dr. Pintassilgo

Jales

Amigos migalheiros, saudações !

Antes de revoar (e não au revoir), estava concentrado em mais uma partida na Alemanha, numa pousada na estrada, quando a pomba amiga trouxe-me um recado do Kaiser implacável de nossa Redação, nosso cerebral Diretor:

"Pintassilgo: os caminhos que vais percorrer levam a Jales. Faça boa viagem e, caso haja demora, cuida-te para que não haja um cartão vermelho ou, na pior das hipóteses, que tu próprio recebas um potente e certeiro arremate."

Entendidas as palavras de nosso técnico mais que sagaz e audacioso (ao contrário de certo pé de uva, até passado), pus-me a caminho de Jales.

Durante a senda vi vários primos pássaros, todos em formação de viagem, um "V" que segue constante e uniforme. Tal disposição fórmica leva todos em segurança, num único destino, sem risco de perdas. Todos cuidando de todos.

O que me faz pensar nessa virtude que é tão útil, bonita, porém, às vezes renegada : a união.

Desde cedo, o homem aprendeu que sozinho nada faria; no mínimo, seria uma presa frágil e ridícula, até para os vorazes predadores.

Mas quando percebeu a força do grupo, fez o que fez, e aqui estamos nós, por bem ou por mal, como prova cabal dessa junção que hoje chamamos sociedade e pela qual zela nosso Direito.

As mãos dadas simbolizam nossa aptidão, saudável, de podermos viver unos. E, confessemo-nos amigos migalheiros, nada mais agradável que as mãos dadas no namoro !

É esfuziante a alegria do aperto de mão de velhos amigos; das mãos dadas entre pais e filhos nos primeiros passos.

Não digo que a união faz a força; ela é a força.

E ao chegar em Jales, vejo tudo isso.

Cidade agradável onde o povo estendeu-me a mão.

Ao chegar ao Fórum, vejo um exemplo edificante, salutar, inspirador de união: todos os magistrados e promotores falaram com este humilde pássaro, reunidos todos, numa demonstração inequívoca de comprometimento, atenção para com a comunidade.

Todos dispostos a falar, numa vivacidade e amor ao ofício.

Quisera eu que todos os homens públicos tivessem esse desprendimento, disposição, numa posição clara de ser parte e baluarte da comunidade, e não à parte. Perdoem meus paupérrimos jogos de linguagem.

Em tempo, os promotores ainda defendem que a permanência de magistrados na comarca é benéfica, ao passo que os integra à localidade; onde podem transitar entre o povo, saber ler seus problemas, beber da sua água, olhar nos seus olhos. Isso é associar-se, unir-se.

Vê-se em Jales que todos estão unidos com um propósito. E, nas opiniões colhidas, a soma é mais que positiva: todos satisfeitos.

E ainda existem pessoas que desejam dividir, diminuir.

Numa oposição gritante ao individualismo do mundo robótico atual, Jales resgata nossa velha e necessária capacidade de andar de mãos dadas.

"Nenhum homem é uma ilha"; "duas cabeças pensam mais que..."

E por aí se vai. Lugares comuns, mas que são verdadeiros. Duvidam?

Quando há a necessidade do coletivo e seu exercício, difícil e penosa será a derrota e próxima pode ser uma vitória, talvez indiscutível.

Jales deu exemplo.

E nada melhor e mais belo, amigos que, junto de seu amor, mãos dadas, o caminhar rumo ao inexorável pôr-do-sol de nossos dias.

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