realizações era se tornar uma referência às meninas negras americanas, que poderiam olhar seu exemplo como algo possível a ser alcançado por elas. Isso vale para todas nós: mais mulheres em posição de liderança nos proporcionará maior confiança, maior senso de pertencimento e a convicção de poderemos ocupar esses mesmos espaços.
Muitas de nós tiveram pouquíssimas referências femininas em suas trajetórias. Muitas de nós se acostumaram com mulheres líderes que entendiam que ultrapassar obstáculos, com sofrimento e dor, seria mais importante do que lutar para que eles desaparecessem. Essa mentalidade foi se perdendo ao longo do tempo, felizmente, e o que mais vemos, nos dias atuais, são mulheres dispostas a fazer com que a trajetória das que vêm na sequência seja menos desafiadora, mais equânime e mais justa.
Aliás, indo à segunda indagação, podemos afirmar que um fatores que mais contribuirá para aumentarmos o número de mulheres em posição de liderança nos escritórios de advocacia é justamente a formação de uma rede de apoio que faça com que mulheres apoiem mulheres, em que a sororidade seja uma realidade e que demonstre que juntas e unidas podemos chegar muito mais longe, estreitar laços, reduzir caminhos e tornar o ambiente mais inclusivo e acolhedor aos talentos femininos.
Não é só. Devemos compreender que o desenvolvimento de mulheres passa por caminhos distintos do desenvolvimento de homens. As habilidades podem ser diferentes, as expectativas podem não coincidir e a forma de fazer as coisas igualmente pode ser diversa. É fácil compreender essas diferenças quando refletimos sobre a maneira de homens e mulheres fazerem networking, desenvolverem negócios, formarem pessoas, contribuírem com a cultura do ambiente em que estão inseridos. Ainda assim nós, mulheres, podemos ter resultados equivalentes ou até melhores. Arrisco a dizer que é justamente a combinação dos diversos - e aí incluo todas as interseccionalidades - que nos levará a performances excepcionais.
Para que mulheres se sintam pertencentes, capazes e legitimadas, precisamos criar novas referências e formar novas lideranças. Não contribui em nada para esse processo que as lideranças dos escritórios sejam predominantemente ocupadas pelo mesmo perfil de profissional ou mesmo que nas mais altas Cortes do país a presença feminina venha sendo sistematicamente reduzida, como vimos ocorrer no próprio STF. Como convencer-se de que aquele lugar lhe pertence se você não se identifica com aqueles que ocupam as posições de destaque e liderança?
Apesar do longo caminho pela frente, é possível notar que mulheres - e até mesmo homens - estão cada vez mais conscientes de que não há mais tempo a perder. E é dessa consciência que vêm surgindo inúmeras iniciativas que têm por objetivo fomentar a presença feminina nas lideranças do mercado jurídico, especialmente dos escritórios de advocacia.
Um exemplo é a Aliança Jurídica pela Equidade de Gênero, grupo que reúne profissionais de treze dos maiores escritórios do Brasil e que tem como principal missão aumentar a presença de mulheres nos órgãos de gestão e nas lideranças dos escritórios de advocacia.
As várias reflexões que temos tido nos últimos anos nos levaram a propor a Agenda Mínima, um conjunto de políticas e iniciativas que, como o próprio nome diz, representa o mínimo a ser feito por organizações para que estejamos mais próximos da equidade de gênero. Trata-se de uma diretriz relevante aos grandes escritórios, mais especialmente aos pequenos e médios espalhados por todo o país, nos quais as mulheres encontram ainda maiores dificuldades de desenvolvimento, inclusão e ascensão.
Queremos que o impacto dessas iniciativas alcance o ambiente jurídico, mas também pretendemos impactar a sociedade como um todo, de modo que outros espaços e mercados se tornem mais inclusivos a mulheres qualificadas e que pretendam ascender profissionalmente.
As mulheres reúnem potencial para desenvolver todas as habilidades que as capacitam o ocupar posições de liderança. Por vezes lhes falta acreditar que esses espaços lhes pertencem. Por vezes lhes falta o apoio necessário para que se desenvolvam. E, por vezes, o que falta é visibilidade, com destaque a suas capacidades, seus resultados, suas conquistas.
Glaucia Lauletta
Sócia do escritório Mattos Filho.


