dr. Pintassilgo

São João da Boa Vista

Hoje alço vôo convencido de que existem lugares que entram em nossas vidas com significados embutidos, para trazer reflexão...

São João da Boa Vista me fez mergulhar de braçadas dentro de uma reflexão e resvalou até mesmo dentro de minha vida pessoal...

Aqui há uma recém instalada Justiça Federal, uma Justiça do Trabalho, os computadores recentemente chegaram, para gáudio dos servidores e, por tabela, do povo, numa contramão rara do que comumente vejo...

Mas o vôo interior que realizei fitava, pensava, mascava e ponderava sobre o nobre mister do causídico em nossa sociedade...

E o faço porque recebi notícias de que causídicos estariam na berlinda, tanto na atuação em defesa de uma assassina, como no patrocínio dos interesses de um ex-ministro, teria agido de forma mefistofélica e criminosa.

Imaginei, relembrei desta maneira, amalgamando experiências próprias e de queridos mestres, amigos e colegas, como deveria ser o caminhar de um advogado ?

Desde os primeiros estudos, nos quais são quebrados muitos tabus, até então simplórios, oriundos do inicial desconhecimentos das doutrinas, leis, matérias...e da ordem jurídica.

Estampados nos rostos de mamãe e papai, largos sorrisos, quando perguntavam parentes, vizinhos como estava o jovem. "Estudando", respondiam, "ele faz Direito".

Hoje é engraçado e terno lembrar a curiosidade das pessoas, que sabendo que o menino estava na Faculdade, vinham questioná-lo sobre um problema, um "caso", ainda que o rapaz estivesse apenas no segundo ano acadêmico.

Humildemente, dizia que ainda era um mero aprendiz, não tendo ainda gabarito para tal empreitada. Mas ávido por saber, trancafiava-se solitário no quarto, na tentativa de localizar nos livros o "x" da questão, para quem sabe, numa próxima sabatina, mostrar uma migalha de conhecimento.

O tempo passa e vem a colação de grau na "Disciplina da Convivência Humana", a chave que abre a porta para um mundo de opções. Mais tarde, chega o exame da Ordem. E, depois, a espera pelo primeiro cliente ; mesmo tenso, a atenção e a cordialidade deviam estar à simples vista...

O ofício de advogado navega por vários espectros de emoções: nos momentos de conflito para a pessoa, ele é ouvinte e conselheiro ; o medo engolfa a pessoa perante uma sala de audiência e o advogado está ali, na solidão de seu conhecimento, diante do Estado e sua ordem.

Saudado como herói nas vitórias e nem sempre com razão nas derrotas.

Empunhando conhecimento ao invés de espadas, os advogados são gladiadores numa Roma moderna, com seus vícios e belezas, classes desarmônicas e leis a seguir... e, sem se importar se caducas ou novas em folha, literalmente.

Desalentos são comuns, mas não tão potentes a ponto de trazer a desistência : isso faz do causídico um insistente pelas coisas da vida... da vida.

Assim como em todas as ocupações, quando exercidas com ética, há coisas belas para contar : é, indubitavelmente, uma profissão instigante. Apenas com palavras extraídas de seu conhecimento e voz, caminham-se os destinos e rumos das pessoas. Sim. A vida dos outros.

Não importa que o desconhecimento alheio o taxem disso ou daquilo : não há ninguém que nunca precisou de um advogado. E não falo aqui apenas nas barras do tribunal...

E neste momento tão turbulento, de conflitos sociais e também internos do ser humano, nada como rever o juramento prestado por todos os advogados.

Num monstro disforme que hoje se transformou nossa sociedade, o advogado é mais do que nunca necessário.

Migalheiras e migalheiros causídicos, demais profissionais do Direito, acadêmicos : ao parar na porta de seu escritório, respire fundo ; vislumbre a estante com os livros e rejubile-se ! Traga aquele jovem estudante de volta para dentro de si, o frescor salutar do conhecimento e a vontade de fazer. Sim, vista o paletó ou o tailleur, tome as pastas ou maletas nas mãos; caminhe altivo até os Fóruns do Brasil, que precisam muito de você.

Na solidão de uma lide, você é o aríete e o escudo.

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